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Virgílio Lima "herdou" a presidência da mutualista Montepio quando Tomás Correia se afastou (na iminência de ser chumbado pela ASF). DR
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Virgílio Lima "herdou" a presidência da mutualista Montepio quando Tomás Correia se afastou (na iminência de ser chumbado pela ASF). DR

Virgílio Lima "herdou" a presidência da mutualista Montepio quando Tomás Correia se afastou (na iminência de ser chumbado pela ASF). DR

Montepio. O que o banco recuperar em imparidades vai para os associados da mutualista, diz Virgílio Lima

Virgílio Lima, candidato a novo mandato na Mutualista, admite abrir capital do banco a "parceiro internacional", após recuperar as imparidades. E dá a entender que Carlos Tavares sai da administração.

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Coincidi no tempo com a gestão de Tomás Correia“. Em entrevista ao Observador, Virgílio Lima, que procura a recondução como presidente da mutualista Montepio, considera que já “era previsível” que o antigo líder mostrasse publicamente que não apoiava a lista incumbente nas eleições marcadas para 17 de dezembro – eleições que vão determinar quem vai gerir os destinos da associação que une mais de 600 mil portugueses.

Demarcando-se de Tomás Correia mas recusando uma campanha baseada em “ataques pessoais”, Virgílio Lima não comenta a notícia – avançada pelo Observador – que o ex-líder está a mover-se nos bastidores com o intuito de incentivar a votação na Lista D, liderada por Pedro Gouveia Alves. Mas “é o que consta, sim“.

O ex-presidente da seguradora Lusitania, que “herdou” a presidência da mutualista quando Tomás Correia se afastou (na iminência de ser chumbado pelo supervisor ASF), adianta, também, que assim que o Banco Montepio estiver estabilizado poderá haver uma abertura do capital a um “parceiro de desenvolvimento”, que poderá ser uma entidade estrangeira.

Essa abertura do capital do banco, porém, só irá acontecer depois de o banco voltar aos lucros e recuperar imparidades que foram feitas mas que Virgílio Lima podem ser revertidas – gerando mais-valias que o responsável garante que serão entregues aos associados.

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E deixa implícito que, se a Lista A vencer, Pedro Leitão poderá continuar como presidente-executivo mas Carlos Tavares poderá deixar a presidência do conselho de administração – uma mudança que quer que aconteça “sem ruturas”.

Após a publicação da entrevista, a candidatura de Virgílio Lima realçou não ter feito referência à continuidade dos elementos sobre os quais foi diretamente questionado, argumentando que a ideia de que Carlos Tavares poderá sair é uma interpretação do Observador. 

“Há necessidade de prosseguir e consolidar diálogo construtivo com supervisores”

Virgílio Lima disse numa entrevista recente que, se vencer, será um mandato de “renovação” e “continuidade”. Renovação em quê e continuidade em quê?
Para responder a essa pergunta tenho de comentar o trabalho que foi feito nos últimos dois anos, desde que assumi esta missão. Foi um tempo atípico, particularmente exigente, com uma pandemia que nos reteve a todos em casa durante dois períodos longos, obrigando a um ajustamento na forma de responder às necessidades dos associados e clientes. Foi um trabalho extraordinário. Ao mesmo tempo tivemos de apresentar um plano de atividade a 10 anos e tínhamos os estatutos não-registados – num diálogo que não avançava, marcado por alguma tensão com a Direção-Geral da Segurança Social. Depois houve que reajustar o regulamento de benefícios porque tinha taxas técnicas desajustadas das condições atuais de mercado e que era imperativo ajustar – o que foi feito. E tivemos de estabilizar o grupo, porque havia algumas tensões entre entidades e intra-entidades do grupo e foi necessário fazer essa estabilização. Todos estes processos estruturantes precisam de consolidação, precisam de continuidade.

