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Retrato de um homem que se acredita ser Cristóvão Colombo, executado em 1519, 13 anos após a morte do navegador, pelo pintor italiano Sebastiano del Piombo
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Retrato de um homem que se acredita ser Cristóvão Colombo, executado em 1519, 13 anos após a morte do navegador, pelo pintor italiano Sebastiano del Piombo

Wikimedia Commons

Retrato de um homem que se acredita ser Cristóvão Colombo, executado em 1519, 13 anos após a morte do navegador, pelo pintor italiano Sebastiano del Piombo

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Pré-publicação. A ascensão de Cristóvão Colombo, que navegou todos os mares conhecidos

Em "No Limiar da História", o historiador Patrick Wyman relata a vida de nove indivíduos que simbolizam uma época: 1490 a 1530. O Observador pré-publica um excerto do capítulo sobre Cristóvão Colombo.

O recente livro de Patrick Wyman, antigo jornalista, historiador e autor do podcast “Fall of Rome”, é dedicado a um período de quatro décadas. Estes 40 anos não são 40 anos quaisquer. Nas palavras do autor, trata-se de um período “relevante no grande esquema da História”, uma época de “mudanças extraordinárias na vida e na sociedade europeias com implicações de grande alcance para o futuro do mundo”. 

Para ilustrar os grandes acontecimentos ocorridos entre 1490 e 1530, Patrick Wyman escolheu “nove indivíduos para servirem de janelas a esta história, pessoas reais que incarnaram os temas principais do capital, do Estado, da guerra e da imprensa nas suas vidas correntes, que tanto os impulsionaram como os sentiram passivamente”. Entre estas figuras contam-se D. Isabel de Castela, o sultão otomano Solimão, o Magnífico, ou Cristóvão Colombo, cuja vida e obra ocupa o primeiro capítulo de No Limiar da História, que chega às livrarias portuguesas a 13 de junho, com a chancela da Objectiva. 

Em antecipação da publicação, o Observador pré-publica um excerto desse capítulo inicial, “Cristóvão Colombo e a Exploração”, que fala sobre a ascensão do navegador, os seus planos marítimos e a difícil procura por um financiador, que o levou de Portugal a Espanha.

O livro é publicado em Portugal a 13 de junho, pela Objectiva

Capítulo 1

Cristóvão Colombo e a Exploração

A Ascensão de Cristóvão Colombo

Os mercadores e financiadores que apostavam no risco não eram a única exportação de Génova; o porto profundo e protegido também produziu alguns dos marinheiros e navegadores tecnicamente mais aptos da época. Um desses homens nasceu na cidade no início da década de 1450, filho e neto de tecelões pobres da próspera indústria têxtil de Génova. O seu nome era Cristóvão Colombo, e passaria o resto de uma vida agitada a fugir às suas origens.

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Colombo definiu-se por um sentido de ambição ardente em cada fase da sua vida. Como todos os filhos de Génova, Colombo sabia que o mar oferecia um caminho trilhado para a riqueza e o progresso. Sentia muita vergonha da sua origem humilde e obscurecia-a ativamente sempre que possível, criando espaço para que comentadores modernos adversos e dados à conspiração o apontassem como castelhano, português ou judeu. Ele não era nada disso, apenas alguém determinado a deixar a sua proveniência para trás.

A pulsão avassaladora de Colombo pelo sucesso extravasava muitas vezes para a autoglorificação. Podia ser insuportável, jactancioso e rude, com muito pouca consciência dos seus muitos defeitos e fraquezas. Mais preocupante ainda era a tendência para compensar em demasia quando tinha realmente consciência deles, algo que viria a ter efeitos trágicos durante o tempo em que foi governador-geral dos novos territórios espanhóis nas Caraíbas.

Contudo, ao mesmo tempo, Colombo era um marinheiro deveras proficiente e senhor de, no mínimo, alguma dose de carisma. Possuía dotes mentais em estado natural: Andrés Bernáldez, seu amigo e cronista, descreveu-o como homem de «grande intelecto, mas pouca educação». A ambição de Colombo podia exprimir-se em solilóquios arrogantes e mal planeados acerca da sua grandeza — brindou o rei de Portugal com um particularmente irritante depois de regressar em 1493—, mas também na demanda infatigável dos seus objetivos, quaisquer que fossem.

