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NUNO ANDRÉ FERREIRA/LUSA

NUNO ANDRÉ FERREIRA/LUSA

Pedro Dias e os crimes que pararam o país. Os disparos a sangue-frio, os detalhes da fuga e a violência dos sequestros

Fugiu durante um mês depois de matar três pessoas. Deixou um GNR com uma bala na cabeça e sequestrou uma mulher que teve um AVC um mês depois. Pedro Dias começa a ser julgado esta sexta na Guarda.

Mal sentiu o projétil entrar-lhe no corpo, o guarda Ferreira tombou no chão. Os olhos fecharam-se, mas não perdeu a consciência. Conseguiu sentir quem o atingiu a arrastá-lo para o interior do mato e cobri-lo com ramos e pedras. Depois, sentiu-o ir-se embora. Foram precisos alguns minutos até ganhar forças e conseguir libertar-se e levantar-se. Tentou estancar o sangue que lhe escorria pela cara com a camisola. E andou cerca de dois quilómetros atordoado e perdido numa zona de serra, em Aguiar da Beira. Até que encontrou uma estrada de alcatrão que o levaria, por coincidência, à casa de um colega do posto da GNR. Assim que este lhe abriu a porta, só teve força para dizer que estava ferido e que o seu companheiro de patrulha fora assassinado. Tinham sido vítimas de uma “emboscada”.

Eram cerca de 2h00 de 11 de outubro de 2016. Os guardas Ferreira e Caetano estavam de serviço à patrulha quando decidiram bater a zona das termas de Caldas da Cavaca, como está descrito no despacho de acusação que o Observador consultou e cujos detalhes servem de base a este artigo. Nos últimos dias havia registo de vários focos de incêndio que teriam origem criminosa. Estava escuro e os militares andavam perto de um hotel em construção quando viram a carrinha Toyota. Lá dentro o condutor dormia, recostado sobre o vidro e tapado com uma manta. “Batemos no vidro devagar para não o assustar”, disse o soldado Ferreira à PJ dias depois do que veio a acontecer. “Ó sr. guarda está tudo bem, só estou aqui a descansar um bocadinho”, respondeu-lhes o homem.

Os guardas pediram-lhe que saísse e mostrasse a identificação e os documentos. Perceberam estar perante Pedro João Ribeiro e Costa de Pinho Dias, um homem de 44 anos que aparentou sempre estar calmo e nada ter a esconder. Não o revistaram porque não era um suspeito. Apontaram as lanternas para o interior da carrinha. E aperceberam-se que estava suja e desarrumada. Entre a confusão havia duas garrafas de gin intactas. Na parte de trás, jerricans de combustível. Pedro Dias explicou tranquilamente que era material para a agricultura. Servia para semear aveia.

Os guardas pediram-lhe que saísse e mostrasse a identificação e os documentos. Perceberam estar perante Pedro João Ribeiro e Costa de Pinho Dias, um homem de 44 anos que aparentou estar calmo e não ter nada a esconder. Não o revistaram porque não era um suspeito. Apontaram as lanternas para o interior da carrinha. E aperceberam-se que estava suja e desarrumada. Entre a confusão havia duas garrafas de Gin intactas. Na parte de trás, jerricans de combustível. Pedro Dias explicou tranquilamente que era material para a agricultura. Servia para semear aveia.

O soldado Caetano pegou na carta de condução de Pedro Dias e enfiou-a no bolso. Dirigiu-se, depois, ao carro-patrulha para comunicar com o posto de Aguiar da Beira e perceber a quem pertencia aquela carrinha. Estava em nome de uma mulher. Caetano ainda telefonou para outros colegas para apurar quem seria Pedro Dias. Disseram-lhe para ter cuidado. “Era um homem perigoso e podia estar armado”. Ainda conseguiu que ele lhe dissesse que a dona da carrinha era sua “sócia”. Caetano aproximou-se de novo dele e do colega quando, naquele momento, se ouviu um barulho vindo da vegetação. O suficiente para que os militares desviassem os olhos do homem que estavam a identificar. Um segundo que foi suficiente para que Pedro Dias sacasse de uma arma.

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Pedro Dias disparou contra a cabeça de Caetano, que caiu inanimado no chão. Impotente, Ferreira gritou, como se assim pudesse devolver a vida ao colega. “Se te mexes fodo-te os cornos, fazes-lhe companhia”, disse-lhe Pedro Dias, com a mesma calma de minutos antes. Depois, sempre de arma em punho, ordenou-lhe que se sentasse ao volante do carro-patrulha. E mandou-o arrancar, enquanto lhe dava ordens para ligar para a central e perguntar pelos proprietários de uma série de matrículas de carros. Queria apenas saber como funcionavam as comunicações das autoridades.

