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A Nokia tem atualizado alguns dos modelos mais conhecidos do início dos anos 2000, telemóveis que agora são usados por quem quer depender menos do smartphones
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A Nokia tem atualizado alguns dos modelos mais conhecidos do início dos anos 2000, telemóveis que agora são usados por quem quer depender menos do smartphones

Getty Images

A Nokia tem atualizado alguns dos modelos mais conhecidos do início dos anos 2000, telemóveis que agora são usados por quem quer depender menos do smartphones

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Na era dos smartphones, há quem queira um telemóvel “burro” para fazer um detox digital

Enquanto milhões de pessoas andam com um smartphone no bolso, há quem queira regressar a tempos mais simples e recorra a um dispositivo básico para limitar o tempo que passa a olhar para ecrãs.

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Jose Briones, de 27 anos, sentia-se assoberbado quando olhava para o smartphone. “Era muita coisa para acompanhar: o email, as mensagens, as notícias, os temas ligados ao trabalho…” Em 2019, percebeu que precisava de uma “mudança de ritmo” que lhe permitisse abrandar, explica numa videochamada com o Observador. Encontrou a solução numa troca: deixou o iPhone de lado e passou a usar um Light Phone II – um “dumb phone”, um telefone “burro”, em português. É esta a expressão que tem conquistado popularidade na internet e que é usada por quem está a deixar o smartphone de lado.

Briones, natural da Nicarágua mas a viver no Colorado, nos Estados Unidos, escolheu um telefone básico, com um ecrã e-ink, semelhante ao que é usado nos leitores de ebooks, e que dá apenas para fazer chamadas, enviar SMS e ver a lista de contactos. A primeira experiência durou “três ou quatro meses”. Mas a chegada da Covid-19 determinou a interrupção do teste. “Com a pandemia estava tudo a mover-se para o online. Estar conectado não era uma opção, era obrigatório”, lembra. Regressou ao smartphone, desta vez um Pixel 4A, um dos modelos desenvolvidos pela Google. “Percebi que não estava a sentir-me melhor”; tinham passado apenas dois meses desde que tinha abandonado o Light Phone II.

Decidiu regressar ao telefone menos “inteligente”, ditando o fim da relação com o smartphone e do “scroll infinito” nas redes sociais. “Continuei com a experiência”, diz Jose Briones, que até adotou um telefone concha para usar no trabalho, já que aí consegue ler alguns emails. “Mas é desligado a partir das 17 horas”, vinca.

Briones faz agora parte de uma vaga conhecida por minimalistas digitais, que procuram reduzir a dependência do smartphone, recorrendo principalmente a telefones básicos. Na indústria tecnológica são conhecidos como “feature phones”, mas nas redes sociais é o conceito de telefone “burro” que impera. Só no Reddit, há mais de 18 mil pessoas que trocam experiências e pedem conselhos na comunidade r/dumbphones, criada em 2014. Em vez de um smartphone, estes utilizadores recorrem muitas vezes a equipamentos que dominaram a primeira década do milénio, incluindo Nokia e telemóveis com formato concha, com o intuito de reduzir o tempo passado a olhar para o ecrã. Há algum sentimento de nostalgia no uso de telemóveis deste género, mas também quem use equipamentos mais simples mas já com um sistema operativo que permite instalar algumas aplicações básicas, como o WhatsApp ou o Spotify. Nesses casos, fala-se em telefones de “transição”.

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Para ajudar outras pessoas que queiram dar o salto e ter uma vida digital mais simples, Jose Briones criou um canal no YouTube a partir do qual faz análises a equipamentos do género e criou uma ferramenta online, o Dumbphone Finder, onde é possível encontrar um telemóvel que se adeque às necessidades do utilizador — e aí defende que não há um telefone “burro” perfeito, tudo depende do estilo de vida do utilizador. Na pesquisa feita pelo Observador foi pedido um telemóvel burro em formato concha, que permitisse ter aplicações como o WhatsApp e que estivesse disponível na Europa. Foram apresentadas duas opções: o Blu Tank Flip, que custa 73 euros, e o Doro 7030, a rondar os 104 euros.

