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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Rangel tentou a sorte grande quando o azar lhe bateu à porta

O dia trouxe um Rangel mais solto nas ruas. Ao mesmo tempo que o candidato jogava ao Euromilhões, saía um resultado pouco favorável nas sondagens. Mas não perdeu o ânimo na rua

Paulo Rangel protegia-se do frio cortante da Guarda no café Orquídea quando, num impulso, avançou para secção de jogo. “Vou ali jogar ao Euromilhões“, avisou. Não costuma jogar, mas teve aquele apelo que não foi para o “boneco” porque estava longe das câmaras. “O meu pai é que jogava por mim e por ele, eu não tenho esse hábito”, explica. São jogos de sorte e azar. Num dia em que teve a sorte de correr quase tudo bem teve o azar (que já esperava) de sair uma sondagem negativa. A arruada arrancou ao mesmo tempo que o Expresso publicava uma sondagem que coloca o PSD oito pontos percentuais atrás do PS.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Apesar da notícia, não perdeu o ânimo nem o balanço da manhã. A arruada na Guarda correu melhor do que a de Viseu. Depois de expectativas baixas no ‘Cavaquistão’, a comitiva era maior e Paulo Rangel já cumprimentou pessoas com dois beijos na cara, sorriu mais, foi mais falador. A “onda laranja” como cantam os “jotinhas” que acompanham o candidato estava mais agitada e na companhia do grupo de Bombos Trocadalho do Carilho de Gonçalo, que abafou as conversas, mas também um protesto mais agitado.

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Numa das ruas da baixa da Guarda, um homem dizia uns impropérios que ninguém ouvia, numa espécie de cinema mudo, onde só se percebeu o gesto: o dos cinco dedos a rodar, como quem diz “ladrão”. De resto, os contactos com o povo foram o habitual nestas circunstâncias. Rangel não é exuberante e, por vezes, até parece preferir o silêncio do megafone, mas desta vez até cantou: “Pê-pê-dê, pê-p-dê, é a força PSD“.

A arruada foi mais uma prova de uma nova versão de Rangel ao quinto dia de campanha, um político mais da rua do que nas primeiras feiras na pré-campanha e campanha, onde a falta de jeito para as pessoas sobressaía.

Quanto à sondagem, como seria de esperar, Paulo Rangel desvalorizou: “Vi uma sondagem, mas não lhe dou grande relevância porque já sabem qual é o princípio do PSD que também é o meu: dar uma importância muito, muito, muito relativa”. Rangel lembra que “o PSD já teve boas sondagens e depois maus resultados” e que, no seu “caso, nas duas vezes, melhores resultados que sondagens”. E acrescenta: “Sejam melhores ou menos boas, eu relativizo sempre”.

Sobre se isso obriga a alguma alteração de estratégia, Rangel diz que o resultado “não obriga a mudança rigorosamente nenhuma” e que o que “talvez tenham de mudar as sondagens. Rangel comentou ainda o facto de Passos Coelho e Manuela Ferreira Leite entrarem na campanha dizendo que “é bom para o PSD, mas é apenas um fator entre muitos outros.” A entrada na campanha dos dois ex-presidentes foi noticiada pela SIC e confirmada pela campanha aos restantes jornalistas uma hora depois: Passos estará segunda-feira ao almoço em Cascais, Ferreira Leite terça-feira ao almoço em Ansião.

Rangel à vontade, mas não “à vontadinha” na feira

Na noite de quinta-feira um vídeo com excerto da peça da SIC sobre a campanha de Pedro Marques andou a circular entre os “jotinhas” que acompanham a campanha do PS. Era um vivo de um “jota” do PS que não sabia o nome do cabeça de lista pelo qual gritava. Foi alvo de chacota, claro. E não ficou por aí: esta sexta-feira de manhã, assim que entraram no mercado de Trancoso, os “jotinhas” do PSD traziam cântico novo preparado: “Qual é? Qual é o nome do candidato? Bem sabemos bem qual é. Ele é o Paulo Rangel”. E repetiram-no até à exaustão.

À sexta-feira, Paulo Rangel lá acertou na feira. Solto, foi falando mais com as pessoas, sorrindo mais embora fuja sempre à confrontação ou às conversas mais longas. Na charcutaria, na padaria ou na peixaria, Rangel foi desejando bom negócio. Ao entregar a caneta, o ato mais repetido da campanha, já foi mais ousado do que repetir apenas a data das eleições: “Olhe, que isso é para votar no PSD”. E, numa forma que ainda não tinha tido, até deu dois beijinhos a senhoras que ali faziam compras com os cabelos impecavelmente seguros com laca.

