909kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

i

NurPhoto via Getty Images

NurPhoto via Getty Images

Número de casos acima dos mil "não é inesperado" nem "alarmante". Por enquanto

Foi o segundo pior dia da Covid-19 em Portugal, mas é menos alarmante: o número de mortes não está a subir tanto e os internamentos não chegam aos de abril. Mas isso pode mudar a qualquer momento.

Os mais de mil casos de infeção pelo novo coronavírus registados esta quinta-feira pela Direção-Geral da Saúde (DGS) não surpreenderam os especialistas portugueses ouvidos pelo Observador. “De facto, trata-se da segunda vaga, mas não é alarmante”, diz Francisco Antunes, infecciologista do Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. “Se ela vai ser mais grave do que a primeira, isso não se sabe. Mas o crescimento está a ser mais acentuado que o da vaga anterior.”

Esta foi a terceira vez que Portugal ultrapassou os mil casos/dia desde que a epidemia entrou no nosso país (os primeiros casos foram registados a 3 de março) e foi também o segundo pior dia em número de casos diários: 1.278, menos 238 que a 10 de abril e mais 243 que a 31 de março. Mas isso não significa que a situação portuguesa esteja tão crítica como no pico da primeira vaga, alerta Jaime Nina, infecciologista do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT): “Depende dos números para que olhar”, explica.

“Os números relevantes são as mortes. Ainda que possa haver alguns falsos positivos ou alguns falsos negativos, isso é muito raro em Portugal e, por isso, o número de mortes é muito fidedigno. O número de casos varia muito de acordo com o número de testes que se faz. Em março ou abril faziam-se menos testes e eram testadas as pessoas em estado mais grave, por isso os números eram mais pequenos. Agora, felizmente, fazem-se mais testes e, por isso, apanham-se mais casos ligeiros”, explica o especialista.

"O número de casos varia muito de acordo com o número de testes que se faz. Em março ou abril faziam-se menos testes e eram testadas as pessoas em estado mais grave, por isso os números eram mais pequenos. Agora, felizmente fazem-se mais testes, por isso apanham-se mais casos ligeiros".
Jaime Nina, infecciologista do Instituto de Higiene e Medicina Tropical

Os números confirmam-no. A 31 de março, na primeira vez que o país ultrapassou os mil casos diários, detetava-se um caso positivo a cada 10 testes para o vírus SARS-CoV-2; a 10 de abril, dia recorde de casos em Portugal, a média tinha subido ligeiramente para 12 testes por cada caso positivo. Passados seis meses, os últimos dados reportados pelas autoridades de saúde portuguesas ao Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) dizem que se faz 30 testes por cada caso de infeção pelo novo coronavírus. Em resumo, passou-se de 10/12 para mais do dobro agora, 30.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Mesmo em números absolutos, os gráficos mostram que se está a testar mais: na terça-feira, Portugal realizou pouco menos de 19,5 mil testes num só dia. A 10 de abril, o dia dos 1.516 novos casos, fizeram-se menos de metade, apenas 9,9 mil testes; e a 31 de março, dia em que se registaram 1.035 novos casos, fizeram-se ainda menos: 7.288. É por causa destes valores que Jaime Nina relativiza os 1.278 casos desta quinta-feira: “Só se encontra aquilo que se procura. E nós andamos a procurar mais”.

"Devíamos estar a testar mais. Mas muito mais. Não é o dobro ou o triplo: é 50 ou 100 vezes mais. E testar só não chega. É preciso um bom rastreio de casos e um isolamento eficaz".
Jaime Nina, infecciologista do Instituto de Higiene e Medicina Tropical

É também “só por isto” que a “a taxa de letalidade parece estar a baixar”, prossegue o especialista. Neste momento, com os 82.534 casos de infeção registados desde o início da pandemia e as 2.050 mortes por Covid-19 contabilizadas até esta quinta-feira desde 3 de março, a taxa de letalidade está nos 2,48% — ou seja, três em cada 100 pessoas infetadas pelo SARS-CoV-2 morreram da doença. São menos 0,33 pontos percentuais que no pior dia da epidemia em Portugal. Mas, segundo Jaime Nina, a leitura destes valores requer cuidado: “A taxa de letalidade não está realmente a baixar porque o vírus se tornou menos letal. Nós é que encontramos mais casos e isso faz baixar os números”.

Então, o que realmente mudou? Além da capacidade de testagem, outros dois aspetos. O primeiro é a idade: se nas últimas duas vezes em que o país ultrapassou a marca dos mil casos diários os jovens na faixa etária dos 20 aos 29 anos representavam cerca de 10% do total dos contágios, esta quinta-feira a percentagem passou para os 16%. É um fenómeno de crescimento que se verifica em todas as faixas etárias até aos 49 anos e que contraria o que se observa nas pessoas com 50 ou mais anos, que representam cada vez menos casos de Covid-19.

