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PP ganha, PSOE não perde e maioria até será mais fácil à esquerda. Espanha arrisca-se a viver um novo bloqueio político

PP foi o partido mais votado e com maior número de deputados, mas Sánchez tem os independentistas consigo. Feijóo reclama direito a formar Governo e pede ao PSOE que não bloqueie Espanha.

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Xeque ao rei. As duas principais forças políticas espanholas, PSOE e PP, terminaram a noite de eleições gerais com um sorriso na cara. Alberto Núñez Feijóo reivindicou o seu direito a governar — foi o partido mais votado e aquele que garantiu maior número de assentos parlamentares (136) —, enquanto Pedro Sánchez fez questão de dizer que o PP tinha sido derrotado. Nenhum dos dois tem uma maioria que lhes garanta governar o país sem aliados e os próximos dias serão de negociação, até que o rei de Espanha chame um dos dois e convide o escolhido a formar governo.

Apesar do discurso de Feijóo, que pediu aos socialistas espanhóis que não bloqueiem a formação de um Governo, é Sánchez quem tem os números a seu favor. Olhando apenas para os quatro partidos mais votados (que têm 322 dos 350 assentos), a direita até vai na dianteira, mas longe da maioria necessária para governar sem bloqueios (176 deputados no Congresso). Os votos do PP e do Vox, o partido de extrema-direita de Santiago Abascal, somam 169 lugares, enquanto o PSOE e a coligação Sumar, liderada por Yolanda Díaz, têm 153 deputados.

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E é aqui que Feijóo se vê numa encruzilhada mais apertada que a de Sánchez, depois de o socialista ter mostrado, na última legislatura, que não tem problemas em fazer acordos com os mais diversos partidos. Assim, é preciso olhar para todo o espectro político espanhol, incluindo movimentos autonómicos: por esse caminho, Sánchez tem a opção de formar um governo Frankenstein (ou uma geringonça à espanhola) mais facilmente do que o Partido Popular.

Feijóo tem menos opções: se, por um lado, poderá ser fácil conseguir o apoio de dois partidos conservadores regionais — a CCa, Coligação Canária, que quer mais autonomia, mas não exige a independência das ilhas, e a UPN, União do Povo Navarro, opositora do nacionalismo basco — há um terceiro partido que, mesmo sendo de centro-direita, poderá complicar a vida do líder popular. O PNV, Partido Nacionalista Basco, poderá aceitar ajudar Feijóo, mas essa disponibilidade desaparece rapidamente se os populares cederem ao Vox pastas no Governo.

Essa opção não seria a preferida de Feijóo que, durante a campanha eleitoral, foi-se afastando de Abascal, chegando a dizer que o Vox não era o seu parceiro ideal. Feijóo preferia sonhar com uma abstenção do PSOE na investidura que lhe permitisse chegar a Presidente do governo espanhol. Mas, voltando às contas, sem os bascos, Feijóo só consegue garantir 171 lugares, precisando dos cinco assentos do PNV para respirar de alívio com 176 deputados a apoiá-lo e ao seu Governo. É a sua única hipótese de conseguir a maioria.

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"Não bloqueiem Espanha", pediu Feijóo, do PP

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Em contrapartida, em noite de eleições, alguns dos partidos independentistas deram sinais claros de que estarão com Sánchez, como o ERC, a Esquerda Republicana da Catalunha, ou o Junts per Catalunya, partido fundado em 2020 pelo exilado Carles Puigdemont. Mas esse apoio paga-se caro e isso leu-se nas entrelinhas dos discursos de Míriam Nogueras e de Gabriel Rufián (ERC).

A candidata do Junts per Catalunya deixou o alerta à esquerda: “Não faremos de Pedro Sánchez presidente sem nada em troca.” As coisas têm de começar a ser feitas de forma diferente, defendeu Míriam Nogueras, garantindo que o partido vai manter a sua posição. “A nossa prioridade é a Catalunha, não a governação do Estado espanhol. E não nos vamos mexer um centímetro, porque temos memória e Pedro Sánchez tem dívidas pendentes”, frisou.

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Já Rufián frisou que “o movimento independentista pode fazer pender a balança” política, colocando-se à disposição de Sánchez e Díaz para negociar: “Se eles querem governar o seu país, devem respeitar o nosso.”

PSOE, Sumar, ERC e Junts só somam 167 lugares e é preciso mais, como o deputado eleito pelo BNG, o Bloco Nacionalista Galego, e os seis lugares do Euskal Herria Bildu, partido separatista radical, herdeiro do Batasuna (braço político da ETA) e que teve nas suas listas antigos militantes do grupo armado, sete deles condenados a penas de prisão por assassinato.

Neste cenário, cedendo em todas as direções, Sánchez segue com 174 assentos. Faltam-lhe dois para a maioria, e pode tentar acordos com o PNV, o CCa ou a UPN.

