Boa noite. O relógio marca 00h21 e escrevemos esta mensagem para o caso de alguma coisa nos acontecer ao longo da madrugada. Em princípio, falamos do risco de pegar no sono antes do final da cerimónia, tendo em conta que já somos uns jovens de 40 anos e que acordamos habitualmente cedo por causa dos saltos altos da vizinha de cima (não é tão interessante como pudesse, momentaneamente, parecer). Mas sabe-se lá. Podem sempre acontecer coisas mais empolgantes: abduções por alienígenas, sequestros e pedidos de resgate (no caso em epígrafe, tratar-se-ia de um manifesto erro de casting, mas enfim), uma entorse no pulso ao preencher os Censos enquanto se faz tempo para a uma – todo um mundo de possibilidades.
É um ano estranho, já o sabemos. Os Óscares voltam a ser comentados por Mário Augusto. Além disso, temos a pandemia. Depois de uma temporada de prémios essencialmente feita por Zoom (ah, o glamour do Zoom), a 93.ª cerimónia de entrega dos prémios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas arrisca um ténue ensaio de regresso à realidade. Umas pessoas no Dolby Theatre do costume, a maior parte a 13 quilómetros dali (e a malta a queixar-se dos dois metros de distância de segurança) na estação de comboios de Union Station. 170 pessoas onde costumam estar mais de três mil, muito teste à Covid e ligações via satélite para uma série de partes do mundo. Tudo a ver se evitamos lágrimas em forma de pixel. E se é possível levantar a sala estando ela vazia.
Foi um ano em que se arriscou matar o cinema. Salas fechadas por todo o mundo, estreias adiadas ou transferidas para as plataformas de streaming, um desastre financeiro, social e cultural. A esta cerimónia dos Óscares cabe acender uma tocha de esperança no regresso, na ressurreição, mesmo que com adaptações. Cabe mesmo – sem ironias.
É também um ano sem grandes filmes – o grande filme é mesmo aquele em que estamos todos metidos desde Março de 2020 – mas com filmes importantes. “Nomadland” pode dar a vitória à primeira mulher de etnia não branca de sempre e somente a segunda em absoluto. Chadwick Boseman pode ser homenageado com o Óscar de melhor ator a título póstumo. As nomeações – e, portanto, espera-se que também os prémios – refletem tão só, depois dos #Oscarssowhite de 2019 e dos #Oscarsoright de 2020, os Óscares mais inclusivos de sempre, com 70 mulheres nomeadas nas 23 categorias e quase metade de atores não brancos entre os nomeados às quatro categorias da especialidade.
À parte isso, é 25 de Abril, ou 25 de Abril e mais 49 minutos, vá. Costuma ser bom dia para revoluções. Vai começar o tradicional acompanhamento dos Óscares vistos do sofá, que é como quem diz, do sítio onde passámos os últimos 13 meses e meio. A vizinha que faça barulho com os saltos antes das oito da manhã que a gente diz-lhe. Já falámos do Mário Augusto? E da Catarina Furtado, que também está a apresentar? E que tem um pacto com o diabo porque toda a gente à volta envelhece, menos ela? Ela e os Simpsons. Não? Enfim. Vamos a isso. Se alguma coisa acontecer, por favor, alguém carregue no “send”.
1h00. A cerimónia começa com créditos iniciais e tudo, à filme. Um plano-sequência acompanha a primeira apresentadora, que é Regina King, atriz e realizadora de “Uma Noite em Miami”, do exterior para o interior da Union Station. Simples e encantador.
1h01. Nada de grandes números de abertura; um minuto depois, Regina já está a discursar. Refere-se inevitavelmente à pandemia e ao desfecho do julgamento de Derek Chauvin, dos tempos difíceis que vivemos e como os filmes nos têm ajudado a ultrapassá-los. É um monólogo de abertura sem piadas – e isso parece certo. Moralismos à parte.