Colombo definiu-se por um sentido de ambição ardente em cada fase da sua vida. Como todos os filhos de Génova, Colombo sabia que o mar oferecia um caminho trilhado para a riqueza e o progresso. Sentia muita vergonha da sua origem humilde e obscurecia-a ativamente sempre que possível.

Quando foi, ao certo, que adotou a vida de marinheiro mediterrânico é algo que não se pode precisar, à semelhança de muitas outras coisas na vida de Colombo. O hábito que veio depois a desenvolver, de criar um registo glorioso dos seus feitos passados, tolda grande parte desse período. Um dos raros documentos genoveses que o referem declara que ainda trabalhava em certa medida no negócio da lã com o pai em 1472, mas pode ter ido para o mar pela primeira vez antes disso, enquanto adolescente, na década de 1460. Em meados da década de 1470 parece ter-se tornado marinheiro a tempo inteiro e, na verdade, bastante viajado. Não é fácil reconstruir o itinerário exato ou a cronologia das viagens que realizou, sobretudo tendo em conta a sua tendência para mentir e exagerar. Na década seguinte, porém, parecem tê-lo levado até aos limites mais remotos do Mediterrâneo e do Atlântico.

Suportou os mares agitados e propulsores do Atlântico Norte em viagens a Inglaterra e à Irlanda, e talvez mais para lá, até à Islândia. Uma corrente para oeste levou-o aos Açores, ilhas descobertas havia pouco tempo e que estavam a tornar-se fontes de grande riqueza como centro de produção de açúcar. O comércio de alúmen, um sal necessário para o grande negócio da indústria têxtil, levou-o à ilha egeia de Quios, no Leste distante. Sentiu os ventos ásperos e cortantes que sopravam do Sara numa viagem para sul, até ao abrasador golfo da Guiné, que na altura era o limite do mundo conhecido.

Em meados da década de 1480, o marinheiro genovês tinha adquirido um grau de experiência que poucos dos seus contemporâneos podiam igualar. Nenhuma das viagens de Colombo foi extraordinária para um marinheiro genovês: os navios genoveses e estrangeiros, tripulados por marinheiros habilitados da cidade, percorriam com regularidade as movimentadas rotas atlânticas que conduziam ao norte da Europa, às ilhas do Atlântico e, para sul, à África Ocidental. Porém, que um homem fosse a todos esses lugares, da Islândia a Quios e à Guiné, era algo singular. Mesmo concedendo alguma margem para a sua habitual autoestima, impõe-se a avaliação que Colombo faz de si mesmo: «Naveguei em cada mar já percorrido», escreveu mais tarde, e Deus «dotou-me profusamente com a arte da marinharia». No decurso dessas viagens, acumulou um extraordinário conhecimento prático das correntes e ventos do Atlântico. Também aprendeu como essas viagens a longa distância — rotineiras mas diabolicamente complicadas em termos financeiros e logísticos— eram custeadas e organizadas.

Em determinado momento, o mais provável no final da década de 1470, Colombo mudou-se em definitivo para Portugal. Da sua nova casa em Lisboa, o marinheiro genovês estava na vanguarda de um mundo em expansão e cada vez mais complicado.

Colombo era um marinheiro deveras proficiente e senhor de, no mínimo, alguma dose de carisma. Possuía dotes mentais em estado natural: Andrés Bernáldez, seu amigo e cronista, descreveu-o como homem de «grande intelecto, mas pouca educação».

Em 1475, a Coroa portuguesa retomou o monopólio comercial do mercador de Lisboa, Fernão Gomes. É quase certo que o motivo foi o início da guerra civil na Península Ibérica, concretamente em torno do ambicionado trono de Castela, um dos maiores reinos da península. Voltaremos a este assunto com mais pormenor no capítulo seguinte, mas por agora basta referir que a subida da rainha D. Isabel ao trono esteve longe de ser harmoniosa. Afonso V de Portugal era casado com a sua sobrinha Joana, outra potencial pretendente à Coroa de Castela. Em 1475 eclodiu a guerra entre os dois lados e D. Isabel saiu vitoriosa graças à ajuda do marido, D. Fernando, que em breve seria rei de Aragão.

