787kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

i

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

O debate em versão de bolso: o que precisa de saber sobre as mais de 4 horas do Estado da Nação

Costa apareceu no Parlamento focado em bater recordes. "Propaganda", diz a oposição que aponta ao desgaste do Governo ainda que admita "dificuldade na alternativa". Esquerda faz-se cara.

Assim tirada de qualquer contexto, a frase de António Costa, o “otimista irritante” preferido do Presidente da República, parecia outra coisa: “Vamos lá encher o copo que isso é que interessa aos portugueses”. Mas o primeiro-ministro falava mesmo da velha imagem do copo meio cheio e meio vazio — que serve aos otimistas para apontarem dedo aos pessimistas e vice versa — para dizer à oposição que o tempo é de agir e “reerguer”. Só faltou mesmo o decreto oficial do fim da pandemia, porque tudo o resto esteve lá: Costa já só quer passar à frente da crise. Libertar. Saltar mais alto, mais longe e mais forte. Entretanto, a julgar pelos auto-elogios à sua governação, já leva a medalha de ouro, mesmo sem essa prova dada.

Citius, altius, fortius. A ambição de Costa e a avaliação que faz do seu Governo vai ao nível do atleta olímpico insuflado na sua confiança quando entra na arena para conquistar recordes. É o investimento no SNS que não tem par, o país que é o quarto mais seguro do mundo, a área ardida que é a menor da última década, a convergência com a UE em matéria de crescimento económico que foi maior de sempre no tempo deste Governo, bem como o excedente que foi o primeiro da democracia, a resposta à crise que foi melhor do que a de Passos Coelho. “Uma autêntica sessão de propaganda do Governo e do PS”, exclamou a dada altura o deputado do Iniciativa Liberal, com a oposição a tentar rebater números e a esquerda a tentar exercer influência. Leia aqui o que de essencial se disse, discutiu e até negociou (para futuro) no debate do Estado da Nação. Depois disto (e das votações desta sexta-feira) é tempo de férias parlamentares.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

O anúncio

Logo a abrir o debate António Costa apresentou a “ambição” de vacinar contra a Covid-19, nos fins de semana entre 14 de agosto e 19 de setembro, as cerca de 570 mil crianças e jovens entre os 12 e os 17 anos. Isto tudo a tempo do início do próximo ano letivo e para permitir que este decorra “sem o risco de novas interrupções no ensino presencial”. Estava lançada a primeira e única grande novidade do debate.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A libertação

O primeiro-ministro tinha começado a introduzir a ideia esta semana, quando previu uma “libertação total da sociedade” no final do verão. Desta vez, quis falar, mais do que do estado da Nação, do futuro da nação: a pandemia é uma página que será preciso virar em breve e Costa tem vontade de fazer isso mesmo. Por isso, arrancou o discurso a agradecer aos profissionais que se destacaram durante a pandemia, mas sempre usando tempos verbais passados. Depois, falou de prioridades futuras — as políticas de habitação ou a transparência na gestão dos dinheiros europeus, por exemplo — e pediu ao país para “olhar em frente e pôr as mãos à obra”.

Depois de um ano e meio em que o impacto da Covid-19 “se sobrepôs a tudo o resto”, Costa quis olhar para as “oportunidades irrepetíveis” que os próximos tempos — e que os cofres europeus — trarão. Já no final, Santos Silva pediria à esquerda uma colaboração e oposição construtiva, de olho no PRR e no próximo Orçamento.

O amigo comunista

O ritual repete-se sem fim à vista: como numa espécie de conversa coreografada, o PCP pergunta por alterações às leis laborais — em especial às que ainda sobram dos tempos da troika –, o PS descansa o parceiro e, regra geral, continua tudo como dantes. Desta vez, no entanto, os socialistas decidiram dar um sinal de boa vontade: há semanas aprovaram na generalidade — no meio de vários chumbos — um projeto do PCP sobre o combate à precariedade e António Costa aproveitou o trunfo para lembrar ao parceiro de negociação que a relação é séria, já com o próximo Orçamento à vista.