Depois dos disparos, o comportamento foi “ frio, controlado e calculista, sem apresentar qualquer tipo de remorso ou nervosismo”, descreveu o guarda Ferreira.

As fotografias de Pedro Dias que circularam antes de ser detido

Chegados perto do posto da GNR de Aguiar da Beira, Pedro Dias perguntou-lhe quantos militares ali estariam e se havia sistema de videovigilância. Perante a resposta afirmativa, ordenou que voltasse para trás, regressando ao local onde tinham deixado Caetano estendido no chão. Lá chegados, Ferreira foi obrigado a enfiar o corpo do colega morto na bagageira do carro. Depois, Pedro Dias algemou-o e conduziu-o a um local ermo, que só depois viria a saber depois tratar-se da Serra da Lapa. Lá no meio, disparou contra Ferreira, para matar. Deu-lhe um tiro na cabeça, arrastou o corpo para o mato e tapou-o com giestas e pedras. Depois, fugiu até à zona da Quinta das Lameiras, onde abandonou o carro. Levou a sua arma, de calibre 7.65 mm, e as duas Glock de 9 mm dos dois militares.

Obrigou mulher a arrastar o cadáver do companheiro

Eram 6h25 quando Liliane, funcionária num lar, e o marido Luís Pinto, operário da construção civil, passavam naquela EN229, vindos de Seia. Seguiam num Volkswagen Passat com destino ao hospital de Coimbra. Casados há seis anos, e depois de terem perdido um bebé durante a primeira gravidez, queriam muito ter um filho. Mas não conseguiam. Frequentavam em Coimbra um programa de fertilidade e era para lá que seguiam.

Quando Pedro Dias surgiu na berma da estrada a dar ordem de paragem, Luís terá pensado que era alguém a precisar de ajuda. Travou, parou o carro, mas mal abriu a janela viu-lhe a arma. Pedro Dias apontou-lha à cabeça e obrigou-o a sair do carro. Baleou-o ali à queima-roupa à frente da mulher, lê-se na acusação. Depois obrigou Liliane a arrastar o cadáver do companheiro para a berma da estrada e disparou contra ela. Luís foi levado para o hospital já morto. Liliane ainda estava viva. Foi assistida, sujeita a diversas intervenções cirúrgicas. Em coma, lutou contra a morte até abril deste ano.

Quando Pedro Dias surgiu na berma da estrada a dar ordem de paragem, Luís terá pensado que era alguém a precisar de ajuda. Travou, parou o carro, mas mal abriu a janela viu-lhe a arma. Pedro Dias apontou-lha à cabeça e obrigou-o a sair do carro. Baleou-o ali à queima-roupa à frente da mulher. Depois obrigou Liliane a arrastar o cadáver do companheiro para a berma da estrada e disparou contra ela. Luís foi levado para o hospital já cadáver. Liliane ainda estava viva. Foi assistida, sujeita a diversas intervenções cirúrgicas. Em coma, lutou contra a morte até abril deste ano.

O soldado Ferreira não sabe precisar quanto tempo esteve ferido e tapado com giestas e pedras no meio da serra. Lembra-se que conseguiu libertar-se, que ainda esteve um tempo sentado e se sentia “zonzo” e “sonolento”. Deambulou mais de dois quilómetros, enquanto tentava aguentar as dores e encontrar quem o ajudasse. Quando o sol nasceu, recordou à PJ, ouviu um galo a cantar e pensou que, finalmente, estaria perto de uma casa. Pouco depois encontrou uma estrada de alcatrão e reconheceu o local. Estava na zona onde morava o cabo Santos.

Santos acordou sobressaltado quando ouviu baterem-lhe à porta com tanta força àquela hora. Segundo relatou às autoridades mais do que uma vez, ao abrir a porta viu o “camarada Ferreira com o casaco na mão e o polo da GNR enrolado à cabeça”. Tinha “a cabeça cheia de sangue”. Foi a correr buscar o telemóvel para pedir ajuda. Diz que Ferreira tinha dois pares de algemas nos pulsos e que estava a “desfalecer”. Assim que chegaram os bombeiros, o militar pegou no seu carro e foi à procura do carro-patrulha onde estaria o guarda Caetano. Apercebeu-se, depois, que o carro tinha já sido encontrado com o cadáver de Caetano na bagageira, tal como Ferreira lhe contara. No bolso estava a carta de condução de Pedro Dias. Era ele o principal suspeito do crime.

