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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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"O tempo da cultura do medo, da ameaça e do insulto acabou no Sporting. E nunca mais voltará": a entrevista de Frederico Varandas

Frederico Varandas, presidente do Sporting, passou pelas Manhãs 360 da Rádio Observador e falou de vários temas da atualidade, entre AG, futebol, reestruturação financeira e as heranças do passado.

“As primeira palavras são para todos os sportinguistas, hoje é o nosso dia. São 113 anos com uma passado magnífico e um futuro brilhante”. Em dia de aniversário do clube, Frederico Varandas, presidente do Sporting eleito em setembro no maior ato eleitoral com a participação de mais de 22.500 associados, esteve no programa “Direto ao Assunto” das Manhãs 360 da Rádio Observador e abordou vários temas do quotidiano verde e branco, a começar desde logo pela última Assembleia onde sufragou o Orçamento com quase 70%.

Da estabilidade interna que considera vital para colocar o clube mais próximo dos rivais à construção do plantel para a próxima temporada, Varandas explicou também o ponto de situação da reestruturação financeira que está a ser negociada com os bancos e deixou mais alguns “recados” internos na antecâmara de mais uma reunião magna no próximo sábado em Alvalade, onde será votada a expulsão de Bruno de Carvalho, antigo líder dos verde e brancos, de sócio do Sporting.

Um ano depois temos um Sporting com direção, com alguma estabilidade, com alguns títulos. Se tivesse de definir num só fator essa viragem em relação ao ano de 2018, qual seria?
Num só fator, diria confiança. Confiança dos sportinguistas, sinto a confiança dos sportinguistas no caminho que o clube está a percorrer.

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E como é que se chegou a essa confiança?
Com rigor, com trabalho, obviamente com títulos.

Foi também com a sua presidência portanto que voltou essa confiança?
Com a minha equipa, sim, com a minha equipa… De facto, mais do que os títulos, porque um clube vive de títulos e não há maneira de fugir a isso, hoje os sportinguistas reveem-se no clube e no caminho que está a percorrer. Um caminho onde o Sporting mostrou que é possível vencer mas sem nunca abdicar dos seus princípios, da sua forma de estar, do seu ADN.

Falando nessa questão dos títulos, acha que era mais importante o Sporting ser campeão na próxima época ou conseguir uma estabilidade interna que ainda não conseguiu ter?
O presente e o sonho que todos os sportinguistas gostariam de ver concretizado era ser campeão. Mas não existe possibilidade de ser campeão sem estabilidade, a estabilidade é sempre o garante que permite a um clube crescer e ser mais vezes campeão. Volto a insistir nesta tecla: a maior diferença para os nossos rivais são os anos de estabilidade que têm comparativamente connosco porque sem isso não se pode crescer de forma sustentada e tornar o clube candidato a todos os títulos.

Teve na semana passada uma frase curiosa quando disse que gostava de ver os sportinguistas com orgulho e a passearem com a camisola do Sporting na rua, dois dias depois o Sporting volta a fazer capas não pelas melhores razões, com o orçamento aprovado com 70% mas mais uma vez a mostrar que é impossível não haver uma Assembleia Geral sem notícias paralelas que não os seus temas. Como é que consegue quebrar isso, como é que se quebra essa veia autofágica que também já falou?
Primeira parte da questão: hoje os sportinguistas já vestem a camisola e já andam orgulhosamente na rua a seguir a conquistarem títulos. Agora, acho que tem a missão de informar também tem a responsabilidade de ser rigoroso. Não podemos misturar uma centena de sócios com dezenas e dezenas de milhares de sócios. É verdade que o que me refere tem sido o reflexo das últimas AG, que é mais uma herança do passado infelizmente, são comportamentos que não estávamos habituados ver, pessoas que têm alguma dificuldade em viver em democracia, pessoas que não gostam de viver em democracia e gostam de viver em ditaduras, mas essas pessoas também já perceberam que a cultura do medo, a cultura da ameaça, a cultura do insulto, a cultura da perseguição, esse tempo acabou e nunca mais voltará ao Sporting nem nunca mais vai ser tolerado. Garanto que essas pessoas não têm mais resiliência do que eu, não têm mais perseverança do que eu, não têm mais resistência do que eu. Por isso, hoje, quem manda realmente no Sporting é a vontade da maioria dos sportinguistas. Hoje, no Sporting, felizmente há espaço para ter diferentes opiniões, para a crítica e para divergir mas sempre respeitando todos os sócios.

Mas como é que cessaram as feridas?
Estão a cessar…

Mesmo com os acontecimento de sábado e com esta semana intensa que o Sporting vai ter com a decisão da expulsão de bruno de carvalho? Como é que a sua equipa consegue encontrar alguma paz, criar condições de paz?
Hoje vive-se um ambiente incomparavelmente melhor do que há dez meses atrás. De facto, a minha equipa soube viver em guerra e quando for preciso sabemos estar na trincheira e muitas vezes é preciso estar na trincheira para garantir a segurança e a paz.