Continuidade nesse diálogo com a Direção-Geral da Segurança Social, que referiu?
Sim, porque entretanto desenvolveu-se um diálogo muito construtivo com os supervisores e há uma necessidade de seguimento que, se essa for a vontade dos associados, importa prosseguir e consolidar. Essa foi uma das razões desta candidatura. Mas também precisamos de mudança e de desenvolver outras áreas onde não conseguimos fazer o trabalho que julgamos ser fundamental. Desde logo em algumas prioridades na oferta mutualista, como na área da habitação. Há necessidades não satisfeitas dos nossos associados e podemos responder nessa área, que é uma área fundamental. Temos condições para encontrar soluções na nossa matriz de entreajuda.

Dê-nos exemplos concretos do que pode ser lançado.
A ideia que possamos ajudar o associado a encontrar uma habitação em condições ajustadas ao seu rendimento disponível e que permita, ao longo do tempo, ir criando um fundo que o ajude, no final, a ficar com a própria habitação. É uma modalidade que já está em preparação, está a ser ultimada. Também na área da saúde, temos já um cartão de saúde gratuito a todos os associados, que concede descontos muito relevantes, iremos associar a este cartão um seguro de saúde com módulos diversos, adaptados a cada associado, articulando a nossa seguradora com a associação e com a distribuição através do banco. Outro aspeto que achamos que não está completamente satisfeito é o apoio na velhice – as pessoas muitas vezes precisam de ir para lares, ter apoio e cuidado e a ideia é que durante a vida ativa possam criar condições com uma modalidade específica para depois poderem ter esse apoio quando precisam dele. Hoje já temos 1.000 utentes nas nossas residências, que criaram 800 empregos nos últimos anos, mas queremos alargar este projeto.

"Queremos ajudar o associado a encontrar uma habitação em condições ajustadas ao seu rendimento disponível e que permita, ao longo do tempo, ir criando um fundo que o ajude, no final, a ficar com a própria habitação. É uma modalidade que já está em preparação, está a ser ultimada".

Carlos Tavares de saída. “É preciso estabilidade no que está bem e mudar o que não está bem”

Ainda no tema da continuidade e renovação: se vencer, enquanto acionista com controlo do Banco Montepio, veremos a continuidade do líder da comissão executiva, Pedro Leitão? E do presidente do conselho de administração, Carlos Tavares?
O banco é um ativo-chave do grupo e olhamos com muito cuidado para esse ativo. Ao representante dos associados cabe a definição da estratégia do grupo, com autonomia, e a nomeação dos órgãos sociais. Também aí haverá continuidade e renovação. Continuidade no que está bem, naquilo que tem vindo a melhorar – e o último trimestre é exemplo disso, com lucros de 19 milhões de lucros do banco…

Atribui esse lucro mais à comissão executiva?
Atribuo à gestão no seu conjunto mas os executivos são quem está na linha da frente. E está a haver um trabalho muito bem sucedido, um trabalho junto das famílias, das empresas, na economia social – esse trabalho tem vindo a ser bem feito e terá continuidade. Depois, há outras áreas onde haverá mudanças, há sempre mudança por natureza – há pessoas que consideram que não é o momento de continuar, consideram que não estão a encontrar satisfação no desempenho, e vice versa. E, portanto, esses ajustamentos têm de ser feitos e o acionista nunca se pode demitir dessa função, tem de o fazer. Mas tem de o fazer sem ruturas – a instabilidade custa muito caro às organizações e o banco, em particular, teve muitas mudanças nos últimos anos. É preciso termos estabilidade no que está bem e mudar o que não está bem.

Carlos tavares

Virgílio Lima deixa implícito que Carlos Tavares não irá continuar na presidência do conselho de administração do Banco Montepio.

LUSA

“Coincidi no tempo com a gestão de Tomás Correia”

Foi membro da administração de Tomás Correia, que já se demarcou publicamente da sua candidatura. Também se demarca do que é o legado do antigo presidente?
Coincidi no tempo com a gestão de Tomás Correia. Nem sempre coincidimos na visão sobre as situações. E, portanto, essa reação que veio a público, dizendo que tinha uma posição distinta, não surpreende. Era previsível.

Era previsível porquê?
Na medida em que essas áreas onde não concordámos – embora tenhamos concordado em outras –, não surpreende esta tomada de posição pública.