Longe dali, Pedro Dias usava o carro do casal de Seia (também lhes ficara com os 350 euros que levavam para pagar a sessão do tratamento de fertilidade). Primeiro foi no Volkswagen até ao local onde tinha sido abordado pelos militares para recuperar a sua carrinha Toyota. Deixou o carro roubado e seguiu no seu para a zona de Satão, onde estaria a mulher que dizia ser sua “sócia” e dona da carrinha.

“Uma pessoa muito charmosa”, diz ex-namorada

Ana Laurentino namorou três anos com Pedro João, como é conhecido entre os amigos. É professora, mediadora de seguros e vendedora de gás. Foi uma das primeiras testemunhas a serem inquiridas pela Polícia Judiciaria logo após as notícias dos crimes. E foi a única que falou com ele imediatamente depois dos crimes contra os dois militares e o casal Liliana e Luís.

Eram 8h20 quando seguia no seu Seat a caminho da escola onde dava aulas e se apercebeu da presença de Pedro Dias atrás dela. Parou o carro e ele pediu-lhe que entrasse na Toyota e lhe fizesse um favor. Precisava de ir buscar uma carrinha a Vila Chã e deixar aquela. Segundo o testemunho de Ana, ele estava “calmo”, não apresentava qualquer vestígio de sangue e ninguém diria que acabara de disparar contra quatro pessoas. Disse até que estava “contente” por ter ganhado o processo de tutela da sua filha. Depois, pediu-lhe que, caso perguntassem por ele, dissesse que tinha jantado e dormido na casa dela.

E foi o que fez, pouco depois, quando um militar da GNR lhe telefonou a perguntar por ele. Só quando lhe explicaram o que estava em causa e a gravidade dos crimes é que Ana Laurentino abriu o jogo. Nessa altura já havia no terreno uma verdadeira operação de caça ao homem, que envolvia a PJ, a GNR e que estava já a ser divulgada pela comunicação social. Menos de 24 horas passadas do primeiro crime e já a procuradora a quem o processo tinha sido entregue autorizara que a PJ escutasse os três números de telefone de Pedro Dias e os contactos com ele relacionados. Inicialmente ainda se falava em dois suspeitos no local, mas neste momento já só se procurava um homem: Pedro Dias.

Ana Laurentino deu ainda um pouco a conhecer este homem, o seu ex-namorado. Disse que ele era piloto da aviação civil e que chegou a ir buscá-lo diversas vezes aos aeroportos do Porto e de Madrid. Iria ainda fardado. A relação acabou porque ele se tornou violento e chegou a agredi-la, contou. Nunca se percebe no processo porque é que ele, tendo já outra namorada e não estando com Ana há dois anos, conduzia a carrinha dela.

Ana Laurentino deu ainda um pouco a conhecer este homem, o seu ex-namorado. Disse que ele era piloto da aviação civil e que chegou a ir buscá-lo diversas vezes aos aeroportos do Porto e de Madrid. Iria ainda fardado. A relação acabou porque ele se tornou violento e chegou a agredi-la, contou. (...) Ana Cláudia, médica veterinária em Aveiro, conheceu-o anos antes, em 2000 ou 2001, em casa dos pais dele, onde foi “ver umas éguas”. Acabaram por envolver-se e da relação nasceu uma filha — agora com 11 anos. Segundo ela, Pedro Dias não tem sequer o brevet de piloto. Aliás, ele nem sequer sabe falar inglês - uma das condições essenciais para o conseguir.

Ana Cláudia, médica veterinária em Aveiro, conheceu-o anos antes, em 2000 ou 2001, em casa dos pais dele, onde foi “ver umas éguas”. Segundo recordou à Polícia Judiciaria, acabaram por envolver-se e da relação nasceu uma filha — agora com 11 anos. Ela garante que Pedro Dias não tem sequer o brevet de piloto. Aliás, ele nem sabe falar inglês — uma das condições essenciais para o conseguir.

Apesar de o processo por violência doméstica que interpôs contra ele e que venceu, Ana reconhece porque é que se apaixonou. Era uma “pessoa muito charmosa e agradável”, “extremamente controlado”. Não bebia, não fumava, “não dizia um palavrão”. Um dia até parou na autoestrada “para salvar um ouriço cacheiro”, garantiu. Ainda assim, houve alguns episódios que a preocuparam, como aquele em que, com toda a calma, deu um pontapé na cara de um cliente dela que lhe devia dinheiro. Ou como a destratou quando percebeu que ela tinha um café marcado com um amigo. No processo por violência doméstica consta uma perícia psiquiátrica que o traça como “sociopata”, capaz de socializar e de ser exemplar, mas que pensa apenas em si.

