O Observador viajou até Londres a convite da Renault
Inaugurada em 1989, Harmswoth Quays foi durante muito tempo uma das maiores gráficas da Europa. Era de lá que saíam todos os dias milhares de exemplares do Daily Mail e do Evening Standard e as instalações ocupavam 12 hectares em Rotherhithe, no sul de Londres. Em 2012, a Harmswoth Quays mudou-se para Essex. E uma das maiores gráficas da Europa tornou-se a Printworks, uma das discotecas mais conhecidas da capital de Inglaterra.
Esta quinta-feira, a Printworks foi também o local onde o mundo ficou a conhecer o A523, o novo carro da Alpine para o Mundial de Fórmula 1 que arranca já daqui a duas semanas. A equipa francesa foi a última a apresentar o monolugar para 2023 e fê-lo num evento em que revelou bem mais do que a nova pintura, o novo chassis ou a nova unidade motriz.
▲ O novo carro da Alpine tem menos cor de rosa e aposta mais no característico azul da marca francesa
Como não podia deixar de ser, até por estarmos numa discoteca, o evento terminou com um DJ, música e um protótipo de um carro de Fórmula 1 pendurado no tecto. Aliás, a mistura entre desporto e entretenimento foi uma das constantes de toda a noite: aos jornalistas, empresários, parceiros e investidores, juntaram-se influencers e personalidades do mundo digital. Mais do que uma apresentação de um carro de Fórmula 1, a Alpine montou um verdadeiro happening. Quase numa representação real da ideia de que, mais do que um desporto, a Fórmula 1 é mesmo entretenimento.
Things that make sense at an F1 car launch… An upside down #A523 ???? #Alpine pic.twitter.com/CzkzRW6b3v
— BWT Alpine F1 Team (@AlpineF1Team) February 16, 2023
O primeiro a subir ao palco, naturalmente, foi Luca de Meo, o italiano que é o atual CEO da Renault. “Estou ansioso pelo início da temporada de Fórmula 1 e por ver a equipa BWT Alpine F1 continuar a sua impressionante trajetória rumo às primeiras posições da grelha. Desde que o nome Alpine se juntou à Fórmula 1, tenho visto progressos claros e tangíveis, que resultam da paixão, determinação e dedicação de cada membro da equipa e que contribui para o sucesso dos nossos carros. Isto lembra-me, muitas vezes, por que motivo decidi colocar a Alpine na Fórmula 1: porque, em última análise, a marca pertence aqui”, começou por dizer.
“A época de 2023 marca mais um capítulo no palmarés da Alpine e, este ano, fazemos história com dois pilotos franceses em representação da nossa marca. Vamos ver o que a temporada nos traz, claro, mas eu e todos no Grupo Renault estamos entusiasmados por poder acompanhar de perto a ascensão da Alpine”, acrescentou Luca de Meo, que depressa teve a companhia de Laurent Rossi, CEO da Alpine, antes do momento da revelação do A523.
Os franceses apresentaram dois carros: o principal, menos cor de rosa e com bem mais do característico azul da marca, e o secundário, quase integralmente cor de rosa. O primeiro será utilizado na larga maioria das corridas enquanto que o segundo, que se aproxima mais dos designs defendidos pela Alpine nos últimos anos, estará em pista nos três primeiros Grandes Prémios da temporada. Já com os dois monolugares no domínio público, foi a vez de dar protagonismo a quem os vai conduzir.
Depois de ter feito dupla com Fernando Alonso em 2022 e de ter visto o espanhol seguir para a Aston Martin, Esteban Ocon vai agora trabalhar ao lado de Pierre Gasly. Tal como sublinhado por Luca de Meo, a Alpine conta assim com dois pilotos franceses — mais, conta com dois pilotos que se conhecem desde crianças, que subiram até à Fórmula 1 em simultâneo e que fazem parte do mesmo grupo de amigos. Apesar dos rumores de que a relação dos dois não é extraordinária, entre competitividade e outras questões mais pessoais, a verdade é que Ocon e Gasly serão os donos dos destinos da Alpine no próximo ano.
