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O Bloco amadureceu, garantem os bloquistas. O PCP está em renovação, insistem os comunistas
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O Bloco amadureceu, garantem os bloquistas. O PCP está em renovação, insistem os comunistas

O Bloco amadureceu, garantem os bloquistas. O PCP está em renovação, insistem os comunistas

Os velhos do Bloco e os novos do PCP

O PCP não é uma "cambada de velhos". E o BE, que organizou agora o "1º Encontro Nacional +60", não é um partido juvenil. Os rótulos que colaram aos dois não podiam estar mais errados, garantem eles

Força envelhecida uma ova, gritam de um lado. Partido dos miúdos lisboetas? Somos muito, muito mais do que isso, asseguram do outro. Várias décadas separam o PCP do Bloco de Esquerda, mas há dois rótulos que os críticos lhes colaram: o primeiro é o partido dos velhos; o segundo é um movimento dos novos e para os novos. Como ninguém é eterno e como as modas juvenis tendem a ser passageiras, os dois estavam condenados a desaparecer, vaticinavam. Neste jogo do quem é quem, todavia, as aparências iludem.

Primeiro, os números. Com 95 anos de história, o partido mais antigo da democracia portuguesa tem, por esta altura, a bancada parlamentar mais jovem do hemiciclo. Por sua vez, o Bloco tem cinco deputados (em 19) que já passaram dos 60 anos. A média de idades das duas bancadas, de resto, reflete essa tendência: o PCP não chega os 44 anos (43,6); já o Bloco caminha para uns respeitosos 46 (45,6). E aqui não há liftings forçados nem peelings por conveniência: a renovação gradual dos primeiros foi sempre assumida; o “amadurecimento” dos segundos, dizem os próprios, é um sintoma natural de quem está a um ano de atingir a maioridade.

É mesmo isso que assegura Jorge Campos, um dos cinco deputados com mais de 60 anos do BE. “Hoje, o Bloco é absolutamente transversal. Temos desde o deputado mais novo da Assembleia, Luís Monteiro [22 anos], à segunda deputada mais velha, Domicília Costa [70 anos]. Essa ideia de que o Bloco de Esquerda é um partido da moda desapareceu. O Bloco cresceu muito“.

Com 63 anos, este doutorado em comunicação social e professor universitário entrou nas listas do partido pelo círculo eleitoral do Porto mas com estatuto de independente. Ao Observador, lamenta que “durante muito tempo” e de uma forma “muito injusta” o Bloco de Esquerda tenha sido desvalorizado e visto como “o partido do protesto” e para o protesto. Daí a colarem-lhe a imagem de esquerda cool foi um passo, reconhece. “Mas o Bloco foi sempre muito mais do que isso“.

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Com 63 anos, Jorge Campos, professor universitário, é um dos deputados mais velhos do BE

“O BE foi sempre um partido de causas e com um projeto. Foi fazendo o seu percurso e as raízes cresceram”, explica Jorge Campos. Cresceram ao ponto de o Bloco ser hoje o terceiro partido mais representado na Assembleia da República. A razão é simples: “Tudo isto é fruto de uma proximidade muito intensa” e de um trabalho diário de “chegar e procurar perceber o que preocupa as pessoas”. Todas as pessoas, sem olhar a idades. Ou não chegariam onde chegaram. “Todas as faixas etárias estão representadas no Bloco” e é assim que deve ser, assume.

Prova disso mesmo, é a organização, neste sábado, do “1º Encontro Nacional +60“, uma iniciativa do Bloco, cujo mote é “Segurança Social, Saúde e Crise Social: problemas e soluções”. Tema caro à terceira idade e mais um esforço do partido para se aproximar desta faixa etária, explica Heitor de Sousa, deputado do Bloco de Esquerda e também ele acima da barreira dos 60 anos.

“O tema da terceira idade está a ganhar uma relevância crescente dentro do partido. Iniciativas como esta vão permitir dar uma expressão maior e mais organizada a estas questões”, sublinha este economista de 62 anos, em declarações ao Observador. É, também, a prova “do amadurecimento natural” do Bloco, que lhe permite alargar as suas áreas de influência. Um sinal de “transversalidade de políticas que abrangem os vários setores da sociedade”.

Um dos vídeos de promoção do “1º Encontro Nacional +60”

Os sinais deste “amadurecimento” de que falam Jorge Campos e Heitor de Sousa não se esgotam aqui. O facto de o partido ter em Domícilia Costa, a doméstica que “não contava” ser eleita deputada e o segundo parlamentar mais velho do hemiciclo, é mais um exemplo disso. Pouco depois de saber que tinha entrado na Assembleia da República, graças a um surpreendente resultado do BE no Porto, a ex-militante do PCP garantia ao Observador estar pronta para a tarefa e para deixar para trás o percurso “casa-Porto-casa”.

O objetivo agora era outro: levar para o Parlamento bandeiras que lhe são próximas. O combate ao desemprego em todas as faixas etárias, a situação dos trabalhadores precários, os pensionistas, a assistência médica hospitalar e a violência doméstica estão no topo da lista.

Foto: Paulete Matos

Domícilia Costa (70 anos) é a segunda deputada mais velha. Só Alexandre Quintanilha, do PS, tem mais

Carlos Matias (64 anos) e Jorge Falcato (61 anos) completam o grupo dos anciãos do Bloco de Esquerda. O primeiro ajudou a erguer o partido – é um dos fundadores da UDP, movimento que estaria na génese do BE. Mas a atividade política vem de trás. Entre 1974 e 1975, foi dirigente do Movimento das Forças Armadas (MFA), mais tarde professor e só depois funcionário dos CTT e da PT, sempre cruzando a vida com o sindicalismo. Na política, foi deputado municipal no Entroncamento durante 11 anos, para depois se tornar vereador eleito pelo Bloco de Esquerda na mesma autarquia. Já como dirigente do Bloco, avançou para as legislativas como cabeça de lista do partido por Santarém e tornou-se deputado.

Ainda durante a corrida a São Bento, em entrevista à Rádio Hertz — citada pelo Esquerda.net — definia como objetivos a criação de emprego no distrito e no país. Era preciso “dar a volta a isto” e esse devia ser um dos pressupostos do Bloco. Objetivo definido, ainda dava uma alfinetada aos socialistas, futuros parceiros parlamentares:

“Os bancos devem ser obrigados a canalizar dinheiro para o investimento na economia real, na agricultura, nas florestas, nas fábricas, transportes e infraestruturas, naquilo que cria riqueza e não na especulação financeira”. Era preciso concentrar esforços em políticas de promoção de emprego e de proteção no desemprego “e não, como o PS propõe, facilitar ainda mais os despedimentos“, atiraria na altura.

Domícilia Costa, com 70 anos, é a segunda deputada mais velha do Parlamento. Pensionista e doméstica, "não contava" ser eleita deputada

A história de vida de Jorge Falcato acaba por cruzar-se também com os primeiros anos de liberdade do país. Em 1978, o agora deputado bloquista acabaria por ser alvejado pela polícia durante um protesto contra uma manifestação da direita pelo 10 de junho, o “Dia da Raça”.

Um tiro de G3 toldar-lhe-ia os movimentos para sempre, mas não o ativismo político. Tal como Carlos Matias, ajudou a fundar a UDP e, mais recentemente, os (D)Eficientes Indignados, um movimento que deu nas vistas em 2012. Depois de uma série de ações de vigília em frente ao Parlamento, Falcato e companhia conseguiriam que o Governo recuasse na decisão de cortar verbas para apoio a pessoas com deficiência.

