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94th Academy Awards - Governors Ball
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a 94.ª entrega dos Óscares, que era para ser a da celebração do regresso à vida normal, depois da pandemia, e sobretudo – sobretudo – a ocasião e o palco de uma mensagem global pela paz e em defesa da Ucrânia, foi só uma coisa chata e cobarde, em que um ator demasiado cheio dele e da sua importância se levantou para bater noutro

Los Angeles Times via Getty Imag

a 94.ª entrega dos Óscares, que era para ser a da celebração do regresso à vida normal, depois da pandemia, e sobretudo – sobretudo – a ocasião e o palco de uma mensagem global pela paz e em defesa da Ucrânia, foi só uma coisa chata e cobarde, em que um ator demasiado cheio dele e da sua importância se levantou para bater noutro

Los Angeles Times via Getty Imag

Os Óscares vistos do sofá, minuto a minuto: pelo menos deste lado estivemos em segurança

O tipo que há cinco anos trocou os cartões com o nome do melhor filme pode, enfim, dormir em paz: já não é dele o pior momento da história dos Óscares. Cortesia de Will Smith numa noite de estalo.

Caro leitor, eis-nos de volta ao check-up anual em que testamos a resistência, o coração, a paciência, a vista, os canais lacrimais. Depois, você vai descansar porque alguém tem de se levantar cedo e levar este país para a frente e eu fico aqui com o compromisso de lhe tentar contar tudo o que (não) perdeu.

A origem deste ritual, deste prazer, remonta ao tempo em que os Óscares premiavam os melhores do cinema, uma tradição que, entretanto, evoluiu para outra coisa: trata-se agora de uma cerimónia em que se distinguem as causas. Quanto mais causas se conseguir associar a um filme, mais hipóteses tem de ganhar. A noite, portanto, já não celebra propriamente os feitos técnicos ou o talento dos intervenientes; é antes uma espécie de missa, onde tudo – escolhas, discursos e até as piadas – têm como objetivo último provar que quem as faz tem mais consciência social do que o próximo. É um concurso de moralismo, em que ganha o que levantar mais pessoas da cadeira.

Este é o primeiro objetivo: tentar, por tudo quanto é mais sagrado, não ser demasiado criticado nas redes sociais no dia seguinte. O segundo tem ainda menos a ver com cinema: trata-se de tentar furiosamente ser breve. Despachar. O mais que se pode. Por isso é que se chama ao palco Al Pacino, Robert De Niro e Francis Ford Coppola para honrar um dos maiores filmes da História e nem sequer se deixa dois deles falar.

Os Óscares perdem audiências de ano para ano por duas razões: primeiro porque são um programa de televisão e a televisão tem cada vez menos espectadores. Segundo, porque o cinema tem cada vez menos impacto cultural, encostado às cordas pela ascensão das séries nos serviços de streaming, pelos jogos de vídeo e pelos conteúdos quase “reais” do Youtube ou do Instagram. Não serão recuperadas com soluções que nada têm a ver com as causas. Pré-gravar a entregar de oito categorias para tornar a cerimónia mais curta (e nem isso conseguiram)? Encher tudo de música e super-heróis? O público consome um direto de duas horas feito por telemóvel; também consome quatro produzidas com tudo quanto a indústria pode pagar. Tem é de ser verdadeiro. Tem é de ser pertinente.

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94th Annual Academy Awards - Show

Regina Hall, Amy Schumer e Wanda Sykes foram as anfitriãs desta edição da cerimónia dos Óscares

Getty Images

Nada disto significa que não se continue a fazer grandes filmes. Claro que continua. Tantos como sempre – ou mais. Este ano, estavam todos emprateleirados na categoria de Melhor Filme “Internacional” (“Drive My Car”, “A Pior Pessoa do Mundo”, “A Mão de Deus”…) ou perfeitamente subnomeados tendo em conta todas as categorias que mereciam (“Licorice Pizza” ou “A Filha Perdida”). Mas a 94.ª entrega dos Óscares, que era para ser a da celebração do regresso à vida normal, depois da pandemia, e sobretudo – sobretudo – a ocasião e o palco de uma mensagem global pela paz e em defesa da Ucrânia, foi só uma coisa chata e cobarde, em que um ator demasiado cheio dele e da sua importância se levantou para bater noutro. O ator do ano chama-se Volodymyr Zelensky. Já o sabíamos antes e continuamos a saber depois. As coisas importantes seguem dentro de momentos.