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Para desenvolver a conversa, não contem com ele. O talhante bem o picou, ao dizer: “Se cada um de vocês levar um quilo de carne, fica já a vitrine vazia. Isso é que era”. “Muito bem”, disse Rangel num tom de parlamentar. Mais à frente, também houve quem o mandasse trabalhar e Rangel voltou a fingir que não ouvia.

Aos jornalistas, apertado entre sapatos contrafeitos e cabides pendurados, Paulo Rangel nega que alguma vez tenha estado desconfortável com o contacto com as populações: “Isso, como se diz em inglês, foi um misunderstanding”. O candidato do PSD admitiu que não tem o “à vontade” de um “Paulinho das Feiras” porque esse “à vontade” também já é demais. “Estou à vontade, mas não à vontadinha”, atira.

Com canetas, então, já leva prática e garante que “não está seca”, mas bastante “funcional”.

Rangel explica que, muitas vezes não aborda mais os eleitores, porque não quer estar a “incomodar as pessoas que estão a fazer a sua vida”. O candidato do PSD comentou também os resultados da auditoria que provam que houve desvios de fundo na delegação do PS no Parlamento Europeu, revelados numa investigação do Observador. Paulo Rangel não quis aproveitar a situação para efeitos de combate político e disse apenas que “há justiça o que é da justiça e à política o que é da política.”

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A feira correu-lhe bem e os fogachos de hostilidade foram controlados pela comitiva. No mercado, um homem protestou: “Aldrabões. Já lá estiveram e fizeram pior que os outros”. Os “jotinhas”, que têm subido de forma, abafaram o protesto com a contagem decrescente: “Já só faltam nove dias para a vitória.”

Não é dia das ovelhas ronhosas. Estas são voadoras

À chegada a Celorico da Beira, mesmo não estando previsto, a comitiva visitou um pasto com um rebanho de ovelhas. Paulo Rangel, após ser questionado, recusou-se a dizer qual é a “ovelha ronhosa” da campanha. “Hoje falamos só sobre o rebanho, sobre ovelhas boas“, atirou Rangel. Antes de abandonarem o pasto, ainda houve um momento caricato com as ovelhas a fugirem, saltando para a estrada. Foram voos aparatosos. O pastor justificou que “não estão habituados aos jornalistas”.

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Chegou então o momento de visitar a queijaria artesanal Casa Agrícola dos Arais. Rangel continuava desperto, como na feira, e fez várias perguntas à engenheira Célia Silva, uma jovem agricultora que decidiu fazer negócio na sua terra. Ouviu que os produtores de leite só conseguem sobreviver porque recebem subsídios, financiados maioritariamente por fundos comunitários. A visita, ao bom jeito da Beira, acabou com um pequeno repasto. Vinho tinto enchidos e, claro, bom queijo, vindo do leite das ovelhas que voaram.

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As queixas em almoço intimista: “Os meus filhos, aqui, morrem à fome”

,À hora do almoço Rangel reuniu-se com queixas eram diversas. Um dos empresários queixou-se da desertificação e do abandono do interior (“os meus filhos aqui, morrem à fome, mas como são espertos foram-se embora”). Houve quem evidenciasse a de falta de estratégia (“se os desgovernantes que aplicassem só um terço do que gastam em agricultura, não havia incêndios”) e também quem se queixasse de falta de agilização na exportação: um empresário do setor avícola, por exemplo, lembrou as dificuldades que houve em exportar ovos para a Coreia e de como levou dois anos a conseguir exportar para Israel.

Paulo Rangel explicou que quis um “almoço mais intimista” e explicou que nos últimos dias o objetivo da campanha tem sido “dar visibilidade aos territórios de baixa densidade e ao interior”. O candidato do PSD destacou que “é importante que os políticos em campanha não se limitem ir aos sítios onde há grande concentração de votos”. O eurodeputado diz que “quando o interior reclama, está a salvar o litoral do seu próprio modelo que não é sustentável.”

Como tinha feito em Sernancelhe, Paulo Rangel destaca que vêm aí cortes de 1700 milhões em fundos comunitários destinados à agricultura (500 deles nos pagamentos diretos de subsídios a agricultores). Ainda assim, essa é a primeira proposta da Comissão Europeia e Rangel promete “fazer uma pressão enorme” para que Portugal não sofra cortes. Rangel diz que PSD “vai lutar” para que Portugal perca “zero cêntimos” relativamente ao anterior quadro comunitário de apoio. E voltou a deixar a garantia: “Se o PSD for governo, não deixará que isso aconteça [a perda de fundos]”. Rangel despediu-se dos empresários a dizer que leva “um banho, uma imersão, daquelas que são as preocupações reais das pessoas.”

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