[Pode ouvir aqui o quarto episódio da série em podcast “O Sargento na Cela 7”. E ouça aqui o primeiro episódio, aqui o segundo episódio e aqui o terceiro episódio. É a história de António Lobato, o português que mais tempo esteve preso na guerra em África]

O criador do Dumbphone Finder admite que ao início passou pelo chamado FOMO, em inglês “fear of missing out” ou medo de perder alguma coisa, mas que isso, entretanto, desapareceu. “Habituei-me a estar online para me entreter, mas com o passar do tempo mudei a minha forma de entretenimento. Já não quero saber o que o Twitter está a falar. Vou a restaurantes, ao teatro, faço puzzles. Tenho um set de Lego do Darth Vader na minha mesa à espera de ser montado. Estou a fazer coisas que me dão muito mais satisfação”, assume ao Observador.

O Light Phone II tem o mesmo ecrã de um leitor de ebooks

Ser um minimalista digital não é necessariamente sinónimo de não gostar de tecnologia. Briones diz, mesmo, que sempre foi um interessado pela área, mas que fez alguns ajustes para reduzir a dependência do telefone. “Passei a usar mais o computador, a agendar melhor as minhas reuniões. Em vez de estar a fazer uma reunião no Zoom no telemóvel, faço no computador.”

A família e os amigos já se habituaram à mudança, mas Briones reconhece que os desconhecidos olham para o telemóvel que usa com alguma estranheza. Mas explica que continua a ter uma forma de comunicação semelhante à que é usada por milhares de milhões de pessoas. “Continuo a ter as outras aplicações”, como o WhatsApp ou o Messenger, mas usa as versões web, disponíveis no computador. “Ainda comunico, mas não é instantâneo [como com o smartphone], dizem que demoro muito tempo a responder.” Mas tem sempre a resposta pronta para esses casos. “Se precisarem mesmo de mim, liguem. É a forma mais fácil de ter a minha atenção.”

“Estava habituado a precisar de estar online para me entreter, mas com o passar do tempo mudei a minha forma de entretenimento. Já não quero saber daquilo de que o Twitter está a falar. Vou a restaurantes, ao teatro, faço puzzles."
Jose Briones, de 27 anos, que trocou o smartphone por um Light Phone II

Apesar de acreditar que é possível viver apenas com um “dumbphone”, Briones continua a manter um smartphone por perto, para usar em caso de necessidade, como em viagens. “Troco quando não conheço a cidade ou preciso de usar um QR code para os voos ou comprar bilhetes de transportes.” O minimalista digital tem já em vista um desafio maior para este verão: viajar até à Alemanha recorrendo apenas ao telefone básico.

Mercado de telefones básicos representa 11% das vendas em Portugal

Francisco Jerónimo, vice-presidente de dados e analítica da IDC Europe, descreve a questão dos telefones básicos como “um tema interessante”, mas nota que no mercado europeu estes equipamentos são uma gota no oceano das vendas totais. “Quando se analisam os dados dos ‘feature phones’, verificamos que as vendas continuam em forte queda, quer a nível mundial, quer a nível europeu”, explica. No ano passado, segundo dados da IDC, as vendas destes telefones básicos caíram 22% globalmente, chegando ao valor mais baixo de sempre em termos de unidades vendidas, 231 milhões, o equivalente a 16% das vendas totais de telefones móveis. Na Europa, a queda foi menos acentuada (13%) devido à já baixa penetração deste tipo de telefones, nota Jerónimo, explicando que foram vendidos na Europa 5,7 milhões de unidades, o equivalente a 4,8% das vendas totais.

É a região de África que continua a segurar estas vendas de equipamentos básicos. No ano passado, representou 45% das vendas totais de telemóveis básicos, “devido ao baixo poder de compra, à indisponibilidade de acesso à internet na maioria das zonas rurais e à indisponibilidade de serviços de 5G, e até mesmo 4G, em vários países”, contextualiza o responsável da IDC Europe.