01h00: As irmãs Venus e Serena Williams lançam a atuação de Beyonce: “Be Alive”, canção nomeada ao Óscar pelo filme “King Richard”. É uma celebração do regresso à vida em verde-pistachio. Toda a gente veste verde-pistachio. À atenção da segunda série de “Squid Game”. Ou da equipa portuguesa em futuras edições dos “Jogos sem Fronteiras”.

01h06: Voltamos ao Dolby Theatre dois anos e 1.295.378 máscaras descartáveis depois. Há ainda mais do que isso – três anos – que a cerimónia não tinha anfitrião; este ano tem três. Só por causa das coisas. Wanda Sykes, Amy Schumer e Regina Hall. Dizem que contrataram três mulheres porque sai mais barato do que contratar um homem. Todas as piadas são certeiras, como o exemplo ilustra, mas sempre a acentuar aquele sabor estranho a pescadinha no rabo da boca: a indústria que faz piadas moralistas sobre ela própria para mostrar que é muito modernaça e muito democrática.

01h11: Um plano da plateia confirma uma velha certeza: tudo muda na vida… exceto o nariz da Nicole Kidman.

01h12: Um genérico saído dos anos 80 anuncia todas as estrelas que vão aparecer ao longo da noite. A solução revolucionária que os produtores da cerimónia arranjaram para tentar convencer a malta a não desistir de ver.

01h16: Amy Schumer distribui grandes piadas. A melhor versa sobre o empenho de Leonardo Di Caprio em prol do ambiente e do planeta que vai deixar para as namoradas. Há esgares de surpresa na audiência, mas, a esta hora, ainda ninguém se levanta para bater em ninguém.

01h21: A melhor atriz secundária é Ariana DeBose, de “West Side Story”, que já tinha sido a escolhida pelos pares, nos prémios do Screen Actors Guild. É também o primeiro Óscar perdido para “O Poder do Cão”, “Belfast” (Dame Judi Dench), “A Filha Perdida” e até para “King Richard”.

01h29: É outro dos motivos de interesse da cerimónia. Timothée Chalamet está vestido com o que temos quase a certeza de ter sido um fato vestido por Lara Li em 1986. Podia era ter apertado o botão.

01h31: Altura para o Óscar de melhor som. Porque a Academia, finalmente, fundiu os dois num e já não temos de discutir até às três de amanhã com aquele amigo que garante que edição-de-som-e-mistura-de-som-são-coisas-completamente-diferentes-não-percebes-nada-de-cinema. Quem ganha? “Dune”. Que é como quem diz: mais um tiro n’ “O Poder do Cão”.

Todos os anos há um filme que toda a gente acha “irrepreensível” do ponto de vista “técnico” e que merece todos os óscares “técnicos”. Estamos cheios de dúvidas sobre qual devia ser o melhor filme e a melhor atriz e o melhor argumento, mas recheadinhos de certezas sobre o som e a montagem e a fotografia e os efeitos especiais.

01h34: Homenagem aos 30 anos de “White Men Can’t Jump”. Porque é que referimos isto? Porque contém o primeiro momento honesto da cerimónia: quando Wesley Snipes não se apercebe de que era a vez de ele ler o teleponto. Anuncia o vencedor do Óscar de Melhor Fotografia, categoria que era talvez a única pela qual nomearíamos “Belfast” e que é, na verdade, uma das poucas pelas quais “Belfast” não foi nomeado. “Dune”-2; “O Poder do Cão”-3.

