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As três principais figuras do Estado vão estar presentes no Mundial de 2022 e a estes ainda se junta o secretário de Estado do Desporto. Isto significa que não há nenhum outro país estrangeiro que tenha tanta representação no Qatar como Portugal. Além de Marcelo Rebelo de Sousa, só há mais três países dos 32 participantes em que o chefe de Estado esteve presente (Espanha, Arábia Saudita e Senegal) e, entre os primeiros-ministros, só António Costa e o primeiro-ministro do País de Gales confimaram presença.
Há outros chefes de Governo que fazem depender a presença do sucesso desportivo (casos de Emmanuel Macron ou Olaf Scholz) e governantes que não se deslocam por razões financeiras (como é exemplo o argentino Alberto Fernández). Há 10 países participantes em que os governantes ainda não se pronunciaram sobre a ida de responsáveis políticos, como é exemplo o Brasil ainda liderado por Jair Bolsonaro. A Dinamarca assumiu um boicote na totalidade e ainda teve uma ex-ministra a vestir de arco-íris para desafiar as regras da FIFA. Afinal, do que se sabe até agora, quem decidiu ir ao Qatar, quem decidiu não ir e quem faz depender isso do sucesso desportivo?
Quem decidiu ir ao Qatar
Portugal é claramente o país mais representado na fase de grupos. As três principais figuras da nação vão assistir aos três jogos da fase de grupos: o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, estará presente no jogo contra o Gana; o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, no jogo contra o Uruguai; e o primeiro-ministro, António Costa, no jogo contra a Coreia do Sul. Portugal é o único país que garante a presença do chefe de Governo e do chefe de Estado. Além disso, o governante com a tutela do Desporto (o secretário de Estado, João Paulo Correia) também estará presente no Qatar.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, já veio retirar peso a esta reforçada presença portuguesa. Na terça-feira, o governante disse que as presenças pretendem “simbolizar todo o apoio da nação portuguesa à nossa equipa de futebol”. E acrescentou: “Não vão participar em discussões com o Qatar.”
Além de Portugal, das 32 seleções presentes, só mais duas já têm garantida a presença do chefe de Estado: Espanha, Arábia Saudita e Senegal. No caso espanhol, o rei Filipe VI assistiu na quarta-feira à vitória da seleção espanhola por 7-0 frente à Costa Rica. O monarca foi alvo de várias críticas pela esquerda parlamentar. O líder parlamentar do Unidos Podemos, Paulo Echenique, por exemplo, escreveu no Twitter: “Não falha. Onde quer que haja uma teocracia árabe ditatorial, assassina, sexista, homofóbica e ‘petrodólar’, os Bourbons [família real espanhola] são rápidos a ir”.
Pela Arábia Saudita, o príncipe Mohammed bin Salman Al Saud fez questão de participar na cerimónia de abertura, mas não assistiu à surpreendente vitória do país sobre a Argentina. Decretou, no entanto, que seria feriado nacional como forma de celebração. Também presente na cerimónia de abertura esteve o presidente do Senegal, Macky Sall.
Além de António Costa, que já confirmou a presença, o único primeiro-ministro que viajou até ao Qatar foi o galês Mark Drakeford. Apesar de destacar que devem ser considerados os líderes que decidiram não viajar ao Qatar por razões políticas, Mark Drakeford, citado pelo The Guardian, disse que os galeses não iam compreender a cadeira vazia e que estar era uma “oportunidade muito especial de promover o País de Gales no cenário mundial”. O primeiro-ministro dos Países Baixos, Mark Rutte, ainda não disse quando irá, mas é previsível que se desloque ao país, pois tem defendido a presença naquele país. Disse frases como: “Também é importante para os direitos humanos que não se cortem os laços diplomáticos.”
Houve depois dois países que enviaram o número dois do Governo: a Costa Rica, que enviou a vice-presidente Mary Munive (também ministra com a pasta do desporto) e o Ecuador, representado pelo vice-presidente Alfredo Borrero no jogo de abertura do Mundial contra a seleção anfitriã.
O Japão também decidiu enviar um membro da família real: a princesa Hisako que chegará ao Qatar no dia 26 de novembro para assistir no dia seguinte ao jogo do Japão contra a Costa Rica e no dia 1 de dezembro ao jogo da seleção nipónica contra a Espanha.
Vários outros países de seleções participantes optaram, neste primeiro momento, por enviar apenas ministros, maioritariamente governantes com a pasta dos Negócios Estrangeiros e do Desporto. Os EUA estão representados no Qatar pelo secretário de Estado, que é o chefe da diplomacia norte-americana, Anthony Blinken. O presidente dos EUA, Joe Biden, ficou-se, para já, por fazer uma chamada para a seleção norte-americana. O vizinho México também se fez representar pela seu responsável diplomático, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Marcelo Ebrard. Ainda da América do Norte, o ministro do Desenvolvimento Internacional, Harjit Sajjan, foi o enviado do Canadá.
