Os cinco reclusos que fugiram no passado sábado da prisão de Vale de Judeus ainda não foram encontrados, o caso já levou à demissão do diretor dos Serviços Prisionais, mas esta não é a única evasão registada este ano nas prisões portuguesas. De acordo com os dados enviados ao Observador pela Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, nove presos fugiram das cadeias entre o primeiro dia do ano e 9 de setembro. E outros sete tentaram fugir, mas sem sucesso — foram travados ainda antes de conseguirem alcançar o exterior da prisão.
Este número de evasões incluiu os cinco homens que estão ainda em parte incerta, explicou também a direção dos Serviços Prisionais, que funciona neste momento com uma diretora interina, Isabel Leitão, anunciada esta terça-feira por Rita Júdice, ministra da Justiça. À exceção desta fuga, os restantes quatro presos foram todos recapturados.
Ainda de acordo com os dados enviados pela direção dos Serviços Prisionais, além dos cinco fugitivos de Vale de Judeus, duas das fugas estão relacionadas com presos em regime livre — nestes casos, aconteceram quando os presos estavam fora do estabelecimento prisional. E as outras duas aconteceram na cadeia de Tires, em março, e na cadeia de Ponta Delgada, em abril.
Comparando com os números do ano passado, disponíveis no Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), fugiram tantos reclusos nos primeiros nove meses deste ano como durante todo o ano de 2023. E só no ano passado, além de registadas nove fugas, dez presos tentaram fintar o controlo dos guardas e escapar da prisão. O RASI revela ainda que um dos fugitivos não foi recapturado durante o ano passado, mas acabou por ser encontrado pelas autoridades a 24 de março deste ano, avançou a direção dos Serviços Prisionais ao Observador.
Tires. 11 dias de fuga
No dia 11 de março deste ano, uma mulher que cumpriu pena na prisão de Tires aproveitou uma ida ao pátio — zona onde a vigilância presencial não existia, à semelhança daquilo que aconteceu no passado sábado em Vale de Judeus — para fugir.
O momento aconteceu apenas três dias depois de ter entrado naquela cadeia, a 8 de março, mas a reclusa de 41 anos já conhecia a prisão de Tires, uma vez que aquela era a segunda vez que ali estava — cumpria uma pena de nove anos por crimes de falsificação de documento, furto e ofensas à integridade física, foi-lhe concedida liberdade condicional, mas essa medida foi revogada e teve de voltar.
De acordo com a Lusa, que noticiou o caso na altura, a mulher terá utilizado uma cadeira, que colocou junto de um dos muros do pátio, e com a cadeira conseguiu saltar para uma zona destinada à guarda de bens apreendidos. Segundo apurou o Observador junto de fonte dos serviços prisionais, esta mulher esteve em fuga durante 11 dias.
Na altura, e tal como aconteceu agora com o caso de Vale de Judeus, foi anunciada a abertura de um processo pela Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais para averiguar o que aconteceu e o que falhou.
Ponta Delgada. Um pé partido e uma captura em meia hora
Cerca de um mês depois da fuga de Tires, o cenário repetiu-se. Desta vez, aconteceu na cadeia de Ponta Delgada, onde um homem de 30 anos conseguiu fugir a 7 de abril. Mais uma vez, a falta de segurança foi fundamental para permitir a saída deste preso.
Na altura, também a Lusa reportou o caso e contava que o preso que cumpria pena por tráfico de droga aproveitou a falta de vigilância durante o recreio da tarde para saltar um dos muros. Aliás, a evasão aconteceu numa zona onde a torre de vigilância existente — que habitualmente tem um guarda de serviço — estava desativada.
O preso saltou o muro para o exterior da prisão de Ponta Delgada, caiu e acabou por partir um pé. Ainda assim, conseguiu esconder-se num anexo de uma casa que ficava muito próximo da cadeia. Terão sido os próprios guardas prisionais a desencadear as buscas nas proximidades e o recluso foi apanhado em meia hora.
Vale de Judeus. Os momentos-chave da fuga da prisão vistos de cima
Já na altura, Frederico Morais, dirigente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional, alertava para a “situação gravíssima” desta cadeia, sobretudo pela falta de guardas prisionais. E dizia também que aquele episódio demonstrava “a fragilidade do sistema prisional em Portugal”.
A fuga de Vale de Judeus
O caso de Vale de Judeus é o terceiro este ano, considerando apenas os casos que envolveram presos que estavam dentro da cadeia e conseguiram escapar. E é também ainda um grande mistério, já que permanecem as dúvidas sobre o que aconteceu entre o momento da fuga dos portugueses Fernando Ferreira e Fábio Loureiro, do argentino Rodolf Lohrmann, do inglês Mark Roscaleer e do georgiano Shergili Farjiani e o alerta às autoridades.
Sabe-se, para já, que os cinco homens tiveram ajuda do exterior e que aproveitaram uma falha na segurança desta prisão — tal como aconteceu nas outras duas fugas registadas este ano. Apesar de existirem câmaras de vigilância na zona do recreio em que estavam estes cinco presos, e apesar de as câmaras terem captado precisamente o momento em que conseguiram transpor o muro interior de três metros, o guarda prisional que estava destacado para a sala de visionamento das imagens das mais de 150 câmaras não deu por nada.
Esta fuga aconteceu num momento em que decorriam as habituais visitas de fim de semana e os cinco fugitivos terão aproveitado esse horário, e a deslocação dos guardas prisionais para esse pavilhão, para saltar os dois muros da prisão de Vale de Judeus (no segundo muro, de seis metros, usaram uma escada lançada do exterior da prisão). Como disse esta terça-feira Rita Júdice, ministra da Justiça, em conferência de imprensa, a fuga demorou seis minutos, foi detetada mais de uma hora depois e só foi comunicada à GNR ao fim de 83 minutos. E a informação só chegou à PSP e à Polícia Judiciária cerca de três horas depois. É precisamente este longo período que está agora a ser investigado, além da análise às falhas de segurança que permitiram a fuga de cinco reclusos considerados perigosos.