Perante as exigências de Jerónimo de Sousa — sobretudo, leis do Trabalho e medidas do OE2021 que ainda estão por concretizar, como o subsídio de risco, mas também medidas que podem ser incluídas no OE2022, como passos para a rede pública de creches — António Costa estendeu uma mão amiga. Por um lado, elogiando a resposta que o último Orçamento, viabilizado pelos comunistas, permitiu dar à crise. Por outro, deixando garantias e promessas: a política de salários do Governo “não é congelar” e o projeto do PCP sobre precariedade vai ser trabalhado em conjunto com o PS. Resta saber se essa negociação será apenas para comunista ver ou dará, pela primeira vez em anos, frutos nas negociações laborais à esquerda.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

O ex-amigo BE

Se com o PCP a amizade parece duradoura, o Bloco de Esquerda mais parece um velho conhecido com quem o Governo está de costas voltadas. Catarina Martins até fez questão de arrumar a “tentação” das críticas que poderia fazer à direita — “não tem projeto”, “não se encontra” — para passar ao que interessava: ‘malhar’ no Governo.

Do SNS às leis laborais, o Bloco de Esquerda mostrou-se bem menos crente nas boas intenções de Costa, ou não fossem já esses os temas que travaram as negociações entre PS e BE e deram origem à série de arrufos que acabou com a antiga amizade à esquerda. Desta vez, o Bloco respondeu com dúvidas — “Vir agora dizer que agora é que é… quando?” — e muito ceticismo. Particularmente evidente quando, do lado da bancada do PS, Tiago Barbosa Ribeiro lançou diretamente o desafio: “O BE ainda continua cético relativamente ao caminho percorrido desde 2015 ou está disponível para construir em conjunto o caminho do Estado da Nação?”.

Catarina Martins terá reparado que teria no deputado e candidato à Câmara do Porto um alvo ideal: é que Barbosa Ribeiro é também uma das caras da ala esquerda e pedronunista do PS, além de coordenador da Comissão do Trabalho. Assim sendo, “não se sente mal” com as votações que faz, sobre Trabalho, no Parlamento?, perguntou e insistiu Catarina. O socialista ainda pareceu tentado a responder, mas Costa fez um vigoroso “não” com o dedo indicador, ordenando que o debate seguisse. E o debate seguiu.

O antigo “excelente ministro”

Na última vinda ao Parlamento (o que é mais raro atualmente), António Costa foi confrontado pela oposição com a saúde política do seu ministro da Administração Interna e insistentes pedidos de demissão, mas segurou-o de forma sonora com a convicção de ter ali “um excelente ministro” que queria manter no seu Governo. Entretanto, novos casos delicados a envolverem o ministro Eduardo Cabrita se sucederam e um relatório da Inspeção-Geral da Administração Interna aos festejos do campeonato de futebol a levantar dúvidas sobre a sua responsabilidade nos ajuntamentos em tempo de pandemia que aconteceram nessa noite, o caso voltou em força. Desta vez, o primeiro-ministro foi bem mais reservado do apoio ao seu ministro, perante as insistência da direita em pedir a cabeça de Cabrita. Questionado por Cecília Meireles do CDS sobre se conhecia o despacho assinado por Cabrita a autorizar os festejos, Costa foi lacónico: “Não, não conhecia”. E nada mais disse em todo o debate sobre o ministro mais fragilizado politicamente do momento.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

O mais “bizarro”

André Ventura, na corrida contra os poucos minutos de intervenção que tem no plenário, parece uma metralhadora de ataques e imagens encadeados que só travam quando Ferro Rodrigues, em tom enfadado, lhe lembra que o tempo acabou e lhe pede (como esta quarta-feira pediu) que ponha a máscara. Nesse atropelo de ideias e entre o “é uma vergonha” da praxe, Ventura quis atacar o ministro da Administração Interna e ao mesmo tempo Costa, dizendo que Cabrita funciona neste momento como um pára-raios do primeiro-ministro, já que enquanto dizem mal de um, poupam o outro. Mas saiu-lhe tudo ao contrário e disparou que é Costa que “foge como um pára-raios”. O socialista não perdoou e agarrou na escorregadela para atirar a Ventura. que lhe exigia um pedido de desculpa, que ele sim é que devia desculpar-se “pelo absoluto desconhecimento do que diz que só compreendemos pelo momento verdadeiramente delirante em que imaginou um pára-raios a fugir. Eu nunca vi um pára-raios a fugir, mas como já viu podemos saber bem qual a sua adesão à realidade”.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