01h40: Apercebemos de que o Mário Augusto também está com umas calças que podiam bem ser do Chalamet.

01h41: Todos os anos há um filme que toda a gente acha “irrepreensível” do ponto de vista “técnico” e que merece todos os óscares “técnicos”. Estamos cheios de dúvidas sobre qual devia ser o melhor filme e a melhor atriz e o melhor argumento, mas recheadinhos de certezas sobre o som e a montagem e a fotografia e os efeitos especiais. Isto, caro leitor, é, em 99% dos casos, sinal de que não fazemos patavina de ideia do que estamos a dizer. Dizemos porque o filme nos pareceu caro. É tudo.

01h43: Melhor curta documental: “The Queen of Basketball”. Ainda bem que, antes da cerimónia, estivemos a ver os três nomeados que estavam na Netflix: “Lead Me Home”, “Three Songs for Benazir” e “Audible”. Valeu de muito (mas veja, caro leitor. Veja se puder. O “Audible”, sobretudo.)

01h45: Melhores efeitos visuais é o já o terceiro óscar para “Dune”. Imagine que eles tinham mesmo feito um filme em vez de metade.

01h48: Homenagem aos 60 anos de James Bond. A verdade é que todo o cenário do Dolby parece evocar aquele obturador (?) do genérico inicial. Shaun White, snowboarder retirado, Tony Hawk, skateboarder retirado, e Kelly Slater, surfista eterno, apresentam um belo clip de homenagem, ao som de “Live and Let Die” dessoutro senhor imortal chamado Paul McCartney.

02h01: Óscar de melhor filme de animação para “Encanto”, da Disney, que também já tinha ganho o prémio dos Produtores. Preferíamos “Flee”. Imaginem quando o virmos. Ao menos, valeu o segundo momento honesto da cerimónia: uma das produtoras do filme pisando o vestido de uma das apresentadoras ao saírem para os bastidores.

94th Academy Awards - Show

Pode puxar a sua box diretamente para aqui. Primeiro e um dos poucos momentos realmente bonitos da cerimónia: Yuh-Jung Youn, a atriz coreana que ganhou o Óscar de Melhor Atriz secundária em 2021

Myung Chun / Los Angeles Times via Getty Images

02h10: A melhor curta de animação é “The Windshield Wiper”. Ainda bem que também estivemos a ver a nomeada que está na Netflix: “Robin Robin”, com um passarinho educado por ratos e a Gillian Anderson a fazer voz de gata (não foi sempre?).

02h12: Na sequência de apresentações dos nomeados a melhor filme, chega a vez de “Drive My Car”. Qualquer semelhança com os panfletos moralistas em volta é pura coincidência.

02h16: Pode puxar a sua box diretamente para aqui. Primeiro e um dos poucos momentos realmente bonitos da cerimónia: Yuh-Jung Youn, a atriz coreana que ganhou o Óscar de Melhor Atriz secundária em 2021 por “Minari” entrega o Óscar de melhor ator secundário a Troy Kotsur, por “Coda”. Troy, que é surdo e já fora o eleito também para os colegas atores e para os Independent Spirit Awards faz um emocionante discurso de aceitação em linguagem gestual, enquanto Youn lhe guarda a estatueta para que possa ter as mãos livres para “falar”. São mais duas derrotas de uma só vez para “O Poder do Cão”, nomeado com Jesse Plemmons e Kodi Smit-McPhee. O Dolby Theatre “aplaude” em linguagem gestual. E Will Smith ainda não bateu em ninguém.

Às 02h29, a categoria mais rica: Melhor Filme Internacional. Sem surpresa, “Drive My Car”, para que possa ser ignorado nas outras três categorias em que foi nomeado, incluindo melhor filme do ano, que é o que ele é.

02h33: Mila Kunis, ucraniana, vem anunciar mais uma atuação musical e achamos que esta é que é, finalmente, a deixa para falar da guerra. Mas, pelos vistos, só a deixam fazer uma referência velada.

