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De óculos de sol e com um fato brilhante cor de rosa, Ryan Gosling viu os holofotes virarem-se para si quando, durante a cerimónia dos Óscares, subiu ao palco para cantar I’m Just Ken, música do filme Barbie. No pulso esquerdo do ator, por cima de uma luva, um relógio da TAG Heuer, com bracelete preta, não passou despercebido, mas há um pormenor que não é visível durante os mais de quatro minutos de atuação: um diamante sintético (cor de rosa) com o formato do escudo (o logótipo da marca) por baixo do indicador das 12 horas.
A relojoeira TAG Heuer, que conta com Ryan Gosling como embaixador, é uma das empresas que tem apostado nos diamantes sintéticos, que, a olho nu, são praticamente impossíveis de distinguir dos naturais. Durante vários anos as marcas de luxo evitaram utilizar estas pedras, mas, entretanto, começaram a mudar de ideias. A Prada anunciou em outubro o lançamento de uma coleção de joias com diamantes sintéticos em triângulo, num formato semelhante ao do seu logótipo.
Ryan Gosling’s standout stage presence was matched only by one watch: the #TAGHeuerCarrera Plasma Diamant d’Avant-Garde 36mm.#RyanGosling pic.twitter.com/yP5fglPXIb
— TAG Heuer (@TAGHeuer) March 11, 2024
Utilizar diamantes naturais para inovar no design e no formato das joias não só é mais difícil, como mais caro. Christopher Griffin, CEO da Snow, fabricante dos diamantes sintéticos utilizados pela Prada, defende, em declarações ao Business of Fashion, que com as pedras que são produzidas pelo homem os designers podem começar a criar “com a sua imaginação” ao invés de tentarem desenhar “à volta” das “limitações” que advêm das naturais.
#PradaEternalGold, featuring laboratory-grown diamonds, brings a century-old design into the future of fine jewelry by utilizing precious stones created with patented technology, at previously unattainable sizes.#PradaFineJewelry#Prada pic.twitter.com/mtjRIGYu4d
— PRADA (@Prada) October 20, 2023
Aliciadas pela cada vez maior disponibilidade de tamanhos e cores, mas também por preços mais acessíveis e uma alegada maior sustentabilidade, as gerações mais jovens, sobretudo nos Estados Unidos, começaram a comprar diamantes sintéticos. Os últimos anos foram de popularidade, o que levou a um aumento das vendas, mas alguns dos especialistas ouvidos pelo Observador defendem que o fenómeno — que terá pouca representação não só a nível nacional como europeu — pode estar prestes a enfrentar uma mudança.
Apesar de os portugueses não terem, aparentemente, aderido à ‘febre’ de compra dos diamantes sintéticos, alguns são fabricados cá, na Madeira, pela empresa MDT. Nos próximos anos, também a Covilhã vai ser ‘casa’ de uma fábrica de pedras produzidas pelo homem, devido a um investimento total de 400 milhões de euros por parte do grupo Heyaru, de capital indiano.
A natureza contra o homem. O que são (e como são produzidos) diamantes sintéticos?
Os diamantes sintéticos representavam menos de 1% das vendas globais de diamantes para a joalharia em 2015. No final do ano passado, a consultora Diamond Analytics, de Paul Zimnisky, considerado pela imprensa internacional o principal analista do setor, estimou que esse valor já se aproximava dos 20%.
Cada vez mais procuradas nos Estados Unidos nomeadamente para adornar os anéis de noivado, as pedras sintéticas são considerados verdadeiros diamantes com propriedades físicas, químicas e óticas semelhantes aos naturais. A principal diferença está na origem. Estes últimos levam milhares de milhões de anos a formar-se e são extraídos da superfície da Terra. Os sintéticos são feitos em semanas ou até meros dias (dependendo do tamanho) em fábricas, com o ser humano a ter o poder de escolher quantas gemas quer produzir e o formato que lhes quer dar.