O maior aplauso

A intervenção inicial do primeiro-ministro foi o único momento que fez os deputados socialistas presentes no hemiciclo levantarem de pé para um aplauso, depois de Costa desfiar todo um rol de conquistas e feitos do seu tempo de governação que a oposição passou boa parte do debate a classificar de “propaganda” mas que para o PS serviram de bandeira hasteada para mostrar à esquerda que olha desconfiada para um novo apoio orçamental e a direita que espera que o Governo caia de podre.

O maior apupo

Se o maior aplauso se ficou — sem história — por aquele que aqui descrevemos, o momento de maior contestação também foi aí que se sentiu e também ele sem qualquer chama. Enquanto de um lado a bancada socialista aplaudia de pé, do outro lado, na bancada do PSD, alguns deputados levantavam no ar polegares virados para baixo a dar sinal de desagrado com o discurso de António Costa. Nem uma pateada ou uma troca de argumentos mais acesa. Foi tudo.

O cansado

Rui Rio esteve fora do debate por motivos familiares e o PSD acabou representado no primeiro confronto com António Costa pelo seu líder parlamentar Adão Silva que apontou sem cerimónias à fragilidade política maior do Governo neste momento: o desgaste dos responsáveis por algumas pastas (aqui já se sabe que Eduardo Cabrita é campeão). Adão Silva não foi o único a apontar o “desgaste e cansaço” do Governo, com Catarina Martins a sublinhar também, mais adiante no debate, que há na equipa de Costa “mandatos que se arrastam”. E até o PAN atirava aos “ministros intocáveis” que Costa insiste em conservar. No PS, Ana Catarina Mendes aproveitou logo o vocabulário de Adão Silva para atirar à oposição o “cansaço” que esta apontava ao Governo. E Costa fez o mesmo, ao recomendar férias e descanso ao líder parlamentar do PSD. Uma canseira.

A dificuldade (da oposição)

A opinião até podia vir da bancada do PS, mas neste caso foi o próprio CDS a assumir o momento de autocrítica. Telmo Correia, líder parlamentar do CDS, encarregou-se de reconhecer que há “dificuldades de alternativa” à direita, das quais o PS se tem aproveitado (a isso não será alheio o facto de Correia, como os restantes do deputados do CDS, estar em rota de colisão com o líder do partido, Francisco Rodrigues dos Santos).

A crítica estendia-se ao PSD, que o CDS tem aliás acusado de colaborar pouco em assuntos como o escrutínio ao Governo — por exemplo, ajudando a acabar com os debates quinzenais, o que fez com que este estado da Nação se assemelhasse a um antigo quinzenal, mais prolongado.

Mas, por entre acusações do Governo e dos seus vizinhos de se dedicar a “casos e casinhos” e não aos problemas que interessam ao país, a direita teve dificuldade em mostrar a sua proposta alternativa, deixando que o debate político se centrasse sobretudo à esquerda. Com Santos Silva a classificar a oposição como “preguiçosa e monotemática” e Ana Catarina Mendes a acusar o PSD de “rezar” para que o Governo caia, um dos momentos mais difíceis para o PSD aconteceu quando o deputado Carlos Pereira começou a enumerar as propostas alternativas de investimento do PSD no PRR, todas mais baixas do que as do Governo. “Eram propostas para começo de conversa…”, ainda justificou o líder parlamentar social-democrata, Adão Silva, mas com o PS ao ataque, fez pouco efeito.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Assine por 19,74€

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Assine por 19,74€

Apoie o jornalismo independente

Assinar agora