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Com 34 anos de vida e 15 de carreira, o criador de Felgueiras apresenta este sábado a sua mais recente coleção no Ateneu Comercial do Porto
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Com 34 anos de vida e 15 de carreira, o criador de Felgueiras apresenta este sábado a sua mais recente coleção no Ateneu Comercial do Porto

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Com 34 anos de vida e 15 de carreira, o criador de Felgueiras apresenta este sábado a sua mais recente coleção no Ateneu Comercial do Porto

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Os 15 anos de carreira de Diogo Miranda: “Se esta é a minha profissão de eleição para o resto da vida? Provavelmente não”

Celebra 15 anos de carreira na moda, mas está cansado e imagina-se a mudar de vida. Em entrevista, Diogo Miranda fala do crescimento na pandemia, de um setor desunido e da falta de reconhecimento.

“É a primeira vez que acontece ter uma coleção pronta uma semana antes do desfile”, começa por partilhar um sorridente Diogo Miranda, mesmo antes da entrevista começar. O designer de Felgueiras, que nasceu numa família ligada ao têxtil e ao calçado, comemora 15 anos de carreira, mas garante que em si nada dura para sempre, nem mesmo a moda. “Tudo tem um ciclo na nossa vida, seja a nível pessoal ou profissional. Tudo tem um tempo, por isso se me perguntarem se esta é a minha profissão de eleição para o resto da vida? Provavelmente não.”

Cresceu entre mulheres que compravam revistas e se vestiam bem, criou a sua marca homónima com apenas 19 anos e hoje já não se revê em quase nada do que fez. Dono de uma sensibilidade subtil, discreta e cativante, com o tempo ganhou segurança, clientes e a certeza da mulher que queria vestir. “As minhas coleções são a forma como os meus olhos masculinos gostariam de ver uma mulher vestida. Acho que as designers mulheres fazem roupa para uma mulher mais prática e confortável, os homens apostam mais na sofisticação e na feminilidade.”

Durante anos foi apelidado de “jovem promessa da moda nacional”, um peso, uma expectativa e uma responsabilidade com a qual aprendeu a lidar sem se deixar deslumbrar. Diogo tem urgência pelo novo, odeia a repetição e tenta superar-se a cada coleção. O seu processo criativo é solitário, introspetivo e organizado, o seu olhar artístico conta sempre uma história, onde a arquitetura, as viagens ou o cinema são muitas vezes protagonistas.

Sabe que é bom a fazer vestidos, acredita que a preocupação ambiental na moda é apenas uma tendência passageira e não tem dúvidas de que a passagem por Paris, em 2015, lhe abriu portas e horizontes. Lamenta que Portugal não valorize a moda de autor, que o setor esteja desunido e que os aplausos que recebe depois do desfile não se traduzam em vendas.

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Consciente das suas capacidades, mas também das suas limitações, Diogo Miranda recorda dificuldades e conquistas em 15 anos de criação, confessa estar desiludido, cansado e algo pessimista, mas nada lhe tira o sorriso e a curiosidade no olhar. Conta que a pandemia o ensinou a viver o presente e a olhar para o mundo de forma mais efémera, mas o seu trabalho é tudo menos passageiro.

Diogo Miranda lamenta a falta de interesse e investimento em Portugal relativamente à moda nacional e mostra-se pessimista em relação ao futuro

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

A moda era um caminho provável?
Era e não era, talvez não a moda, mas sim o design. Nasci num meio industrial, a minha família é de Felgueiras e trabalha toda na área do calçado e do têxtil, por isso se não fosse design de moda, provavelmente iria seguir calçado, design de interiores ou até mesmo arquitetura. Sou o mais novo de quatro irmãos, uma é gestora de empresas, os outros dois estão ligados ao calçado e quando iam a feiras a Milão traziam sacos e sacos com revistas de moda. Sempre estive habituado a que essa informação me entrasse pela casa dentro, nunca foi uma coisa forçada, aliás, era muito natural ir para a fábrica esperar que o meu pai me pudesse ir levar à escola. Quando tive que escolher uma área de estudo foi difícil porque não sabia se queria vitrinismo, decoração de interiores ou arquitetura, acabei por decidir design de moda por ser mais seguro.