Existem duas técnicas para produzir diamantes sintéticos. “Uma é maioritariamente aplicada na China, em câmaras de alta pressão e alta temperatura [high pressure, high temperature], para fazer diamantes muito pequenos, abaixo dos três milímetros”, explica o gemólogo português Rui Galopim, em conversa com o Observador. A outra, conhecida como “chemical vapor deposition“, utiliza “metano como fonte de carbono” e, por norma, é usada para produzir gemas maiores.
Os diamantes sintéticos são produzidos desde aos anos 1950, contudo, de acordo com a revista Fortune, eram utilizados sobretudo em instrumentos para, por exemplo, corte de pedras, mineração ou mesmo odontologia . Ao longo dos anos, com os avanços tecnológicos e a diminuição dos custos de produção a permitirem fabricar mais rapidamente e com mais qualidade, estas pedras começaram a aparecer também na joalharia.
Sem recorrer a ferramentas sofisticadas é praticamente impossível distinguir as pedras sintéticas das naturais. Mike Fried, CEO da Diamond Pro, empresa que aconselha os consumidores na compra de diamantes, diz ao Observador que existem “diferenças muito ligeiras nas imperfeições de um diamante natural em relação a um sintético”, sendo que “só um especialista as notaria e, mesmo assim, não seria a 100%”. Rui Galopim concorda: um “cidadão comum” não vê as diferenças e só os especialistas com “conhecimentos e equipamentos” específicos o conseguem fazer.
A possível queda de popularidade do fenómeno que não terá chegado a Portugal
Os diamantes sintéticos podem, neste momento, ser até 90% mais baratos do que os naturais. Com o contínuo aumento da oferta, os preços devem continuar a descer. Por isso, Paul Zimnisky estimou em fevereiro, em declarações ao Business Insider, o fim do “boom”, prevendo que os joalheiros reduzam a aposta nestas pedras e voltem a colocar o foco nas naturais durante o próximo ano.
“O hype em redor dos diamantes sintéticos vai começar a desaparecer à medida que o produto deixa de ser novidade. Penso que os vendedores poderão voltar a dar prioridade aos diamantes naturais, caso se torne mais rentável voltarem a fazê-lo, [contudo] os sintéticos continuarão a ser uma parte fundamental da indústria no futuro”, sustenta Zimnisky, em declarações ao Observador.
Também Rui Galopim acredita que a popularidade registada, sobretudo nos Estados Unidos, está a apresentar ventos de mudança e defende que os diamantes sintéticos “já quase não têm valor comercial”, uma vez que se compram por “um euro, dois euros, cinco euros”. Se antes o preço representava um “desconto sobre o equivalente natural”, agora “há tanta produção que, naturalmente, o produto passa a valer o seu custo de produção mais uma pequena margem”.
Os restantes analistas mostram-se mais cautelosos quanto à possibilidade de uma diminuição da popularidade. Mike Fried, CEO da Diamond Pro, diz não acreditar que a “moda” vá embora tão cedo. “A dada altura, se os preços continuarem a descer, as pessoas podem decidir que não vale a pena gastar dinheiro em diamantes sintéticos ou o contrário — e o mercado passa a ser exclusivamente de diamantes sintéticos”, afirma. Já o analista Edahn Golan nota que a procura continua a crescer nos Estados Unidos, mas que a “queda dos preços resulta numa taxa de crescimento reduzido”, duas tendências que acredita que se vão manter ao longo deste ano.
A ‘febre’ com as pedras fabricadas pelo homem, que contagiou os norte-americanos, “curiosamente” nunca chegou “nem a Portugal, nem muito à Europa”, considera Rui Galopim. “Cá em Portugal, no que ao consumidor diz respeito, nunca houve grande procura. Uma realidade que é, mesmo, europeia, não é só nacional. Na América, não, foi a loucura”, afirma, salientando que “nas noivas e nas joias houve de facto muita aceitação” por parte do mercado norte-americano.
