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Pêpê Rapazote, o narrador de "O Sargento na Cela 7", fotografado no estúdio do Observador
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Pêpê Rapazote, o narrador de "O Sargento na Cela 7", fotografado no estúdio do Observador

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Pêpê Rapazote, o narrador de "O Sargento na Cela 7", fotografado no estúdio do Observador

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Pêpê Rapazote, o arquiteto-ator que já foi barão da droga três vezes e dá voz a "O Sargento na Cela 7"

Aos 52 anos, Pêpê Rapazote é um dos mais internacionais atores portugueses. Em "Narcos", "Shameless" e "Maré Negra" fez de barão da droga. Agora, é o narrador de "O Sargento na Cela 7".

Na primeira semana de fevereiro de 2023, Pêpê Rapazote esteve em Madrid, para a apresentação da segunda temporada de “Maré Negra”, a produção luso-espanhola da Amazon Prime Video em que, mais uma vez, como em “Narcos” e “Shameless”, interpreta um barão da droga — a única diferença é que agora não é colombiano nem brasileiro, mas português.

Nem queria acreditar quando, parado na Gran Via, à espera de um amigo, começou a ver gerar-se um burburinho à sua volta. “Não podia andar 30 segundos sem que houvesse famílias atrás de famílias a querer tirar selfies comigo”, conta ao Observador, semanas depois de ter estado nos estúdios do jornal, a narrar o “O Sargento na Cela 7”, o podcast que revela a história de António Lobato, o prisioneiro de guerra que mais tempo passou em cativeiro durante a guerra de África, às mãos do PAIGC e numa prisão da Guiné Conacri — e que só foi libertado ao fim de sete anos e meio, por uma das mais secretas operações militares levadas a cabo pelo Estado português.

"O Sargento na Cela 7" é uma série em seis episódios para ouvir todas as semanas no Observador e em todas as plataformas de podcasts

[Já pode ouvir o primeiro, o segundo e o terceiro episódio da nova série em podcast “O Sargento na Cela 7”]

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“Não vivo nada para este tipo de atenções, mas observo que é extraordinário estar na capital de um país estrangeiro e não conseguir progredir na rua porque toda a gente quer tirar selfies comigo. Foi uma loucura como nunca tinha vivido, nem sequer em Portugal!”, diz o ator, para a seguir revelar o detalhe que o deixou ainda mais surpreendido — e satisfeito.

Em vez de “Chepe”, como lhe chamavam em todo o lado durante a temporada que passou em 2018 a filmar na Argentina —  à conta do personagem com que fez furor no mundo inteiro, ao integrar o elenco fixo da série “Narcos”, da Netflix, “Chepe Santacruz” —, os fãs espanhóis gritavam pelo seu próprio nome (se bem que sem os acentos circunflexos). “Diziam: ‘É o Pepe!’ Antes reconheciam a personagem e agora reconhecem o ator. É uma diferença grande quando isso acontece, ainda por cima internacionalmente. Isto acontecer lá fora é uma conquista fantástica.”

Aos 52 anos, Pêpê Rapazote é um dos poucos atores portugueses que podem gabar-se de serem estrelas no estrangeiro, ainda para mais em países tão improváveis, longínquos e não falantes de português, como a Argentina.

“Não vivo nada para este tipo de atenções, mas observo que é extraordinário estar na capital de um país estrangeiro e não conseguir progredir na rua porque toda a gente quer tirar selfies comigo. Foi uma loucura como nunca tinha vivido, nem sequer em Portugal!”
Pêpê Rapazote, ator

Durante os três meses que passou no país, na rodagem do thriller histórico “Operação Final”, com Ben Kingsley e Oscar Isaac nos principais papéis, não só foi reconhecido em praticamente todos os táxis em que entrou, como comeu de graça em quase todas as refeições que fez fora. “Tive reações como nunca imaginei. Toda a gente me conhecia, não pagava um almoço”, já tinha contado em entrevista ao Observador, no verão de 2018. “E não era oferta de um cliente, era do dono, mesmo, que me pedia para tirar uma foto com o letreiro do espaço por trás. ‘Amanhã volte porque aqui será sempre convidado!’, diziam-me. Lá está, só não lhe chamavam era Pêpê, o diminutivo por que era conhecido na família e o nome artístico que escolheu quando, quase aos 30 anos, se passou a dedicar à representação. Mas, agora, essa última barreira parece ter caído finalmente.

Para gravar os seis episódios de "O Sargento na Cela 7", o ator passou três dias na redação do Observador

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Da “vida fantástica” na “Miami 2” à descoberta da representação perto dos 30

Pedro de Matos Fernandes nasceu a 10 de setembro de 1970, em Lisboa — mas diz que “foi por engano”: as férias grandes passava-as em Braga, em casa dos avós; quando entrou na universidade escolheu o Porto; e bem antes disso, entre 1980 e 1982, teve a oportunidade de viver “uma vida fantástica” em Caracas, capital da Venezuela.