Depois de ter feito parte do movimento “Que Se Lixe a Troika”, este arquiteto acabaria por ser eleito como independente nas listas do Bloco por Lisboa. Com uma agenda muito focada na defesa dos direitos das pessoas com deficiência, Jorge Falcato define como prioridades o “direito à educação e ao emprego”, o “direito a rendimentos dignos”, o “direito à mobilidade”, o “direito à habitação” e o “direito a uma vida independente”. Foram estas as motivações que o levaram a aceitar o convite do Bloco de Esquerda, como revelou na altura.

Jorge Falcato

Jorge Falcato, 61 anos, ficou paraplégico depois de ter sido alvejado pela polícia

Os jovens turcos do PCP e uma certeza: este partido não é para velhos

Já lá vai o tempo em que se dizia que o partido era só uma cambada de velhos“. As palavras pertencem a Domingos Abrantes, histórico comunista e membro do comité central do partido. Em entrevista à Antena 1, o homem escolhido pelo PCP para o Conselho de Estado afastava, assim, a ideia de que a continuação de Jerónimo de Sousa como secretário-geral impedia a renovação do partido. Até porque essa renovação “não se faz só pelo secretário-geral”, clarificava.

Muito antes, em plena campanha para as legislativas de 2009, já Jerónimo de Sousa tinha rejeitado essa tese. Na altura, tal como hoje, o PCP “está para lavar e durar”.

“Aquelas cabeças, que sabem tudo e mais alguma coisa, que dizem tudo e o seu contrário, perspetivavam isto: o PCP é um partido envelhecido. Ora, os velhos morrem. Morrendo os velhos, morre o PCP. [Essa] é uma ideia da década passada”, afirmava então Jerónimo de Sousa.

O partido foi fazendo o seu caminho de renovação no Parlamento e tem, neste momento, oito deputados com menos de 40 anos. Sexagenários, apenas dois: Jerónimo himself e Francisco Lopes. Na liderança da bancada, um jovem com 36 anos: João Oliveira, antigo advogado, membro do comité central e cabeça de lista do partido por Évora.

Ex-assessor do grupo parlamentar do PCP, quando assumiu o cargo de deputado João Oliveira esperava conseguir conciliar a função com uma atividade extra: era tenor no grupo coral da Assembleia da República

Antigo assessor do grupo parlamentar comunista, João Oliveira chegou a deputado aos 27 anos, para ocupar o lugar de Abílio Fernandes, histórico presidente da Câmara de Évora, que fora substituído por decisão do partido. Na altura, em conferência de imprensa, Bernardino Soares, então líder parlamentar do PCP, não escondia a estratégia: estava em causa a “necessidade de renovação sustentada do grupo parlamentar”.

Sobre a nova função que ia desempenhar, João Oliveira daria uma resposta curiosa: “Gostava de tentar conciliar” o trabalho de deputado com o de tenor no grupo coral da Assembleia da República. “É uma atividade de que gosto muito”, confessava na altura, ao mesmo tempo que reconhecia “não ser dos melhores” a cantar. “[Faço] um esforço para não desafinar e para não estragar o resultado coletivo”, atirava, bem disposto.

João Oliveira tornou-se líder parlamentar do PCP, depois de substituir Bernardino Soares

Tanto não desafinou que acabou por tornar-se líder da bancada parlamentar, substituindo precisamente Bernardino Soares. A ele foram-se juntando alguns dos rostos mais jovens do partido, muitos da JCP. Se o PS tem em Pedro Nuno Santos, João Galamba e Pedro Delgado Alves como os seus jovens turcos, os comunistas também não se podem queixar.

Logo à cabeça, Rita Rato, a mais jovem deputada comunista. Com 32 anos, licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais, dirigente da JCP, chegou ao Parlamento em 2009, para ser mais um símbolo do esforço de renovação do partido.

Em 2012, em entrevista à P3, acabaria por desmistificar outra ideia que entretanto se foi colando ao PCP: o comunismo é uma coisa hereditária. “Existe aquele estereótipo de que os comunistas são sempre filhos de comunistas, que são todos uma grande família, que os comunistas se casam com comunistas e que os filhos de comunistas têm de ser comunistas. [Sou] comunista por convicção. Não por nenhuma hereditariedade“, garantia então Rita Rato, agora coordenadora do grupo parlamentar para as áreas do Trabalho e da Segurança Social.