1h04. Já sabíamos que seriam só 170 pessoas, mas só agora nos apercebemos de quão pouca gente é, de facto, e portanto da dimensão modesta da cerimónia. Há mais pessoas nomeadas pelo argumento de “Borat”.
1h05. Passaram cinco minutos e já se vai entregar o primeiro Óscar. Este ano, começam pelo argumento, essa coisa de somenos – talvez para despachar logo os escritores, esses chatos. É uma surpresa: Emerald Fennell, também realizadora do filme, vem receber o prémio por “Uma Miúda com Potencial”. Diz que não escreveu o discurso, o que é interessante, já que estaria na categoria mais habilitada a fazê-lo. Talvez por isso recupera um antiquíssimo cliché: “Isto é tão pesado…”, mas logo acrescenta, com interesse literário: “…e tão frio”. Repararam na luz tão bonita que está sobre Carey Mulligan? Ou será Carey tão bonita sobre a luz?
1h10. Óscar de melhor argumento adaptado para “O Pai”. Florian Zeller adaptou a sua própria peça de teatro com a ajuda de Christopher Hampton e estreou-se na realização. Dedica o prémio a Anthony Hopkins, “o melhor ator vivo” (parêntesis acrescentado às 4h30: esta expressão sempre nos irritou. Mas já lá voltamos). Há, porém, outra vitória aqui, quando Regina King conseguiu dizer, sem se engasgar, o nome completo de outro dos nomeados e respetiva lista integral de envolvidos: “Borat Subsequent Moviefilm: Delivery Of Prodigious Bribe To American Regime For Make Benefit Once Glorious Nation Of Kazakhstan”, argumento de: Sacha Baron Cohen & Anthony Hines & Dan Swimer & Peter Baynham & Erica Rivinoja & Dan Mazer & Jena Friedman & Lee Kern; Story by Sacha Baron Cohen & Anthony Hines & Dan Swimer & Nina Pedrad. Nós avisámos que eles não cabiam na sala.
1h14. Primeiro intervalo. Louvor à RTP que não está a sobrepor comentários à cerimónia; só se conversa nos intervalos.
1h18. Laura Dern vem entregar o Óscar para Melhor Filme Internacional, a categoria onde gostaríamos de ver “Vitalina Varela” – e consta que esteve bem perto. Porque é que estamos já a despachar o Melhor Filme Internacional e Óscares de Argumento? Devem ser indicações da DGS deles. O mundo ao contrário. Vence “Mais uma Rodada”, como esperado. O realizador Thomas Vinterberg faz um discurso tremendo. Começa por contar como, desde criança, prepara discursos para aquele momento e agora ali está. Nestes poucos minutos, já se falou de nomeados que começaram a “carreira” a vender pipocas no cinema ou a trabalhar em call centers. São uns Óscares enquanto festa normal, de pessoas normais, num ano de filmes sobre gente normal – e isso é bem capaz de ser especial. Vinterberg agradece a Mads Mikkelsen – é já um obrigado ao segundo Hannibal Lecter da noite – e termina com uma passagem que nos deixa sem palavras: a dedicatória à filha, que deveria ter participado no filme, e morreu num acidente dois meses antes de começar a rodagem porque “alguém estava ao telemóvel”.
1h20. Daniel Kaluuya recolhe, como previsto, o Óscar para Melhor Ator Secundário. É o primeiro para “Judas e o Messias Negro”. Este ano, como cabia pouca gente, cortou-se na banda; logo, não há ninguém para começar a tocar a meio dos discursos e despachar galardoados como quem expulsa os bêbedos do bar depois da hora de fecho. Sobra tempo para as pessoas e as palavras – o que verdadeiramente importa. Mas também não há vídeos, montagens, nem sequer os tradicionais clips com um trecho dos nomeados para uma pessoa saber do que se está a falar. O orçamento foi todo para o álcool gel.