Tinha 9 anos quando chegou, com os pais e os irmãos (Manuel, 21 meses mais velho, e Tiago, mais novo 3 anos) à cidade, na altura uma espécie de “Miami 2”, com arranha-céus por todo o lado e dinheiro a rodos. “O meu pai foi abrir uma filial da construtora Teixeira Duarte e nós fomos com ele. O clima, as estradas, as construções, era tudo diferente. Os edifícios tinham 50 andares de altura, coisa que não existia em Portugal, e havia dinheiro que nunca mais acabava. O que eu recebia lá para o lanche da manhã dava-me para um mês de mesada cá”, conta o ator, que, com os irmãos, foi inscrito num colégio, o Emil Friedman, que ainda hoje recorda, por ter coro e orquestra — e um lema mais do que apropriado, “No Hay Cultura sin Cultura Musical”.

“Sabia que queria qualquer coisa mais do lado das ciências, e com arquitetura podia ter um bocadinho da física, da matemática, das estruturas e também um bocadinho da criatividade”
Pêpê Rapazote, ator

Não foi nessa altura, garante, que o seu interesse pelas artes despontou. O que lhe ficou da experiência venezuelana foi outra coisa, a convicção de que o mundo era demasiado grande e interessante para viver confinado a um único país ou cidade. “Abriu-me completamente a avidez da novidade total e absoluta, a minha vida já não chegava quando percebi a vida que podia haver noutras culturas. A salsa, a vegetação, o clima, as pessoas. Tudo aquilo era diferente.”

Ainda assim, de volta a Portugal e após concluir o secundário no Colégio Moderno, quando teve de escolher o que estudar, a educação tradicional falou mais alto: “Sabia que queria qualquer coisa mais do lado das ciências, e com arquitetura podia ter um bocadinho da física, da matemática, das estruturas e também um bocadinho da criatividade”.

"Depois do teatro, comecei a ter convites de televisão. Em cerca de dois anos e meio ou três, estive em Espanha, Itália, França, e fiz coisas em todas essas línguas. Depois voltei para Portugal e pensei que queria fazer aquilo. Estava excitadíssimo: 'É muito interessante, posso viajar, usar as línguas, é isto que eu quero’. Foi aí que decidi deixar a arquitetura. Não se pode deixar clientes plantados durante seis meses"
Pêpê Rapazote, ator

Como arquiteto, e ainda como Pedro de Matos Fernandes, trabalhou durante vários anos, primeiro em ateliers, depois por conta própria. E continuou a trabalhar quando decidiu ter aulas de teatro amador, quando fez as primeiras peças, quando foi convidado a estrear-se nas novelas e até quando passou a fronteira e começou a ter pequenos papéis em produções internacionais.

No início, e mesmo nessa altura, a representação era “apenas” um hobby. Tinha mais de 30 anos quando decidiu que, afinal, era aquilo que queria fazer, a tempo inteiro. “Depois do teatro, comecei a ter convites de televisão. Era uma fase em que tínhamos muitas co-produções franco-portuguesas. Em cerca de dois anos e meio ou três, estive em Espanha, Itália, França, e fiz coisas em todas essas línguas. Depois voltei para Portugal e pensei que queria fazer aquilo. Estava excitadíssimo: ‘É muito interessante, posso viajar, usar as línguas, é isto que eu quero’. Foi aí que decidi deixar a arquitetura. Não se pode deixar clientes plantados durante seis meses.”

Pêpê Rapazote tinha 30 anos quando decidiu fazer vida da representação, que até aí era apenas um "hobby"

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Depois de “Narcos”, “Shameless” e “La Reina del Sur” é hora de acalmar: “Já estou farto de ser emigrante hard core”

O facto de já não ser um miúdo quando decidiu mudar de vida deu-lhe capacidade para fazer as coisas com alguma ponderação: “Foi uma passagem muito suave. Mesmo a nível financeiro, fui mudando devagarinho, com calma. Não larguei um sem ter o outro garantido”.

Quando percebeu que finalmente podia dizer adeus ao arquiteto Matos Fernandes, tratou de firmar os créditos do ator Pêpê Rapazote e começou a trabalhar para internacionalizar ainda mais a carreira.

"Tenho o meu processo de estudo e de levantamento de agências e de emigração, que fiz durante oito meses, para aí quatro horas por noite, cinco dias por semana, para me lançar para Los Angeles. Portanto, fácil?! Tudo menos fácil. Mas a vontade era tanta que eu dei por mim a ser muito mais consistente, equilibrado, não havia já só a excitação adolescente"
Pêpê Rapazote, ator

Primeiro, em 2005, arranjou um agente em Espanha. Cinco anos mais tarde — já com um extenso currículo na televisão portuguesa, desde “Ajuste de contas”, a primeira novela em que participou, a convite de Francisco Nicholson, até séries como “Malucos do Riso”, “Floribella” e “Bem-vindos a Beirais” —, deu finalmente o salto para os Estados Unidos.