Mas seja mais concreto. Exatamente em que é que coincidiram e não coincidiram, levando a esta posição?
Nós coincidimos em muita coisa e trabalhámos juntos. E noutras não coincidimos, mas sobre isso quem poderá responder é o próprio.

Tomás Correia faz campanha pela “Lista D” nas eleições ao Montepio

O Observador noticiou que Tomás Correia está a apoiar outra lista, a fazer campanha por essa lista, que é a lista D, liderada por Pedro Alves. Que comentário faz?
Nós não comentamos outras listas. Pensamos que temos necessidade de defender a ética, o rigor, a transparência, que não haja ataques pessoais porque isso prejudica sempre o associado. Portanto não comentaremos nada sobre as outras listas. Que as pessoas apoiem outras listas e que façam contactos, sim, isso é o que consta, mas não comento.

Não comenta outras listas mas essa mesma lista, a lista D, disse que foi a única que não teve reparos nem pedidos de esclarecimento por parte da ASF, no processo de registo prévio.
Não sei como é que isso pode… Só cada lista é que conhece a posição que a ASF tomou. Nós não sabemos o que é que foi dito às outras listas. Não sei qual é que é base da afirmação que foi feita, portanto não comento.

Montepio. Supervisor ASF garante que não informou listas sobre as rivais

Abrir capital do banco. “Uma vez recuperadas as imparidades, é algo que podemos encarar”

Já só restam cerca de 10 anos para a associação mutualista cumprir o plano de convergência. Como é que vai cumprir a obrigação de reduzir a exposição da associação ao grupo ao banco? Tem de ser limitada a 10% do ativo?
Não é assim. Essa é uma situação que está definida para determinado tipo de organizações, no nosso caso a entidade titulada tem sempre de ser uma entidade da economia social, tem de ter sempre a maioria. Não há contradição de leis, nós temos a possibilidade de ter o banco na sua totalidade – está na lei. Nós temos uma realidade específica, leis específicas que permitem que as entidades da economia social possam ter caixas económicas em que tenham o domínio.

"Discordamos frontalmente da PwC, mas eles têm a sua legitimidade"

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É conhecida a divergência que a mutualista tem com o auditor – a PwC – sobre o valor dos ativos por impostos diferidos. Há vários anos que esses ativos são considerados uma “engenharia fiscal”, em termos simples, consegue explicar o que é que está em causa e porque é que a PwC está em discórdia?
Esses ativos por impostos diferidos são um ativo efetivo, porque nós, de acordo com o plano de contas das entidades da economia social em que nos inserimos tudo o que entra em proveito só o que sai é que é custo. Não são aceites custos de provisões técnicas. Uma seguradora, por exemplo, quando entra uma responsabilidade constitui a provisão respetiva e isso é um custo. No nosso caso não é. Quando apuramos a demonstração de resultados no fim temos de somar como proveito todas as provisões técnicas e pagar IRC sobre isso. Mas temos direito de reembolso sobre isso quando os associados fazem o reembolso dessas modalidades, quando se observar o efetivo custo, por isso são diferenças temporárias. O que suportamos é o custo do dinheiro no tempo. Mas pagamos impostos, há fluxos de saída relevantíssimos e temos direito a esse regresso. Isso não é contestado por outros auditores, pela opinião de especialistas, professores especializados neste domínio, que têm exatamente a opinião dos outros dois auditores que não concordam com a PwC. O que a PwC refere é que não contesta a constituição do ativo, acha é que a sua recuperação tem de ser feita por outra atividade que não o próprio movimento associativo. Mas nós só temos esta atividade, são é novos associados ou os mesmos associados com outros valores. Por isso discordamos frontalmente, mas eles têm a sua legitimidade. Temos vindo a tratar esta matéria com muita diligência, ouvindo outros auditores, todos convergem na ideia de que a PwC não tem a posição correta, e nós não mudamos de auditor por haver uma divergência, o que estamos é a tentar trazer verdade sobre esta situação. Dizer que não recuperamos aquilo que estamos a recuperar efetivamente não faz sentido. Já recuperámos grande parte do valor inicial, estamos é a constituir novos valores, e temos isso demonstrado.

