18 de junho de 2017

Um dia depois do início de uma das maiores tragédias que Portugal viu nas últimas décadas. Em Nodeirinho, uma aldeia com 30 habitantes, 11 morreram. Esta casa pertence a Sebastião Gonçalves Esteves. Na noite de 17 de junho fugiu de casa e refugiou-se num lar. Sobreviveu. A casa ficou completamente destruída.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

8 de junho de 2018

Voltámos lá. Conhecemos Sebastião Esteves. Fotografámos a renovada casa, inaugurada pelo primeiro-ministro, António Costa. Uma casa completamente destruída pelas chamas de 17 de junho de 2017 dá agora lugar a outra, no mesmo sítio e bastante maior. “Agora sou feliz”, desabafa Sebastião.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

18 de junho de 2017

Fotografia tirada às 7h16, na Moita, numa pequena povoação à entrada de Castanheira de Pera. A “Casa Anjos” ardia. Já não havia absolutamente nada a fazer. Jorge, em tronco nu, tentava há horas que o fogo não passasse para as casas vizinhas. “Esta merda vai explodir, estão garrafas de gás lá dentro.”

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

10 de junho de 2018

A “Casa Anjos” reergueu-se. Perdeu os azulejos que a identificavam na fachada principal daquela casa de família com dois quartos. Anabela Anjos conta: “Perdi tudo, fiquei sem nada. Só fiquei com a roupa do corpo”. Um ano depois, volta para a casa nova. Erguida com “as mãos dos outros”.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

17 de junho de 2017

Na Nacional 236 morreram em poucos metros quase 50 pessoas, 30 encurraladas dentro dos carros. Terá havido mesmo acidentes e atropelamentos. 17 corpos estavam fora dos carros. Teriam tentado fugir. Bastaram 500 metros para que esta via passasse a ser conhecida como “a estrada da morte”.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR/4SEE

11 de junho de 2018

O alcatrão foi reposto. Foram apagadas as marcas do chumbo derretido, dos carros queimados. Sinais de trânsito substituídos. Foram postas flores nos locais onde as pessoas morreram. A estrada que liga Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos nunca mais será a mesma. Ali morreram 47 pessoas. Quarenta e sete.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

20 de junho de 2017

Sebastião foi uma das muitas pessoas que perderam tudo. Uma casa onde vivera há 70 anos. Do outro lado da janela do seu quarto a vista era negra. O vidro derreteu com o calor.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

10 de junho de 2018

A casa nova, erguida “a tempo de passar o Natal”, tem hoje uma vista com mais cor e as janelas maiores.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

19 de junho de 2017

Alzira Quevedo, de 76 anos, e o seu marido, perderam tudo e iam perdendo a vida ao tentarem salvar-se. Visitámos a sua casa, destruída, dias depois da tragédia. “Aqui era o nosso quarto. Aqui, a cozinha. Aqui tínhamos umas galinhas. Aqui estava o carro.” O marido esteve internado várias semanas.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

10 de junho de 2018

Um ano depois, as paredes ainda cheiram a tinta. Há pó de obras por todo o lado, mas circula ar fresco no interior da casa, pintada em tons de branco e cinza claro. O negro já não existe ali mais. “A casa estará pronta em breve, talvez ainda antes de setembro”, diz Alzira.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

18 de junho de 2017

Manuel Costa, de 61 anos, perdeu grande parte dos seus animais. Um dia depois do grande incêndio ainda procurava o filho, que fugira de carro quando o fogo já rodeava a aldeia. Manuel saberia, pouco depois, que o filho de 21 anos tinha morrido. Foi preciso identificar o corpo.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR/4SEE

10 de junho de 2018

“Aquilo já não é meu”. Passou um ano e Manuel tem o mesmo bigode branco, manchado de amarelo pelos cigarros que fuma compulsivamente, e a mesma pele grossa e torrada, de quem trabalha de sol a sol. O local onde tinha os animais “foi vendido por meia dúzia de euros”, desabafa.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

20 de junho de 2017

“Os bombeiros passaram e disse-lhes: ‘Por favor acudam-me, que eu morro aqui queimada’. E eles disseram: ‘A gente já vem’. Até hoje, nunca mais vieram. Até hoje, nunca mais vieram…”, repete Maria da Assunção. Os cobertos que antes guardavam animais, alimentos, roupas e máquinas tornaram-se entulho.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

10 de junho de 2018

O mesmo entulho em que se transformaram na noite de 17 de junho de 2017. Um ano depois, tudo ou quase tudo continua igual. Um ano depois, Maria da Assunção tem pouco ou quase nada. Há um ano, só pedia para não ser esquecida. Se não foi, parece ter sido.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

17 de junho de 2017

Jorge era ajudado com outra mangueira por João, mais novo e com mais genica, mas com medo. O telhado cai. As telhas partem-se sobre um pequeno altar que havia na sala. Visível de fora através dos vidros das janelas partidos com o calor. Anabela Anjos fugiu com a roupa que tinha no corpo, a única com que ficou.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

10 de junho de 2018

A sala dá agora lugar ao hall de entrada e futura cozinha de Anabela Anjos. Da casa que Jorge tentou salvar das chamas nada ficou. Os destroços foram mandados abaixo e construída uma casa de raiz, no mesmo sítio, com a mesma tipologia.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

18 de junho de 2017

Nesta estrada, numa das entradas para Nodeirinho, dois carros despistaram-se devido ao fumo e ao fogo. Aqui morreu Rodrigo Rosário, de quatro anos. Estava de férias com o tio, Sidel Belchior, de 37 anos, que também morreu.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

10 de junho de 2018

De um ângulo diferente da fotografia anterior, o local é o mesmo. As marcas no alcatrão dos carros queimados ainda perduram e as flores, amarradas a um poste de ferro, também queimado, não fazem esquecer as vidas que se perderam neste exato local.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR