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Hezbollah também dispõe de armamento moderno, como rockets, mísseis, drones da última geração e sistemas portáteis de defesa aéreos

AFP via Getty Images

Hezbollah também dispõe de armamento moderno, como rockets, mísseis, drones da última geração e sistemas portáteis de defesa aéreos

AFP via Getty Images

Mísseis balísticos, drones e 50 mil homens. As capacidades militares do Hezbollah, um "inimigo formidável" no campo de batalha

Tem mísseis que podem atingir alvos a 300 quilómetros, drones iranianos e uma "estrutura descentralizada" que o tornam uma ameaça "formidável". Mas grupo xiita não quererá guerra com Israel.

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100 mil homens. Em 2021, Hassan Nasrallah fazia uma invulgar revelação sobre o número de membros que pertenciam às forças paramilitares do Hezbollah. Em jeito de ameaça, o secretário-geral da organização xiita dava a conhecer as suas capacidades militares, normalmente envoltas em secretismo. Em comparação, as forças armadas do Líbano são compostas por 85 mil homens. Ainda que os números apresentados pelo líder islâmico nunca tenham sido oficialmente confirmados, não há dúvidas que o braço armado do Hezbollah é poderoso e pode ser comparado às tropas de países soberanos e independentes.

O Hezbollah também dispõe de armamento moderno, como rockets, mísseis, drones da última geração e sistemas portáteis de defesa aéreos. Assim, ao longo dos anos, o grupo xiita converteu-se numa verdadeira ameaça para todos aqueles que o queiram enfrentar. Sejam políticos libaneses que confrontem e ponham em causa a hegemonia da organização militar e política que controla grande parte do sul do Líbano e do sul de Beirute, sejam rivais fora de fronteiras — como Israel. 

Por detrás do grupo libanês existe um apoio fundamental, que contribuiu para todo este poderio militar: o Irão. O país de maioria xiita criou um “eixo de resistência” destinado a rodear Israel — considerado o seu maior inimigo geopolítico — de potenciais adversários no Médio Oriente. Desta coligação, fazem parte o Hezbollah, o Hamas, os Houthis do Iémen e ainda algumas forças xiitas espalhadas pela Síria e pelo Iraque. Mas não há dúvidas de que, entre todos, a organização liderada por Hassan Nasrallah é a que tem mais peso.

Hassan Nasrallah revelou, em 2021, que 100 mil homens pertenciam ao Hezbollah

AL-MANAR TV HANDOUT/EPA

Quando a guerra entre o Hamas e Israel começou a 7 de outubro, o Hezbollah foi rápido a declarar o seu apoio ao grupo islâmico que controla a Faixa de Gaza. E fez tudo para criar dificuldades a Israel no decorrer do conflito, disparando rockets a um ritmo diário que caíram sobretudo a norte de território israelita. O objetivo passava por forçar a desdobrar os esforços das Forças de Defesa de Israel e obrigá-las a concentrarem-se igualmente perto da fronteira com o Líbano.

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Praticamente um ano depois de 7 de outubro, o “centro de gravidade” do conflito, como descreveu o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, mudou-se mesmo para o norte. Ainda que mantenha a operação militar em Gaza, o governo israelita acrescentou um objetivo para esta guerra: o retorno dos cidadãos do norte — serão cerca de 60 mil — que foram obrigados a sair daquela região que habitavam por culpa dos ataques do Hezbollah.

Em cima da mesa, para alcançar essa finalidade, Israel pode mesmo avançar com uma operação terrestre em território libanês, tal como em Gaza. Até ao momento, Telavive tem apenas lançado ataques aéreos. Violentos. E que já causaram a morte a milhares de civis no estado soberano (a Palestina, até agora atacada, ainda não tem esse estatuto). Porém, o chefe das Forças de Defesa de Israel, Herzi Halevi, confirmou praticamente esta quarta-feira que os soldados vão entrar no Líbano por terra. Numa mensagem aos soldados, a alta patente militar declarou: “As vossas botas vão entrar em território inimigo, entrar em aldeias em que o Hezbollah preparou grandes bases militares, com infraestruturas debaixo da terra”.

