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Globo/ João Miguel Júnior

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Debate decisivo. Bolsonaro anuncia aumento de salário mínimo, Lula pede postura presidencial e tenta falar do futuro

O último frente a frente entre os candidatos à presidência ficou marcado pelo tema do salário mínimo, com Bolsonaro a anunciar um aumento, e por Lula dizer que Brasil "se isolou" e precisa de futuro.

Deveria ser um frente a frente decisivo, mas acabou marcado por mais insultos e pela repetição do que já tinha sido dito em momentos anteriores. A menos de 48 horas de se conhecerem os resultados da segunda volta, os dois adversários à presidência brasileira tentaram convencer o eleitorado, sobretudo aqueles que ainda estão indecisos. O primeiro a intervir foi Jair Bolsonaro, que lembrou ter assumido um “Brasil com problemas morais, éticos e económicos” após anos de governação do Partido dos Trabalhadores (PT). Apesar disso, o Presidente enumerou o que diz serem os vários sucessos do seu mandato e anunciou, logo no primeiro minuto deste debate, que iria aumentar o salário mínimo para 1.400 reais (cerca de 265 euros).

Confrontando Lula da Silva sobre alegadas fake news difundidas pela sua campanha, o ex-Presidente brasileiro não deu uma resposta e confrontou a versão do adversário sobre o aumento dos rendimentos. “A verdade nua e crua é que o salário está menor do que quando ele entrou. Ele não aumentou o salário, concedeu à inflação. Agora é fácil perto das eleições prometer”, atirou o candidato do PT, que chegou a dizer que não houve sequer “um aumento de 1% do salário mínimo”. “O povo sabe disso, está a passar fome, está desempregado.”

“Mentiroso”, acusou Jair Bolsonaro, indicando que “a mentira” do adversário serve para “influenciar pessoas mais humildes em certas regiões”. “O povo brasileiro sabe quem é mentiroso”, respondeu Lula da Silva, que destacou que, durante os quatro anos de mandato, o atual Presidente mentiu 6.489 vezes e houve 60 direitos de resposta pedidos pela campanha do PT.

Bolsonaro na chegada ao debate

Globo/João Miguel Júnior

Para justificar o baixo crescimento dos últimos anos de que Lula o acusou, Jair Bolsonaro lembrou a pandemia e também que todo o “sistema está contra ele”, inclusive a TV Globo, onde decorreu o debate. Ainda assim, apesar das dificuldades, o atual Presidente assegurou que não deixou de lado os reformados nem os mais pobres, apontando o dedo a Lula da Silva e acusando-o de querer ser o “pai dos pobres”.

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“Está descompensado“, disparou Lula da Silva, que sugeriu que o adversário “tivesse uma reunião” com os seus assessores para preparar outros assuntos para serem discutidos durante o debate. “A imprensa diz textualmente que Bolsonaro é o maior mentiroso da História do Brasil. Diga um pouco a verdade. Não deu aumento de salário mínimo”, insistiu o candidato petista, ao que Jair Bolsonaro lembrou os apoios durante a pandemia — e frisou que o PT votou contra na Câmara dos Deputados.

Ainda na economia, Lula da Silva recordou que o PIB “cresceu 4%” durante os seus mandatos, em que se assistiu “à melhor fase da economia no Brasil”. Além disso, o candidato do PT recordou que Jair Bolsonaro recebeu a presidência de Michel Temer, um “golpista”. “Eu sou um cidadão idóneo”, assinalou o candidato petista, acusando o adversário de ter processos pendentes relacionados com a família: “Prepara-se.”

Lula da Silva chega com a mulher ao debate

Globo/ João Miguel Júnior

Por sua vez, Jair Bolsonaro defendeu que Lula da Silva apenas foi absolvido da pena de prisão de 12 anos, por ter um “amigo do Supremo Tribunal”, ao que, em resposta, o candidato do PT trouxe a debate o caso de Roberto Jefferson, o “pistoleiro”, um aliado do atual Presidente, que disparou contra as autoridades nos últimos dias. Numa réplica, o atual chefe de Estado também alegou que Roberto Jefferson esteve ligado a Lula no passado.

