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Carles Puigdemont saiu de um apartamento rodeado pelos seus guarda-costas e aliados do partido que fundou — Junts per Catalunya — sem nunca ter sido abordado pelas autoridades

NurPhoto via Getty Images

Carles Puigdemont saiu de um apartamento rodeado pelos seus guarda-costas e aliados do partido que fundou — Junts per Catalunya — sem nunca ter sido abordado pelas autoridades

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O discurso, o Honda branco e as infiltrações na polícia catalã: como é que Puigdemont fugiu e não deixou rasto?

Terá chegado a Barcelona há alguns dias, discursou no Arco do Triunfo, fugiu num Honda branco, com roupa igual a seguranças. Puigdemont protagoniza fuga digna de um filme. Como foi possível?

Parece uma fuga digna de um filme. A Grande Evasão. Carles Puigdemont já estava há alguns dias em Barcelona, segundo apurou o El País. Foi desde esta cidade que o ex-presidente do governo terá coordenado o plano para esta quinta-feira, dia em que estava marcada a votação para a formação de um novo executivo na Generalitat e em que, sete anos depois, voltou à Catalunha, fez um discurso em público, mas voltou a escapar. Sem que ninguém o apanhasse. Sem deixar rasto. E seguramente novamente com muitas cumplicidades.

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O ex-presidente do governo regional catalão queria mandar várias mensagens a Pedro Sánchez: assumir-se como o principal rosto do independentismo catalão e protestar contra a aliança entre o Partido Socialista da Catalunha e os rivais da Esquerda Republicana Catalã (ERC). Este partido deu o aval para que o socialista Salvador Illa chefiasse o executivo catalão — e isso motivou uma reação mediática de Carles Puigdemont, que tem estado exilado no sul de França.

Esta manhã, Carles Puigdemont saiu de um apartamento rodeado pelos seus guarda-costas e aliados do partido que fundou — Junts per Catalunya — sem nunca ter sido abordado pelas autoridades, apesar do mandado de detenção em seu nome. Ainda que tivesse revelado num vídeo nas redes sociais que voltaria a Barcelona esta quinta-feira, os agentes da polícia catalã — os Mossos D’Esquadra — não o detiveram imediatamente.

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Depois, Carles Puigdemont fez um discurso de seis minutos de defesa do independentismo catalão perante três milhares de apoiantes e sob o olhar dos Mossos D’Esquadra. Não no parlamento, mas ao ar livre. No Arco do Triunfo, um dos principais monumentos de Barcelona. Mais tarde, um dos advogados do independentista, Jordi Cabré, admitiu, citado pela Europa Presse, que a equipa do antigo líder da Catalunha “sofreu muito” enquanto esperava pela chegada do ex-presidente da Generalitat. Porque não saberia o que se podia passar.

A fase inicial do plano correu, porém, sem problemas. Momentos antes de terminar de discursar no Arco do Triunfo, outro dos advogados de Carles Puigdemont, Gonzalo Boye, gravou a parte final da declaração, que estava a ser transmitida nas televisões espanholas. Quando o ex-líder do parlamento catalão parou de falar, aquele advogado pegou-lhe no braço, segundo o El Mundo. E o líder independentista desapareceu. Como que por magia, não voltou a ser visto.

Num vídeo publicado nas redes sociais, vê-se que Carles Puigdemont terá entrado num carro branco de marca Honda e fugiu para lugar incerto, sendo esta é a versão divulgada pela polícia catalã. Num comunicado, os Mossos D’Esquadra detalharam que, assim que saiu do palco, o independentista foi “escoltado por diversas autoridades do país” e dirigiu-se “ao portão principal de acesso ao Parque da Ciutadella”.

No entanto, “aproveitando o número de pessoas que o rodeavam”, o ex-presidente da Generalitat “fugiu do local num carro que a polícia tentou parar, mas não conseguiu”.

O El Mundo levanta ainda uma hipótese: que o homem que entrou no Honda podia ser um duplo do ex-presidente do parlamento catalão. Os vídeos analisados pelo jornal espanhol mostram que um homem com fato e com boné entra no carro — e que parece ser Carles Puigdemont. Mas há uma detalhe que leva a crer que pode não ser ele: quem entra no carro usava sapatos com solas pretas, enquanto no palco, momentos antes, o independentista está com um par de sapatos de solas brancas. E os dois não tinham a mesma estrutura física. O facto de seguranças, advogados e Puigdmont vestirem todos fato azul e usarem boné pode ter contribuído para confundir.

O “acordo prévio” que os Mossos negam

Ao longo da manhã desta quinta-feira, foram surgindo várias notícias nos meios de comunicação sociais catalães de que os Mossos D’Esquadra terão feito um “acordo prévio” com os advogados de Carles Puigdemont. O independentista entregar-se-ia e seria detido apenas após discursar junto ao Arco do Triunfo para evitar desacatos entre os seus apoiantes e quem o contestava.