Quando começou a estudar percebeu logo que tinha tomado a decisão certa?
Não acho que tenha sido a escolha certa, mas quando me meto nas coisas tento levá-las até ao fim.

Não foi a escolha certa?
As nossas opções não são para a vida toda, tudo tem um ciclo na nossa vida, seja a nível pessoal ou profissional. Tudo tem um tempo, por isso se me perguntarem se esta é a minha profissão de eleição para o resto da vida? Provavelmente não.

Mas vê-se a fazer outra coisa?
Sim, vejo-me a fazer algo ligado à criatividade, mas não design de moda porque é tudo muito cansativo. Quero fazer algo que me dê mais qualidade de vida e mais tempo, sinto que preciso de mais tempo para não viver tão stressado. O problema de trabalhar em moda é que dependo de muita gente, dos fornecedores dos fechos, dos fornecedores dos tecidos, da costureira ou do ferro. Não sou um padeiro que põe a massa no forno e o pão sai feito, há coisas que não consigo controlar. Quando a peça está feita preciso de fazer as fotografias, aí dependo do maquilhador, do fotógrafo, da luz e do cenário. É tudo tão complexo até chegar ao momento de vender a peça, passo por tantas pessoas que é tudo muito exaustivo e desmotivante.

Existiu algum momento em que tivesse percebido que a sua vida podia mesmo passar pela moda?
Quando terminei o curso fui estagiar para Sevilha e na altura não dei valor nenhum.

Porquê?
Estava a entrar num caminho mais desportivo e quando cheguei lá só vi folhos, cor e alta costura, aprendi coisas muito manuais, mas não dei valor a isso e hoje arrependo-me. Estive la três meses e quando voltei queria fazer um gap year e ir viajar pelo mundo, mas não cheguei a fazer porque surgiu uma oportunidade para trabalhar na Inditex.

Ir para fora de Portugal sempre o seduziu?
Muito, não pelo estágio que fiz em Espanha, mas essencialmente pela minha visão. Não quero com isto dizer que Portugal seja pequeno para mim, mas não vejo o trabalho que faço traduzido em vendas ou em reconhecimento. É o país e os meios que temos.

Engraçado como continua a ter um atelier em Felgueiras e não numa cidade grande.
Sim, para mudar é preciso analisar muitas coisas. Vivo no Porto há 10 anos, mas continuo a ter o meu atelier em Felgueiras e quando olho para os meus colegas que têm espaços de trabalho no Porto não os vejo efetivamente muito melhores do que eu. Além disso, a mão de obra está toda lá, é difícil encontrar isso no Porto e é ridículo obrigar as pessoas a virem para cá todos os dias, para isso já basto eu.

"Comecei num ateliê pequenino, depois abrir uma loja pequena em Felgueiras, até que consegui contratar uma pessoa para trabalhar comigo. Os clientes começaram a chegar e quando dei por mim já estava 100% dedicado à marca."

Voltando à experiência na Inditex, o que é que isso lhe deu?
Tinha 18 anos e era responsável pela Zara Woman, além de colaborar com outras marcas, como a Bershka ou a Stradivarius. Fazia muitas malhas, talvez por isso hoje em dia não faça malhas, acho que fiquei traumatizado [risos]. Aprendi muito, se amanhã for contratado sei como funciona a indústria, mas ao fim de um ano e meio não me sentia feliz, já não me dava prazer porque era tudo sobre dinheiro. Uma t-shirt não podia ter um bolso ou um botão porque já ia encarecer dois euros e a minha criatividade começou a ficar muito castrada com isso. Nessa altura, o Portugal Fashion tinha acabado de lançar um programa de jovens criadores, que se chamava Programa Aliança, entrei e comecei a conciliar as duas coisas, ou seja, trabalhava na empresa e ao mesmo tempo tinha um mini escritório em Felgueiras onde recebia amigos e vendia algumas peças que adaptava.

Recorda-se da sua primeira coleção?
Não propriamente, lembro-me que foram 10 coordenados femininos e que despachei aquilo numa semana. Hoje já não me identifico com aquela coleção, mas as coisas estavam a correr bem, recebia bom feedback, as pessoas estavam curiosas com o meu trabalho e acabei por abdicar do que fazia na Inditex para criar uma marca própria. Comecei num atelier pequenino, depois abri uma loja pequena em Felgueiras, até que consegui contratar uma pessoa para trabalhar comigo. Os clientes começaram a chegar e quando dei por mim já estava 100% dedicado à marca.

