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A síndrome inflamatória multissistémica pediátrica pode atingir crianças e jovens de várias idades e é mais grave nos mais velhos

Sergei Bobylev/TASS

A síndrome inflamatória multissistémica pediátrica pode atingir crianças e jovens de várias idades e é mais grave nos mais velhos

Sergei Bobylev/TASS

O que se sabe sobre a síndrome inflamatória que pode afetar as crianças depois de terem Covid?

Para a maior parte das crianças, a Covid provoca poucos ou nenhuns sintomas. Mas a síndrome inflamatória multissistémica tem manifestações muito graves e pode causar a morte. O que sabemos sobre ela?

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A síndrome inflamatória multissistémica pediátrica (MIS-C) é uma condição rara, mas grave. Na verdade, é a complicação pediátrica mais grave relacionada com o coronavírus SARS-CoV-2 registada em toda a pandemia, segundo o jornal El País. Desde janeiro, foram identificados 83 casos em Portugal.

Os picos de MIS-C em vários países, incluindo Portugal, têm coincidido com os picos de infeção com o vírus. Grande parte das crianças que apresentam sinais desta síndrome acaba por ter de ser tratada nos cuidados intensivos e já foram registadas mortes na sequência destas complicações.

Os sintomas da síndrome manifestam-se, normalmente, dentro de quatro semanas após a infeção (ou exposição) ao SARS-CoV-2, mesmo que a criança não desenvolva qualquer sintoma de Covid-19 antes disso. Um estudo espanhol mostrou, no entanto, que os sintomas podem surgir só ao fim de quatro meses.

O que é a síndrome inflamatória multissistémica pediátrica?

A MIS-C (a sigla em inglês para multisystem inflammatory syndrome in children) é uma resposta imunitária exagerada que provoca a inflamação de vários órgãos, como coração, pulmões, cérebro, rins, mas também no sistema digestivo, pele e olhos, descreve o Centro para o Controlo e Prevenção da Doenças (CDC) nos Estados Unidos.

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A síndrome não afeta todos os órgãos em todas as crianças da mesma maneira, nem produz o mesmo conjunto de sintomas. Ainda não se sabe o que a causa, mas grande parte das crianças que demonstraram estes sinais até a momento tiveram uma infeção confirmada com o coronavírus SARS-CoV-2 ou estiveram em contacto com pessoas infetadas.

Quais são os principais sintomas?

As crianças podem apresentar febre, dor de barriga, vómitos, diarreia, dor no pescoço, erupções cutâneas, olhos vermelhos ou demasiado cansaço. Nestes casos, devem ser vistas por um médico, aconselha o CDC.

Febre persistente sem origem clínica clara é a primeira pista. Qualquer febre acompanhada de sintomas graves ou coincidentes com a exposição recente a uma pessoa com Covid-19 devem levantar suspeitas”, aconselha a Academia Americana de Pediatria.

No caso de a criança ter dificuldades em respirar, dor ou pressão no peito que não desaparece, um estado de confusão, incapacidade de acordar ou de se manter acordado, lábios e pele pálidos, acinzentados ou roxos e dores de barriga intensas, as autoridades americanas recomendam que se procure ajuda médica de urgência.

O CDC alerta que nem todas as crianças desenvolvem os mesmos sintomas ou com a mesma intensidade e que podem até ter sintomas que não estão ainda previstos na lista divulgada.

Quando se desenvolvem os sintomas?

Na maior parte dos casos reportados, os sintomas de MIS-C desenvolveram-se nas quatro semanas depois de ter sido detetada a infeção com SARS-CoV-2 ou depois de a criança ter estado em contacto com pessoas infetadas, por exemplo durante o isolamento em casa com elementos da família infetados.

“No contexto de várias doenças infecciosas [além do coronavírus], os doentes com uma certa predisposição podem desenvolver um quadro clínico no qual todo o corpo reage com uma inflamação severa e isto também se aplica às crianças”, diz Nikolaus Haas, que chefia o Departamento de Cardiologia Pediátrica e Medicina Intensiva Pediátrica no Hospital Universitário Ludwig Maximilian (Munique), citado pela DW.

“Estamos a tentar averiguar qual é o mecanismo imunológico. Por enquanto, consideramos que a infecção com SARS-CoV-2 funciona como o gatilho que faz a resposta imunológica disparar em doentes que têm uma predisposição.”
Cinta Moraleda, pediatra no Hospital 12 de Outubro (Madrid)

Que crianças estão em risco?

As autoridades de saúde ainda não conseguiram determinar quais os fatores de risco para o desenvolvimento da síndrome ou para a severidade dos sintomas. A única ligação identificada até ao momento é com a infeção com SARS-CoV-2, quer tenha sido confirmada com um teste positivo, quer a criança tenha estado com pessoas infetadas (logo, possa ter sido infetada). Muitas destas crianças não desenvolvem sintomas de Covid-19 no momento da infeção com o coronavírus.

No Reino Unido, onde em janeiro desde ano eram internadas 100 crianças por semana com MIS-C, verificou-se que a maior parte eram de origem afro-caribenha ou asiática, com uma incidência cinco a seis vezes superior à das respetivas proporções desses grupos na população total do Reino Unido, refere a DW. Nos Estados Unidos, numa análise com 1.733 crianças com MIS-C, 71,3% eram hispânicos ou negros, conforme os dados publicados na revista científica JAMA Pediatrics.

Os especialistas, porém, ainda não conseguiram determinar se o que está a condicionar esta diferença são fatores genéticos ou sócio-económicos — estas crianças, e respetivas famílias, podem ter mais dificuldade em evitar o contágio com o coronavírus.

