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Quando esta sexta-feira chegasse à Cidade Universitária, em Lisboa, o aluno de engenharia da Faculdade de Ciências que a Judiciária deteve nas últimas horas, numa operação relâmpago, levaria consigo armas brancas e material para provocar explosões. O objetivo, acredita a investigação, era só um: em dia de 47 exames e uma entrega de prémios sobre mobilidade urbana, causar o terror que há vários meses planeava e para o qual até tinha feito um guião escrito (ou um “plano da atividade operacional”, como lhe chama a PJ) — que guardava em casa, juntamente com catanas, bestas, pequenas botijas de gás, gasolina e outras armas.
“O Anders Breivik, na Noruega, explodiu umas coisas num sítio e atacou de outra maneira noutro lado. Neste caso havia pequenas botijas de gás que eventualmente seriam para as explosões”, explicou ao Observador uma fonte próxima da investigação, detalhando assim que, para a PJ, o ataque não se ficaria pelas armas brancas. Até porque lá em casa não foram apenas encontradas garrafas de gás, havia também a gasolina — “o acelerante” da explosão, segundo os inspetores.
Quando o jovem de 18 anos, sem cadastro, foi surpreendido esta quinta-feira pela PJ estava em casa, em Lisboa, onde vivia (sozinho) e estudava — desde que veio da região da Batalha. Há várias horas que era monitorizado pelos investigadores da Unidade Nacional de Contraterrorismo. O primeiro alerta soou há menos de uma semana: o FBI havia detetado uma pessoa que, a partir de Portugal, de forma constante e repetida, consumia conteúdos de extrema violência e conversava em chats sobre ataques. A inspiração seriam os tiroteios em escolas dos EUA.
O alerta
“Como é que normalmente se chega aos traficantes e consumidores de pornografia infantil? São indivíduos que compulsivamente estão na dark web à procura de imagens e a consumir pornografia infantil. Quando há presenças esporádicas pode não haver sinalização, mas se se estiver repetidamente torna-se um alvo. Aqui, com os americanos, aconteceu o mesmo”, contou uma fonte da PJ ao Observador, acrescentando que neste caso o crime era outro: “Um português, muito consumidor de muito sangue, muitos ataques, muitos massacres”.
As indicações dadas pelo FBI não identificavam, porém, qualquer suspeito do possível ataque, a sua morada, nem que este planeava uma ação terrorista contra colegas estudantes na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Tratava-se apenas de um alerta. Além dos conteúdos consultados, as autoridades americanas também informaram de conversas mantidas por ele em chats (também na dark web).
Uma troca de informações que aconteceu ao abrigo da cooperação bilateral entre autoridades nacionais e dos EUA e não via Interpol. Depois disso seguiram-se dias agitados em Lisboa: a Unidade Nacional de Contraterrorismo da PJ montou uma operação relâmpago, para passar a pente fino as suspeitas enviadas, descobrir a identidade do jovem e confirmar todos os indícios. No fim, foi preciso aguardar pelos mandados de busca: “Logo que a polícia teve oportunidade e instrumentos legais para avançar, avançou”.
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E quando chegou a casa do suspeito confirmou tudo: “Só hoje, face ao percurso desta pessoa, com as buscas, é que se confirmou, de facto, a veracidade e perigosidade”.
O que já se sabe sobre o suspeito?
Até ao momento, “não lhe é conhecida nenhuma deficiência ou défice cognitivo”. A garantia foi dada ao Observador por uma fonte da PJ, numa altura em que ainda são poucos os detalhes sobre o jovem. Para a investigação é, no entanto, quase certo que terá sido o passado de violência a estar na origem deste plano, travado à última hora. “Sabe-se que foi vítima de bullying, foi apanhada informação sobre isso”, conta a mesma fonte.
O que se sabe sobre o jovem “discreto e introvertido” que queria atacar a Faculdade de Ciências
Segundo foi noticiado pela CNN, trata-se de um jovem “extremamente inteligente” e “bastante reservado”, que para este plano se terá inspirado nos ataques em escolas nos Estados Unidos. Um “perfil discreto e introvertido”, também descrito por algumas fontes ao Público.
O suspeito procurava informação de forma constante sobre tiroteios como os que têm ocorrido de forma regular em várias escolas dos Estados Unidos nos últimos anos, como Columbine (1999), Sandy Hook (2012) e Parkland (2018). O ataque desta sexta-feira seria uma transposição desses atentados para a realidade portuguesa.
O que a Polícia Judiciária já confirmou sobre a investigação?
Segundo o comunicado oficial, a Unidade Nacional Contraterrorismo da Judiciária deteve um jovem por “suspeitas de atentado dirigido a estudantes universitários da Universidade de Lisboa”.
“Face à gravidade das suspeitas, foi atribuída a máxima prioridade à investigação, a qual permitiria, no dia de hoje [quinta-feira], às primeiras horas do dia, interromper a atividade criminosa em curso. Na sequência das buscas realizadas, seriam apreendidos vastos elementos de prova, que confirmariam as suspeitas iniciais”.
Além das armas, os investigadores apreenderam “vasta documentação” e “um plano escrito com os detalhes da ação criminal a desencadear”.
O estudante de engenharia foi detido “em flagrante delito pela posse das referidas armas”, estando igualmente “indiciado pela prática do crime de terrorismo”. Será presente esta sexta-feira a primeiro interrogatório judicial para que lhe seja aplicada uma medida de coação.