Só não matou mais dois porque os tiros fariam barulho

Ainda naquele dia 11 de outubro, quando abriu fogo contra a GNR e o casal, as autoridades perceberam que Pedro não tinha saído do País — como seria de esperar — quando encontraram a carrinha Toyota. A descoberta foi feita na localidade de Candal, em São Pedro do Sul. Lá dentro estavam vários papéis, entre eles um talão de compras num hipermercado datado das 11h00 daquele dia. Foram encontrados também dois toalhetes com sangue e um cinturão com o coldre de um dos militares. Fotografias da filha. E um post it colado a um envelope que as autoridades acreditam tratar-se de um código para comunicar com alguém que o ajudaria durante a fuga: eram códigos para palavras como “Sim”, Não”, “Muito Perigo”, “Estou bem a salvo”. Aliás, a polícia sempre acreditou que estaria a ser ajudado por familiares e amigos próximos, só não conseguiu prová-lo. Até porque a lei impede que os familiares sejam constituídos arguidos na investigação.

GNR perto da localidade de Candal, São Pedro do Sul, 12 de outubro de 2016, quando fazia buscas

PAULO NOVAIS/LUSA

Mas Pedro Dias, nem vê-lo. A polícia só voltou a ter sinais dele a 16 de outubro, cinco dias após os homicídios, a poucos quilómetros da casa da sua família. Foi na conhecida “casa laranja”, uma vivenda em Moldes, Arouca, que há dois anos estava vazia. A filha da dona, uma idosa na casa dos 90 anos, decidira levá-la dali para viver com ela no Porto. Estava demasiado velha para ficar sozinha. Mas, naquele dia, Lídia Conceição, 57 anos, tinha decidido passar por lá para dar comida ao gato e levar o vale dos correios com a pensão da mãe, como fazia habitualmente.

Lídia não chegou a abrir a porta, porque já estava aberta. E mal pôs o pé dentro de casa foi agarrada pelo pescoço. Pedro Dias tentou estrangulá-la e bateu-lhe com a cabeça no chão por diversas vezes. Lídia ofereceu resistência e até lhe deu um pontapé entre as pernas. Acabou amarrada e amordaçada com uma batata na boca. “Ó sua puta, só não te mato porque conheço a tua mãe, mas se tu falas eu volto e mato as duas…” [sic], terá dito, segundo o Ministério Público.

António Duarte — que ali perto cuidava da horta de um familiar emigrado — ouviu os gritos e o barulho vindos da casa “laranja” e foi ver o que se passava. Acabou também amordaçado ao lado de Lídia. Pedro Dias, que nesta altura era conhecido na comunicação social como “O Piloto”, ainda lhe perguntou se tinha combustível no carro. O homem respondeu-lhe que tinha posto 20 euros de gasóleo e Pedro Dias fugiu no seu Opel Astra. A polícia chegou rapidamente ao local avisada pela família de António, que estranhou o atraso para o almoço. As autoridades acreditam que Pedro Dias só não matou mais estas duas pessoas a tiro porque faria barulho e precisava de tempo para fugir dali.

Lídia não chegou a abrir a porta, porque já estava aberta. E mal pôs o pé dentro de casa foi agarrada pelo pescoço. Pedro Dias tentou estrangulá-la e bateu-lhe com a cabeça no chão por diversas vezes. Lídia ofereceu resistência e até lhe deu um pontapé entre as pernas. Acabou amarrada e amordaçada com uma batata na boca. “Ó sua puta, só não te mato porque conheço a tua mãe, mas se tu falas eu volto e mato as duas…”, terá dito, segundo o Ministério Público.

A GNR encontrou na casa vários restos de comida. Batatas, maçãs, carne de coelho cozinhada, produtos frescos, que levam a crer que Pedro Dias era ajudado por alguém. Também numa das calças encontradas pelas autoridades havia uma lista de bens que ele necessitava. No verso ele perguntava pela filha.

Estávamos a 24 de outubro e a família de Pedro Dias também estava sob escuta. Mas às tantas a policia percebeu que, no caso da filha do criminoso, se tinham enganado no número e que estavam a escutar a pessoa errada. Vic.