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"O PP e o Vox saíram derrotados", disse Pedro Sánchez, líder do PSOE

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Feijóo: “Peço expressamente que não bloqueiem o Governo de Espanha uma vez mais”

O discurso de Alberto Núñez Feijóo não deixou margem para dúvidas: foi o seu partido quem ganhou as eleições e é ele quem deve ser o próximo presidente do governo espanhol. Para argumentar, o líder dos populares foi buscar exemplos ao passado, frisando que quem ganha as eleições forma governo. No entanto, e Feijóo sabe-o, a constituição espanhola não obriga a que assim seja e o rei pode convidar a formar governo o candidato que tiver maior apoio no parlamento.

Sabendo de antemão o que Sánchez pode fazer, Feijóo falou diretamente ao adversário: “Ao partido que perdeu as eleições, aos socialistas, peço expressamente que não bloqueiem o Governo de Espanha uma vez mais.” Quanto aos resultados, o líder dos populares pode estar satisfeito: conseguiu 136 assentos, mais 47 em relação aos que o PP tinha em 2019 (89).

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“Passamos de segunda força política para o partido mais votado”, sublinhou no seu discurso de vitória. “Nunca antes o nosso partido subiu com tanta intensidade numas eleições gerais”, acrescentou Feijóo, frisando que tal resultado seria impossível há um ano e meio quando o partido, antes de se tornar líder, vivia uma enorme crise política.

Por tudo isto, o líder do PP considera ter motivos de sobra para festejar. No imediato, traçou o seu caminho: estará aberto ao diálogo com todas as forças democráticas. O que pede aos adversários é que não voltem a bloquear Espanha.

Vox a postos para ir de novo às urnas

Se o PP ganhou, o Vox perdeu e, na opinião, de Santiago Abascal terá sido vítima do voto útil da direita. O partido de extrema direita, que desejava chegar ao Governo coligado com os populares, manteve-se a terceira força mais votada em Espanha, mas com apenas 33 lugares no parlamento, menos 19 do que em 2019.

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"Estamos preparados para fazer oposição", disse Santiago Abascal, do Vox

Europa Press via Getty Images

Sabendo que sem acordos e sem maiorias, Espanha volta a bloquear, Abascal deixou claro que não tem medo do que se pode seguir, ou seja, uma segunda ida às urnas. “Estamos preparados para uma repetição eleitoral em que voltaremos as levantar as mesmas bandeiras.”

Abascal considerou que o seu é o único partido em Espanha que se vê obrigado a fazer uma campanha eleitoral debaixo de violência e criticou a forma como foi conduzido esse período. “Alertamos, durante toda a campanha, para o perigo de sondagens manipuladas”, já que acredita que a consequência foi “uma clara desmobilização” dos eleitores. O líder do partido de extrema direita criticou também o “apelo ao voto útil”, “desmobilizando a alternativa e contribuindo para a diabolização do Vox”.

O futuro? “Vamos resistir. Espanha vai resistir. Estamos preparados para fazer oposição e para uma repetição eleitoral em que voltaremos as levantar as mesmas bandeiras.”

Para Sánchez, ficaram críticas. “Mesmo perdendo as eleições, pode bloquear uma investidura”, recorrendo ao apoio dos independentistas, separatistas e terroristas, “agora com mais capacidade para fazer chantagem”.

Sánchez canta vitória falando na derrota do PP

Mesmo que o resultado da coligação com a Sumar não tenha sido suficiente para governar, o PSOE aumentou o número de votos e o número de deputados no parlamento (mais dois), suficiente para Pedro Sánchez fazer um discurso ao estilo de quem pretende continuar a liderar o governo espanhol.

Embora não tenha reclamado o direito a formar governo, como fez Feijóo, Sánchez escolheu outra direção: apontar o fracasso que, na sua opinião, foi o que sobrou aos seus adversários nesta noite eleitoral.

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“Aqueles que queriam o retrocesso de direitos e liberdades fracassaram, o PP e o Vox saíram derrotados”, sublinhou Pedro Sánchez. “Somos muitos mais os que queremos que Espanha continue a avançar”, disse o líder dos socialistas espanhóis, destacando o que considera ser uma vitória clara já que o partido conseguiu mais votos e garantiu mais lugares do que há quatro anos.

Sumar fica em quarto lugar, mas Díaz está pronta para formar governo

Aquilo que Pedro Sánchez não disse com todas as letras, acabou por sair da boca de Yolanda Díaz, a sua vice-presidente no atual governo. A líder da coligação Sumar, que se batia com o Vox pelo terceiro lugar nas eleições, está pronta para negociar o próximo executivo espanhol.

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“A esperança venceu o medo", disse Yolanda Díaz da coligação Sumar

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“A partir de amanhã iniciarei o diálogo com todas as forças e formações progressistas para garantir o governo”, disse a candidata de Sumar, no seu discurso da noite eleitoral. “A esperança venceu o medo”, acrescentou Yolanda Díaz. A sua coligação conseguiu eleger pela primeira vez 31 deputados, mas não foram suficientes para ultrapassar os 33 do Vox, deixando a Sumar como quarta força mais votada.

Apesar de não ter alcançado o objetivo de passar o Vox, nem de ter conseguido uma soma de deputados confortável com o PSOE, Díaz foi otimista. “Ganhámos (…) A democracia está fortalecida. Hoje temos um país melhor”, afirmou.

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