O Reino Unido também se fez representar pelo ministro (Secretary of State) dos Negócios Estrangeiros, James Cleverly, tal como a Bélgica foi representada, até agora, pela ministra dos Negócios Estrangeiros, Hadja Lahbib. A belga fez notar o seu protesto, utilizando uma braçadeira arco-íris, que representa a defesa dos direitos LGBTQI+ e que é proibida pela FIFA. Quem também utilizou a braçadeira arco-íris foi a ministra do Interior da Alemanha, Nancy Faeser.
A França foi representada no Qatar pelo ministro do Interior, Gérald Darmanin. Outros países optaram por enviar os ministros com a pasta do Desporto, como foi o caso da Austrália, através de Anika Wells, e do Irão, representado por Hamid Sajjadi. A seleção do Irão fez um forte protesto contra a repressão (e o Governo) do seu país ao não cantar o hino nacional no primeiro jogo do Mundial em que participou.
Mais original quanto ao titular da pasta foi a Suíça. O país, conhecido por ser o ‘banco do mundo’, decidiu enviar o ministro das Finanças, Ueli Maurer, que vai assistir ao jogo da seleção helvética contra o Brasil.
Quem não tem seleção representada, mas foi na mesma
Há vários países que se fizeram representar ao mais alto nível no Qatar, mesmo sem que as respetivas seleções tenham conseguido o apuramento para o Mundial. A esmagadora maioria desses países são do mundo árabe. Na cerimónia de abertura esteve presente o rei da Jordânia, Abdullah II, o presidente da Argélia, Abdelmadjid Tebboune, o presidente do Egito, Abdel Fattah el-Sisi, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, o príncipe herdeiro do Kuwait, Sheikh Mishal Al Ahmad Al Jaber Al Sabah, o ice-presidente, primeiro-ministro dos Emirados Árabes Unidos e governante do Dubai, Sheikh Mohammed bin Rashid Al Maktoum, o primeiro-ministro interino do Líbano, Najib Mikati.
Fora do mundo árabe, estiveram ainda presentes o presidente do Ruanda, Paul Kagame, o presidente da Libéria e antigo Bola de Ouro, George Weah, o vice-presidente da Índia, Jagdeep Dhankhar, a vice-presidente da Venezuela, Delcy Eloina Rodriguez, e o assessor do presidente russo, Igor Levitin. Esteve ainda presente o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Quem só vai se houver sucesso desportivo
Há ainda chefes de Estado e de Governo que fazem depender a sua ida ao Qatar do sucesso desportivo das respetivas seleções. O presidente francês já defendeu publicamente que o “desporto não deve ser politizado” e advertiu que as questões que agora se colocam devem ser colocadas “quando é escolhido o país anfitrião”. Emmanuel Macron já fez saber também que irá deslocar-se ao país caso a seleção francesa consiga qualificar-se para as meias-finais do Mundial. Na mesma linha, o primeiro-ministro belga, Alexander De Croo e o rei Filipe só se vão deslocar àquele país caso a seleção chegue às meias-finais da competição.
Nenhum ministro espanhol acompanhou o rei ao Qatar, mas este boicote do palácio da Moncloa não vai durar sempre. O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchéz, deverá ir ao Mundial caso a seleção espanhola chegue à final da competição. A mesma postura será a do chanceler Olaf Scholz que já fez saber, através do seu porta-voz que irá analisar a presença no Mundial caso a Mannschaft chegue à final da competição.
Alguns políticos portugueses — que participam à vez nas três partidas da fase de grupos –, sabe o Observador, também não descartam voltar ao Qatar caso Portugal chegue à final da competição.
Quem não vai ao Qatar
O novo primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, deixou claro que ”não planeia” deslocar-se ao Qatar, sem dar grandes justificações. A mulher de Sunak tem investimentos em comum com membros da família real do Qatar, que foram noticiados após ter chegado ao número 10 de Downing Street.
O Governo da Dinamarca, incluindo a primeira-ministra Mette Frederiksen, não marcará presença no Qatar. O mesmo acontecerá com ministros ou com a família real. A ex-primeira-ministra da Dinamarca, Helle Thorning-Schmidt, marcou presença, mas com o vestido arco-íris, contrariando as regras da FIFA.
Há ainda o caso do presidente da Argentina, Alberto Fernández, que deixou claro que nenhum membro do seu gabinete se deve deslocar àquele país tendo a crise económica que o país enfrenta. Ou seja: a razão da ausência não é política, mas financeira.
Países como o Gana, os Camarões, o Brasil, a Coreia do Sul, a Croácia, a Polónia, a Tunísia, o Uruguai, Marrocos ou a Sérvia ainda não confirmaram a presença de nenhum governante no Qatar.
Quem não participa e diz claramente que o faz por razões políticas são os mais altos representantes das instituições comunitárias. A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, o presidente do Conselho, Charles Michel, e a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, não se deslocam ao país em protesto pelo desrespeito do regime catari relativamente aos Direitos Humanos. A mesma posição tem o Alto Representante para a Política Externa, Josep Borrel.