Nunca escondeu, mas também nunca falou sobre isso publicamente: em janeiro de 2020, numa consulta de psiquiatria, foi-lhe diagnosticado um burnout e recebeu ordens para parar imediatamente e durante três meses. A situação, na altura, era já considerada grave, muito por causa do mais de meio ano que tinha passado desde os primeiros sintomas, sobretudo físicos. Pelo caminho, Marisa Matias tinha pensado até que tinha uma doença neurodegenerativa grave. Era a única explicação que encontrava para o facto de, aos ataques de pânico que se foram tornando mais frequentes, se ter juntado também a incapacidade de controlar braços e pernas ou os bloqueios que faziam com que simplesmente não conseguisse andar.

Numa entrevista inserida na série “Labirinto — Conversas sobre Saúde Mental“, uma iniciativa do Observador e da FLAD, a eurodeputada do Bloco de Esquerda diz que, quando olha para trás, o que mais lhe custa é não ter percebido rapidamente que poderia ser um problema de saúde mental, ainda para mais quando acompanhou situações semelhantes de colegas e amigos e sempre lidou com temas dessa área nas suas funções políticas. Parar, admite, não foi fácil, porque teve de lidar com o sentimento de culpa. Adaptar-se aos medicamentos, que tomou desde o início de 2020 e até junho deste ano, também não. O momento mais difícil terá sido, porém, quando percebeu que as suas capacidades cognitivas “já estavam comprometidas” — e que poderia não as recuperar totalmente.

Descobriu a psicoterapia — e, com “choque”, percebeu que não tinha nada para dizer quando, numa das sessões, lhe perguntaram o que fazia no seu tempo livre. Ao longo dos meses de recuperação, criou novos hábitos de sono, de pausa e de recuperação, momentos dedicados à sua vida pessoal e uma nova forma de gerir o seu dia-a-dia. Na conversa, gravada no hotel Pestana Palace, em Lisboa, admite que teve medo do dia em que começou a reduzir a medicação e diz que preferia que todo o processo tivesse sido mais rápido, mas sabe que “voltar ao que estava é insustentável”. E também teve de pôr a doença nos pratos da balança quando surgiu a possibilidade de uma candidatura a Belém: “Nunca na minha vida me tinha passado pela cabeça consultar médicos para saber se me candidatava à Presidência da República”.

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Mental é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com a Saúde Mental. Resulta de uma parceria com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e com o Hospital da Luz e tem a colaboração do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Psicólogos Portugueses. É um conteúdo editorial completamente independente.

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