A vitória de D. Isabel (e a derrota de D. Afonso V) desencadeou o processo de construção do Estado espanhol, mas também teve efeitos importantes nos primórdios do Atlântico percorrido por Colombo. Os Portugueses nunca haviam desfrutado do monopólio total do comércio africano; operadores franceses, flamengos e, sobretudo, castelhanos, desafiaram repetidamente essa hegemonia, com mais sucesso nas ilhas Canárias. Os Portugueses não se preocupavam com essas viagens especulativas desde que as taxas de licenciamento requeridas fossem pagas. A guerra pelo trono de Castela transformou toda essa orla atlântica numa zona de guerra. Entre 1475 e 1478, os navios castelhanos efetuaram viagens esclavagistas e mercantis à África Ocidental e ocuparam várias ilhas de Cabo Verde. Todavia, em termos genéricos, a guerra no mar foi de feição para os Portugueses. Uma importante batalha naval ao largo da costa da Guiné, em 1478, resultou em vitória portuguesa. O acordo alcançado com o Tratado de Alcáçovas, de 1479, cedia as Canárias a Castela e as outras ilhas atlânticas a Portugal. O comércio da África Ocidental caberia aos Portugueses, bem como tudo o que estivesse para lá do que era conhecido na altura.

Em determinado momento, o mais provável no final da década de 1470, Colombo mudou-se em definitivo para Portugal. Da sua nova casa em Lisboa, o marinheiro genovês estava na vanguarda de um mundo em expansão e cada vez mais complicado.

Duas facetas notáveis dos aspectos marítimos deste conflito merecem atenção. A primeira é o grau de envolvimento régio, tanto da parte de castelhanos como de portugueses. Anteriormente, os reis de Portugal tinham-se satisfeito com o seu quinhão nos lucros das viagens licenciadas e os pagamentos de monopólios. No entanto, D. Afonso V via o controlo do comércio africano como um projeto sobretudo real e uma fonte de rendimento que precisava de ser protegida. A Coroa de Castela, pelo contrário, estava menos envolvida do que a portuguesa. Queria a sua comissão financeira — 20% — das  expedições licenciadas durante a guerra e todas as ilhas do Atlântico: os Açores, a Madeira, as Canárias e as ilhas de Cabo Verde. Embora D. Isabel só ficasse com as Canárias, ainda assim esse desejo assinalava um interesse direto muito maior nos empreendimentos do Atlântico do que antes.

O segundo aspecto é a escala. A frota castelhana que os portugueses derrotaram em 1478 era composta por trinta e cinco navios, todos valiosamente carregados com marfim, ouro e mercadoria humana na época. Esses trinta e cinco navios representavam uma elevada aposta financeira da parte dos financiadores, dos quais a Coroa castelhana era apenas um, e o retorno do investimento teria sido demasiado elevado se os navios chegassem a bom porto. Primeiro Fernão Gomes, depois a Coroa portuguesa e agora os Castelhanos, podiam ver a que ponto havia dinheiro a ganhar com esses empreendimentos. Graças a esses lucros, Colombo foi o beneficiário direto do conflito.

O Plano de Colombo

Colombo cavalgou a onda do aumento de interesse por este tipo de viagens ao longo da década de 1480. Viajou contra ventos agrestes a leste da Madeira, em 1478, como agente de uma substancial corporação genovesa de compra de açúcar, a Centurione. Este negócio demasiado lucrativo (e em expansão) do açúcar também explica as viagens que na época realizou aos Açores e às Canárias. Colombo foi ainda mais longe: sentiu o calor opressivo e húmido da costa da Guiné numa viagem à novíssima feitoria portuguesa de São Jorge da Mina, algures entre 1482 e 1484, talvez para negociar marfim, ouro e escravos. O volume deste tráfico aumentou ano após ano, tal como os lucros para os mercadores-banqueiros e a Coroa portuguesa. À medida que o Atlântico se abria e o dinheiro fluía, Colombo criou o seu caminho da irrelevância para o poder. Casou com uma nobre portuguesa empobrecida, Filipa Moniz Perestrelo, e teve com ela um filho, Diego, que viria a tornar-se o foco das suas ambições dinásticas.

