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epa10376594 Russian President Vladimir Putin attends a news conference following a meeting of the State Council on implementing the youth policy in current conditions, at the Kremlin in Moscow, Russia, 22 December 2022.  EPA/SERGEY GUNEEVSPUTNIK/KREMLIN / POOL MANDATORY CREDIT
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Vladimir Putin disse que, se a Letónia continuar a tratar a população russa de "forma porca", sofrerá consequências

SERGEY GUNEEVSPUTNIK/KREMLIN / POOL/EPA

Vladimir Putin disse que, se a Letónia continuar a tratar a população russa de "forma porca", sofrerá consequências

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O sonho "imperialista" de recuperar "esferas de influência". Os avisos dos vizinhos da Rússia sobre um possível confronto com a NATO

Letónia, Polónia e Ucrânia alertam que Rússia pode estar a preparar-se para uma guerra contra a NATO e pode invadir um dos Bálticos. Sucesso na guerra da Ucrânia será fundamental para ações de Moscovo

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“Se a Letónia continuar a tratar a população russa que vive lá de forma porca, então o governo deles vai sofrer o mesmo comportamento porco.” O aviso partia do Presidente russo, Vladimir Putin, esta segunda-feira, num paralelismo com as ameaças realizadas à Ucrânia antes da anexação da Crimeia e da primeira invasão ao Donbass em 2014. Mas com uma grande diferença: desta vez, a advertência é dirigida aos líderes de um país que faz parte da NATO e da União Europeia. 

Fazendo parte da aliança transatlântica, uma invasão à Letónia ativaria o artigo 5.º do tratado da Aliança Atlântica e levaria a uma guerra entre o Ocidente e a Rússia. Esta hipótese tem sido admitida por vários dirigentes e propagandistas do Kremlin, principalmente em programas da televisão estatal. Além disso, são recorrentes as ameaças aos países ocidentais nas redes sociais por parte, por exemplo, do vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia e ex-Presidente, Dmitry Medvedev.

Esta atitude provocatória relativamente ao Ocidente será apenas retórica? Por um lado, este tipo de declarações mobiliza o povo russo, dado que transmite a ideia de que haverá um conflito com a NATO e de que a própria existência da Rússia enquanto nação está em risco. Por outro, estes discursos — alguns com ameaças nucleares — acabam por lembrar que Moscovo tem capacidade por fazer frente à Aliança Atlântica num eventual conflito.

Algumas análises recentes mostram, no entanto, que um ataque a um Estado-membro da NATO não é apenas retórica — poderá mesmo materializar-se num futuro não muito longínquo. Com “ambições imperialistas” e procurando recuperar “esferas de influências” da época da União Soviética, a Rússia de Vladimir Putin pode passar ao ataque, principalmente se a Ucrânia perder a guerra ou for obrigada a negociar.

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Tendo como base um estudo alemão, o diretor do gabinete nacional de segurança da presidência da Polónia, Jacek Siewiera, veio recentemente a público admitir que os “países no flanco leste da NATO” — ou seja, os países Bálticos e a Polónia — têm apenas “três anos” para se preparar para um “confronto”, lembrando que o complexo militar-industrial russo tem capacidade para se “revitalizar e crescer nos próximos três anos”. A Letónia, alvo de ameaças, também não descarta um ataque russo.

O estudo alemão: a Rússia como “ameaça” e a “corrida contra o tempo”

Elaborado pelo diretor de segurança e defesa da Sociedade Alemã de Política Externa, Christian Mölling, e por outro membro daquele think tank, Torben Schütz, a análise, publicada em novembro, não deixa margem para dúvidas sobre as intenções do Kremlin: “A questão para a NATO e para a Alemanha não é se serão capaz de lutar uma guerra contra outro país, mas sim quando” é que haverá esse conflito.

"A questão para a NATO e para a Alemanha não é se serão capaz de lutar uma guerra contra outro país, mas sim quando."
Diretor de segurança e defesa da Sociedade Alemã de Política Externa, Christian Mölling, e outro membro daquele think tank, Torben Schütz

Os dois especialistas argumentam que a “Rússia tem mostrado consistentemente a sua motivação agressiva nas duas últimas décadas”: “O Presidente Vladimir Putin, as elites do Kremlin e a intelligentsia abraçam a ambição de restaurar o poderoso império russo e obrigar a influência da NATO e da União Europeia a recuar”. O documento indica que o Kremlin tem em prática um processo de revisionismo histórico, usando para o efeito “analogias com o império czarista e a União Soviética”.