António D’Almeida Lino, do Laboratório Gemológico Independente de Portugal (que faz parte da Gems Value — Instituto Nacional Gemológico e de Metais Preciosos), também entende que o diamante sintético “é uma realidade muito desconhecida em Portugal” e produzir estas pedras no país “não compensa”. “Mesmo que possa haver tentativas de os fabricar cá, quem os produz, passado um mês, vai verificar que não é plausível” devido “aos custos de energia”. Para sustentar a sua opinião, o especialista dá o exemplo da China, que é o “maior produtor de diamantes sintéticos” e que tem energia “muito mais barata” do que a portuguesa.
Por sua vez, Mike Fried, que mora na República Checa, opta por destacar a diferença que acredita que faz com que o fenómeno passe despercebido na Europa: a “abordagem” aos noivados. “Nos EUA quando se quer pedir alguém em casamento há muita pressão para comprar o melhor anel que se consegue pagar (ou até pedir dinheiro emprestado). Na Europa, a cultura não é exatamente a mesma e é raro ver um anel de noivado com um diamante com mais de meio quilate. Nos Estados Unidos, a média é superior a um quilate”, argumenta.
Para os europeus, comprar um anel de diamantes é um luxo para quem pode pagar. Nos EUA, muitas pessoas compram-nos devido à pressão da sociedade.”
Uma fábrica de diamantes sintéticos vai instalar-se na Covilhã
Apesar de a ‘febre’ de comprar diamantes sintéticos não ter chegado a Portugal, uma fábrica para produzir estas pedras vai instalar-se nos próximos anos no país, mais especificamente na Covilhã. A empresa Lightningplace, que foi criada para desenvolver o projeto e que integra o grupo Heyaru, de capital indiano, disse no final do ano passado que planeava investir — em duas fases — um total de 400 milhões de euros e criar 150 postos de trabalho especializados na região.
Quando o investimento foi anunciado, Vítor Pereira, presidente da Câmara da Covilhã, previu que as obras começassem este ano. Tal ainda não aconteceu porque “só depois da aprovação da venda de terrenos é que a empresa pode dar encaminhamento aos restantes procedimentos necessários”. Ao Observador, o autarca salienta que o projeto está a “decorrer normalmente”, já deu “entrada nos serviços da câmara municipal” e foi classificado pela AICEP como “Projeto de Interesse para o Interior (PII)”.
Fábrica de diamantes artificiais planeia investir 400 milhões de euros na Covilhã
Questionado acerca do prazo para a conclusão das obras e início de operações da fábrica, que será a primeira em Portugal continental, Vítor Pereira diz que se trata de “um projeto privado, pelo que será o investidor a definir o cronograma”. As informações que a autarquia tem são de que “a intenção do investidor é avançar assim que tenha o projeto aprovado e o financiamento assinado”. O Observador remeteu a questão ao grupo Heyaru, que diz apenas que está na “fase de plano de negócios” e aponta respostas para, “provavelmente, depois do verão”.
Confrontado com o facto de alguns analistas internacionais preverem uma possível queda da popularidade dos diamantes sintéticos, o presidente da Câmara da Covilhã afirma não ter “qualquer sinal” que o faça estar “menos otimista”. E diz que a autarquia mantém “a confiança de que o projeto é para concretizar até porque certamente que no processo de decisão o investidor terá analisado detalhadamente o mercado e a viabilidade do investimento”.
Qual a importância da fábrica de diamantes para a Covilhã?
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A Covilhã defende que a criação da fábrica de diamantes é importante porque cria “postos de trabalho altamente qualificados, o que certamente contribuirá para dar mais oportunidades às pessoas que optaram por ser fixar” na região. E “poderá contribuir para atrair outros”.
Por outro lado, segundo o autarca Vítor Pereira, o investimento poderá também “contribuir para ajudar a desenvolver ainda mais o meio académico e a investigação nesta área, sendo que esta empresa [a Lightningplace] já assinou um protocolo de colaboração com a Universidade da Beira Interior”.
Nas regiões autónomas, na Madeira, uma unidade fabril da empresa MDT, localizada no Centro Internacional de Negócios, foi notícia há cerca de três anos por ter sido visitada por Miguel Albuquerque. É difícil, atualmente, perceber se a firma, constituída para investigar, produzir e comercializar diamantes sintéticos, ainda opera, uma vez que não existem informações ou contactos disponíveis online.