02h37: Após uma cançoneta de que já nos tínhamos esquecido e ainda nem tinha acabado, um cartão – um cartão, escrito, gráfico. Nem teve direito a ator em palco – pede um momento de silêncio pela Ucrânia. É isto. É esta a grande ideia dos produtores da cerimónia para falar do massacre canalha em curso e que pode mudar a história do mundo.

02h40: Melhor Curta-Metragem para “The Long Goodbye”. Riz Ahmed vem agradecer com um discurso que parece interessante, mas como esta é das tais entregas pré-gravadas despachadas como um frete a seguir ao intervalo, nem chegamos a perceber nem a sentir nada.

Há “Licorice Pizza” e há “A Pior Pessoa do Mundo”, mas dão o Òscar a “Belfast”, que tem um argumento tão bom que até o discurso de 30 segundos de Kenneth Branagh vale mais a pena.

02h44: Óscar de Melhor Guarda-Roupa para “Cruella”. Estamos tristes porque não ganhou Luís Sequeira, por “Nightmare Alley”. Nem sequer a Lara Li, pelo fato metido numa caixa da Cáritas há 35 anos e que, voltas que o mundo dá, foi parar à loja vintage da rua de Timothée Chalamet.

02h47: John Leguizamo vem reforçar a quota dos latinos e apresentar a atuação de “We don’t talk about Bruno”, que nem sequer está nomeado.

02h58: A 94.ª entrega dos Óscares não tem uma única ideia por trás, por isso, tenta distrair-nos com “homenagens” a datas irrelevantes de filmes avulsos. Agora, “homenageia” os 15 anos de “Juno”. Elliot Page, Jennifer Garner e JK Simmons vêm entregar o prémio de melhor argumento original, que é das raras categorias que causa algum suspense cá em casa. Há “Licorice Pizza” e há “A Pior Pessoa do Mundo”, mas dão o Òscar a “Belfast”, que tem um argumento tão bom que até o discurso de 30 segundos de Kenneth Branagh vale mais a pena.

03h01: Óscar de melhor argumento adaptado para “CODA”. É o segundo para “CODA” e a enésima derrota para “O Poder do Cão”. Chateia-nos que não vá para “Drive My Car”, já sabe, e até para “A Filha Perdida”, brilhante estreia de Maggie Gyllenhaal que lhe valeu os prémios quase todos nos Independent Spirit. Mas é um belo discurso de Siân Heder, que começa com uma piada, dizendo que veio vestida como a bola de espelhos de uma discoteca e acaba abraçada à tradutora para linguagem gestual.

03h10: Melhor Banda Original para Hans Zimmer, que nem sequer está lá, por “Dune”, naquele que era o único Óscar que apoiaríamos verdadeiramente para “O Poder do Cão” (grande trabalho de Johnny Greenwood. Mas a academia só conhece Zimmer, James Newton Howard e John Williams).

03h12: A primeira vez que ouvi falar de Billie Eilish foi em 2019, pela voz de uma criança de 10 anos indignada com a minha ignorância. Desde então que me curvo à sabedoria dos que vieram depois. Rami Malek apresenta, Billie e o irmão Finneas vêm tocar o temazaço que escreveram para “007 – No Time to Die”.

03h21: Óscar de Melhor Montagem também despachado em gravação prévia. E também para “Dune”. “O Poder do Cão” está a ser tão maltratado que, se ainda houvesse PAN, amanhã, estavam lá à porta.