O segundo aspeto tem a ver com a pressão que a Covid-19 está a exercer no sistema nacional de Saúde. A 31 de março, o relatório de situação da DGS sinalizava 627 pessoas internadas em enfermarias e 188 nos cuidados intensivos. A 10 de abril, o número era ainda maior: 1.179 doentes internados e 226 nos cuidados intensivos. Esta quinta-feira, os números são incomparavelmente menores do que os valores de há seis meses: 801 internamentos em enfermaria, 115 nos cuidados intensivos.

A 10 de abril, o número era ainda maior: 1179 doentes internados e 226 nos cuidados intensivos. Esta quinta-feira, os números são incomparavelmente menores que os valores de há seis meses: 801 internamentos em enfermaria, 115 nos cuidados intensivos.

Jaime Nina acredita que estes números “são mais fiáveis do que o número de casos para se perceber a evolução da epidemia”. “Para se ser internado não basta testar positivo, é preciso que tenha alguma gravidade. E esses eram os casos que já eram diagnosticados em abril ou maio. Embora o número de internamentos tenha vindo a subir, está longe dos números do pico da epidemia”, prossegue.

Mesmo que o critério de internamento tenha mudado em abril, quando a maioria dos casos eram internados, passando desde aí a dar-se prioridade ao tratamento em casa, com o devido isolamento, há ainda muitos riscos, segundo os especialistas. Riscos que vêm dos lares, das pessoas vulneráveis e da necessidade de ainda maior testagem.

"As pessoas têm de ser alertadas para a perda do sentido do cheiro e do sabor. São sintomas precoces da doença que não podem ser desvalorizados"
Francisco Antunes, infecciologista do Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa

É um sinal positivo, mas que deve ser interpretado com cautela, avisa contudo Francisco Antunes. Os números de internamentos e de doentes nos cuidados intensivos têm subido nos últimos dias e, para o infecciologista, só há um modo de os travar: “Só vamos evitar grandes subidas se protegermos as pessoas vulneráveis. E tenho alguma dificuldade em perceber como é que não foram tomadas mais medidas sanitárias em relação a todos os lares. Continuam sem apoio sanitário, por isso a situação corre o risco de comprometer a capacidade do SNS”.

Celso Cunha, virologista do IHMT, concorda: “Nem o número de mortes, nem o número de internados está perto dos valores do pico da epidemia. Estamos longe disso”. Mas, apesar do otimismo em relação quanto a estes parâmetros, o especialista também sublinha que, “se o número de novos casos continuar a subir, é provável que esses números também subam até valores próximos aos do pico da epidemia”. Francisco Antunes também é perentório: “Vai piorar antes de melhorar”.

Apesar do otimismo em relação a estes parâmetros, o especialista também sublinha que, "se o número de novos casos continuar a subir, é provável que esses números também subam até valores próximos aos do pico da epidemia".
Celso Cunha, virologista do IHMT

Francisco Antunes considera que a população deve estar mais atenta aos sintomas precoces da Covid-19 para que comece a ser tratada mais cedo: “As pessoas têm de ser alertadas para a perda do sentido do cheiro e do sabor. São sintomas precoces da doença que não podem ser desvalorizados”. Além disso, “precisamos de testar cada vez mais e de diagnosticar o mais cedo possível”. “Só isto e o comportamento das pessoas é que podem mudar o curso da epidemia”, aponta o infecciologista.

Jaime Nina também afirma que “devíamos estar a testar mais”: “Mas muito mais. Não é o dobro ou o triplo: é 50 ou 100 vezes mais”. Para o infecciologista, “testar só não chega”: “É preciso um bom rastreio de casos e um isolamento eficaz”. Fazer mais testes, como Singapura, Hong Kong, Taiwan, tem significado menos letalidade, conclui o infecciologista: “Estes países têm um número de casos semelhante ao nosso, mas, se olharmos para o número de mortes, Singapura tem 27 mortes. Conseguem descobrir os casos muito precocemente”.

O fenómeno registado esta quinta-feira em Portugal é semelhante ao que se tem verificado noutros países da União Europeia — mesmo naqueles que tinham passado incólumes na primeira vaga. A República Checa, por exemplo, registou 4.457 novas infeções na quarta-feira quando, durante a primavera, nunca ultrapassou as 500. A Roménia está a passar pela mesma tendência: 2.958 casos em 24 horas, de acordo com os dados de quarta-feira.

Portugal está, portanto, numa situação mais estável no que toca ao número de novos casos. A 31 de março, Portugal era o quarto país com mais casos diários por milhão de habitantes, ultrapassado por Espanha, Bélgica e França. A 10 de abril, o pior dia para Portugal, o país só era ultrapassado pela Bélgica. Na quarta-feira, os países com mais casos diários por milhão de habitantes eram a República Checa, os Países Baixos e França. Portugal estava em décimo lugar.

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.