Continua a defender que o valor a que o banco está contabilizado no balanço da mutualista faz sentido, à luz daquilo que valem os bancos cotados em bolsa, por exemplo?
Há aqui dois conceitos: há um valor de mercado em que o banco compara com outros bancos para o valor que terceiros estariam dispostos a pagar pelo banco. Mas para a associação o banco tem um valor de uso extraordinário – só vale para nós, mas vale. Nós não temos uma rede de distribuição. Quanto vale uma rede de distribuição de quase 300 balcões? Quanto vale o conhecimento intangível das pessoas que conhecem todas as modalidades? O banco fornece-nos serviços em variadíssimas áreas…

Sim, mas se o banco precisa de ir buscar capital ao mercado e quando o faz não o faz com base no valor de uso que a acionista lhe atribui…
Os auditores concordam que o valor de uso é diferente do valor de mercado – a questão é qual é o valor atribuído a esse valor de uso. Nós temos de pensar que, se não tivermos o banco, quanto nos custa ter estas áreas de funcionamento? Os auditores obrigaram a uma revisão do valor, o que levou a uma imparidade, mas se o plano de negócio for cumprido podemos recuperar essa imparidade e planeamos fazê-lo. O banco, se estiver saudável, pode obter meios no mercado, sem ser por via da acionista, tem de ter um rating que anteveja uma exploração rentável, positiva. Nós temos tido sempre a capacidade de responder às necessidades de capital de que o banco precisou – e sem ajudas públicas, enquanto todo o sistema beneficiou de ajudas…

Não teve ajudas públicas, mas teve a ajuda pública dos 600 mil associados…
Sim, dos associados. Portanto a recuperação das imparidades terá sempre de ser feita antes que possa entrar qualquer parceria de desenvolvimento. Porque na parcela em que alguém entrar no capital estes ganhos futuros, estas recuperações de imparidades, teriam de ser repartidas pelos associados com essas entidades. Nós temos, primeiro, de recuperar esses valores para depois encarar parcerias de desenvolvimento. Parcerias que devemos encarar mas sem alterar a nossa matriz.

Para ser claro, está a falar de vender parte do capital do Banco Montepio.
Uma vez recuperadas as imparidades, é algo que podemos encarar, e no passado, antes destas imparidades, já foi ponderado. Depois, pelas razões conhecidas não teve seguimento.

Refere-se à Santa Casa da Misericórdia…
Sim, mas há parcerias internacionais onde temos assento, em diferentes domínios, certamente poderão encontrar-se parcerias de desenvolvimento depois desta fase de recuperação. Mas sempre sem alterar esta matriz social. É um ativo estratégico, não está à venda.

A mutualista nunca ficaria com menos de 51%?
A entidade titular tem de ter sempre a maioria, sim.

"Recuperação das imparidades terá sempre de ser feita antes que possa entrar qualquer parceria de desenvolvimento que possa vir a ser feita. Senão estas recuperações de imparidades teriam de ser repartidas pelos associados com essas entidades."

“A não ser que haja acontecimentos extremos”, Montepio não precisa de ajuda pública

Para quem vê de fora, quem não tem ligação ao Montepio, muitas vezes a instituição apenas é vista como algo que terá de ser resgatado, que acabará por ter de envolver-se o Estado e o contribuinte de alguma forma? Que garantias é que pode dar de que isso não irá acontecer nos próximos anos?
Não aconteceu nunca, na nossa história. E tivemos crises muito difíceis. Nós fizemos o plano de convergência e nele demonstramos que podemos convergir sem a necessidade de soluções desse tipo. Acompanhamos as necessidades de todas as entidades do grupo e vamos pilotando o cumprimento desses planos e, a não ser que haja acontecimentos extremos, há condições para, sem novas necessidades de capital, as empresas gerarem capital endógeno, libertarem imparidades, todo o grupo está a dar resultados positivos – o banco neste último trimestre já teve, e no próximo ano seguramente terá, resultados positivos, de acordo com os planos que temos. Não vemos necessidade de capitalizar as entidades ou de venda, elas têm capacidade de geração endógena de capital.