Rita Rato

Rita Rato, com 32 anos, é a mais jovem deputada do PCP

Também da JCP, chegaria em 2005 Miguel Tiago, coordenador do grupo parlamentar do partido para as áreas da Educação e da Ciência. Licenciou-se em geologia, mas nunca exerceu. No currículo, conta com vários trabalhos temporários. Motard, apaixonado por artes marciais, foi porteiro de discoteca e trabalhou na apanha da ameixa em França, por exemplo.

Em 2013, em declarações ao Público, o deputado fazia questão de assumir a herança do partido — novos ou velhos, ninguém renega a história do partido.

“O PCP não só não nega como valoriza a sua história e eu, como militante, orgulho-me dela e espero estar à altura de honrar essa história, que tem o valor e as características do povo português. Devemos integrar e valorizar essas experiências. É importante. Para percebermos o partido, temos de conhecer o passado, para o bem e para o mal. Para mais quando o capitalismo procura limpar a memória”, reiterou na altura.

Miguel Tiago deu nas vistas durante a comissão de inquérito ao BES

João Oliveira, Rita Rato e Miguel Tiago fazem parte de uma nova geração do PCP no Parlamento. Tal como eles, também Ana Mesquita, Bruno Dias, Diana Ferreira, Jorge Machado e Paula Santos ajudam a compor a equipa sub-40 dos comunistas. Lá fora, no Parlamento Europeu, há um nome que salta à vista e que teria lugar a titular nesta equipa: João Ferreira, biólogo de formação, atual deputado no Parlamento Europeu, vereador na Câmara Municipal de Lisboa e membro do Comité Central do PCP.

Com 37 anos, o vice-presidente do Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/ Esquerda Verde Nórdica foi recentemente notícia depois de ter sido pouco simpático para Jean-Claude Juncker.

“Sabe de uma coisa, senhor Juncker? A Constituição da República Portuguesa diz que é da exclusiva responsabilidade da Assembleia da República organizar, elaborar e aprovar os orçamentos de Estado. Acalme lá por isso os seus burocratas. O que está em causa neste orçamento é cumprir com compromissos assumidos com o povo português, é devolver aos portugueses uma parte daquilo que lhes foi roubado nos últimos anos, é parar o caminho de afundamento nacional”, atirou João Ferreira, em pleno Parlamento Europeu.

"Acalme os seus burocratas, senhor Juncker", atirou João Ferreira, em pleno Parlamento Europeu. É um dos mais bem cotados para substituir Jerónimo

As intervenções de João Ferreira valeram-lhe elogios dos comunistas. Jerónimo de Sousa, inclusive, já lhe reconheceu o mérito. Muito mais do que o “menino bonito” do PCP na Europa, João Ferreira é um trunfo pela sua capacidade de trabalho, acabaria por dizer Jerónimo de Sousa, em entrevista à Lusa.

“É um camarada que tem uma vantagem, a de ter assumido o mandato, conjuntamente com a camarada Ilda Figueiredo, e entrou bem — passo o termo — naquele grande complexo que é o Parlamento Europeu. Dedicou-se a um trabalho profundo, nunca desligado da realidade nacional e, pela sua capacidade, empenhamento e trabalho, mais do que pela sua figura, é um candidato à altura das responsabilidades que a CDU lhe coloca”, disse o secretário-geral comunista sobre João Ferreira.

João Ferreira é o homem forte dos comunistas na Europa

O futuro do partido pode muito bem vir a estar nas mãos do eurodeputado. É que, a par de João Oliveira, João Ferreira é um dos nomes mais falados para substituir Jerónimo de Sousa. Os dois são os rostos mais visíveis da nova vaga do partido e podem, se os astros se alinharem de forma ideal, vir a ocupar o cargo de secretário-geral do PCP.

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