Sentia que já tinha uma identidade ou ainda estava a encontrá-la?
Na altura achava que sim, mas o meu gosto e a minha visão são hoje completamente diferentes. Por isso é que acredito que as coisas têm sentido num determinado momento, não quero dizer que agora fizesse tudo diferente, naquela época fez sentido fazer assim.

Quando começou a ganhar segurança e confiança no que fazia e no que apresentava?
No início ficava sempre muito inseguro, atualmente já não fico tanto, acho que isso acaba por vir com a maturidade e a experiência. Sou um eterno perfecionista e insatisfeito, essa necessidade de fazer muita coisa e coisas novas para me superar está sempre presente em mim.

Apesar de viver no Porto há uma década, o designer nunca ponderou mudar a sua loja e ateliê de Felgueiras para outra cidade maior

CRISTÓVÃO COSTA/OBSERVADOR

Trabalhar para o público feminino sempre foi uma intenção? De onde vem essa sensibilidade toda?
Sempre cresci com mulheres, as minhas tias, a minha mãe e a minha irmã sempre se preocuparam em comprar coisas boas e vestirem-se bem, isso sempre me acompanhou. Quando tinham uma festa iam à melhor loja ver os vestidos ou eram capazes de comprar uma revista só para saber o que se usava, era uma coisa natural na minha família. Lembro-me de a minha mãe ir às compras, chegar a casa e me mostrar o que tinha comprado, perguntava a minha opinião e eu dava, mas ficava por ali. Já cheguei a fazer roupa de homem, não quer dizer que não volte a fazê-lo, mas tenho de ter as pessoas certas ao teu lado e o meu alfaiate estava velhinho, um disse que já não conseguia trabalhar mais e então parei.

O que vestir uma mulher lhe dá criativamente?
As minhas coleções são a forma como os meus olhos masculinos gostariam de ver uma mulher vestida. Acho que as designers mulheres fazem roupa para uma mulher mais prática e confortável, os homens apostam mais na sofisticação e na feminilidade. No início tinha sempre presente a ideia de elegância, sofisticação e o lado mais sporty, mas nos últimos cinco anos mudei. Hoje procuro muito mais contar uma história através da coleção, seja um filme, uma década ou o trabalho de um arquiteto. Penso que o meu olhar se tornou muito mais artístico nesse aspeto.Também não faço acessórios porque acredito mesmo que não somos bons a fazer tudo. Eu sou bom a fazer vestidos e as minhas clientes querem isso, não vou pisar terrenos que não conheço.

Durante muitos anos foi apelidado de jovem promessa. Sente que já se cumpriu?
[Risos]. Cansava-me um bocadinho ser tantas vezes chamado de jovem, até porque já o deixei de ser. Nunca me senti propriamente uma promessa, sempre quis fazer coleções fortes e coesas. Mas mais importante do que ter uma boa crítica no fim de um desfile é que o meu trabalho se traduza em vendas. Claro que esse rótulo me dava uma certa responsabilidade, mas a pressão e a expectativa existem sempre e ainda hoje as sinto.

Lida bem com isso?
Não as encaro propriamente como uma coisa negativa, obriga-nos a fazer melhor em cada estação. Também não posso dizer que lido bem com a pressão, tento é trabalhar de forma a corresponder às expectativas e já cresci habituado a isso.

Começou muito novo, alguma vez se deixou deslumbrar com os prémios e toda a visibilidade que conseguiu?
Não. Mesmo quando apresentei em Paris, em 2015, nunca senti isso. Dei tudo naquela semana da moda, mas depois desligo-me facilmente deste mundo. O meu círculo de amigos está fora da moda e isso ajuda.

"Até ao fitting tudo é muito incerto, já cancelei uns dez modelos nesta coleção e já pedi para descoserem uma manga na boca de cena antes de um desfile começar."

