Hoje em dia a pesca pode já não ser a atividade económica de maior peso a nível local, mas a sua relevância permanece viva e gravada na essência da Nazaré. Seja através da forma de vestir, das tradições firmemente enraizadas, dos bairros de pescadores, do folclore e da forma de falar e de agir das suas gentes, a pesca faz, ainda hoje, parte da alma dos nazarenos.
Heróis no mar e em terra
Na memória dos habitantes locais permanecem ainda as histórias de tempos em que os pescadores, verdadeiros heróis, partiam mar adentro em busca de sustento para a sua família, sob o risco de embarcarem numa viagem sem regresso.
A inexistência de um porto de abrigo na Nazaré fez com que, até à década de 80 – altura em que foi finalmente construído, a ida para o mar fosse uma aventura sem certeza de um final feliz. Na areia, descalças, ficavam as mulheres que, na ausência dos maridos e filhos, trocavam as coloridas vestes pela indumentária preta, em representação da tristeza e receio da eminente chegada de notícias trágicas.
Se os maridos e filhos eram heróis no mar, em terra o título cabia a essas mesmas mulheres que assumiam não só a gestão da casa e da família, como da gestão de assuntos legais e financeiros. Forçadas a trabalhar na venda do peixe nos mercados locais, para contribuir para o sustento da casa quando o dinheiro trazido pelos maridos da faina não era suficiente, o papel da mulher destacava-se pela sua relevância para o bem-estar e equilíbrio familiar.
É ainda hoje de assinalar a força desta sociedade matriarcal. Vestidas com cores garridas, blusas de manga curta, um lenço sobre a cabeça (cachené), um chapéu preto com uma borla, um xaile bordado sobre os ombros, sandálias pretas de verniz e as tradicionais sete saias rodadas, as mulheres nazarenas – especialmente as de mais idade e ligadas à venda de peixe – percorrem as ruas da vila, mantendo vivas as tradições que tanto charme dão a esta vila piscatória.
A origem das sete saias
Não é fácil determinar ao certo a origem do costume das sete saias usadas pelas mulheres nazarenas. Os argumentos usados pela população local para explicar o porquê do número de saias são vários: desde representarem os sete dias da semana ou as sete virtudes, até à relação com o número de cores do arco-íris ou às sete ondas do mar. As teorias são muitas, mas a origem do uso das saias assenta num ponto indiscutível: a sua ligação ao mar.
Ao esperarem no areal pelo regresso dos seus maridos e filhos da faina, as mulheres usavam as saias para se cobrirem: as de cima sobre a cabeça e os ombros, sendo as restantes deixadas sobre as pernas. Mas há quem diga que também usavam as saias para contar as sete ondas do mar, a seguir às quais, o mar acalmava.
Do ponto de vista estético, o uso das várias saias baseou-se nos padrões de beleza feminina de outrora, que destacavam cinturas finas e ancas arredondadas. Quanto mais saias usassem, mais arredondadas se mostravam as ancas. As sete saias foram sendo maioritariamente usadas em dias de festa, existindo uma opção menos colorida e com um menor número de saias para os momentos de trabalho.
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O mar como sustento
A pesca foi, durante largos anos, a principal atividade económica da Nazaré, estando dela dependente a grande maioria da população local. Uma das principais técnicas artesanais utilizadas era a Arte Xávega, introduzida em meados do século XVIII por pescadores originários de Ílhavo e da Costa de Lavos.
As condições da costa nazarena levaram a uma adaptação das redes de arrasto trazidas por estes mesmos pescadores. Os barcos típicos – conhecidos como barcos-de-bico ou da xávega – desenhados para poderem entrar no mar sem se virarem e para encalharem mais facilmente, apresentavam um fundo achatado que se prolongava até à proa e terminavam num bico, de ré cortada e sem quilha.
A industrialização da pesca e a construção do porto de abrigo nos anos 80 do século XX foram alguns dos factores que conduziram ao desparecimento deste tipo de pesca artesanal. Com o tempo, os poucos pescadores que ainda se dedicavam à Arte Xávega, deixaram a profissão por outras mais rentáveis.
Hoje já não é a pesca que garante o sustento da população nazarena, mas a mesma perdura enquanto atividade económica e parte intrínseca da alma da Nazaré. Costumes como o da secagem de peixe ao sol – originada pela necessidade de preservar peixe para dias de maior escassez – é ainda um dos que se mantêm e que pode ser apreciado ao longo da marginal, junto aos barcos de pesca alinhados no areal.
Na memória de quem nasceu e viu nascer na Nazaré ficam tempos que em muito diferem dos atuais. Hoje, o mar continua a fazer parte essencial da vida dos nazarenos, mas ao contrário do antigamente, traz consigo um presente e futuro auspiciosos.
O mesmo mar, uma nova vida
De pequena vila piscatória cuja população lutava para sobreviver, a Nazaré passou a ser um destino turístico conhecido em todo o mundo. A origem desta fama? O mar.
Os seus heróis e os seus respetivos motivos são hoje, no entanto, outros. A luta pela sobrevivência na ausência de alternativas económicas viáveis, foi substituída por um desejo constante de adrenalina e de superação pessoal.
Os heróis que hoje enfrentam as ondas da Nazaré, fazem-no de prancha nos pés, sendo os seus nomes imediatamente catapultados para a fama mundial. A Nazaré transformou-se numa meca do surf de ondas gigantes, sendo palco todos os anos de demonstrações inigualáveis de coragem, força e determinação, assistidas ao vivo por milhares de pessoas vindas de todo o mundo.
Os tempos de sofrimento e escassez já lá vão. Hoje, a Nazaré assiste ao aparecimento de novas oportunidades, profissões e atividades sócio-económicas. Tudo por causa do mar. A Mercedes-Benz, foi uma das marcas que cedo se apercebeu da importância desta nova vida.
Lado a lado com o lançamento de uma nova frota automóvel totalmente elétrica, a marca tem manifestado os seus princípios ligados à sustentabilidade e preservação da natureza, através de várias ações na Nazaré, que têm vindo a envolver não só os surfistas das ondas grandes, como a comunidade local, clientes e fãs da Mercedes-Benz.
Entre as várias iniciativas levadas a cabo pela Mercedes-Benz na Nazaré destaca-se a construção do Mercedes-EQ Lounge, um espaço tendo por base de materiais reutilizáveis e sustentáveis, com 4 postos de carregamento para carros elétricos. Para além de um lounge que serve de base a Garrett McNamara durante a época de ondas gigantes, o Mercedes-EQ Lounge procura ser também um local de debate, conversas e experiências.
Enquanto houver mar, haverão heróis na Nazaré. A diferença é que agora, ao contrário de ontem, têm os olhos do mundo postos em si.
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