Em meados da década de 1480, Colombo começava a formular o plano pelo qual viria a ficar famoso. A experiência havia feito dele um especialista do Atlântico. O conhecimento prático, adquirido com as dificuldades, contribuiu em muito, e Colombo foi acrescentando a essa base um suprimento mais teórico de geografia e cartografia. A nova tecnologia de impressão revelou-se fundamental na sua formação, e a difusão da primeira possibilitou que um autodidata sem muita educação formal adquirisse um saber mais de elite. As obras que leu repetidas vezes estavam todas impressas, em vez das anteriores cópias manuscritas. Os exemplares chegaram à pequena biblioteca de Colombo vindos de Lovaina, Antuérpia, Sevilha e Veneza.

Cristóvão Colombo ajoelhado em frente a Isabel I de Castela

Wikimedia Commons

A geografia, tanto prática como teórica, era um tópico muito discutido e abordado por escrito nos primórdios do mundo atlântico de Colombo. Como iremos ver, D. João II de Portugal mantinha em seu redor, a todo o tempo, um círculo de conselheiros instruídos. Os antigos textos geográficos de homens como Ptolemeu eram necessários para se possuir uma compreensão fundamental do tema, e Colombo estava muito familiarizado com eles. Também leu obras mais recentes, em particular a Imago Mundi, do início do século xv e da autoria do cardeal francês Pierre d’Ailly. Leu voraz e ativamente, anotando os textos como um verdadeiro estudante. A edição do livro de Marco Polo que possuía exibe 366 notas alusivas a tudo, desde as especiarias de Java e as pérolas do Japão aos recursos do khan mongol para treinar águias caçadoras. As leituras de Colombo não eram particularmente críticas, mas forneceram-lhe uma reserva de informação erudita para consolidar as suas aptidões práticas.

O referido cardeal Pierre d’Ailly foi o autor que teve, de longe, a maior influência na educação de Colombo. Foi também responsável, de um modo direto, pela convicção catastroficamente errada de Colombo de que o planeta era muito mais pequeno do que facto é. Esta «visão» fundamental foi reforçada pelos devaneios, então em voga, do cosmógrafo florentino Paolo dal Pozzo Toscanelli, que foi mais longe ao defender não só que o globo era mais pequeno, mas que o Atlântico era mais estreito. Colombo conhecia Toscanelli, nomeadamente através de uma carta que este enviou ao rei de Portugal em 1474 a sintetizar as suas conceções. É importante salientar que, não obstante as suas leituras nada críticas, Colombo não era o único que acreditava nisto. Alguns dos geógrafos e cartógrafos mais importantes da época também estavam errados. Contudo, nenhum deles lutou tão encarecidamente por essa causa errada quanto ele.

Em dado momento da década de 1480, Colombo começou a interceder para viajar para ocidente, Atlântico adentro. A história que contou mais tarde foi de uma confiança ininterrupta e inquebrantável, um plano pormenorizado e congeminado na íntegra na sua mente brilhante. Claro que isto estava longe da verdade. O objetivo da sua viagem pode ter sido as Índias, como depois afirmou, mas havia outros destinos igualmente plausíveis: os Antípodas, o continente desde havia muito presumido, mas desconhecido, que muitos pensavam existir do lado contrário à Eurásia; ou mais ilhas atlânticas como a Madeira e os Açores, cuja exploração já se havia revelado lucrativa para a Coroa portuguesa e para os mercadores genoveses de açúcar de quem Colombo fora agente.

Todavia, para o seu plano poder avançar Colombo precisava de uma licença régia. Os monarcas ibéricos —D. João II de Portugal e a monarquia dual de D. Isabel e D. Fernando em Castela ne Aragão— eram o meio mais promissor de a alcançar.

O Atlântico Português

O ano de 1484 foi, provavelmente, aquele em que Colombo fez a primeira abordagem a D. João II. Era uma altura propícia para defender uma viagem exploratória de longa distância junto do monarca português: D. João II foi um estadista clássico de modelo medieval tardio que se propôs explicitamente consolidar o poder e a segurança financeira das instituições centrais em Portugal. Este é um processo que aprofundaremos no próximo capítulo. O que é aqui digno de nota é como, para D. João II, o processo de construção do Estado se manifestava por um interesse régio concreto e pelo controlo do comércio e das viagens ultramarinas de exploração. Onde os seus antecessores apenas desejaram uma participação nos rendimentos, D. João II queria que toda a atividade comercial em África passasse pela casa real. A fundação da feitoria em São Jorge da Mina, na Costa do Ouro, que Colombo deve ter visitado na sua viagem ao golfo da Guiné, foi um projeto explicitamente régio.