Como é o seu processo criativo? Continua o mesmo ou também se alterou nestes 15 anos?
É muito solitário, tenho que montar uma história na minha cabeça sozinho e já não peço a opinião a ninguém nesta fase. Esta coleção já está fechada, mas amanhã posso ir a Serralves ou ver um filme e coloco tudo numa gaveta, quando começo a criar tiro essas opções e coloco-as em cima da mesa para trilhar um caminho concreto. Normalmente este processo demora um mês, mas faço-o sem horas, posso estar no ateliê e não me sair nada e chego a casa ou vou conduzir e surgem-me ideias até às quatro da manhã. Até ao fitting tudo é muito incerto, já cancelei uns dez modelos nesta coleção e já pedi para descoserem uma manga na boca de cena antes de um desfile começar. Coloco tudo em causa muitas vezes porque a ideia pode não combinar com o tecido ou a cor afinal não era aquela que esperava. Trabalhar com tempo e ter uma equipa já estruturada permite-me voltar atrás muitas vezes, há uns anos era impensável fazer isto.

Ter uma relação próxima com clientes, que muitas vezes depois se tornam amigas, ajuda nesse processo?
Sim, como já trabalho há uns anos com o público consigo perceber o que fica bem no corpo de uma mulher madura, baixinha, alta ou magra, acho que a experiência trouxe-me isso. Ter esta relação com elas faz-me ver que o meu trabalho não é em vão e que dão valor à minha opinião, mesmo quando digo coisas que não são muito positivas. Acredito que presto um serviço como outro qualquer, quase como quando as pessoas vão a um médico, normalmente confiam no que ele lhes diz.

A mulher que veste é a mesma de 2007 ou não necessariamente?
Tenho clientes desde o início, outras que deixarem de ser, outras que deixaram e depois voltaram, acho que é normal. No ano passado tive um boom de clientes novos porque as pessoas não conseguiam viajar ou fazer compras online, então quando tinham uma festa vinham ter comigo. Nunca na vida tive 15 noivas até agosto como este ano, por exemplo.

Elegante, feminina e sofisticada, assim é a mulher Diogo Miranda, sendo os vestidos, longos ou curtos, uma das suas imagens de marca

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Tem uma visão da moda enquanto negócio muito clara e real. Diz que não interessa ter uma casa cheia num desfile e ser aplaudido de pé quando depois isso não se traduz em vendas. Isso já lhe aconteceu?
Sim, aconteceu no início da minha carreira e comecei a fazer as coisas ao contrário.

Como assim?
Quando já tenho a história da coleção pensada escolho os tecidos e são eles que acabam por ditar o preço das peças. Já sei qual é o meu limite e não posso ultrapassá-lo porque depois a maioria do público não vai poder pagar. Infelizmente tenho de ter esse chip comercial no meu processo criativo e só o passei a ter quando tive de começar a pagar contas, segurança social e ordenados.

Isso limita e entristece-o de alguma forma?
Sem dúvida, é uma barreira. Tenho a infelicidade de estar em Portugal que é um país que não valoriza o design e a moda, as pessoas não investem e acaba por ser uma coisa muito triste. Ok, tenho vendas, mas não são suficientes para me darem uma margem para ser criativo e não estar preocupado com o que vou faturar. Não quer dizer que não coloque uma ou outra peça no desfile menos comercial para marcar o momento, mas ganhei esse lado funcional nos últimos anos. Quando recebi em Paris encomendas de 50 mil euros percebi que era impensável que isto pudesse acontecer aqui. Paris abriu-me muitas portas, quero muito voltar lá.

Porque é que a moda de autor não é valorizada em Portugal? É uma questão de educação, de política ou de cultura?
Adorava que as pessoas que vão ao futebol prestassem mais atenção à arte no geral, se assim fosse seríamos um país incrível. A nossa tradição é esta, não posso dizer que estejamos num bom caminho, é uma coisa já tão enraizada que, sinceramente, duvido que mude. Em França, por exemplo, em apenas dois anos há marcas que já estão no mesmo patamar que grandes casas internacionais, nós para chegarmos a esse nível demoramos anos. Sinto que estou a remar contra a maré e isso cansa, por isso é que acredito que a vida é feita de ciclos e não me vejo a fazer isto a vida toda. Claro que depois também acontecem coisas boas das quais me orgulho. Ainda em 2019 fui contratado pelo grupo Amorim para fazer a primeira coleção da Paula e tive acesso às empresas mais potentes em Portugal, mas sinto que só apostaram em mim porque viram o meu trabalho a nível internacional. Para as pessoas me darem valor preciso de ir lá para fora, infelizmente.