Ainda assim, o Observador questionou a Sociedade de Desenvolvimento da Madeira (SDM), que administra o Centro Internacional de Negócios, que confirmou que a empresa está “licenciada na Zona Franca Industrial, desde 2017, para exercer a atividade de produção e comercialização de diamantes sintéticos”. Consultoras portuguesas, como a Rigor Biz, também indicam nos seus sites que a sociedade MDT ainda está “ativa” e mencionam que entregou, em julho passado, as contas referentes a 2022.
Miguel Albuquerque demitiu-se da presidência do Governo Regional da Madeira em janeiro após ter sido constituído arguido num processo sobre suspeitas de corrupção na região. No âmbito dessa investigação, um diamante foi encontrado numa gaveta do gabinete de Pedro Calado, ex-presidente da Câmara do Funchal. O advogado que representa o ex-autarca, Paulo Sá e Cunha, disse que se tratava de uma gema “sintética” oferecida ao seu constituinte e a Albuquerque por “uma empresa da Zona Franca da Madeira”, que tinham visitado. O nome da firma em questão não foi divulgado.
Os diamantes (sintéticos) são o melhor amigo de uma rapariga?
“Shine bright“, sim, mas com um diamante sintético, e a necessidade de reciclar ligeiramente a máxima difundida por Marilyn Monroe. É o lema que várias celebridades (internacionais) têm vindo a seguir nos últimos anos, com destaque para uma das parcerias mais brilhantes. Junto com o atelier Swarovksi, a atriz Penélope Cruz criou uma coleção de joias sintéticas dignas de uma passadeira vermelha. A estreia aconteceu na 71.ª edição do Festival de Cinema de Cannes, em maio de 2019. Depois desse momento, nomes como Zendaya, Karlie Kloss, Laura Dern, Mandy Moore e Olivia Palermo desfilaram criações dessa linha. Nesse mesmo mês e ano, os brincos com diamantes sintéticos de Zoë Kravitz, assinados por Anabela Chan, tornavam-se a pedra de toque da presença da atriz na passadeira vermelha da Met Gala.
Em setembro, era a vez de Lady Gaga completar o seu look vitoriano Alexander McQueen com uns brincos de pérolas Constellation “eticamente” fabricados, da mesma etiqueta londrina Anabela Chan. O contexto foi a estreia na capital britânica do filme Nasceu uma Estrela.
Um ano antes, em 2018, já a atriz e ativista Emma Watson apostara no fator statement com as suas joias escolhidas para os Óscares, mais concretamente na after party da Vanity Fair. Watson recorreu a um conjunto de acessórios criados em laboratório, como os brincos Vrai & Oro de diamantes “cultivados” e ouro reciclado. Uma safira de ouro reciclado de Ana Katarina e ainda uma pulseira e um anel da marca Ana Khour completaram a escolha alternativa.
Saltando para janeiro de 2020, também em Londres, Meghan Markle, duquesa de Sussex, elegia a marca neerlandesa Kimai e os seus brincos com diamantes fabricados em laboratório para um evento. Uma decisão que não esteve imune a polémicas, como em quase tudo o que envolve a mulher do príncipe Harry. Se por um lado distinguem a opção sustentável, os defensores dos diamantes naturais criticam a falta de unicidade nas opções paralelas.
As criações conquistam seguidores na formalidade de uma passadeira vermelha mas também em momento mais íntimos (posteriormente tornados públicos como um pedido de casamento). Em 2020, Sinisa Mackovic tornou-se noivo de Chloe Sevigny com um anel único e contemporâneo com um único diamante cultivado em laboratório com corte esmeralda. Também Rooney Mara se juntou a esta lista quando Joaquin Phoenix a presenteou com um diamante em forma de hexágono incrustado numa peça Art Deco de platina vintage.
