É uma manhã de fevereiro diferente do habitual. Quer pelo sol e pelo calor que se faz sentir, quer pela expectativa que paira no ar. Na pequena freguesia de São Jacinto, todos sabem que este é um dia importante para a região: vai finalmente ser inaugurado o novo ferryboat. A embarcação, que está junto ao cais de embarque, atrai os olhares de todos os que por ali passam e que não resistem a tirar uma ou duas fotografias ao navio novinho em folha.
Entre convidados e curiosos, o Presidente Ribau Esteves, num discurso bem-humorado, dá a conhecer o Salicórnia, destacando a qualidade do trabalho que foi feito. Porque “somos um país que faz coisas de excelência e está aqui mais uma prova dessa competência”, diz visivelmente orgulhoso.
Após o discurso e a bênção do ferry pelo Bispo de Aveiro, D. António Ramos, ainda estava reservada uma surpresa para todos a bordo: o Salicórnia ia fazer uma pequena viagem inaugural. Com o velhinho Cale de Aveiro, o convidado de honra do evento, a assistir de perto, o novo ferryboat navegou junto à margem de São Jacinto e a opinião foi unânime: é, realmente, um barco extraordinário. “Eu acho isto maravilhoso. É fantástico, é lindo, é silencioso”, diz-nos Constança. E Maria Vitória Fonseca ainda acrescenta “está muito bem feito, está muito bem pensado. Estou muito contente, muito feliz e dou os parabéns a todos”.
Porquê Salicórnia
Não foi fácil encontrar um nome para a nova embarcação, conta Ribau Esteves. Os critérios? Que referisse a região de Aveiro e que dissesse algo de surpreendente. Lembraram-se, então, da salicórnia: uma planta que, hoje em dia, é utilizada na cozinha gourmet e é conhecida como o sal verde de Aveiro, mas que antigamente era vista como uma erva daninha e uma praga que invadia as salinas. “É essa mensagem, também, que o Salicórnia dá. Ele vem substituir um velho navio que estava em fim de vida, altamente poluidor, com uma eficiência energética muito baixa, e vem dar essa modernidade, essa positividade”, diz o autarca.
Inovador, sustentável e atrativo
A construção do Salicórnia foi uma verdadeira “aventura”: foram quatro anos de muito trabalho, com muitas pessoas, empresas e entidades envolvidas. Mas que, no fim, compensou todo o esforço. Primeiro, como explica Ribau Esteves, “pelo caráter inovador da ideia”, já que o Salicórnia é o primeiro ferryboat elétrico de Portugal. Construído pelo Grupo ETE para a Câmara Municipal de Aveiro, o navio incorpora o melhor que a engenharia portuguesa tem para oferecer e “é certificado ao mais elevado nível para garantir a segurança”, diz-nos o autarca.
Depois, pelo caráter sustentável. Entre construir-se um novo ferry com motores de combustão ou um 100% elétrico, não houve dúvidas no caminho a seguir e a autarquia decidiu substituir o Cale de Aveiro pelo Salicórnia. O projeto, cofinanciado pela Câmara de Aveiro, POSEUR, Portugal 2020 e União Europeia, através do Fundo de Coesão, implicou um investimento total de 9 milhões de euros, mas os números falam por si: são menos 300 toneladas de CO2 emitidas anualmente.
E, por último, pela promoção turística. Para Ribau Esteves, o Salicórnia é, indiscutivelmente, um instrumento de marketing territorial, que vai ajudar a atrair mais pessoas à região aveirense. “Nós escolhemos para a promoção turística de Aveiro dois pilares fundamentais: a cultura e tudo aquilo que é o ambiente, tirando proveito da relação que o espaço urbano de Aveiro tem com os valores ambientais”, explica.
A estética aliada ao conforto
Além do serviço público que presta e de ser uma solução ambientalmente sustentável, o Salicórnia também conta com uma componente estética. Como nos explica Ribau Esteves, a embarcação “opera num sítio lindíssimo”, por isso só faria sentido que também fosse esteticamente apelativa. Projetado por designers portugueses, o ferry torna a travessia de 15 minutos mais confortável, tanto a nível térmico como acústico, e oferece ainda um deck 360º para quem gosta de apreciar a vista durante a viagem.
Também a capacidade do novo barco foi reforçada, quando comparada com o antigo Cale de Aveiro: o Salicórnia consegue transportar 19 viaturas (+30%) e cerca de 260 passageiros (+90%). E para quem usa o ferry regularmente, isso é uma mais-valia: “acho que muito mais pessoas vão começar a utilizar este meio. Tem mais capacidade de resposta. Acho que vão utilizar muito mais do que no passado”, diz-nos Manuel Santos.
O Salicórnia já está em funcionamento normal e regular, entre as 7h e as 23h, com pequenos carregamentos entre os cais, e opera de acordo com os horários e tarifários em vigor. Durante os primeiros três meses de funcionamento, devido à necessidade de monitorização técnica do ferry numa primeira fase de funcionamento, o Cale de Aveiro estará disponível para garantir a manutenção do serviço, sempre que for necessário realizar operações técnicas no Salicórnia.