Em Portugal, foram vendidos no ano passado 311 mil telefones apenas com funções básicas num total de 2,8 milhões de equipamentos, segundo dados da IDC. Feitas as contas, os “feature phones” representaram apenas 11% do mercado nacional. Francisco Jerónimo nota um ponto “curioso” em Portugal: apesar de vendas pouco expressivas, foi registado um aumento de 22% em Portugal no ano passado, que se deve a um movimento de recuperação após as fortes quedas registadas em 2020 e 2021, na ordem de “20 a 30%”. O responsável da IDC Europe explica que estes equipamentos básicos “continuam a ser utilizados por empresas, principalmente por grandes empresas com equipas de instalação de serviços ou equipas técnicas no terreno”. Nesse sentido, “em Portugal, na Finlândia e em Itália, as vendas no segmento empresarial cresceram acima dos 30%”, 39% no caso português, como “resultado de alguns negócios empresariais, o que contribuiu para o bom desempenho dos ‘feature phones’ no mercado.”

“Acredito até que existam algumas pessoas que optem por efetivamente deixar de utilizar smartphones de forma definitiva, mas essa percentagem é insignificante e não tem qualquer impacto no mercado."
Francisco Jerónimo, vice-presidente de dados e analítica da IDC Europe

A Alcatel foi a marca mais vendida em Portugal no ano passado na categoria dos “feature phones”, responsável por 52,2% das vendas. Ao Observador, a TCL, a empresa que tem os direitos de licenciamento da Alcatel, explica que dispõe de “sete referências de ‘feature phones’ em Portugal”, que representam “cerca de 20% do negócio da TCL” no país. Os dados da IDC indicam que a Nokia foi a segunda marca mais vendida nesta categoria (23,2%), seguida pela SPC (7%), MobiWire (5,3%) e Wiko (4,7%).

Francisco Jerónimo reconhece que algumas pessoas podem estar “cada vez mais conscientes dos efeitos nefastos da dependência do smartphone” e a tentar “encontrar formas de reduzir a utilização”, optando por um telefone básico, mas que não é possível inferir que esteja a registar-se uma “tendência de retorno” a estes equipamentos. “Acredito até que existam algumas pessoas que optem por, efetivamente, deixar de utilizar smartphones de forma definitiva, mas essa percentagem é insignificante e não tem qualquer impacto no mercado.”

A GfK também refere que em Portugal os dados não apontam para um comportamento relevante dos telefones básicos. “Em 2022, os feature phones pesaram menos de 12% em unidades e pouco mais de 1% em valor do total de telemóveis vendidos.” E estabelece uma comparação com os números de 2012, quando os equipamentos básicos representavam “67% das unidades vendidas e 29% em valor.” A evolução dos smartphones foi bem mais expressiva em dez anos: de 33% de unidades vendidas em 2012 passou-se para 88% em 2022.

Marina Koytcheva, vice-presidente da área de previsões da consultora britânica CCS Insight, também considera que é cedo para se falar numa tendência que possa fazer mexer os números de vendas de telemóveis básicos. “A nossa pesquisa de consumo mostra que o smartphone continua a ser o equipamento tecnológico mais valorizado pelas pessoas e aquele que usam com mais frequência.” E, à medida que existe “uma digitalização de todos os aspetos da vida em sociedades tecnologicamente avançadas, ter uma forma fácil, rápida e de confiança de aceder a serviços digitais e aplicações é obrigatório”, lembra Koytcheva.

“A procura de um equipamento com menos funcionalidades é sobretudo impulsionada pela necessidade de um equipamento barato para uso temporário, por exemplo uma viagem ou algum evento em que seja preciso uma bateria com um longo tempo de vida ou para um detox digital, que tipicamente tem um período definido”, contextualiza. “É difícil imaginar o humilde telefone básico a ter um regresso em grande.”

Que marcas fazem “dumbphones”?

Há duas grandes vertentes neste mercado dos telefones mais simples: os “dumbphones” que permitem uma mudança completa de estilo de vida, limitando-se às funções mais básicas; ou os equipamentos compatíveis com algumas aplicações e acesso à localização. Também há dois segmentos entre as marcas: novas empresas, como a Light Phone ou a Punkt; ou as já velhas conhecidas marcas, da Nokia à Alcatel.