Sobre essa convergência que referiu no início, está em cima da mesa uma alteração do novo código das mutualistas? Isso tem vindo a ser negociado com o Governo?
O novo código veio determinar que as mutualidades passariam a estar sujeitas a um regime de supervisão, por referência ao regime dos seguros, com as necessárias adaptações às suas especificidades. Mas o legislador não disse quais podiam ser as adaptações a estas especificidades. Como a lei de enquadramento é para outras entidades, tem de se preencher esta lacuna de legislação específica.

Entretanto foram marcadas novas eleições legislativas, virá um novo executivo. Isso pode atrasar esse processo de negociação com o poder político?
Há situações que têm uma continuidade, pela sua importância. São 600 mil associados que, com as suas famílias, estaremos a falar de um milhão de portugueses. Isto tem um peso que não tem a ver com A ou com B, é algo que tem de ser resolvido naturalmente.

Diz que, salvo “eventos extremos”, não necessitará de apoios públicos. Mas e do ponto de vista dos benefícios dos associados, pode haver uma revisão dos seus benefícios?
A melhor garantia é que nós estamos com este crescimento que referi, em 2020, em 2021, até outubro crescemos em 104 milhões de euros entre poupanças e vencimentos. Crescemos a margem associativa, temos 17 milhões só até 30 de setembro de resultados, de excedentes criados. A associação está a gerar valor, todas as entidades estão a gerar valor. O banco, que teve crise como todo o setor teve, está a sair dessa crise e a começar a apresentar resultados positivos. A melhor garantia que se pode dar são os resultados positivos das entidades, corretamente escrutinados pelos organismos do grupo, conselho fiscal, não executivos… e pelos supervisores.

“Numa série longa”, investimento no banco foi o melhor de todos

O banco pode ter lucro em 2022 e entregar dividendos à mutualista relativamente a esse exercício?
O banco neste momento tem resultados transitados negativos que os resultados positivos que se obtenham em 2022 não permitem, de imediato, a distribuição de dividendos. Contudo, na medida em que obtenha resultados e cumpra o seu plano de negócios, poderá libertar imparidades que são resultados para a associação – significativos, porque o volume de imparidades é elevado. Essa libertação de imparidades à medida que o banco vá cumprindo os seus planos de negócio, como tem vindo a cumprir, vai permitir essa geração de valor que é resultado para a associação, permitindo-nos viver sem dividendos durante alguns anos. Outras entidades do grupo estão a pagar dividendos, e a associação também está a criar valor. Historicamente, a associação acorre às suas entidades “filhas” em tempos difíceis. Mas em termos normais, o retorno mais do que compensa esses anos difíceis.

Mas o saldo é negativo, relativamente ao banco… Houve uma perda de valor…
Depende da série que está a considerar. Se olharmos para a rendibilidade que o banco teve para a associação numa série longa é extraordinariamente elevada e fica muito acima de qualquer outra aplicação. Agora, num período de crise, a associação ocorreu. Quando o banco começar a libertar imparidades todo esse valor é para a associação.

O banco tem capital suficiente? Ou, melhor, seria bom ter mais capital, para poder trabalhar?
O banco tem 2.400 milhões de euros de capital, que os associados colocaram lá aos longo dos anos, se agora otimizar os seus ativos numa gestão que é do banco e que lhe cabe, se se libertar de alguns ativos que estão a consumir capital e não estão a render, isso é uma recapitalização implícita, de imediato. Por outro lado, diminui as fragilidades do banco. Tudo isto está nos planos, é o caminho que o banco está a fazer.

"Se olharmos para a rendibilidade que o banco teve para a associação numa série longa é extraordinariamente elevada e fica muito acima de qualquer outra aplicação. Quando o banco começar a libertar imparidades todo esse valor é para a associação."

