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Conhecido como mosquito tigre asiático, o Aedes albopictus chegou a Portugal em setembro de 2017, quando foi detetado pela primeira vez numa fábrica de pneus no norte do país.Chegou à região do Algarve, em 2018, e ao Alentejo, em 2022. Agora, foi identificado pela primeira vez em Lisboa. Apesar de poder transmitir doenças como dengue, zika ou chikungunya, o mosquito não representa perigo se não estiver infetado.
Esta quarta-feira, a Direção-Geral da Saúde (DGS) confirmou que a espécie foi identificada em Lisboa, mas sublinhou que não existe, para já, risco acrescido para a saúde da população. Ainda assim, foi reforçada a vigilância entomológica e epidemiológica, “estando em curso a implementação de medidas para controlar a população de mosquitos”.
Mosquito que transmite dengue e zika detetado em Lisboa pela primeira vez
“Os mosquitos foram identificados no âmbito da vigilância entomológica, demonstrando a capacidade operacional da Rede de Vigilância de Vetores, implementada em todo o território nacional”, refere a autoridade nacional de saúde.
O que é o mosquito Aedes albopictus?
Com origem nas florestas tropicais do Sudeste Asiático, o “Aedes albopictus” é um mosquito escuro pequeno, com uma faixa dorsal branca, que pica sobretudo humanos, mas também cães, gatos, esquilos e outros mamíferos, bem como aves. Nos últimos anos tem vindo a disseminar-se globalmente: na Europa, a primeira deteção deste mosquito ocorreu na Albânia em 1979 e atualmente encontra-se em vários países do continente, entre eles Espanha, França, Itália, Alemanha, Bélgica, Holanda, República Checa, Suíça e Balcãs e, desde 2017, em Portugal.
Atualmente, o Aedes albopictus é considerado uma das mais invasoras espécies de mosquitos que, nos últimos 50 anos, foi capaz de colonizar áreas tropicais e temperadas de todos os continentes, exceto a Antártica.
Como é que se propaga?
De acordo com a DGS, o mosquito tem um alcance de voo limitado — cerca de 200 metros — pelo que a sua dispersão ocorre principalmente através do transporte passivo de ovos em atividades comerciais — ou seja, transporte de mercadorias e contentores–, nomeadamente o comércio global de pneus usados e plantas ornamentais.
No primeiro caso, os mosquitos depositam ovos na água que fica parada dentro dos pneus. “Os mosquitos têm ovos aquáticos, as fêmeas fazem as posturas na água, e os ovos desenvolvem-se dentro de água. Os pneus, armazenados em pilhas, acumulam água no interior e dão sítio que, por um lado, tem água e bactérias e, portanto, alimento para as larvas de mosquitos, e depois não têm predadores”, explicou José Manuel Grosso-Silva, curador de Entomologia do Museu de História Natural e Ciência da Universidade do Porto, numa entrevista à Lusa em 2022.
Faz também “refeições de sangue” no homem, podendo, por exemplo, entrar dentro de um carro em Espanha e picar as pessoas durante a viagem. Quando as pessoas chegam ao destino, o mosquito sai e pode instalar-se nessa região, explicou, também à agência de notícias, a coordenadora da Rede de Vigilância de Vetores.
A principal causa para a sua deslocação tem sido as alterações climáticas, com o aumentos das temperaturas nos últimos anos na Europa.
Quão perigosa é a espécie?
O Aedes albopictus pode transmitir doenças como dengue, zika ou chikungunya, caso estejam infetados. No entanto, segundo a DGS, desde que foram detetados pela primeira vez em Portugal, “não foram identificados nestes mosquitos quaisquer agentes de doenças que possam ser transmitidas às pessoas, nem se registaram casos de doença humana até ao momento”
Também Tiago Correia, especialista em saúde pública internacional e investigador no Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, considerou que a “espécie em si não representa nenhum perigo só pelo facto de existir”.
O facto de ter sido descoberto pela primeira vez na região de Lisboa, “não significa que estes mosquitos irão transmitir necessariamente estas doenças porque para que tal aconteça estes mosquitos têm de estar infetados e transmitir o vírus”, explicou ao Observador.
De acordo está também José Manuel Grosso-Silva que afirmou que “a questão sanitária, propriamente dita, não é um problema, a não ser que se conjuguem várias condições”
“Eles estão cá, mas não estão cá as doenças que eles transmitem. Era preciso que encontrassem uma pessoa infetada na época certa para picarem e ficarem eles próprios portadores. Tem de haver, dentro do corpo dos mosquitos, a evolução do parasita, e ele picar a pessoa seguinte em condições de transmitir. Não é assim uma coisa garantida que um mosquito que pique uma pessoa infetada a seguir transmita”, detalhou.
Apesar de não se registarem casos de doença humana devido a esta espécie, a DGS comunicou que “reforçou a vigilância entomológica e epidemiológica, estando em curso a implementação de medidas para controlar a população de mosquitos”.
Qual é o efeito das picadas?
Segundo a DGS, a picada do mosquito Aedes albopictus pode causar uma reação intensa, podendo provocar dor e comichão local, bem como reação exuberante com vermelhidão e inchaço. Se estiver infetado quando pica pode, eventualmente, transmitir vírus e parasitas que causem doenças como: chikungunya, dengue, zika e dirofilaria.
Como diminuir a propagação?
Apesar de a espécie ter uma elevada capacidade de adaptação, podendo estabelecer-se tanto em habitats urbanos como florestas, há medidas que a DGS aconselha para a eliminação e redução da propagação. Entre elas estão entregar pneus fora de uso numa estação de reciclagem, eliminar pratos com vasos de plantas, tapar poços, tanques e outros depósitos de água ou tratar, tapar e limpar piscinas.