910kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

i

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Os pecados de António Costa segundo o Bloco de Esquerda

BE aproveitou o segundo dia de convenção para intensificar as críticas ao PS e preparar próximo ciclo político. Ainda não há rutura formal mas objetivo é desgastar Costa e evitar maiorias absolutas.

Um Governo que “envergonha”, que tem falta de “coragem”, limitado e que limita o país, refém da troika e defensor do patronato, responsável pela suborçamentação na Saúde, que se esconde para fazer os negócios de sempre, que se serve dos partidos da esquerda como “fantoches” e que quer viver à custa da “fama” de uma ‘geringonça’ que “matou” sem dó nem piedade. Três anos depois de ter dedicado toda a convenção a falar numa hipotética mas desejada incursão num Governo de esquerda, o Bloco apareceu na reunião magna de Matosinhos disposto a fazer António Costa em picadinho.

Uma após uma, as principais figuras do partido desdobraram-se em críticas às falhas, insuficiências e contradições que apontam ao Governo socialista. E se há dado que ficou evidente neste segundo dia de convenção é que o Bloco está apostado em descolar-se ao máximo do PS para tentar crescer à esquerda.

Um processo que será longo e que implicará maturação, mas que está em curso, e que vai implicar a transição de um partido que sonhava ser poder ao lado do PS para um partido que sonha em desfazer os sonhos de poder absoluto do PS — para continuar a ser relevante à esquerda.

Quando houver eleições legislativas e se o quadro político obrigar a novos entendimentos, então logo se vê. Ainda não chegou esse tempo. Horas antes do arranque desta convenção, em entrevista ao Observador, Pedro Filipe Soares assumia precisamente e que este não era ainda o momento de definir a estratégia para as próximas eleições legislativas e que haveria tempo para nova convenção, algures em 2023.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Até lá, a ideia é aumentar o tom dos ataques aos socialistas. Os dirigentes do BE resistem em consumar o divórcio e colocam a pressão toda (e a culpa) do lado do PS. Mas as reivindicações de agora são as mesmíssimas que motivaram o chumbo ao último Orçamento do Estado (banca, Saúde, Lei Laboral) e o fim do casamento entre socialistas e bloquistas. Logo, o desfecho tem tudo para ser o mesmo. Baralhando e dando de novo: o Bloco vai aproveitar os próximos dois anos para aumentar a tensão com o PS e para tentar crescer à esquerda.

Pedro Filipe Soares: “Bloco nunca contribuirá para que a direita chegue ao poder”

As críticas, uma a uma

Catarina Martins, de resto, abriu as hostilidades e definiu o tom para os demais congressistas. Primeiro, enquadrou. “Como explicou António Costa, e cito, ‘um Bloco forte significa ingovernabilidade’. Nada foi mais importante para o PS do que atacar a esquerda nessas eleições”.

Depois, apontou o culpado pelo desenlace.  “A responsabilidade é de quem não cumpriu. Não foi feito o que tinha que ser feito”. Apesar de todas as garantias de que estão dispostos a voltar à mesa das negociações, aos olhos dos bloquistas, este ciclo esgotou-se.

Ao longo de quase 12 horas de trabalhos, os bloquistas atiraram-se a praticamente todas as áreas de governação socialista, desde a Diplomacia, às finanças, passando pela banca, privatizações, saúde, mercado laboral e própria estratégia de governação.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Mariana Mortágua, aliás, resumiu o estado de espírito dos bloquistas naquela que foi uma das intervenções mais aplaudidas da tarde. “O PS guardou a melhor artilharia para evitar que o BE influencie três áreas: banca, serviços públicos e trabalho. E por isso ficam tão irritados quando conseguimos fazê-lo. Não somos fantoches da democracia. Queremos mudar as regras da finança, do trabalho, queremos serviços públicos fortes. Chamem-lhe socialismo, um projeto de igualdade”, atirou a deputada.

Antes e depois da intervenção da bloquista, o tom dos dirigentes que representam a linha oficial do partido não variou. E, em muitos casos, conheceu termos muito duros. Marisa Matias, por exemplo, disse-se “envergonhada” com Augusto Santos Silva e a resposta portuguesa ao que está a acontecer na Palestina.

Na noite anterior, a eurodeputada, reconhecida interna e externamente por representar uma linha mais moderada do Bloco, tinha sido igualmente violenta ao falar sobre a presidência da União Europeia e o levantamento das patentes nas vacinas contra a Covid-19. “O Governo português protege os interesses do Governo alemão em vez de salvar vidas”, chegou a dizer.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Moisés Ferreira, em duas intervenções diferentes, fez o mesmo. Primeiro, acusou o PS de ser tudo menos socialista. “O Governo de um partido que ainda se diz socialista diz que não ao levantamento de patentes e que alinha com interesses da BioNTech e Pfizer contra o direito dos povos.”

A seguir, novo golpe: “A crise não se resolve ao centro, com o usual social-liberalismo. A crise resolve-se à esquerda. Precisamos de um Governo com coragem para dizer ‘paciência’ ao Óscar Gaspar. Que tenha coragem para dizer aos António Saraivas desta vida para dizer ‘azar’.”

A reforma do mercado laboral, que tem sido o grande obstáculo nas negociações entre PS e Bloco de Esquerda, lançou o deputado e dirigente José Soeiro contra os socialistas.

O Governo tem um tabu sobre o trabalho. O PS proclama construir soluções à esquerda, mas não aceita tocar no legado da troika no código do trabalho, não aceita mexer em nada estrutural das relações de força entre trabalhadores e patronato e só parece disponível convergir com a direita.”

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Na Saúde, o desencanto é idêntico. “O PS pode parar de rabear para o lado que lhe dá mais jeito e começar por fazer aquela que é a escolha mais importante de todas neste momento e mais fundamental, investir no futuro do SNS. E essa escolha só se faz à esquerda”, defendeu Bruno Maia, candidato do Bloco à autarquia de Gondomar.

Isabel Pires, deputada do partido, não lhe ficou atrás e criticou a gestão do Governo na CTT, na TAP e na Groundforce. Curiosamente três dossiês que estão nas mãos da grande esperança do Bloco para a futura liderança do PS — Pedro Nuno Santos. “Vai muito mal o PS quando não tem uma política de reversão de privatizações”, lamentou.

A deputada Joana Mortágua, que tem a pasta da Educação no partido, atirou-se igualmente à jugular do Governo. “A geringonça não é uma fama atrás da qual o PS se possa esconder enquanto continua com os negócios do costume, nem um espírito que ilumina e torna aceitáveis orçamentos que não são porque não servem o país. Os limites do PS não são as impossibilidades do país.”

Caberia a Francisco Louçã anunciar o óbvio: para o Bloco de Esquerda, “o PS matou a geringonça em 2019 depois de não ter conseguido poder absoluto”. Curiosamente, e ao contrário de todas as outras vozes do Bloco de Esquerda, foi o único a recuperar a tentação de ser poder que marcou a última convenção.

Quando a Mariana Mortágua for ministra das Finanças, o Estado não será um porquinho mealheiro”, sonhou o antigo líder do Bloco de Esquerda e um dos grandes pensadores do partido. Programa político ou desejo inconsequente?

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.