Este processo é motivado igualmente pela “interpretação da História” por parte de Vladimir Putin, o que já motivou guerras na Chechénia, na Geórgia e mais recentemente na Ucrânia. Neste revisionismo histórico em que o líder russo acredita, é provável que estejam igualmente os países Bálticos, que fizeram parte, realça a análise do think tank alemão, “do Império Russo e da União Soviética”.

Para colocar em prática as suas ideias, Vladimir Putin tem de mobilizar o complexo industrial-militar e a sociedade russa. Mesmo com as perdas resultantes da guerra da Ucrânia, Christian Mölling e Torben Schütz defendem que o poderio militar da Rússia é “maior” do que se pensa. E os efeitos do conflito em território ucraniano não foram transversais a todos os ramos das Forças Armadas — a Marinha e a Força Aérea, ainda que afetadas, foram mais poupadas face ao Exército.

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As interpretações da História da Rússia e do passado do país de Putin têm uma influência num possível confronto entre a NATO e a Rússia

Getty Images

Os dois autores alemães sublinham também que a Rússia possui uma economia que é capaz de “transformar a sua indústria militar numa indústria de guerra” por conta da venda de petróleo e gás natural a outros países que não os do Ocidente. E realçam que a sociedade russa também seria mobilizada para um esforço de guerra, devido “à supressão da sociedade civil” e de toda a oposição por parte do regime de Vladimir Putin.

Por todos estes fatores, os dois especialistas, que escrevem que existem “serviços de informações e outros analistas” que comprovam o seu ponto de vista, reforçam que “levará seis a dez anos para a Rússia reconstruir o seu exército” — e chegar a um “ponto em que é capaz de atacar a NATO”. “O relógio vai começar a contar a partir do momento em que os combates intensos na Ucrânia terminarem.”

No entanto, o responsável da presidência polaca é mais pessimista e acredita que a Rússia pode levar a cabo um ataque em apenas três anos. Por isso, Jacek Siewiera frisou que esta é a altura que se deve fortalecer a defesa dos países da Aliança com um objetivo em mente: “Seria um sinal que dissuadiria uma agressão”.

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Diretor do gabinete nacional de segurança da presidência da Polónia, Jacek Siewiera, acredita que Polónia tem três anos para se preparar para uma guerra entre a NATO e a Rússia

dpa/picture alliance via Getty I

Os alertas da Letónia, da Ucrânia e da República Checa

Além dos avisos dos especialistas alemães e da Polónia, há também outros países a prepararem-se para uma invasão russa. Recentemente ameaçada por Vladimir Putin, a Letónia é um deles. Os serviços secretos letões elaboraram um documento a expor que Moscovo quer regressar “às políticas das esferas de influência” da época da Guerra Fria.

O documento dos serviços de informações da Letónia, que chegou às mãos do governo do país, coincide em vários pontos com o do think tank alemão. Ressalvando as “grandes perdas das Forças Armadas russas na Ucrânia”, o “potencial militar continua elevado”. “A Rússia tem meios financeiros suficientes e reservas militares para continuar a guerra [em território ucraniano]. E a Rússia tem armas nucleares para continuar o confronto com o Ocidente. Por isso, Moscovo vai continuar a ameaçar os países vizinhos.”

No que concerne aos países Bálticos, os serviços de informações letões sinalizam que é provável que a Rússia “continue as suas tentativas para desestabilizar a situação” na Estónia, Letónia e Lituânia. Se Moscovo conseguir ganhar “forças adicionais” — principalmente se vencer o conflito na Ucrânia —, vai tentar expandir a sua influência naqueles três países. A conclusão é clara: “A Rússia vai continuar a usar métodos híbridos ou operações militares para espalhar a sua influência”.

