(Artigo em atualização ao longo do dia)

3, 2, 1. Contagem decrescente para o que resta de campanha. São quase 72 horas loucas, em que o Bloco de Esquerda vai percorrer o país de norte a sul e de sul para norte. A manhã desta quarta-feira arrancou em Famalicão, numa das feiras com mais imprevistos para os políticos que se atrevem a fazer campanha por estas bandas. “Gentes do norte”, resumiu a dada altura um apoiante bloquista. Com ou sem imprevistos, certo é que o otimismo das sondagens já se tornou indisfarçável entre a comitiva bloquista, que se apresenta aos feirantes confiante e descomplexada. Para fora, para os jornalistas, o discurso continua a ser cauteloso.

Assim que entrou no recinto, Marisa Matias foi abordada por um ex-combatente do Ultramar. “Ex-combatente não: combatente, que nunca deixamos de o ser”, corrige. Pedia à eurodeputada que se lembrassem de “quem esteve a defender Portugal” na guerra, lamentando o esquecimento que diz existir entre os políticos. Muito exaltado, ia pedindo explicações à cabeça-de-lista do BE e exigindo um maior reconhecimento pelos antigos combatentes. Quando começou a responder, a bloquista aconselhou calma ao combatente. “Pronto, ao menos já desabafei”, disse, esvaziando a tensão que tinha começado a tomar conta do diálogo.

“Oh, eu também sou combatente do Ultramar. Estive na Guiné. E sou da mesma altura dele. Só que estou mais fino do que ele“, comentou com o Observador um membro da comitiva bloquista com um carregado sotaque de Braga.

Marisa Matias não ouviu reclamações. A não ser que contemos com a senhora que, apressada, tentava passar pela comitiva com o seu saco de compras atrás: “Deixem passar que eu tenho mais que fazer. Não venho para aqui passear-me“, reclamava enquanto afastava as pessoas. Para a candidata foram sobretudo palavras de apoio e de força. Até para Mariana Mortágua, que na arruada de ontem em Braga tinha passado algo despercebida. A deputada foi abundantemente interpelada por pessoas que lhe gabavam “a coragem de não deixar nada por dizer”. Sobretudo mulheres — algo que se observa também no contacto com a eurodeputada e com Catarina Martins.

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Uns falavam diretamente com as dirigentes bloquistas, outros faziam política de bancada ao observar a passagem da caravana. “Aquela que vai ali de camisa [Mariana Mortágua] é que os f… a todos”, comentou um popular lançando um riso envergonhado junto de quem o acompanhava.

A par desta estratégia de apostar no contacto popular junto de grandes multidões, Marisa Matias tem apostado num discurso de distanciamento em relação ao PS. “Concordo com o que disse Pedro Nuno Santos ontem: é preciso que haja uma divisão entre socialistas e liberais na União Europeia”, considerou. “António Costa tem de esclarecer os motivos pelos quais anda numa aliança bizarra com Emmanuel Macron”, acrescentou ainda, insistindo numa expressão que quer ver cunhada nas críticas a António Costa. “Qualquer que seja a manobra que António Costa esteja a fazer neste momento nesta aliança com os liberais de direita terá implicações no futuro não só no Parlamento Europeu mas também a nível nacional”.

Sem esclarecer a que implicações se referia, Marisa Matias recordou apenas que o Bloco de Esquerda se tem mantido sempre fiel aos acordos que assina. “Como na lei de bases da Saúde“, sublinhou. E mais não disse. O suficiente para deixar as orelhas de António Costa a arder. Não as de Pedro Marques, que ao longo destes dez dias de campanha não tem sido referido pela candidata — com exceção dos debates, claro. A campanha segue dentro de momentos, em Évora.