Este é o momento para estar na trincheira?
Não… Repare: se tivermos um pavilhão com 3.000 pessoas e três pessoas assobiem, esse assobio ouve-se e muitas vezes a imprensa coloca ‘assobios’. Os sportinguistas sentem o caminho que o clube está a percorrer e existe uma estabilidade e uma paz que permite o Sporting crescer. Agora, como médico, fazendo uma analogia, sei que não se passa do oito para o 80, se estamos com uma febre de 40º não passamos para uma febre de 36º sem passar pelo 39º e pelo 38º.

"Hoje quem manda realmente no Sporting é a vontade da maioria dos sportinguistas", salientou Varandas (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

A partir do próximo sábado, em que haverá uma nova Assembleia Geral, alguma coisa pode ser diferente?
A Assembleia Geral de dia 6 é uma assembleia em que o Conselho Diretivo nada tem a dizer. Os sócios serão chamados e serão eles a dizer de sua justiça. O que posso garantir é que temos a responsabilidade e vamos garantir que todos os sócios sejam respeitados e garantidamente que vai ser assim.

Concorda com a expulsão de Bruno de Carvalho?
Eu não tenho de concordar, hoje sou presidente do Conselho Diretivo e acho que não seria correto dizer o que quer que seja. Tenho de dizer que vamos garantir [a normalidade da AG] e não vamos tolerar faltas de respeito.

Falando de outra estabilidade, a financeira, o Sporting tem capitais próprios negativos, significa que está tecnicamente falido, tem uma dívida de quase 300 milhões e já vendeu crédito sobre receitas futuras nomeadamente direitos televisivos e publicidade estática. Se mantiver o desempenho desportivo das últimas épocas, o Sporting é financeiramente viável?
Primeiro, isso são dados que passaram, o Sporting hoje já não tem capitais próprios negativos…

Porque ainda não conhecemos as contas deste exercício…
Os valores de dívida também já não são bem assim. Quando nos candidatámos ao Sporting tínhamos noção da situação financeira e apresentámos um plano que estamos a cumprir integralmente. A primeira fase, que foi a fase da regularização da situação financeira, que teve a ver com a tesouraria. Cumprimos depois o empréstimo obrigacionista, a operação de financiamento dos direitos televisivos e agora a terminar o acordo de negociação com a banca.

A reestruturação já está fechada?
Estamos em vias de fechar…

O prazo terminava ontem…
Mas estamos a negociar um acordo total e esperamos nos próximos meses dar boas notícias aos sócios do Sporting.

Varandas destacou que, conhecendo a situação financeira do clube, apresentou um plano e tem cumprido (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

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Mete também VMOC’s pelo meio?
É um acordo total. A negociação tem várias fases, obviamente que nós temos de ter responsabilidade, que não houve no passado, que era vir para a praça pública anunciar por populismo o que que estava a fazer e ia a fazer. A partir do momento em que se divulga isso, o Sporting perde muita margem negocial. Não vamos fazer, até por respeito aos parceiros e às entidades bancárias.

Consegue dizer quando é que está previsto?
Penso que nos próximos seis meses estará encerrado, provavelmente até antes, mas estou a fazer com uma margem de segurança.

E até lá como vai ser a tesouraria do clube, aguenta?
Completamente viável.

O financiamento de 60 milhões do grupo Apollo foi suficiente?
Foi uma das medidas para corrigir a dificuldade de tesouraria de curto prazo e obviamente que o Sporting está a montar um sistema de consolidação financeira onde o Sporting vai conseguir ter orçamentos rigorosos sem hipotecar a ambição de um clube como o Sporting.

Reestruturação? É um acordo total. A negociação tem várias fases, obviamente que nós temos de ter responsabilidade, que não houve no passado, que era vir para a praça pública anunciar por populismo o que que estava a fazer e ia a fazer. Penso que nos próximos seis meses estará encerrado, provavelmente até antes.

Há várias formas de gerar receitas, o naming do estádio é uma delas, o empréstimo obrigacionista também. Está no menu de opções em estudo?
O Sporting, quando falamos muito na parte desportiva e dos anos em que não é campeão, tem esse problema mas deparámo-nos com outro: a marca Sporting. O diagnóstico está feito, já estamos a agir, já estamos a resolver esse problema mas a resolução não é de um dia para o outro. Estamos a crescer. O Sporting estava completamente amarrado à sua estrutura, não tínhamos um departamento de marketing, não tínhamos um departamento IT suficiente, hoje em dia estamos na terceira revolução industrial que é a revolução digital e o Sporting estava no século XX e para ser simpático… Temos de crescer em todas as receitas extra futebol, na marca Sporting e esse é um trabalho que estamos a fazer com uma equipa altamente profissional e especializada.

