O Banco de Portugal escolheu sete propostas não vinculativas pelo Novo Banco. Por razões de praticabilidade, esse grupo foi quinta-feira reduzido para cinco instituições, sabe o Observador. Não é ainda conhecida a origem de todas as sete propostas, mas sabe-se que além do BPI e do espanhol Santander, há pelo menos duas entidades chinesas na corrida e, ainda, um fundo de investimento norte-americano. Qual dos interessados tem capacidade para fazer a melhor proposta, limitando o risco de um prejuízo na operação (que teria de ser coberto pelos outros bancos)? Qual das propostas teria maior potencial para dinamizar a banca, a concessão de crédito e a economia nacional? E qual irá proteger melhor os atuais trabalhadores? Nesta fase, todos parecem preferir os chineses, sobretudo os funcionários.
No grupo de candidatos estão instituições de vários tipos, várias nacionalidades e com planos distintos para o Novo Banco. Percorra a galeria de fotos abaixo para conhecer os interessados já conhecidos e os que podem estar a correr por fora.
O BPI foi um dos que apresentaram propostas não vinculativas, apesar de estar a braços com uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) por parte do seu maior acionista, o Caixabank, e de ter em cima da mesa uma proposta da segunda maior acionista, a Santoro, da angolana Isabel dos Santos, para se fundir com o BCP. Fernando Ulrich, o presidente do BPI, nunca escondeu o interesse na aquisição do Novo Banco mas nem por isso deixou de combater aquilo que chamou de “mitos”, como o “mito, que há-de interessar a muita gente, de que o BES era o grande banco das PME” (pequenas e médias empresas). Mais recentemente, tem defendido que “o tema da litigância no Novo Banco é importantíssimo”, sugerindo que esse risco tem de ser afastado ou refletido no preço de compra.
O Santander é outro candidato de peso, olhando para o Novo Banco como uma forma de mais que duplicar os 12% que são a sua atual quota do mercado bancário português. O banco está numa fase de transformação, liderada pela nova presidente Ana Patrícia Botín, filha do falecido Emílio Botín. O banco, que é o maior da zona euro, acaba de fazer um aumento de capital de 7.500 mil milhões de euros, naquilo que foi, também, uma demonstração de confiança e ambição por parte da instituição, que quer continuar a ter um lugar de destaque na banca europeia. Outros espanhóis: o BBVA também participou no início do processo mas desistiu. Já o Banco Popular foi um pouco mais longe mas as declarações recentes do presidente, Ángel Ron, indicam que, mesmo que seja um dos “Sete Magníficos”, não deverá ter integrado o “grupo restrito” selecionado pelo Banco de Portugal. Poderá, contudo, estar interessado em participar em eventuais consórcios.
Entre os interessados consta, também, o fundo de private equity norte-americano que comprou a seguradora Tranquilidade, a Apollo Global Management. Como a maioria dos private equity, isto é, fundos de capitais privados que investem em ativos que acreditam poder rentabilizar em pouco tempo, a Apollo traria, provavelmente, mudanças profundas à estrutura de custos do banco. Os últimos investimentos deste private equity, que mostrou estar atento a Portugal com a compra da Tranquilidade, foram feitos em áreas tão diversas como casinos, retalhistas de acessórios de moda e navios de cruzeiro.
Envolvidas no processo estão, ainda, três entidades chinesas, segundo a imprensa. Uma delas é o Bank of China, controlado pelo Estado chinês, e outra será a seguradora chinesa Anbang Insurance Group, que adquiriu à Hilton Hotels o mítico Waldorf Astoria, no coração de Manhattan, em Nova Iorque. Trata-se de uma seguradora criada há cerca de dez anos, com 30 mil funcionários e o equivalente a cerca de 100 mil milhões de euros sob gestão, segundo o site oficial. Nos últimos anos, as aquisições feitas pela Anbang afastaram-se do setor financeiro e foram feitas, sobretudo, na área do imobiliário, mas o grupo não deixou de estar atento ao processo de alienação do Novo Banco como forma de entrar numa nova geografia e regressar às aquisições financeiras.
A favorita parece, contudo, ser a Fosun, que comprou a seguradora Fidelidade e a Luz Saúde. Para o grupo chinês, a intenção é a de entrar no mercado ibérico de bancos, ao mesmo tempo que adquire um ativo que poderá potenciar a rentabilização dos dois já adquiridos (e vice versa). Também a Fosun tem um hotel caro em Manhattan – o One Chase Manhattan Plaza – e tem aumentado os investimentos no setor financeiro global nos últimos anos, com perspetiva de investimento de longo prazo. Algo que tem granjeado ao presidente Guo Guangchang a alcunha de Warren Buffett chinês, como o multimilionário norte-americano dono da Berkshire Hathaway e terceiro homem mais rico do mundo.
Conhecidos os interessados que são conhecidos…
“O que os nossos colegas preferiam, obviamente, é que fosse para os chineses“, diz em conversa com o Observador Carlos Gonçalves, funcionário do Novo Banco que lidera a lista que acaba de ser eleita (nas eleições de 10 de março) para a Comissão de Trabalhadores do Novo Banco. Carlos Gonçalves conta que, na opinião daquela que será a maioria dos funcionários do banco, “se for o BPI ou os espanhóis, os trabalhadores vão sofrer as consequências. Já se forem os chineses há esperança de que isso possa não acontecer”.