O Opel Astra de António foi encontrado na localidade de Carro Queimado dias depois. Lá dentro havia bens furtados a uma outra vítima. A 22 outubro foram encontrados vestígios do suspeito numa casa em Vila Real e, no dia seguinte, num casebre em Fermentões. Pedro Dias não saía da sua zona de conforto. Só a 9 de novembro acabaria detido, mas por sua iniciativa: encontrou-se com advogados que combinaram a sua entrega às autoridades, mas antes ainda daria uma entrevista à RTP.

Pedro Dias está preso preventivamente na cadeia de alta segurança do Monsanto, em Lisboa. Começa esta sexta-feira a ser julgado no tribunal da Guarda por três crimes de homicídio qualificado, duas tentativas de homicídio, três crimes de sequestro, cinco de roubo e três crimes de detenção de arma proibida. Há sessões agendadas até, pelo menos, janeiro de 2018. Fora da acusação ficam alguns furtos que fez durante a fuga.

A 10 de novembro de 2016, antes de ser ouvido em primeiro interrogatório no Tribunal da Guarda

PAULO NOVAIS/LUSA

“Amo-vos muito e nunca o soube demonstrar”

Um ano depois dos homicídios, o guarda Ferreira, 41 anos, continua em casa a recuperar. Logo após ter sido atingido, pediu segurança pessoal porque sente medo e porque vive com os pais num local isolado. Como é a testemunha principal do processo, ainda hoje mantém a segurança. “O ofendido apresenta-se ainda combalido, com dificuldades de locomoção e autonomia reduzida, necessitando do auxílio de terceiros para a execução das suas necessidades básicas diárias, pese embora tenha registado melhorias no seu estado de saúde”, dizia o juiz quando reavaliou as medidas de segurança de Pedro Dias já este ano. Ferreira está medicado com antidepressivos. Vive com um projétil alojado na cabeça. Sente dores na nuca, tem dificuldades em mexer o maxilar e um constante formigueiro nas mãos.

Lídia, outra vítima de Pedro Dias, foi apenas assistida no dia em que foi agredida na “casa laranja”, mas pouco mais de um mês depois sofreu um Acidente Vascular Cerebral. Descobriu-se que sofrera uma hemorragia e ficou internada um mês num hospital em Valongo. Ficou em estado vegetativo, sem conseguir realizar as suas necessidades mais básicas. Teve que reaprender a fazer tudo, incluindo falar. Os médicos não podem garantir que este AVC tenha sido consequência da agressão. Mas, em fevereiro deste ano de 2017, Lídia ainda não era autónoma e estava completamente dependente de terceiros. A mãe acabou por ser colocada num lar. Lídia não terá condições para testemunhar.

Um ano depois dos homicídios, o guarda Ferreira, 41 anos, continua em casa a recuperar. Está medicado com antidepressivos. Vive com um projétil alojado na cabeça. Sente dores na nuca, tem dificuldades em mexer o maxilar e um constante formigueiro nas mãos. Lídia foi apenas assistida no dia em que foi agredida na "casa laranja", mas pouco mais de um mês depois sofreu um Acidente Vascular Cerebral. Ficou em estado vegetativo, sem conseguir realizar as suas necessidades mais básicas. Teve que reaprender a fazer tudo, incluindo falar. Não terá condições para testemunhar.

Os pais de Liliane, a rapariga de 27 anos que seguia com o marido para o tratamento de fertilidade em Coimbra, ainda hoje sonham com a filha e com o que ela sofreu. Têm noites “sucessivas de insónias” a imaginar o que ela passou, escreve o advogado João Paulo Matias num dos pedidos de indemnização civil que constam no processo.

Mas o homem que na RTP disse que a GNR o queria matar e em tribunal, no primeiro interrogatório judicial, recusou falar, parece consciente agora daquilo que fez. No processo consta um desabafo que lhe pertencerá e que foi escrito numa caixa de bolachas.“Queridos pais, irmã, restante família e amigos verdadeiros que agora sei que existem!!! Nunca pensei desiludir-vos tanto como agora o fiz… (…) Devia ter procurado ajuda e uma vez mais não o fiz… Naquela noite que ainda é muito confusa para mim encontrava-me a dormir estourado, como vinha a acontecer há algum tempo (de repente tinha mesmo que parar ali ou ia pelo monte abaixo) quando fui interpelado pela GNR e me disseram que eu estaria a dormir num local suspeito!!! Bem, o que vem a seguir já todos sabem (…) Não conseguia ir embora e deixar de ter notícias da família que tanto amo… (…) Amo-vos muito e nunca o soube demonstrar”.

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