???????????? A523 ????????#Alpine pic.twitter.com/r1HwTB5e2X
— BWT Alpine F1 Team (@AlpineF1Team) February 17, 2023
“É fantástico ser oficialmente revelado como piloto da Alpine e estou muito ansioso por esta próxima etapa da minha carreira. Estou ansioso para ver o potencial e as capacidades do A523 nos testes de pré-época e para continuar a ficar mais confortável com a equipa. Os desenvolvimentos que a equipa está a trazer para o carro deste ano deixaram-me entusiasmado com o que está para vir com a Alpine. É ótimo ver a dedicação que todos colocam nas suas funções diárias para avançar de forma consistente e mal posso esperar para começar a ajudar a equipa a alcançar os seus objetivos para o ano”, atirou Pierre Gasly, que deixou a AlphaTauri e, pela primeira vez na carreira, vai competir fora do universo Red Bull.
▲ Pierre Gasly deixou a AlphaTauri e vai agora formar uma dupla inteiramente francesa com Esteban Ocon na Alpine
A revelação dos novos carros, porém, foi apenas a cereja no topo do bolo que a Alpine tinha para oferecer na passada quinta-feira. Em Londres, a equipa apresentou o projeto Rac(h)er, um novo Centro de Alta Performance que vai desenvolver um programa de treino individual para os pilotos e totalmente focado na performance. Ou seja, sem qualquer tipo de critério prévio no que toca ao género, com a Alpine a apresentar desde logo seis jovens que vão integrar o programa para se tornarem “as campeãs de amanhã”.
A aposta dos franceses na integração das mulheres no desporto automóvel é uma das prioridades para os próximos anos e o projeto Rac(h)er tem como objetivo final colocar uma piloto na Fórmula 1. Para isso, a equipa integrou Sophia Floersch na Alpine Academy na Fórmula 3 e Abbi Pulling na Fórmula 1, dois dos maiores talentos femininos da atualidade e tidas como as mulheres mais promissoras do automobilismo. O novo Centro de Alta Performance vai ainda contar com a contribuição inspiradora de Nicola Adams, bicampeã olímpica e a pugilista britânica mais bem sucedida de sempre, e Zara Rutherford, que aos 20 anos é a mais jovem de sempre a realizar sozinha um voo à volta do mundo.
A ideia é simples: pegar nas experiências de Adams e Rutherford e impulsionar a próxima geração de talento no feminino. “Como atleta de topo, os meus mentores tiveram um papel instrumental na minha carreira. Mal posso esperar por poder transmitir as minhas experiências, ajudar os pilotos e as equipas, dar conselhos. Quero ser uma contribuição para a Alpine e ajudar a aliviar as desigualdades de género no desporto”, explicou a pugilista, de 40 anos, em Londres.
A maior surpresa, porém, estava reservada para o fim. Com uma apresentação recheada de elogios e considerações, a ideia de que o papel foi criado para ele e de que dificilmente existiria uma escolha mais acertada, Zinédine Zidane foi revelado como o novo embaixador da Alpine. Levantou-se da plateia, onde estava sentado de forma totalmente discreta, e subiu ao palco para trocar as voltas à audiência londrina — não iria falar em inglês, assumindo a própria língua ao longo de todo o discurso.
Meet @AlpineF1Team's newest ambassador….????
French footballing legend Zinedine Zidane! ????⚽️#F1 pic.twitter.com/o4iuAhs9Xe
— Formula 1 (@F1) February 16, 2023
“Gostei da visão e da abordagem concreta das equipas da Alpine, especialmente da implementação dos programas de igualdade de oportunidades. E claro que tenho um sentimento especial pela Alpine, por ser francês e por ser fã de Fórmula 1. Acho que é importante dizer às crianças que, independentemente de onde vêm, podem tornar-se os campeões de amanhã em tudo aquilo que escolherem. Devem sempre acreditar nos sonhos. Este projeto da Alpine está aqui para ajudar a tornar isso possível. A mudança demora tempo, por isso, se eu puder contribuir e ajudar a acelerar esse processo, vou fazê-lo com grande satisfação”, afirmou o antigo internacional francês e treinador do Real Madrid, que terá essencialmente esse papel ligado à igualdade de oportunidades.
Para 2023, o objetivo da Alpine é claro: repetir o 4.º lugar no Mundial de Construtores mas garanti-lo mais cedo — já que, na época passada, só o confirmou no último Grande Prémio — e aproximar-se de Red Bull, Ferrari e Mercedes para se distanciar da McLaren. E parte disso passa por encurtar o número de abandonos e exponenciar o número de pódios.