E que “consequências” são essas? “Com os chineses há uma maior possibilidade de manutenção do quadro de pessoal, porque eles não têm presença cá”, ou seja, não têm um banco que, em caso de fusão, levaria a duplicação de funções e a remédios da Autoridade da Concorrência (que poderão levar à venda ou ao fecho de agências). “Se forem os chineses, compram um banco que está a funcionar bem e que está bem posicionado” no mercado, conclui Carlos Gonçalves.
Esta é a análise de um funcionário do Novo Banco em Lisboa, mas a opinião parece ser a mesma nas agências espalhadas pelo país. Uma funcionária do Novo Banco na Beira Interior diz ao Observador que “o melhor seria alguém que não estivesse implantado no mercado português” e conta que “é opinião consensual entre os colegas que uma compra pelos chineses seria o melhor para todos“. A funcionária, que prefere não ser identificada, assinala, contudo, que a informação “é muito pouca e vamos sabendo da evolução do processo de venda exclusivamente através da comunicação social”. “Não se fala nisso ao nível da gestão e tenta-se gerir o dia-a-dia como se nada tivesse acontecido”.
A análise dos funcionários contactados pelo Observador vai ao encontro da expectativa que têm os especialistas na área financeira. Diogo Teixeira, administrador da Optimize, uma sociedade gestora de fundos, diz que “o Banco BPI e o Santander apresentam claramente as piores perspetivas, a médio prazo, para os funcionários”. “Além de serem bancos com muitas redundâncias de estruturas com o Novo Banco na perspetiva de uma fusão, também são grupos ibéricos que terão a pretensão de estruturarem as suas operações ao nível da península”, afirma o especialista.
Quanto à norte-americana Apollo Global Management, Diogo Teixeira diz que “fundos como este também são conhecidos por serem relativamente agressivos na redução de custos nas estruturas compradas”, pelo que “do ponto de vista dos funcionários, uma compra por um dos potenciais compradores chineses seria a melhor opção”.
Quem dá mais?
“É tentador presumir que os chineses irão apresentar a proposta mais elevada, e tendo a concordar com essa opinião, mas não é de excluir que tanto o BPI como o Santander apresentem propostas competitivas”, diz ao Observador um analista do setor bancário que prefere não ser identificado. E porquê? Porque algumas estimativas apontam para que seja possível extrair sinergias na ordem dos 800 milhões a 1.000 milhões de euros, o que poderá levar o BPI e o Santander a ir um pouco mais longe se souberem que depois conseguem rentabilizar um possível investimento mais elevado nesta fase.
Em resumo, Diogo Teixeira, da Optimize, diz que “não existe um comprador ideal para o Novo Banco por um motivo muito simples: a principal diferença entre compradores, em termos de capacidade em oferecer o melhor preço, reside no potencial de sinergias que pode ser extraído em conjugação com os negócios já existentes do comprador em Portugal ou na Europa. Quanto mais sinergias potenciais, melhor será o preço mas também pior será o resultado para os funcionários”, explica o especialista.
Sendo certo que “todos os potenciais compradores com operações relevantes em Portugal oferecem boas condições para rentabilizar o Novo Banco“, Diogo Teixeira acredita que “o BPI e o Santander Totta são os dois compradores que podem beneficiar de sinergias mais importantes, com a possibilidade de reduzir drasticamente os custos com as funções centrais”. Contudo, “aqui as sinergias comerciais são fracas, ou mesmo negativas, o que significa que 1+1 poderá dar um pouco menos de dois em termos de volume de negócio”. Por outro lado, uma compra pela Fosun (dona dos seguros da Caixa) ou pela Apollo (Tranquilidade) beneficiam de sinergias de custos mais fracas, mas ao mesmo tempo irão beneficiar de sinergias comerciais fortes”.
E do ponto de vista da concorrência na banca nacional? “O melhor comprador será uma empresa que não tem hoje atividade bancária e que, ao mesmo tempo, consegue beneficiar de sinergias comerciais de forma a ser ainda mais competitivo”, diz Diogo Teixeira. De um lado estão a Fosun e a Apollo: “ambos beneficiariam de uma forte presença no território português, com uma clara pretensão de conquistar mercado”. Do outro estão BPI e Santander, sendo que o especialista diz que “o BPI seria a pior opção de um ponto de vista concorrencial, ao fundir dois bancos com dimensões relevantes para o mercado português”.
Colocando todos estes fatores nos pratos da balança, “a diferença virá da disponibilidade de um comprador pagar um pouco mais para beneficiar de uma presença forte no mercado português”, acredita o administrador da Optimize. “Desse ponto de vista, BPI, Santander e Fosun parecem-me ser os mais prováveis vencedores”, diz Diogo Teixeira, mas “tendo em conta a situação acionista complicada no BPI, aposto no Santander e Fosun como finalistas”.