Nesse âmbito, o suposto veículo para receber boa parte do crédito malparado. Já andamos a ouvir falar nesses planos há um ano, ou mais, porque é que ainda não avançou? E como é que vai funcionar?
Estas situações têm, naturalmente, uma procuração exigente, de preparação de ativos, de avaliação de ativos. Todo esse trabalho tem vindo a ser desenvolvido, mas essa é uma matéria onde eu não gostaria de detalhar, porque sem a aprovação prévia dos supervisores não se pode considerar…

Mas está nesse ponto? Está feito mas à espera de aprovação?
Estamos, justamente, a trabalhar. Julgamos ter encontrado soluções conceptuais adequadas. Estamos a estudar a viabilidade efetiva para, então, submeter às autoridades de supervisão e saber se temos condições de implementação – como esperamos. Isto para facilitar o funcionamento futuro do banco, em termos de capital, de rendibilidade…

Que soluções conceptuais são essas? Em termos simples, como é que esse veículo vai funcionar?
Quem compra estes ativos massivamente vê neles um potencial de realização extraordinário e compra-os a desconto. A ideia é que não sejam vendidos nessas condições e que o próprio grupo se possa apropriar de parte dessa mais-valia potencial, encontrando modelos de funcionamento que sem penalizar o banco nem a associação permitam a apropriação da geração de valor que estes ativos encerram se forem geridos convenientemente. Nós já tivemos, no passado, empresas do grupo que compraram ativos ao banco e que têm vindo a gerar valor, mais do que compensando essas compras. Temos este know how e estas provas dadas no seio do próprio grupo, portanto podemos encontrar algumas soluções para encontrar valor para os associados porque foram eles que, na crise, suportam, também, estas necessidades de capital.

“Não há despedimentos no grupo Montepio”

Que avaliação faz do BEM? É para continuar a existir ou pode ser vendido total ou parcialmente?
É uma pergunta que tem de ser endereçada ao Banco Montepio, para não haver ingerência na autonomia do banco que nós respeitamos. Mas as valências do BEM podem sempre ser otimizadas no funcionamento futuro do banco, num quadro de evolução e de renovação. Temos ali um know how que não podemos perder, fundamental até para a recuperação das empresas.

Mas é sabido que foi uma criação sempre muito controversa, no seio dos órgãos sociais do banco…
O BEM nasceu num momento em que se queria responder, via mercado de capitais, às necessidades das empresas. E, também, reestruturação de empresas que precisassem de apoio técnico, numa ótica de prestação de serviços. A evolução do próprio mercado trouxe as taxas para um nível em que as operações bancárias se tornaram muitos mais simples e atrativas. Portanto, essa matriz do BEM foi adaptada à prestação de serviços às empresas e neste momento é algo em que o próprio banco pensa e pondera em termos da sua evolução futura, mas isso é gestão interna do próprio banco que poderá responder.

"As valências do BEM podem sempre ser otimizadas no funcionamento futuro do banco, num quadro de evolução e de renovação", diz Virgílio Lima.

Os trabalhadores do banco e do grupo são muito importantes na votação, que garantias lhes pode dar sobre o seu futuro?
Não há despedimentos no grupo Montepio. Dizemos isto não por ser período eleitoral, dissemo-lo logo na assembleia-geral da associação no princípio de 2020. Os ajustamentos acontecem sempre pela evolução laboral, mas será sempre numa base voluntária, com interesse recíproco. Os trabalhadores são de uma importância fundamental numa organização em que os trabalhadores também são associados – têm de ser, naturalmente, tratados nessa dupla dimensão, a dignidade fundamental enquanto trabalhadores mas também na sua dimensão associativa.

Não haverá despedimentos coletivos, como está a acontecer noutros bancos?
Se somos uma entidade de entreajuda, de relação de proximidade, não faria sentido ser de outro modo. Não pode ser de outro modo. A adesão voluntária tem acontecido, sem ruído, a um nível muito expressivo. Mas não se esqueça que este grupo criou 800 postos de trabalho só nas residências e isso vai continuar. O grupo, globalmente, está a gerar emprego, mesmo num momento de crise. Contudo, não se pode deixar de fazer os ajustamentos necessários em função da evolução – isso também é defender o emprego.

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