Este elenco não ficaria completo sem a estrela de “Shine Bright Like a Diamond”. Com a devida dose de bling, Rihanna deslumbrou com o conjunto cujas pedras saíram de um laboratório, usado na sua festa de 30 anos.
O preço mais baixo pode ser “a maior vantagem”… mas também uma desvantagem
As semelhanças com os diamantes naturais ajudam a aliciar os mais céticos e o preço ‘mais amigo’ da carteira faz o resto. A Pandora começou a apostar nos sintéticos em 2021 e as joias convenceram a cantora Selena Gomez e a atriz Jennifer Lawrance. “Se não tivessem bom aspeto não as usariam — a não ser que eu lhes pagasse uma pipa de massa, o que não fiz”, garantiu o CEO da empresa dinamarquesa, Alexander Lacik, em entrevista à Fortune.
Para o líder da Pandora, o “design é o mais importante da decisão de comprar um produto”, seguido pelo preço. Os especialistas ouvidos pelo Observador defendem que a “maior vantagem” dos diamantes sintéticos é, precisamente, o valor mais baixo pelo qual podem ser adquiridos. A empresa Diamond Pro estima que um diamante sintético com um quilate possa custar, dependendo da qualidade, cerca de 1.200 dólares, enquanto um natural com características parecidas custará mais do triplo, cerca de 4.200 dólares.
Mas nem sempre foi assim. Mike Fried, CEO da Diamond Pro, afirma que “tão recentemente quanto 2017, os diamantes sintéticos eram cerca de 23% mais caros do que os naturais”, porém “à medida que a tecnologia avançou, o preço caiu a pique”. Embora o custo mais reduzido seja uma “vantagem óbvia”, também pode ser uma desvantagem, considera o especialista, porque as joias “deixam de ser especiais”. A opinião é seguida pelo analista Edahn Golan, que considera que as pedras fabricadas “não têm o valor de ser um cristal natural, criado pela mãe natureza”.
Paul Zimnisky, um dos principais analistas do mercado, também defende que a origem das pedras sintéticas leva a que não consigam reter valor, nomeadamente numa possível revenda, uma vez que as naturais são “um recurso precioso, não renovável”. Por isso, as empresas devem deixar claro ao consumidor que está a comprar um diamante sintético e não levá-lo a pensar que está a adquirir um natural a um preço mais acessível.
Nos Estados Unidos, em 2019, o regulador da concorrência, a Federal Trade Commission (FTC), advertiu oito empresas por não deixarem claro que os produtos que promoviam não continham gemas naturais, considerando que mencionar apenas “diamantes” podia transmitir uma “falsa impressão” aos consumidores. Em Portugal, o Laboratório Gemológico Independente, que faz parte da GemsValue — Instituto Nacional Gemológico e de Metais Precisos, também alerta para o perigo de serem vendidos diamantes sintéticos sem a devida menção.
António D’Almeida Lino, proprietário da GemsValue e especialista nesta indústria, diz ao Observador que é “preocupante a venda de um diamante sintético” sem a devida descrição, por exemplo nas faturas. “O que tem acontecido ultimamente é realmente o mais perigoso, que é a venda de diamantes de tamanhos maiores, com qualidades de gradação muito boas, e as pessoas pensarem que são naturais. Temos verificado isto muitas vezes no laboratório”, alerta.
O Laboratório Gemológico Independente de Portugal
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O Laboratório Gemológico Independente de Portugal está inserido na Gems Value — Instituto Nacional Gemológico e de Metais Preciosos. Localizada em Lisboa, esta instituição privada emite certificados e relatórios de autenticidade de diamantes, rubis, safiras ou esmeraldas. Mas também analisa os diamantes sintéticos.
Além disso, faz avaliações de diamantes e tem formações, com cursos tanto presenciais como online. Em declarações ao Observador, António D’Almeida Lino afirma que existe ainda um serviço de “classificação e avaliação ao consumidor final”. “Muitos clientes que não sabem o que têm [de que tipo de joias são donos], vêm ter connosco e querem um documento ou uma informação adicional, idónea, para saber exatamente o que têm antes de vender ou fazer partilhas”, explica.