94th Academy Awards - Show

Foi o momento em que uma cerimónia da treta atingiu o auge, isto é, o fundo. De repente, aqueles dois anos em que não houve festas depois dos Óscares devem ter parecido incríveis

Los Angeles Times via Getty Imag

Às 03h26, o momento. Chris Rock manda uma piada a Javier Bardem e à mulher Penélope Cruz – ninguém lhe bate. Will Smith até ri. Chris Rock manda uma piada ao corte de cabelo de Jada Pinkett Smith (“GI Jane 2, can’t wait to see it“) e aí Will, o marido, já não ri. Vai ao palco e dá um sonoro tabefe a Rock que, verdade seja, se aguenta à bomboca. Metade da sala ainda ri, achando que é um bit, mas gela quando Smith grita, e repete, “keep my wife’s name out of your fucking mouth”. Jada sofrerá de alopecia – calvície, em português mais corrente –, a piada não é brilhante nem a mais conveniente, mas… Cada um complete o espaço em branco como entender. Foi o momento em que uma cerimónia da treta atingiu o auge, isto é, o fundo. De repente, aqueles dois anos em que não houve festas depois dos Óscares devem ter parecido incríveis. Equilibrando-se no absurdo, Rock ainda conseguiu entregar o prémio para o melhor documentário: “Summer of Soul”, o primeiro filme do músico Questlove, acerca do Black Woodstock, que tinha já sido o eleito do Producers Guild.

3h31: A tal “homenagem” a “O Padrinho” nos seus 50 anos. Coppola sobe acompanhado de Pacino e De Niro. Sala de pé. Coppola agradece ao escritor Mario Puzo e ao produtor Robert Evans. E termina: “Viva a Ucrânia!” É o único, em mais de três horas e meia de seca moralista. Não há tempo para mais. Quanto a “O Padrinho”, 50 anos depois, continua a ser o filme do ano, quase todos os anos.

03h38: Puff Daddy apela a paz. Não à paz na Ucrânia, imagine-se; à paz entre Will Smith e Chris Rock.

3h39: In Memoriam. Lembramos Sidney Poitier, William Hurt, Stephen Sondheim, Peter Bogdanovich, Michael K. Williams, Jean-Paul Belmondo, Richard Donner, Douglas Trumbull, Alan Ladd JR., Jean-Marc Vallée, Betty White e Ivan Reitman no ano em que os perdemos, este ultimo com uma inesperada aparição de Bill Murray, a lembrar como o realizador de “Ghostbusters” teve de sair, ainda criança, um refugiado, da então Checoslováquia – “Ivan, I love your work”. Faltou na lista de fiéis defuntos a carreira de Will Smith.

03h50: Outro pré-gravado para dizer que o melhor design de produção é de “Dune”. Que a versão de Dennis Villeneuve tenha recebido seis estatuetas e a de David Lynch, em ’84, zero (e apenas uma nomeação – pelo som), diz-nos tudo o que precisamos de saber sobre a relação entre os Óscares e os filmes que verdadeiramente importa ver e que ficarão na história e na memória popular.

03h53: Melhor Canção: “No Time to Die”, Billie Eilish e Finneas. Aqui em casa, até se festejou e disse um palavrão à Will Smith. Os irmãos vão ao palco receber o prémio verdadeiramente entusiasmados e emocionados, como era suposto ser-se sempre.

03h55: Kevin Costner, vindo aparentemente de ter escapado por pouco ao In Memoriam, chega para anunciar o Óscar para melhor realização. Desde “Waterworld” que não esperávamos tão ansiosamente que acabasse. Na plateia, Pedro Almodóvar está escondido atrás dos óculos de Jack Nicholson (cada um com o adereço da celebridade que pode, Chalamet). Depois de não ganhar mais absolutamente nada, dão o Óscar de Melhor Realização a “O Poder do Cão”. Jane Campion é a segunda mulher em dois anos a vir do outro lado do mundo receber um óscar por dar a volta ao western.

“Belfast”: sete nomeações, um Óscar; “West Side Story”, o mesmo: sete nomeações, um Óscar; “O Poder do Cão” (escrevemos aqui, ao tempo da estreia, que não era obra à altura do falatório): 12 nomeações, um Óscar. Para o ano, quando Villeneuve acabar “Dune”, hão-de lhe fazer parecido. E continuar a dar muitos prémios a quem trouxer mais bandeiras sociais.