“Brasil é um pária e autoisolou-se”

Na política externa, Lula da Silva acusou Jair Bolsonaro de destruir as relações com outros países. “Ninguém vem cá, não somos convidados, ninguém quer conversar connosco. Autoisolámo-nos. Somos um pária”, lamentou o candidato do PT, que sinalizou que até Cuba é mais aberta do que o Brasil, numa provocação ao adversário. Pelo contrário, o mandato do candidato do PT foi marcado pelo “desenvolvimento do comércio externo” e por, alega Lula, vários sucessos diplomáticos, tais como “ter ajudado a criar os BRICS, ser convidado para o G8”. “O Brasil era um grande protagonista internacional.”

“A tua política externa é com o Maduro, Cuba e Argentina”, reagiu Jair Bolsonaro, que disse que o seu mandato trouxe a assinatura de vários acordos com “190 países”, incluindo a Rússia, com a qual negociou a exportação de “fertilizantes”. Além disso, o atual Presidente salientou que é bem recebido nos países árabes e que até falou com o seu homólogo norte-americano, Joe Biden. “Estamos bem. O mundo está a torcer por mim, porque tem garantias de honestidade, não vai ter roubalheira.”

Lula no debate

Globo/ Sérgio Zalis

O aborto e a “pílula do dia seguinte”

Numa segunda ronda do debate, Lula da Silva acusou, tendo como base um artigo da Folha de São Paulo, que o mandato de Bolsonaro levou ao empobrecimento a 24 milhões de brasileiros, que atualmente passam fome. Nos anos em que liderou o Brasil, o candidato do PT recordou que a população aumentou os rendimentos: “Foram períodos auspiciosos”.

“Será que eu vou ter de exorcizar para parar de mentir?”, perguntou Jair Bolsonaro, que rejeitou essa argumentação e contrapôs os dados, alegando que Lula queria ser o “salvador da pátria” — mas apenas é o “campeão em corrupção”. Entretanto, o atual Presidente escolheu debater sobre o respeito pela Constituição e disse que o adversário desrespeitava-a, mencionando, entre outros assuntos, o desrespeito no seu programa eleitoral pela propriedade privada.

Já Lula da Silva mostrou-se estupefato com os ataques e afirmou que era Bolsonaro quem não cumpria a Constituição por “ofender pessoas” e “não ter respeito pelas mesmas”. Além disso, o candidato do PT lembrou umas declarações de Bolsonaro de 1992 — em que este sugeria oferecer a “pílula de aborto” à sociedade brasileira. O atual Presidente ripostou, salientando que eram assuntos de “há 30 anos”. Para além disso, o chefe de Estado disse que o adversário é um “abortista convicto”, assim como defensor do uso das drogas e “da ideologia de género”.

“Traga mais seriedade para o debate”, pediu Lula da Silva, que acusou Bolsonaro de insultar mulheres, jornalistas e oponentes, tendo apenas “medo” das consequências que implicam não respeitar a Constituição.  “Se comporte como Presidente que ainda o é. Pai, perdoai os ignorantes que eles não sabem o que dizem.”

A Covid-19 e o agradecimento a Bolsonaro

No terceiro bloco do debate, Lula da Silva referiu que 11% das vítimas mortais de Covid-19 no mundo foram brasileiras, apesar de o país concentrar 3% da população mundial, acusando o adversário de não seguir os conselhos das autoridades de saúde.

“Se Lula tomou vacina, pode agradecer a Jair Bolsonaro”, rebateu o atual Presidente da República brasileira, acrescentando que o “Brasil foi um referente mundial de vacina”. Adicionalmente, lembrou os desinvestimento na área da Saúde do seu oponente, que preferiu canalizar dinheiro público para estádios do Mundial 2014 do que para hospitais.