Enquanto chegavam os proventos dos empreendimentos africanos, D. João II promoveu a continuação das viagens exploratórias para sul que o mercador Fernão Gomes iniciou ao longo da costa. Duas — ou, o mais provável, três — expedições sob o comando de Diogo Cão, entre 1482 e 1486, foram além do equador, até ao rio Congo e depois subindo por este, e mais a sul até às costas da atual Angola e Namíbia. A rentabilidade do comércio em curso instalado em África constituía uma justificação fácil para mais explorações; se o ouro, o marfim e as gentes a escravizar estavam presentes em tais quantidades na Guiné, o que se poderia encontrar mais para sul?

À medida que o Atlântico se abria e o dinheiro fluía, Colombo criou o seu caminho da irrelevância para o poder. Casou com uma nobre portuguesa empobrecida, Filipa Moniz Perestrelo, e teve com ela um filho, Diego, que viria a tornar-se o foco das suas ambições dinásticas.

As oportunidades comerciais eram uma razão para financiar viagens exploratórias dispendiosas, mas havia outros fatores em jogo. Um deles era a guerra em curso contra os postos avançados ocidentais do mundo islâmico no norte de África. Durante séculos vigorou a lenda de que um rei cristão de grande riqueza e poder, Prestes João, reinava em segredo para lá dos territórios muçulmanos. Se conseguissem estabelecer contacto com esse monarca mítico, talvez o Islão pudesse ser derrotado de uma vez por todas e a Terra Santa voltasse para o domínio cristão. Isto apelava a uma propensão para acreditar num destino messiânico que circulava nas veias da família real portuguesa, em particular nas do sucessor de D. João II, D. Manuel I. A segunda razão era mais comercial: as Índias eram a origem de mercadorias excecionalmente valiosas. As especiarias tinham sempre grande procura, e todo o mercador competente sabia que os estados muçulmanos do Egito e do Império Otomano bloqueavam o acesso direto a estas mercadorias e cobravam comissões elevadas como intermediários. Contorná-los e ir direito à fonte constituía uma oportunidade comercial de valor incalculável.

Seguir para sul para encontrar a extremidade de África acabaria por levar os viajantes à Índia, mas Colombo tinha outra opção: se fosse certo que o Atlântico era estreito e o mundo pequeno, uma viagem para oeste seria não só viável, mas preferível. Não havia necessidade de afrontar o caminho longo e castigador para sul para se aproximarem da origem daquelas especiarias. As Índias estavam logo para lá do horizonte, na direção em que se punha o Sol.

Contas feitas, parece muito provável que o sucesso das viagens de Diogo Cão, a par da aversão de D. João II por Colombo, afundou quaisquer esperanças de um apoio português ao aventureiro genovês. 

Tanto quanto nos é possível alvitrar, foram estes os argumentos que Colombo apresentou a D. João II. O rei português não se deixou convencer. Havia duas razões para isso. Primeira, a sua equipa de peritos em navegação e geografia considerava o projeto implausível. Segunda, o rei considerava Colombo presunçoso e desencorajante, sobretudo nas suas exigências exorbitantes de recompensas. D. João preferia usar membros da sua casa para esse tipo de viagens, como Diogo Cão, mas também não era adverso a adjudicar contratos. Na verdade, atribuiu a um navegador flamengo, chamado Ferdinand van Olmen, a licença para empreender uma viagem para oeste muito semelhante à proposta por Colombo vários anos depois, embora não a tenha financiado. Contas feitas, parece muito provável que o sucesso das viagens de Diogo Cão, a par da aversão de D. João II por Colombo, afundou quaisquer esperanças de um apoio português ao aventureiro genovês. De qualquer modo, D. João II não tardou a promover outra tentativa ainda mais ambiciosa do que a proposta por Colombo. Sob comando de Bartolomeu Dias, a expedição foi bem-sucedida a contornar o cabo da Boa Esperança e a entrar nas zonas mais meridionais do oceano Índico em 1487 e 1488. As riquezas do Oriente estavam agora ao alcance.

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