1h39. Don Cheadle vem entregar os prémios para Caracterização e Guarda-Roupa com uma ótima deixa: “Neste negócio, todos sabemos que bem podes aparecer e fazer o teu melhor trabalho de sempre. Se o teu cabelo estiver mal, o teu cabelo é tudo aquilo de que se vão lembrar.” Vitória dupla para “Ma Rainey: A Mãe do Blues”.
1h49. Bryan Cranston anuncia o Óscar Humanitário Jean Hersholt para a Motion Picture & Television Fund, criada há 100 anos, precisamente na ressaca de outra pandemia. Há um século que ajuda os profissionais do cinema e da televisão com poucos ou nenhuns recursos, e o seu representante vem recordar que Jean Hersholt, que dá nome ao prémio, foi durante 18 anos precisamente presidente da instituição. “Esta noite, levamos-te de volta para casa.”
1h56. O magnífico Bong Joon-Ho, no Dolby Cinema de Seul, introduz os nomeados para melhor realizador de uma forma estupenda: para já, em coreano; depois, contando que lhes perguntou como explicariam em 20 segundos o que faz um realizador a um miúdo que passasse a correr na rua. Seguem-se as respostas, com Chloé Zhao a revelar que, quando em dúvida, pergunta o que faria Werner Herzog.
1h59. Sem que esteja ainda decorrido sequer um terço da cerimónia, entrega-se o Óscar para Melhor Realizador. Absurdo. Se querem explicar o que é um realizador, talvez seja boa ideia não o entregarem antes dos Óscares de melhor fotografia, montagem, efeitos especiais, atores, design de produção – enfim, de tudo. Mas deve ser só mais um sinal dos tempos em que as plataformas de streaming “assinam” tudo e nem nos deixam ver a ficha técnica e em que os fãs decidem as versões que querem ver dos filmes – a caminho da invenção de uma suposta forma de arte sem autor, sem artista. Ganha Chloé Zhao, que fala de bondade no discurso de aceitação e dedica o Óscar àqueles que não a deixam perder. É um prémio esperado e merecido, além de manifestamente histórico, mas já nos estragaram todo o gozo. Agora, ficamos em pulgas a torcer porquê? Pelo nosso favorito a melhor curta de animação?
2h01. Estamos aqui a pensar: se isto agora é assim, podiam era anunciar já o melhor filme. A malta vai-se deitar e amanhã logo vê quem é que ganhou a melhor curta documental.
2h02. Há um técnico de luz no estúdio da RTP que ainda adormeceu primeiro do que nós.
2h06. Todos temos um amigo que sempre nos tentou explicar como “sound mixing” e “sound editing” são duas-coisas-completamente-diferentes-como-é-que-podes-sequer-confundir? A questão é: o que é que ele vai fazer agora que a Academia finalmente concentrou a coisa num Óscar só: som, ponto. Riz Ahmed, que faz de surdo em “O Som do Metal”, vem anunciar a categoria e entregar o Óscar ao seu próprio filme. Em todo o caso, é merecido.
2h10. Riz continua em cena e pergunta quantos na sala começaram a carreira na equipa de uma curta – mais uma forma simples e perfeita de introduzir uma categoria. Continuamos sem clips porque estouraram o orçamento em desinfetante, e nesta fase faz mesmo falta porque são filmes muito desconhecidos. Assim, limitam-se a ser nomes que despejam e ouvimos anunciar, sem emoção. “Two Distant Strangers” vence. Travon Free, um dos realizadores, cita James Baldwin para pedir que não sejamos indiferentes à dor dos outros.
2h18. Reese Witherspoon entrega o Óscar para Melhor Curta de Animação a “If Anything Happens I Love You”. Mais ou menos o disclaimer com que iniciámos esta conversa.
2h26. O favoritíssimo “Soul” leva o Óscar para Melhor Filme de Animação. Os autores agradecem, entre outros, a Questlove, que faz um sinal tranquilo, compincha, desde a cabine de DJ. Isto está mais pequeno do que os Globos de Ouro. Da SIC.