Bolsonaro no debate

Globo/ Sérgio Zalis

Noutro tópico, Bolsonaro e Lula debruçaram-se sobre o crime organizado. O atual Presidente defende o porte de armas, enquanto o oponente quer criar mecanismos para controlar quem ou não possui armamento, querendo evitar os riscos de que este caia nas mãos do “crime organizado”.

Lula promete “consertar o Brasil”, Bolsonaro diz que presidência ficará “afinada” com parlamento

Caso vença as eleições, Lula da Silva adiantou que — a partir de janeiro — “vai concertar o Brasil”, reunindo com governadores e autarcas. “O papel do Presidente da República é harmonizar a sociedade, trabalhar o pacto federativo. Todo o mundo vê que o Brasil não está a ir para a frente. A gente vai consertar este país alegre e feliz.”

Ora, o adversário não se deixou ficar e trouxe para cima da mesa que reuniu recentemente com 650 governadores de Minas Gerais. E também destacou a elevada afluência dos eventos dos seus apoiantes: “As pessoas foram trajando verde e amarelo, cores da esperança, e não vermelho, como a cor ideologia” de Lula, ou seja, o “comunismo”.

“A presidência vai estar afinada com o parlamento de centro-direita”, garantiu Jair Bolsonaro, que diz almejar “descolar com a economia”, algo que, frisou, já está acontecer. “Temos das melhores economias do mundo, este ano a inflação vai ser menor do que na China e nos Estados Unidos.”

Os candidatos no debate

Globo/ Sérgio Zalis

Para Lula da Silva, tudo o que Bolsonaro afirmara momentos antes, e em todo o debate, não passou de “fantasias”. “O salário mínimo não teve aumento real, ele agora vem com cara de pau prometer, mas não vai aumentar”, reiterou o candidato do PT.

A reputação brasileira e os dados sobre o ambiente

Sobre o ambiente, Lula da Silva criticou o facto de o adversário ter descredibilizado a reputação brasileira em temáticas ligadas a questões climáticas. Prometendo mudar o que foi feito durante os últimos quatro anos, o candidato trabalhista indicou que vai “acabar com as queimadas e as invasões das terras indígenas”.

Para Bolsonaro, o candidato adversário é o “rei da mentira” e apresentou dados para provar o seu ponto de vista. “Por exemplo, a desflorestação passou de 20 mil quilómetros quadrados com Lula para 11 quilómetros quadrados comigo”. “Dois terços do solo do Brasil está preservado da mesma forma do que quando Pedro Álvares Cabral chegou cá.”

“Somente agora se preocupa com isso. Nunca se preocupou com isso”, atirou Lula da Silva, que referiu que o Partido dos Trabalhadores sempre teve como uma das suas bandeira as questões ambientais, contrariamente a Bolsonaro.

Este foi o segundo debate que opôs os dois candidatos ao cargo de Presidente do Brasil. O primeiro ocorreu na Band TV, a 17 de outubro. Depois disso, houve mais duas oportunidades para os dois candidatos exporem os seus pontos de vistas, mas Lula da Silva rejeitou participar nos dois debates, tendo o formato sido substituído por duas entrevistas a Jair Bolsonaro.

O “deboche” da Covid-19 e a “roubalheira” do Petrolão. O primeiro frente a frente de Lula e Bolsonaro acabou em empate técnico

No domingo, 156 milhões de eleitores deslocam-se às urnas para escolher quem se sentará no Palácio do Planalto nos próximos quatro anos. Os dois candidatos foram os mais votados na primeira volta, mas nenhum angariou mais de 50% dos votos, havendo por conseguinte a necessidade de uma segunda volta. No passado dia 3 de outubro, o vencedor foi Lula da Silva, obtendo 48,4% dos votos, ao passo que Bolsonaro se ficou pelos 43,2%.

Esta vantagem de Lula da Silva parece manter-se para a segunda volta, revelam as mais recentes sondagens. Um estudo de opinião da Datafolha publicado esta quinta-feira dá 49% das intenções de votos, enquanto Jair Bolsonaro consegue 44%

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