Contado assim, até parece fácil, mas, em conversa com o Observador, Pêpê Rapazote quase se insurge: “Não foi nada, nada, nada fácil! Nada, zero fácil! Aliás, eu tenho o meu processo de estudo e de levantamento de agências e de emigração, que fiz durante oito meses, para aí quatro horas por noite, cinco dias por semana, para me lançar para Los Angeles. Portanto, fácil?! Tudo menos fácil. Mas a vontade era tanta que eu dei por mim a ser muito mais consistente, equilibrado, não havia já só a excitação adolescente”.

Hoje é um dos atores portugueses com maior visibilidade no estrangeiro e participações em séries internacionais de sucesso como "Shameless" ou "Narcos"

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Mais de uma década depois, com sucessos internacionais como “Narcos”, “Shameless” e “La Reina del Sur” no currículo, Pêpê Rapazote, que teve sempre base em Lisboa, onde vivem a mulher, a também atriz Mafalda Vilhena, e as filhas, de 17 e 13 anos, sente que está na hora, não de parar, mas pelo menos de acalmar o ritmo e de não se afastar tanto e durante tanto tempo de Portugal.

“Já estou farto de estar a fazer de emigrante hard core, sozinho, sozinho, sozinho, durante 8 meses, sem vir cá, sem nada. Gosto muito de fazer estas coisas, mas estar tanto tempo longe da família, emocionalmente, espiritualmente, já não compensa. A última vez que estive na Colômbia foi muito duro. E faço muita falta aqui”, confessa.

A parte boa? “Em Espanha ultimamente isto tem explodido muito. O que também me agrada porque em qualquer lugar de Espanha estou sempre a uma hora de casa.”

O seu objetivo a médio prazo, revela o ator, que no início de maio se estreia em “Rabo de Peixe”, da Netflix, é passar para o outro lado do ecrã e dedicar-se também à produção de conteúdos: “Daqui a 15 anos, projeto-me a produzir bastante audiovisual em português e com histórias portuguesas — para o mundo. E com orçamentos que não temos cá; gostava muito de pegar em grandes projetos para grandes plataformas com histórias em português”.

Deixar o mundo do showbizz, onde durante anos houve quem o confundisse com um dos cantores porto-riquenhos mais famosos das últimas décadas — “Cheguei a tirar selfies como Ricky Martin!” —; que lhe permitiu conhecer e contracenar com inúmeras estrelas de Hollywood; e que lhe proporcionou momentos épicos, como aquela vez em que, num festival de televisão em Monte Carlo, viu uma das suas bandas favoritas numa atuação exclusiva — “De repente abre-se a cortina e estão os Kool and the Gang e eu disse: ‘Uau! Isto é um sonho tornado realidade!’” —, é que não está nos planos.

“Já estou farto de estar a fazer de emigrante hard core, sozinho, sozinho, sozinho, durante 8 meses, sem vir cá, sem nada. Gosto muito de fazer estas coisas, mas estar tanto tempo longe da família, emocionalmente, espiritualmente, já não compensa. A última vez que estive na Colômbia foi muito duro. E faço muita falta aqui”
Pêpê Rapazote, ator

Podem sossegar os fãs — que diz que tem em quantidades consideráveis nos países sul-americanos, em Itália e na Turquia, “tudo malta que gosta da malandragem, de coisas com fogo, com cor, com sexo, com traição”.

E pode sossegar, em especial, o adolescente que no passado dia 7 de fevereiro lhe enviou uma mensagem de voz no Instagram. “Dizia qualquer coisa como: ‘Hola, Pepe, sigues vivo, verdad? Es que la jamá sigue llorando’”, conta o ator, para logo a seguir passar, entre risos, à tradução e contextualização. “Pablo Landero”, o personagem que interpreta em “La Reina del Sur”, que no início de 2023 se tornou a segunda série não inglesa mais vista de sempre na Netflix, morreu e, aparentemente, a mãe do rapaz ficou tão inconsolável que ele achou por bem enviar uma mensagem ao ator, para se certificar de que na vida real estava mesmo tudo bem.

Diz que lhe aconteceu inúmeras vezes ser confundido com o cantor Ricky Martin. A certa altura, deixou de tentar explicar que não era o porto-riquenho: “Cheguei a tirar selfies como Ricky Martin!”

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Para não abrir o precedente, Pêpê Rapazote preferiu não responder ao jovem fã, de apenas 14 anos. Podemos garantir por ele: o ator português, um dos mais internacionais da sua geração, continua de boa saúde. Mais: está prestes a estrear-se num novo formato, o da narração de podcasts. É ele a voz de “O Sargento na Cela 7”, o primeiro podcast narrativo do Observador.

“O Sargento na Cela 7” é uma série com seis episódios para ouvir no site do Observador, na Rádio Observador e também nas habituais plataformas de podcast e no Youtube. Todas as terças-feiras é disponibilizado um novo episódio. O guião e as entrevistas são de João Santos Duarte e Tânia Pereirinha. A sonorização e pós-produção áudio são de Diogo Casinha.

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