2h33. Marlee Matlin. E mais não dizemos. Óscar de Melhor Curta Documental para “Colette”, que acompanha Colette Marin-Catherine, membro da Resistência Francesa, no regresso à Alemanha, 74 anos depois. Colette, conta o realizador Anthony Giacchino, nasceu em 1929, dias antes da primeira cerimónia de entrega dos Óscares, perante uma plateia talvez do tamanho daquela. E sim, há um certo sentimento de regresso às origens, ao básico, em toda esta noite.
2h41. Outro Óscar tão previsível como merecido: “A Sabedoria do Polvo” é o Melhor Documentário. Mas recebem o prémio Pippa Ehrlich e James Reed. Porque é que não está aqui Craig Foster? O mergulhador que filmou tudo sozinho durante um ano em apneia? Enfim, isto já que o polvo não pode (spoiler alert)…
2h45. Na emissão da RTP, ouvem-se queixas de que falta glamour à cerimónia. Alguém ainda não ouviu falar de Covid. Mas é natural. Não se tem falado muito.
2h49. Steve Yeun, de “Walking Dead” e, para o que aqui interessa, “Minari” vem entregar o Óscar de Melhores Efeitos Especiais a “Tenet”, que é o que resta para o filme que ia salvar o cinema em 2020.
2h56. Um dos momentos mais deliciosos da noite: Yuh-Jung Youn vem receber o Óscar para Melhor Atriz Secundária, por “Minari” (quer dizer que ainda não foi desta para Glenn Close). Mete-se com Brad Pitt, que anunciou o prémio, reorganiza-se com um “let me put my shit together” e explica que não pode ser melhor do que Glenn Close, não estão em competição, cada nomeada fez um filme diferente, combateram em guerras diferentes. Um encanto. E a Coreia volta a marcar pontos. Muitos.
3h02. Halle Berry vem entregar o Óscar para Design de Produção, essa categoria tão mais importante do que a realização. É o primeiro para “Mank”.
3h06. Melhor Fotografia para “Mank”. David Fincher que não deixe Halle Berry sair do palco.
3h15. O senhor Harrison Ford lê algumas notas de visionamento durante a edição de “Blade Runner”. É mais um momento para somar à longa mitologia do filme… O pretexto serve para fazer o elogio da montagem. “As possibilidades são infinitas. O editor fará milhões de opções, até conseguir a melhor hipótese do que o filme quer ser.” “Portanto”, conclui, sábio, “you better really love making movies”. É o segundo Óscar para “O Som do Metal”.
3h20. Viola Davis entrega o segundo prémio humanitário da noite a Tyler Perry, ator, realizador e argumentista que dirige a Perry Foundation e faz o melhor discurso da noite: “Recusem o ódio!” Assim dito parece terrivelmente banal, mas puxem lá a box atrás e vão ver.
3h22. Melhor Banda Sonora: “Soul”. Jon Batiste, ao lado de Trent Reznor e Atticus Ross, agradece a Deus as 12 notas, as mesmas que deu a Duke Ellington, Bach ou Nina Simone… Mas também à Laura Pausini, acrescentamos nós.
3h36. E o problema é que a Laura anda por aqui, na categoria de Melhor Canção. Mas a coisa escapa para “Fight for You”, de H.E.R.. Segundo Óscar para “Judas e o Messias Negro”.
3h40. Queslove lança um quiz musical sobre músicas que os presentes terão de adivinhar se foram premiadas com o Óscar, apenas nomeadas ou nem isso. É o único “bombom” da cerimónia – e algo… infantil, não? Glenn Close ganha aquilo, identificando “Da Butt”, dos E.U. (Experienced Unlimited), escrito para “School Daze”, de Spike Lee, em 1988, e que a Academia ignorou. E ainda dança, para gáudio da sala. Tão perfeito que diremos que estava combinado – mas isto somos nós, que somos uns cínicos.