Mas a polícia catalã negou que “tenha havido qualquer acordo ou conversa prévia” com a equipa legal de Carles Puigdemont. Contudo, o dispositivo desenhado pelos Mossos D’Esquadra previa que a detenção ocorresse no “momento mais adequado para não gerar desordem pública”. 

epa11536309 Catalan regional police force Mossos d'Esquadra stop vehicles at a roadblock in Barcelona, Spain, 08 August 2024. Catalonia police were searching for former regional president Carles Puigdemont who returned to Spain on 08 August, seven years after fleeing the country following a failed secession attempt. He appeared at a welcoming ceremony in central Barcelona in the morning of 08 August where he addressed thousands of supporters, despite there being an arrest warrant against him.  EPA/QUIQUE GARCIA ATTENTION EDITORS: IMAGE PIXELATED AT SOURCE TO COMPLY WITH SPANISH LAW

A operação policial em Barcelona pelos Mossos D'Esquadra

QUIQUE GARCIA/EPA

Momentos após a fuga, publicamente não se sabia do paradeiro de Carles Puigdemont. Apenas se teve uma perceção de que estaria desaparecido quando não entrou, juntamente com a comitiva do seu partido, no parlamento catalão, onde iria começar a votação para eleger Salvador Illa como presidente do governo. Numa questão de minutos, os Mossos D’Esquadra colocaram em marcha a operação policial “Jaula” para deter o independentista.

As autoridades fecharam todas as saídas de Barcelona. Mas cedo se percebeu que talvez Carles Puigdemont já tivesse saído da cidade; e o perímetro da operação policial foi assim alargado a toda a Catalunha. Na fronteira com França, de manhã, os Mossos D’Esquadra paravam todos os carros, carrinhas e camiões e inspecionavam-os — incluindo o porta-bagagens.

A inspeção ao porta-bagagens não é propriamente inocente. A 29 de outubro de 2017, semanas após ter convocado o referendo da independência, Carles Puigdemont fugiu no carro da mulher rumo a França, inicialmente dentro do porta-bagagens de uma viatura de um mosso d’Esquadra. E até se especula agora, que se vê um pneu extra no lugar do pendura no Honda branco desta quinta-feira, o que significaria que o ex-líder da Generalitat tenha feito o mesmo do que há sete anos, e usado novamente a mala do carro.

Os Mossos D’Esquadra tentaram localizar o carro onde ia Carles Puigdemont, mas não conseguiram até ao momento. Como escreve o jornal ABC, reina a confusão entre a polícia da Catalunha — ninguém entende como é que uma pessoa que estava localizada desapareceu sem que ninguém desse por isso. Para já foram detidos dois elementos dos Mossos D’Esquadra por conluio na fuga (em 2017 foram três e usados dois carros).

A sala de crises e a falha das secretas

Nos últimos dias, foi montada uma sala de crises para as autoridades catalãs desenharem uma operação policial em resposta à possível chegada de Carles Puigdemont. Contudo, os Mossos D’Esquadra queixam-se, de acordo com o ABC, que receberam poucas informações dos serviços secretos espanhóis. Para pacificar a sua relação com as forças independentistas — com quem está coligado — o governo espanhol tem apelado a que não se controlem as atividades conectadas com estes movimentos.

A secretária-geral do Partido Popular, Cuca Gamarra, apontou precisamente o dedo ao Centro Nacional de Inteligência (CNI). Num discurso à nação, a responsável popular culpou Pedro Sánchez, o chefe do governo espanhol, por instruir os serviços de informações para não “vigiarem” Carles Puigdemont. “O CNI não cumpre a sua função e não controla nem vigia Puigdemont, porque Sánchez assim o quis”, frisou a responsável partidária.

"O CNI não cumpre a sua função e não controla nem vigia Puigdemont, porque Sánchez assim o quis"
Cuca Gamarra, secretária-geral do PP

Segundo o jornal ABC, isso deu espaço para que Carles Puigdemont pudesse desenhar com tranquilidade o plano que colocou em prática esta quinta-feira. Tendo em conta a falta de informações, os Mossos D’Esquadra tiveram dificuldades em conseguiram agir atempadamente.

Surgem, no entanto, alguns relatos de que pode ter havido um conluio entre alguns setores das autoridades catalãs com as forças independentistas lideradas por Carles Puigdemont. Em concreto, dois agentes dos Mossos D’Esquadra foram detidos por ajudar o ex-presidente do governo catalão a escapar. Um dos suspeitos era o dono do carro em que o antigo líder da Catalunha fugiu após o discurso no Arco de Triunfo, em Barcelona.

Força policial que atua apenas na Catalunha, os Mossos D’Esquadra admitem que abriram uma investigação para identificar as pessoas que ajudaram o ex-presidente da Catalunha, Carles Puigdemont, a chegar ao Arco do Triunfo em Barcelona — onde discursou — e como conseguiu fugir entre a multidão após o discurso, segundo apurou a agência EFE junto a fontes conhecedoras do caso.

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Arco do Triunfo em Barcelona, onde Puigdemont discursou

AFP via Getty Images

Neste sentido, os Mossos D’Esquadra preveem deter, nas próximas horas, outros envolvidos na fuga de Carles Puigdemont. E reconhecem que podem ser mesmo outros agentes da polícia catalã.

Entre os aliados de Puigdemont não há quaisquer detalhes sobre o paradeiro do independentista. Porém, Jordi Cabré afirmou que o plano delineado pela equipa do independentista resultou na “perfeição”. O advogado realçou que os dois objetivos foram, até ao momento, cumpridos. Um deles era que o ex-líder catalão não fosse “detido”; outro era que a sessão de investidura da Catalunha não sofresse um “boicote”. A finalidade do presidente do Junts seria, de acordo com Jordi Cabré, “exercer o seu direito como deputado eleito” no parlamento catalão.

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