Na nova vida da Nokia, agora controlada pela HMD Global, sempre houve espaço para o revivalismo e nostalgia. Em 2017, a marca começou por ressuscitar o Nokia 3310 (um modelo lançado pela primeira vez em 2000), dando à nova versão do equipamento um ecrã a cores e conetividade 3G. Um ano depois, chegou o anúncio do Nokia 8110, eternizado no grande ecrã por Keanu Reeves, no filme “Matrix”.

Nokia 8110 Matrix Nokia 8110 4G

O Nokia 8110 ficou associado ao filme "Matrix". Em 2018 ganhou uma versão atualizada, já com 4G

A empresa tem continuado com esta ideia de modernizar modelos icónicos e, no verão do ano passado, apresentou o 8210 4G e o 5710 XpressAudio, uma continuação da ideia da linha XpressMusic, mas já com auriculares sem fios que podem ser guardados no interior do equipamento. Na área dos “flip phone”, um dos equipamentos mais recentes é o Nokia 2780 Flip, um telefone concha com teclado alfanumérico a acompanhar – em que eram precisos vários toques numa tecla para escrever uma letra.

Também há opções fabricadas pela Alcatel, marca que foi licenciada pela chinesa TCL. E, embora a Xiaomi também fabrique telemóveis mais simples, não tem qualquer referência à venda no mercado português.

A Light Phone e a Punkt são opções mais recentes, feitas especificamente para quem quer depender menos do telemóvel. A Light Phone está sediada em Nova Iorque e tem atualmente à venda o Light Phone II, cuja versão internacional custa 299 dólares (273,38 euros). Além das funções básicas, este equipamento já permite ouvir podcasts e usar dispositivos Bluetooth. Em números avançados à BBC no ano passado, os clientes principais da empresa tinham entre 25 e 35 anos.

Já a Punkt é uma empresa suíça, que também faz telefones básicos, mas ligeiramente menos minimalistas do que a Light Phone e também mais caros – o modelo mais recente, o MP02, custa 329 euros.

Punkt MP02, telemóvel básico

O Punkt MP02 tem apenas funções básicas

“Mesmo que telefones como o Light Phone ganhem alguma notoriedade junto de um segmento nicho de utilizadores, a realidade é que mais de 85% da população na Europa utiliza um smartphone e essa percentagem continua a crescer”, lembra Francisco Jerónimo, da IDC. “Num universo de 1.500 milhões de telefones vendidos anualmente, qualquer que seja o sucesso de aparelhos como o Light Phone, será apenas uma gota no oceano.”

Hashtag “dumbphones” tem milhões de visualizações no TikTok

A presença dos telefones “burros” com funções muito limitadas não se limita apenas ao Reddit. No TikTok, a rede social de vídeos curtos associada a um público mais jovem, a hashtag que agrega o conceito destes telefones mais simples conta com 3,2 milhões de visualizações, entre utilizadores italianos, franceses e ingleses, com dispositivos bastante diferentes. Um italiano, por exemplo, mostra na rede social como conseguiu fazer um toque de telemóvel personalizado a imitar o tema de “Piratas das Caraíbas” usando um velhinho Nokia 3310.

Também há quem explique que decidiu mudar para um “dumbphone” para fazer um detox digital, depois de perceber que estava a passar demasiadas horas a olhar para um ecrã. E, entre os mais jovens, há quem recomende não o uso a tempo inteiro de um equipamento do género, mas apenas quando numa saída à noite, para evitar publicações nas redes sociais de que se possam arrepender mais tarde. “Percebemos que todos os problemas que temos quando vamos sair à noite, tudo o que nos leva a chorar ou a ter uma má experiência, tem origem no telefone”, explica no TikTok uma jovem que só sai à noite com um “flip phone”.

Pediu seguidores no TikTok e agora tornou-se viral. Quem é Shou Zi Chew, o rosto da plataforma nos EUA?

No Google Trends, a ferramenta da Google que permite medir tendências de pesquisa, o conceito de “dumbphone” tem aumentado de popularidade ao longo do último ano a nível global, com um pico de interesse em fevereiro. Em Portugal, o cenário é ligeiramente diferente, com um aumento súbito registado em meados de março.

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