3h51. Hora de lembrar aqueles que nos deixaram durante o último ano. Primeiro, os esmagadores três milhões de mortos para a Covid, as vítimas de violência em geral, e tantas outras. Depois, as pessoas do cinema: Ian holm, Max von Sydow, Joel Schumacher, Bertrand Tavernier, Jean-Claude Carrière, Michael Apted, Christopher Plummer, Kelly Preston, Ennio Morricone, Larry McMurtry, Alan Parker, Michel Piccoli, Sean Connery, Chadwick Boseman, entre outros que passam num “In Memoriam” tão veloz que é impossível apontar.
3h59. Faltam apenas três categorias e, até aqui, está tudo certo com as escolhas da Academia e tudo errado com o alinhamento da cerimónia. O Óscar de Melhor Filme vai ser entregue antes dos de Melhor Ator e Atriz. Porquê? Serão as celebridades mais importantes do que a obra? Rita Moreno, galardoada com o Óscar de Melhor Atriz Secundária por “West Side Story”, foi, no entender de Steven Soderbergh e demais produtores da gala, a pessoa mais indicada para entregar o prémio e quem somos nós, criaturas antiquadas que acham que o realizador é mais importante para um filme do que os efeitos especiais ou a canção original, para questionar?
4h05. A trupe de “Nomadland”, alguns dos verdadeiros nómadas incluídos, sobe ao palco para recolher o que é dela por direito. Chloé Zhao volta a agradecer a bondade, a gentileza, a amabilidade que não deixemos morrer dentro de nós. E Frances McDormand pede que vejam o filme na maior tela que conseguirem (foram precisas 3h05 para alguém tocar neste assunto. O cinema deve estar mesmo para morrer). Saem do palco ao som de “Nothing’s Gonna Stop Us”, Starship, e vamos para um último intervalo absurdo, à espera de saber quem são os melhores actores.
4h10. Ou foi de nós ou Catarina Furtado acaba de dizer que vem aí Joaquim Fónix.
4h11. Renée Zellweger entrega o Óscar de Melhor Atriz a Frances McDormand. É já o terceiro da carreira, mas talvez lhe pudesse ter sido retirado logo de seguida, já que a julgar pelo discurso (?) de aceitação não lhe deve dar grande importância.
4h13. Na mesma linha, Joaquin Phoenix diz duas banalidades quaisquer sobre não saber explicar o que é ser ator e anuncia, sem pingo de emoção, que o Óscar de Melhor Ator vai para Anthony Hopkins, que nem sequer está na sala, e que a Academia recebe o galardão em nome dele. Fónix. A Catarina é que estava certa. Fónix. Até o ano da troca de envelopes foi menos anticlimático do que isto. A nossa última reunião de condomínio acabou com mais emoção. A missa, da última vez que fomos, terminava com mais alegria.
Sumário: “Nomadland” ganhou isto com 3 Óscares; “O Pai”, “Mank”, “O Som do Metal”, “Ma Rainey: A Mãe do Blues”, “Judas e o Messias Negro” ficam em segundo ex aequo, com 2; e “Minari”, “Uma Miúda com Potencial”, “Tenet” e “Soul” vão com um cada, tantos quantos “Mais uma Rodada” ou “A Sabedoria do Polvo”. É mesmo o ano mais normal de sempre, sem excepcionalidades que pairem acima da turba. “Os 7 de Chicago”, que estava nomeado para 6, sai com zero, uma matemática aparentemente confusa, mas, na realidade, bastante simples.
Mais importante do que isso agora, antes de fechar, é voltar àquele momento, ainda no início da noite, em que Florian Zeller chamava a Anthony Hopkins “o melhor ator vivo”. Talvez seja. E talvez a expressão, pela primeira vez, nos faça algum sentido. É que, desta feita, o melhor ator em absoluto talvez não fosse nenhum dos vivos. Afinal, Chadwick Boseman, morto, não teria feito pior discurso do que Hopkins. Nem do que Fónix, aliás. E a noite dos Óscares teria, sem dificuldade, prestado um papel mais importante ao mundo, neste momento.
Alexandre Borges é escritor e argumentista