"A Rússia tem meios financeiros suficientes e reservas militares para continuar a guerra [em território ucraniano]. E a Rússia tem armas nucleares para continuar o confronto com o Ocidente. Por isso, Moscovo vai continuar a ameaçar os países vizinhos."
Documento elaborado pelos serviços de informações da Letónia

Pela parte do Presidente ucraniano, os alertas vão na mesma direção. Volodymyr Zelensky tem realçado a ideia de que uma vitória da Rússia representaria um perigo para os seus vizinhos, alertando para os riscos que esse cenário causaria para o Ocidente. Dizendo que a Rússia “está a equacionar várias hipóteses”, o líder da Ucrânia, citando informações dos serviços secretos ucranianos, enfatizou que, se há uma “pausa na agressão contra a Ucrânia ou se o conflito fica congelado, haverá um novo momento crítico”.

O ano de 2028 é o novo “momento crítico”, segundo dados dos serviços de informações que Volodymyr Zelensky partilhou. Será nessa altura que o Kremlin será capaz de “reformar o potencial militar destruído pela Ucrânia”, ganhando  poder suficiente para atacar novos países. O Presidente ucraniano disse que os alvos russos serão “precisamente os países bálticos e países em que estão presentes contingentes russos”, como a Geórgia e a Moldávia.

“São informações claras dos nossos serviços de inteligência”, assegurou Volodymyr Zelensky, que recordou que os erros cometidos pelas tropas russas na Ucrânia ajudarão a Rússia a preparar-se para uma nova invasão. “Por favor, lembrem-se que o inimigo mais perigoso é aquele que tirou conclusões e que se preparou para um novo ataque tendo em conta essas conclusões.”

epa10913205 Ukraine's President Volodymyr Zelensky attends a press conference after a meeting with Belgium's Prime Minister Alexander De Croo in Brussels, Belgium, 11 October 2023. Zelensky has arrived in Brussels to participate in the meeting of NATO defense ministers to seek more support for Ukraine's fight against Russia.  EPA/YVES HERMAN / POOL
"Por favor, lembrem-se que o inimigo mais perigoso é aquele que tirou conclusões e que se preparou para um novo ataque tendo em conta essas conclusões."
Volodymyr Zelensky, Presidente da Ucrânia

Por sua vez, o Presidente da Chéquia, Petr Pavel, também assinalou que a Rússia demorará cinco a sete anos para recuperar as suas forças de combate. O chefe de Estado é, ainda assim, menos categórico do que Volodymyr Zelensky, reconhecendo que há “muitas variáveis que podem alterar a situação”. “Vai realmente depender do desfecho da guerra na Ucrânia.”

Analistas acreditam que NATO deve preparar-se, mais que não seja para dissuadir a Rússia

Independentemente do decorrer da guerra na Ucrânia, os especialistas acreditam que a NATO tem de preparar-se para uma eventual agressão russa, fortalecendo a defesa dos Estados-membros, principalmente aqueles que são vizinhos da Rússia. O objetivo é o seguinte: mesmo que Moscovo tenha capacidade para fortalecer a sua indústria militar, deve ser dissuadido de atacar outro país por conta da força militar do adversário.

“A Rússia deve reconhecer que um conflito com a NATO não tem qualquer hipótese de sucesso”, escrevem Christian Mölling e Torben Schütz, que apontam que para isso a “NATO deve aumentar rapidamente as suas capacidades militares”. “Isto é ainda mais importante porque não há qualquer esperança de mudar as motivações do regime russo ou tentar ativar a sociedade contra o regime.”

"A Rússia deve reconhecer que um conflito com a NATO não tem qualquer hipótese de sucesso."
Diretor de segurança e defesa da Sociedade Alemã de Política Externa, Christian Mölling, e por outro membro daquele think tank, Torben Schütz

Neste sentido, os dois especialistas alemães apresentam um plano: “A NATO deve reforçar as suas capacidades militares pelo menos um ano antes de que a Rússia atinja a sua capacidade máxima de guerra”. Assim, o Kremin não “subestimaria a prontidão de combate” da Aliança Atlântica e não começaria, por arrasto, um conflito.

Há vários sinais e pistas que apontam que a Rússia poderá atacar os países da NATO num futuro próximo, o que encaixa com as declarações russas mais inflamadas. Mas essa possibilidade, como referiu o Presidente checo, estará sempre dependente do seu sucesso (ou fracasso) na guerra da Ucrânia. 

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