“As vossas botas vão entrar em território inimigo, entrar em aldeias em que o Hezbollah preparou grandes bases militares, com infraestruturas debaixo da terra"
Herzi Halevi, chefe das Forças de Defesa de Israel

Quais são as capacidades atuais do Hezbollah e que dificuldades é que o grupo xiita pode representar para as Forças de Defesa de Israel? Como salienta a CNN internacional, a organização militar e política sediada no Líbano “não é o Hamas”. Em declarações ao Observador, Orna Mizrahi, especialista no think tank israelita Institute for National Security Studies, sublinha que o Hezbollah continua a ser uma “ameaça” para Telavive.

Mísseis, drones e o mito dos 100 mil homens: quais são as capacidades militares do Hezbollah?

Os cem mil militares que Hassan Nasrallah diz que pertencem ao Hezbollah nunca foram confirmados por institutos militares ou serviços de informações estrangeiros, podendo não corresponder à realidade. Uma das últimas contabilizações, realizada pelo think tank Center for Strategic and International Studies (CSIS), dá conta de cerca de 50 mil homens, sendo que 20 mil são reservistas.

Segundo um relatório daquele think tank publicado em março de 2024, as forças do Hezbollah “consistem principalmente em infantaria ligeira, que foram treinadas para serem discretas, para se moverem com facilidade e para serem autónomas”. Ou seja, não existe um comando e controlo centralizado, sendo que várias decisões são “tomadas de forma independente no campo de batalha com base no que um comandante quererá”

O objetivo é que, diante a ameaça de um exército mais forte como o israelita, o Hezbollah consiga que as forças se mexam de forma rápida e para tirarem vantagem de “esconderijos e fortes”. Mas o grupo xiita também aprendeu com “exércitos convencionais”, como explica o relatório do CSIS. Por causa da experiência na guerra civil da Síria, em que participou, a organização islâmica teve conhecimento das “capacidades e competências” usadas pelas tropas que representam um determinado país. E isso vale muito.

Mas não é só um exército bem treinado. O Hezbollah pode ter no seu arsenal entre “120 a 200 mil” rockets e mísseis, cujo alcance cobre todo o território israelita.“É provavelmente um dos grupos não estatais com mais armamento no mundo”, lê-se no relatório do CSIS, que salienta ainda o stock de munições de que a organização xiita dispõe.

Raio de ataques com diferentes mísseis no arsenal do Hezbollah

Uma das armas mais poderosas são os mísseis balísticos de longo alcance Fateh-110, que podem atingir alvos entre entre 250 a 300 quilómetros. Mas também os iranianos Qader 1, que foram utilizados esta quarta-feira para atacar Telavive. O Hezbollah usa igualmente drones iranianos, como os Shahed, que podem atingir alvos até dois mil quilómetros. E também possuem sistemas de defesa aéreos que protegem os céus e os equipamentos do grupo islâmico.

Mísseis no arsenal do Hezbollah

No entanto, não é certo onde é que o Hezbollah esconde no seu arsenal, mantendo essas informações em segredo por questões estratégicas. Mas a verdade é que, ao longo dos últimos meses, teve sucesso, como frisa a CNN Internacional, em perfurar o sofisticado sistema de defesa aéreo antimíssil israelita, o Iron Dome — o que mostra a eficácia da organização xiita.

Para que os seus ataques em solo israelita tenham mais sucesso, o Hezbollah instalou várias bases militares perto da fronteira com Israel. No sul do Líbano, o grupo xiita exerce um forte controlo na população, tendo angariado muitos dos seus militantes naquela parte do país. O sul de Beirute, mais concretamente o subúrbio de Dahieh, é um dos bastiões da organização xiita, de onde lança vários mísseis. Vários membros de topo do Hezbollah também estão escondidos naquela região da capital libanesa.