Houve sucessivas “derrotas” da Academia, deixando de ser uma joia da coroa nacional com um crescimento sustentado de Benfica e FC Porto. Essa foi a principal derrota do Sporting, perder essa marca de escola formadora e de criação de talentos?
De facto houve um abandono. E quando digo abandono é mesmo abandono, não foi um desinvestimento, nos últimos cinco anos. Essa é uma das razões para a marca cair e também desportivamente. Quando se fala do peso dos títulos e dos 17 anos sem ser campeão: quem está na decisão, quem está no comando, tem de ter sempre muito equilíbrio e muita racionalidade. Perceber porque é que o Sporting nos últimos 40 anos ganha esporadicamente, dá um passo em frente e a seguir dá logo dois ou três atrás. Muitas vezes é campeão porque investe num grande treinador, é campeão porque investe num grande ponta-de-lança e depois no dia em que se vão embora o Sporting dá dois ou três passos atrás. Para o Sporting crescer, para se aproximar dos rivais, para se tornar constantemente crónico ao título tem que crescer de uma forma sustentada e estruturada. Não quero jogar póquer, não quero pôr as fichas todas num ano para o Sporting ser campeão e depois estar mais dez ou 12 anos sem nada. Não quero isso, estamos fartos disso. É preciso crescer step by step, de uma forma estruturada, sustentada, crescer como um todo e é isso que vamos fazer.

E os sócios vão dar essa confiança durante quantos mais anos?
Sabe que nunca estive preocupado, nem estou, com a duração do mandato. Estou preocupado em fazer o que tiver de ser feito para o bem do Sporting. Sei que os sportinguistas querem um clube competitivo e cronicamente a lutar pelos títulos. O que estamos a fazer é o que tem de ser feito.

O objetivo para a próxima época é acima do terceiro lugar, ainda não é assumir que vai lutar pelo título…
Exatamente pelo que disse antes, o populismo. É fácil chegar aqui e dizer que vou ser campeão. É claro que todas as pessoas que estão na estrutura do Sporting têm o sonho de serem campeões já para o ano, nem podiam ter lugar no Sporting se não ambicionassem a isso. O que eu quero, como presidente do Conselho Diretivo, é criar uma estrutura para o Sporting, ano após ano, esteja mais forte. Obviamente que o título será consequência desse trabalho, não será de uma jogada de risco, de jogar no Euromilhões. Hoje o Sporting tem uma estrutura altamente competente e não tenho dúvidas que se no ano passado ganhámos dois títulos e ficámos em terceiro lugar, hoje, sem medo nenhum, a nossa meta é fazer melhor. E daqui a dois anos fazer ainda melhor. É este o caminho que o Sporting tem de percorrer, sem demagogias, com muito trabalho, muito rigor e muita ambição.

"Quero criar uma estrutura para o Sporting que, ano após ano, esteja mais forte", destacou presidente leonino (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

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Hoje o Sporting voltará a ter a habitual apresentação de equipamentos no aniversário. Vai haver mais algum anúncio de jogadores? O Eduardo será finalmente assinado? Tem alguma surpresa?
É provável, ou melhor, quase de certeza que vão chegar mais jogadores.

Anunciados hoje?
Vão chegar… Mais do que falar do jogador A, B, C ou D, quero dizer aos sportinguistas que vamos ter um grupo com qualidade, com ambição e que vamos estar preparados.

Ontem em Inglaterra falava-se também no interesse do Everton na contratação de Bas Dost, Bruno Fernandes é sempre motivo de conversa por variados clubes. A partir do momento em que tenha Eduardo confirmado, o plantel está fechado e só poderão existir entradas caso existam saídas?
Até hoje, o mercado tem estado a decorrer de uma forma bastante positiva. Hoje é dia 1 de julho e não podíamos estar mais bem preparados do que estamos hoje. Obviamente que se o mercado nos obrigar a mexer novamente, vamos mexer e estamos preparados para atacar caso saia o jogador A, B ou C.

Em relação a Bruno Fernandes, disse que não seria um drama se saísse. Pode garantir que será sempre a maior venda do Sporting?
Sim.

Bruno Fernandes? Ainda não pensei num preço mínimo mas posso dizer que será a maior venda do Sporting, olhando para os 40 milhões do João Mário...

E já teve alguma proposta concreta nesse sentido?
Muita conversa…

Mas há um preço mínimo?
Não, ainda não pensei num preço mínimo mas posso dizer que será a maior venda do Sporting, olhando para os 40 milhões do João Mário…

Mas tem uma cláusula de 100 milhões…
Sim mas não ligo muito ao passado nem ao futuro, ligo ao presente. Sabemos ler o mercado, estamos atentos ao mercado e saberemos sempre defender os interesses do Sporting.

Em termos orçamentais tem uma expectativa de quanto entre vendas e compras?
Vai depender… Como já dei a entender, se não houver mais mexidas ficaremos assim, se houver saídas onde entrarão muitos milhões obviamente que vamos ter de ir ao mercado garantir essa competitividade para o plantel mas sem nunca pôr em risco a sustentabilidade do Sporting. Hoje é um dia especial, são 113 anos de história e o nosso dever é deixar o Sporting melhor do que quando entrámos, em tudo. E vamos deixar: desportivamente, financeiramente, em todos os setores. O Sporting é um clube de bisavôs, de avós, de pais, de filhos, vai ser de netos, bisnetos e daqui a 70 anos estará alguém na Rádio Observador a celebrar mais um aniversário.

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