04h05: Celebra-se os 28 anos de “Pulp Fiction”. Os 28 anos, pamordedeus – aonde chegou a falta de propósito disto tudo? Mas “Pulp Fiction” é “Pulp Fiction” e Uma Thurman e Travolta até dançaram (enfim, o que as plásticas permitiram aos joelhos), enquanto Samuel L. Jackson botava discurso com a graça e a verve de sempre. Num raro momento de inspiração dos produtores, abriram a pasta do filme para, finalmente, revelar o seu conteúdo: o envelope com o nome do Melhor Ator (essa categoria que a Academia decidiu, ultimamente, ser mais importante que a realização). Cooper Hoffman e não houve tempo para mudar para Benedict Cumberbatch: é “Will Smith” que está lá escrito e o homem vem ao palco falar durante 10 minutos em que, não só não pede desculpa a Chris Rock, como parece confessar-se investido da missão divina de defender a sua família (“O que Deus me chama a ser neste momento no mundo”). O único bom momento do discurso é quando cita o que Denzel Washington lhe terá dito instantes antes: “Tem cuidado. Este é o momento mais alto da tua carreira. É nestes que o Diabo vem para nos levar.” Exatamente tudo o que Will não ouviu. Bem vistas as coisas, ele merece o Óscar. É um grande ator – todos estes anos a convencer-nos de que era um tipo porreiro.

04h20: Óscar para Melhor Maquilhagem e Cabelos (sim, porque esta é uma categoria que merece ser a antepenúltima a ser entregue. É para saber quem fez a melhor maquilhagem e cabelos do ano que esperamos até esta hora) entregue a “Os Olhos de Tammy Faye”.

04h21: Amy Schumer: “Estive a sair do fato de Homem-aranha (ver um bit anterior).  Aconteceu alguma coisa? Está uma vibe diferente na sala…”

04h23: Segundo Óscar para “Tammy Faye”. Anthony Hopkins, que este ano até veio, entrega a estatueta de melhor atriz a Jessica Chastain. Terceira nomeação, primeira vitória. Aqui, do júri reunido solenemente cá em casa, achamos que podia ganhar todos os anos. Mas é uma pena Olivia Colman também não ganhar. E Alana Haim não estar sequer nomeada. Há que arranjar ex aequos para isto. Ou a estatueta que se poupava no Will dava-se à Olivia.

04h31: Liza Minelli, doente, cadeira de rodas, entra com Lady Gaga para o prémio final. Tem o guião na mão, dificuldade em perceber quando falar. “Cabaré” também faz 50 anos. Num instsante comovente, antes de entrar o clip recapitulando os nomeados, ouve-se Gaga dizer: “I got you”. O melhor filme do ano é “CODA”. Já tinha ganhado o prémio do sindicato dos atores e dos produtores. Remake de um filme francês que, se calhar, é preciso ver. Traz de regresso o tema da surdez num ano em que ela não faltou (também em “Audible” e “Drive My Car”) e um ano depois de “O Som do Metal”. “Dune” ganhou seis óscares, “CODA” três, mas mais importantes, “Os Olhos de Tammy Faye”, dois. Vai-se tornando um costume da Academia sobrevalorizar filmes com números absurdos de nomeações para depois os humilhar, mandando para casa com uma ou duas, ou mesmo zero. “Belfast”: sete nomeações, um Óscar; “West Side Story”, o mesmo: sete nomeações, um Óscar; “O Poder do Cão” (escrevemos aqui, ao tempo da estreia, que não era obra à altura do falatório): 12 nomeações, um Óscar. Para o ano, quando Villeneuve acabar “Dune”, hão-de lhe fazer parecido. E continuar a dar muitos prémios a quem trouxer mais bandeiras sociais.

04h38: Em pijama, as apresentadoras dão a cerimónia por encerrada e dizem que vão para a cama. É melhor seguir-lhes o exemplo, antes que o Will Smith pregue mais um estalo em alguém e outra seca ao cidadão.

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