Bases militares do Hezbollah e onde escondem os mísseis

A resposta israelita e a “resiliência” do Hezbollah

Desde a semana passada, Israel está a conseguir prejudicar as capacidades ofensivas do Hezbollah com os ataques aéreos que começaram na semana passada, inicialmente com as explosões de pagers e walkie-talkies que causaram dezenas de vítimas mortais. Para mais, como explica Orna Mizrahi, as Forças de Defesa israelitas estão a conseguir danificar os locais de onde o grupo xiita lança os mísseis de médio e longo alcance.

“As infraestruturas, armazéns e fábricas de armamento têm sofridos danos consideráveis” por conta dos ataques israelitas, diz Orna Mizrahi, referindo  que o assassínio de vários de líderes do Hezbollah — como doze membros das tropas de elite — provocou várias baixas entre o grupo xiita. “Parte da cadeia de comando e controlo foi eliminada. Perderam muitos nomes importantes”, indica.

Em declarações ao Observador, Abed El Qadir Kanaaneh, professor do departamento de História do Médio Oriente e de História Africana na Universidade de Telavive, corrobora que a eliminação dos rostos mais importantes do Hezbollah prejudicou a forma como o grupo pode responder a uma operação terrestre ou mesmo aos ataques aéreos. “Os assassínios recentes de figuras-chave no Hezbollah, como [os comandantes militares] Ibrahim Akil e Fuad Shukar foram, sem dúvida, duros golpes para a organização. Teve um impacto quer operacional, quer simbólico.”

Os dois especialistas concordam que, apesar das perdas recentes e de terem usado armamento durante quase um ano para atacar o norte de Israel, o Hezbollah ainda é uma ameaça. Ao contrário do Hamas, que tem de recorrer a túneis para deixar entrar armas devido a ter como único vizinho Israel, a organização islâmica tem uma importante fronteira com a Síria e consegue restabelecer o seu arsenal com relativa facilidade.

O Irão é o facilitador no meio disto tudo. “É provável que Teerão possa reabastecer o arsenal do Hezbollah rapidamente num conflito com Israel”, lê-se no relatório do CSIS, que aponta ainda que este “reabastecimento de armamento é mais fácil que no passado, devido à presença do Irão na Síria, que se expandiu consideravelmente após Teerão ter salvado o regime sírio de Bashar al-Assad quando começou a guerra civil em 2011”. Existe mesmo um “corredor terrestre” que envia armas desde o Iraque, para a Síria e chega finalmente ao Líbano.

"Os assassínios recente de figuras-chaves no Hezbollah, como [os comandantes militares] Ibrahim Akil e Fuad Shukar foram, sem dúvida, duros golpes para a organização. Teve um impacto quer operacional, quer simbólico"
Abed El Qadir Kanaaneh, professor do departamento de História do Médio Oriente e de História Africana na Universidade de Telavive

Assim sendo, sublinha Abed El Qadir Kanaaneh, o Hezbollah está longe de estar “derrotado”. Adicionalmente, o especialista da Universidade de Telavive explica que “contrariamente a outras organizações e partidos políticos libaneses, o Hezbollah não está dependente apenas de certos líderes”. À semelhança do Hamas, apresenta uma “estrutura descentralizada” e está “preparado para múltiplas substituições de cada líder, incluindo Hassan Nasrallah”, o secretário-geral e figura de topo.

Por sua vez, Andreas Krieg, professor universitário na King’s College London, realçou, em declarações à Reuters, a resiliência do Hezbollah e a sua preparação para trocar as lideranças de forma eficaz e rápida. “Este é o inimigo mais formidável que Israel alguma vez enfrentou no campo de batalha, não por causa dos números [de homens] e tecnologia, mas em termos de resiliência.”

Hezbollah não quer uma “guerra total”: medo ou estratégia?