Em Espanha, a equipa de Alfredo Tagarro, pediatra no Hospital Infanta Sofia (Madrid) e coordenador do cadastro nacional da MIS-C, calcula o risco de desenvolver esta síndrome com base numa elevada concentração de proteínas inflamatórias no sangue, na falta de glóbulos brancos e na anemia.

O CDC define que em todas as crianças e jovens com menos de 21 anos, que apresentem febre (acima de 38ºC) por mais de 24 horas, evidência de inflamação e dois ou mais órgãos envolvidos, deve ser considerada a hipótese de se tratar de MIS-C.

Santa Maria teve nos cuidados intensivos 10 crianças e jovens com síndrome pós-Covid, a maioria assintomática

O estudo publicado na JAMA Pediatrics mostra que as crianças com menos de 5 anos tinham menos risco de desenvolver doenças cardíacas graves e que o risco era maior nas crianças com 10 anos ou mais. Em Portugal, as crianças mais novas apresentam sintomas semelhantes aos da doença de Kawasaki e as mais velhas mais problemas cardíacos.

Quais são os tratamentos disponíveis?

Não existem tratamentos específicos para a síndrome inflamatória multissistémica pediátrica. Os doentes são tratados para os sintomas que apresentam, nomeadamente com hidratação, suporte respiratório, medicamentos que estimulem a contração do músculo cardíaco. também podem ser usados anti-inflamatórios, antibióticos e anticoagulantes.

Que grau de gravidade pode ter a doença?

As manifestações da doença podem ser muito graves, levando não só à hospitalização das crianças como ao internamento em unidades de cuidados intensivos. Há vários relatos de mortes entre crianças que desenvolveram a síndrome e de sequelas em crianças que recuperaram.

Em Portugal, desde janeiro, foram identificados 83 casos, todos eles recuperados. As crianças que chegam aos cuidados intensivos tiveram uma falência cardíaca grave — o coração não era capaz de bombear o sangue — e, no caso mais grave, um jovem de 17 anos teve de estar ligado ao ECMO (sistema que pode substituir os pulmões e o coração).

Mais crianças com Covid-19 diagnosticadas com doença grave mas rara, na terceira vaga

No início de abril, o artigo da JAMA Pediatrics revelava que, nas 1.733 crianças que analisou — das 2.090 que foram diagnosticadas com MIS-C em janeiro, nos Estados Unidos — , mais de metade (1.009) tinham passado pelos cuidados intensivos e 24 tinha morrido.

Que cuidados devem ter as crianças depois de recuperar da doença?

O tempo de recuperação das crianças, assim com o tempo que passam nos cuidados intensivos, é variável. O jovem de 17 anos, o caso mais grave entre crianças até ao momento, esteve nove dias ligado ao ECMO, porque nem doses altas de medicação conseguiram reverter o facto de o coração não estar a funcionar normalmente.

Mesmo depois da alta, as crianças e jovens continuam a ser seguidos em consulta de cardiologia pediátrica — inicialmente, a cada 15 dias — e têm de ajustar a prática de exercício físico.

A nossa recomendação é que não haja retoma do exercício físico regular ou, pelo menos, com alguma intensidade, e que, obviamente de acordo com as alterações iniciais, também vai ser diferente de doente para doente”, disse Mónica Rebelo, diretora do serviço de Cardiologia Pediátrica do Hospital de Santa Maria, à Lusa.

Quando foi detetada esta doença?

No final de abril de 2020, os médicos britânicos notaram um aumento na incidência de casos de inflamação multissistémica em crianças outrora saudáveis e descreveram-na como tendo semelhanças com a doença de Kawasaki.

Na altura, as crianças estavam ou tinham estado infetadas com SARS-CoV-2, tinham febre persistente e os sinais de inflamação eram detetados em vários órgãos.

"A associação geográfica e temporal de MIS-C com a pandemia de Covid-19 sugeriu que MIS-C resultou de respostas imunológicas retardadas à infecção por SARS-CoV-2."
Belay et al. (2021) JAMA Pediatrics

Qual a relação com a doença de Kawasaki?

Alguns casos da síndrome inflamatória multissistémica pediátrica apresentam semelhanças com a doença de Kawasaki. Esta doença, que atinge sobretudo crianças com menos de 5 anos, pode manifestar-se através de febre, erupção cutânea, inchaço das mãos e pés, irritação e vermelhidão da parte branca dos olhos, inchaço dos gânglios linfáticos no pescoço e irritação e inflamação da boca, lábios e garganta, refere o CDC.

A doença de Kawasaki pode causar problemas cardiovasculares graves, mas não afeta tantos órgãos como a MIS-C. Também no caso da doença de Kawasaki, a origem não é conhecida, mas tem sido associada a infeções com outros coronavírus.

Os adultos podem desenvolver o mesmo tipo de doença?

Sim, o CDC notou um aumento na frequência de adultos que reportavam sintomas equivalentes, com inflamação de vários órgãos, dias ou semanas depois de terem estado infetados com SARS-CoV-2. O CDC ainda não sabe quais os fatores de risco para a doença, mas alertam que podem ser graves e que os adultos com sinais de MIS-A (multisystem inflammatory syndrome in adults) devem procurar imediatamente assistência médica.

Quais são os sintomas nos adultos?

Os adultos, como as crianças, podem apresentar uma inflamação em vários órgãos como o coração, os do sistema digestivo, o cérebro ou a pele. Além da febre, a MIS-A pode manifestar-se com tensão arterial baixa, dores de estômago, vómitos, diarreia, dores no pescoço, erupção cutânea, dor/aperto no peito e cansaço extremo.

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