Sente que ainda tem alguma coisa para provar aos outros?
Não, sinto que tenho de me superar coleção após coleção, se fizer uma coleção inspirada num filme a próxima não será certamente sobre isso porque vai ser repetitivo e aborrecido. Acho que tenho a capacidade de pensar como se estivesse do outro lado e procuro sempre o novo, a começar pela sala do desfile que normalmente é diferente.

Pensa muito no passado? É apegado a isso?
Não, não sou nada nostálgico. Pesquisar coleções anteriores e ir ao arquivo é, para mim, uma experiência horrível. Questiono-me sempre: “como é que fui capaz de fazer isso? Este já não sou eu.”

É importante ou relevante o público associar a roupa a uma cara, ter uma ideia e uma opinião sobre a pessoa que a faz?
Não sei, nunca quis ser conhecido ou famoso, sou uma pessoa reservada e acho que é essa a ideia que as pessoas têm de mim.

Se tivesse que dar um conselho a quem está agora a começar, o que diria?
Dizia para irem para fora já. Eu próprio digo que nunca na vida abriria outro atelier em Felgueiras, não cometeria esse erro de novo. Se pudesse mudaria talvez para o Porto ou para Lisboa. No Porto há mais poder de compra e as pessoas estão mais dispostas a comprar moda de autor, mas em Lisboa há imensos estrangeiros a morar e isso dá mais visibilidade.

O seu percurso teria sido diferente se tivesse ido para Lisboa?
Não, tenho clientes de Lisboa que vão a Felgueiras de propósito para ver as minhas peças e isso continua a surpreender-me. É uma prova de que alguma coisa de bom estou a fazer, é uma validação.

"Nunca senti que o setor fosse unido porque em Portugal, ninguém valoriza o design de moda e isso é algo muito enraizado. Portugal é fado, futebol e Fátima, não tenho dúvidas disso."

O que é que a pandemia o ensinou?
Que nada é certo e garantido, que nada dura para a vida toda. No meu caso, 15 anos passaram e é um ciclo que pode fechar amanhã ou daqui a um ano ou dois. A pandemia ensinou-me a viver um dia de cada vez e a olhar para as coisas de uma forma mais efémera.

O setor está hoje mais ou menos unido?
Nunca senti que o setor fosse unido porque em Portugal, ninguém valoriza o design de moda e isso é algo muito enraizado. Portugal é fado, futebol e Fátima, não tenho dúvidas disso. Não há lojas a venderem marcas portuguesas, temos poucos eventos, poucas plataformas, não há um trabalho contínuo, parcerias ou coleções cápsula. Em relação a Portugal sou muito cético, estou a aprender a viver o dia a dia e a não fazer planos para amanhã.

De que fala esta coleção?
É inspirada nos anos 70, especialmente na Veruschka [uma ex-modelo, manequim, atriz e artista alemã]. É uma coleção muito cinematográfica e extravagante, tem formas exageradas, mas ao mesmo tempo intemporais, elegantes, sofisticadas e muito femininas. Todos os coordenados poderiam estar num filme, daí o desfile acontecer no Ateneu Comercial do Porto. É um pouco a continuação da coleção passada de verão, onde as silhuetas longas surgem aqui com peças mais coladas ao corpo.

Há hoje uma tendência para a preocupação ambiental na escolha de materiais, isso não se reflete no seu trabalho. Porquê?
Lá está, é uma tendência e acredito que daqui a uns tempos passará. Tenho acesso a fornecedores e sei que os materiais reciclados são muito mais caros que os normais. Onde está a vantagem quando estou a pagar muito mais por uma coisa que o cliente final não vai valorizar? Esse tema não é uma bandeira minha, acho que essa preocupação faz sentido nas marcas que produzem grandes quantidades. Sinceramente, não sinto essa culpa e esse peso de estar a contaminar o meio ambiente, não faço 50 mil unidades, não corro esse risco.

Completou 34 anos há pouco tempo. Sente-se com a idade que tem?
Não, sinto-me muito mais velho. Estou cansado, sinto-me com uns 50 anos [risos].

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