As forças paramilitares do Hezbollah são resilientes, são comparáveis às tropas convencionais de muitos estados e têm à sua disposição drones e mísseis que poderiam causar o pânico em Israel. Publicamente, as autoridades israelitas já afirmaram que estão a preparar-se para uma ofensiva terrestre. Mas, do outro lado, o tom do adversário tem sido muito cauteloso.

epa11331757 Hezbollah militants take the oath during the funeral of late Hezbollah fighter Hussein Ahmed Hamdan in Beirut, Lebanon, 10 May 2024. According to the Lebanese military, three Hezbollah fighters and a civilian were killed on 09 May in an Israeli airstrike in Lebanon's southern village of Bafliyeh in the district of Tyre.  EPA/WAEL HAMZEH

Militantes do Hezbollah

WAEL HAMZEH/EPA

Se Israel avançar com uma operação terrestre é certo que o Hezbollah terá de responder e ativar totalmente as suas forças, que já não participam num conflito enquanto principal beligerante desde 2006, na guerra de 34 dias que opôs a organização xiita a Israel. Mas será do interesse do grupo liderado por Hassan Nasrallah uma guerra longa e sangrenta, como na Faixa de Gaza?

Ao Observador, Orna Mizrahi considera que o Hezbollah não quer uma guerra e argumenta que os militantes xiitas “estão muito cautelosos com os alvos dos ataques” em Israel, evitando uma ofensiva que possa colocar em risco a vida de muitos militantes. “Eles sabem da superioridade militar das Forças de Defesa de Israel e entendem que se vão para uma guerra total, será devastadora quer para a organização, quer para a comunidade xiita, quer para o Líbano.”

“É por isso que eles não querem uma guerra. E penso que o Irão também não queira uma, porque não deseja uma guerra regional que possa envolver os norte-americanos“, continua a mesma especialista. Porém, os militantes xiitas não podem dar parte fraca e demonstrar que não desejam um conflito: “São teimosos e dizem que vão continuar”.

"Eles percebem qual é a superioridade militar das Forças de Defesa de Israel e entendem que se vão para uma guerra total, será devastadora que para a organização, quer para a comunidade xiita, quer para o Líbano"
Orna Mizrahi, especialista no think tank israelita Institute for National Security Studies

Uma “guerra total” no Médio Oriente, possibilidade que foi esta quarta-feira admitida pelo Presidente norte-americano Joe Biden, não será do interesse do Hezbollah. Mesmo que até pudesse envolver a participação direta do Irão e de todos os seus proxies, desde os Houthis ao Hezbollah, isso oporia esse bloco a Israel e aos seus aliados do Ocidente. 

Este cenário é indesejável para o secretário-geral do Hezbollah. “Nasrallah deve continuar com a estratégia que adotou desde o ano passado. Isso significa que vai intensificar os ataques de rockets contra Israel como retaliação, mas é improvável que comece uma guerra total”, opina Abed El Qadir Kanaaneh, acrescentando que o “foco” consiste em “degradar as capacidades israelitas no norte”.

Já para o governo de Israel, estes ataques ao Líbano são justificados com o retorno dos habitantes do norte do país. Mas estrategicamente não é só isso. Como escreve a BBC, uma derrota do Hezbollah seria uma importante vitória política para o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu; em Gaza, a situação parece estar num impasse e um cessar-fogo está cada vez mais longe. A atuação do chefe do executivo também está a ser posta em causa por causa dos reféns que ainda não foram resgatados da Faixa de Gaza — e um triunfo poderia dar-lhe força em termos políticos.

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Consequências dos ataques israelitas no Líbano

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Se as Forças de Defesa israelitas entrarem no sul do Líbano, vão enfrentar tropas bem preparadas e equipadas com tecnologia sofisticada iraniana, muitas vezes comparáveis com as forças armadas de muitos estados. Apesar das capacidades que dispõe, o Hezbollah, que também é uma organização política, não deverá querer uma guerra total e ambicionará manter tudo como está agora, em que desgasta as tropas israelitas e impede uma catástrofe para a organização xiita.

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