A proclamada sustentabilidade que convence os mais jovens (e DiCaprio)
“Compras emocionais” e “sustentabilidade”. São duas das razões mais repetidas nos vídeos publicados no TikTok por millennials e pela geração Z para a compra de diamantes sintéticos. Segundo os argumentos, não têm o impacto ambiental negativo associado aos naturais e também não têm ligações a conflitos armados ou à violação dos direitos humanos, incluindo à utilização de mão de obra escrava para a extração. António D’Almeida Lino nota que são pedras que “não estão ligadas aos diamantes de sangue” ou a “negócios obscuros”.
@basicbtchcloset Replying to @xojennydey TLDR: yes I care about the ethics AND I wanted the most beautiful stone I could get ???? • #labgrownengagementring #lalala #luxurylover ♬ original sound - shay • founder @ roen
A proclamada sustentabilidade aparenta convencer os mais jovens, mas também caras bem conhecidas do público, como Leonardo DiCaprio. Após protagonizar o filme Diamantes de Sangue, que retrata o tráfico de gemas nas zonas de guerra em África, o ator começou a defender a utilização de diamantes sintéticos e investiu, em 2015, na fabricante norte-americana Diamond Froundry.
Os diamantes sintéticos têm pegadas de carbono inferiores às dos naturais, mas o facto de utilizarem elevados níveis de energia no processo de produção tem levantado interrogações. Há cinco anos, o regulador norte-americano, a FTC, fez alertas sobre as alegações de algumas empresas de se apresentarem como “amigas do ambiente” sem provas para sustentar essas alegações. A firma na qual DiCaprio investiu foi uma das visadas, mas, segundo a BBC, argumentou que é certificada como neutra em carbono por uma entidade terceira — a Natural Capital Partners — e que utiliza apenas energias renováveis.
Proud to invest in Diamond Foundry–a co reducing human & environmental toll by sustainably culturing diamonds. https://t.co/prhoee6olx
— Leonardo DiCaprio (@LeoDiCaprio) November 11, 2015
As dúvidas têm surgido ao longo dos anos e as empresas têm tido pouca abertura para as esclarecer. Muitas das fabricantes de diamantes sintéticos estão sediadas na China, onde cerca de 75% da eletricidade provém da queima de carvão. De acordo com a revista Fortune, muitas firmas apresentam-se como “amigas do ambiente”, mas não publicam relatórios de impacto ambiental, nem respondem a perguntas sobre a proclamada sustentabilidade.
A falta de esclarecimentos não passa despercebida aos defensores dos diamantes naturais. No ano passado, um grupo a favor da extração de diamantes, o Natural Diamond Council, criou uma campanha contra os “mitos” e defendeu os esforços da indústria mineira para impulsionar as economias de países com minas como o Botsuana e a Namíbia. “Os consumidores estão a ser informados de que os diamantes sintéticos são sustentáveis e isso não podia estar mais longe da verdade“, defendeu o CEO, David Kellie, de acordo com o The Wall Street Journal.
O ceticismo com as declarações de sustentabilidade por parte das fabricantes é também expressado pelos especialistas ouvidos pelo Observador. O gemólogo Rui Galopim considera que “não há ciência nenhuma que suporte as falsas alegações” e fala mesmo em “greenwash” utilizado como estratégia para vender: “São coisas que não têm sustentabilidade factual nenhuma. E há muita gente que foi nessa cantiga e que foi comprando.”
António D’Almeida Lino, proprietário da GemsValue, também nota que “o diamante sintético é altamente poluente”. “Um diamante de exploração normal é mais amigo da natureza do que um diamante sintético, porque este utiliza grandes quantidades de energia”, argumenta.
Por sua vez, o analista Paul Zimnisky adota uma posição mais comedida, reconhecendo que “alguns diamantes sintéticos são mais sustentáveis do que outros, se forem produzidos com recursos naturais renováveis, como a energia hidroelétrica”. Desta forma, defende que “tudo depende do produtor e dos procedimentos que utiliza no fabrico”.