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Congresso fechou a passagem de testemunho, mas Costa lembrou que não se sente "derrotado"
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Congresso fechou a passagem de testemunho, mas Costa lembrou que não se sente "derrotado"

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Congresso fechou a passagem de testemunho, mas Costa lembrou que não se sente "derrotado"

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

PS afasta risco de liderança bicéfala. Necessidade de vencer é o "cimento fortíssimo" que une Pedro Nuno e Costa

Costistas e pedronunistas rejeitam risco de liderança bicéfala. Pedro Nuno anunciou a sua "vez" e quer Costa em "momentos chave" da campanha. Futuro do primeiro-ministro entra nas contas do PS.

António Costa está de saída, mas ainda não saiu mesmo (e tem dossiês importantes por fechar). Pedro Nuno Santos chegou agora à cadeira de líder, mas não é primeiro-ministro (em março se verá se vai ser). Até lá, no PS dá-se uma rara espécie de sobreposição que, defendem costistas e pedronunistas, não trará problemas desde que sigam uma receita comum: trabalharem ambos para a vitória, o “cimento” mais forte com que o PS pode contar, e definirem sem margem para dúvidas o lugar que cada um ocupará, possivelmente com Pedro Nuno em Portugal e Costa na Europa.

No topo do PS e no Governo rejeita-se que haja margem para interpretações sobre “lideranças bicéfalas”. Desde logo, porque os socialistas querem a todo o custo evitar que haja sobre Pedro Nuno Santos uma espécie de síndrome Pedro Passos Coelho, como tem existido no PSD: a ideia de que o antigo líder, que em 2015 não conseguiu governar e foi destronado pela geringonça, tem um trabalho por acabar e pode voltar a qualquer momento (ou ao primeiro fracasso do atual líder), com o partido de braços abertos para o receber.

Ora António Costa também tem um legado interrompido, de forma ainda mais abrupta, numa altura em que tinha uma maioria absoluta em mãos, que viu cair numa questão de horas. Ainda assim, foi o próprio que decidiu que tinha de sair, anunciando que o seu ciclo como primeiro-ministro (e não como político ativo) estava acabado, e ficando assim com um legado por defender. Costa tem feito tudo para deixar essa missão cumprida — seja em entrevistas ou ações em que mostra a obra feita nos seus mandatos — mas é certo que o seu legado também irá a votos em março.

Uma questão de cimento (e de “simbiose”)

E é essa a primeira razão pela qual os socialistas — tanto os que integraram o núcleo duro de António Costa como os que fazem agora parte do pedronunismo — acreditam que ambos se mostrarão alinhados e sem fricções até às eleições: por necessidade. “Ambos querem muito que o PS vença as eleições. Esse cimento é fortíssimo”, defende um dirigente socialista. Ou seja: um quer muito que o PS ganhe para confirmar o passado; outro quer muito que o PS ganhe para lançar o futuro. De qualquer das formas, uma derrota eleitoral não seria bom sinal para ninguém, mesmo que o PS tenha a consciência de que será difícil contar com uma maioria à esquerda após as eleições de março.

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“Estão em simbiose. Precisam um do outro”, acrescenta um dos socialistas envolvidos na campanha de Pedro Nuno Santos. “E o partido, dos ministros às bases, precisa de ambos”. A convicção aqui é que a existência em simultâneo das duas figuras de topo no PS pode ser uma força, e não uma fraqueza — desde que um não atrapalhe o caminho do outro.

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

E é aqui que entra o segundo passo: é preciso que esses lugares fiquem bem definidos. Se Costa não parece, como já dizia em dezembro, ter nenhum vestígio de vontade de “meter os papéis para a reforma”, no PS acredita-se que há espaço para os dois: por agora, “o Costa faz campanha de São Bento, o Pedro Nuno faz campanha nos media e na rua”, antecipa a mesma fonte.

A articulação, que por agora também é feita através de João Torres, o diretor de campanha de Pedro Nuno que era secretário-geral adjunto de Costa e portanto tem assento na coordenação do Executivo, é crucial, até para evitar momentos como as declarações quase seguidas que ambos fizeram na semana passada sobre a polémica compra de ações dos CTT. E o fade out de Costa enquanto primeiro-ministro, que nesta fase ainda intensificou mais as suas ações no terreno (ainda esta semana terá mais ações na agenda), estará, pelo menos a nível formal, para breve.

O prometido recato de Costa

“Depois da dissolução da Assembleia da República, o primeiro-ministro terá necessariamente de ter papel mais discreto“, nota um dirigente do lado pedronunista, recordando que estes serão os últimos dias até que, a 15 de janeiro, Marcelo Rebelo de Sousa concretize a dissolução e convoque formalmente as eleições de 10 de março. Nesta fase, ainda será de esperar que, mesmo com um líder novo no Largo do Rato, o primeiro-ministro tenha destaque enquanto ainda aparece nessas funções; depois, o PS acredita que saberá adaptar-se, tendo já anunciado que a partir daí estará “em recato”.

“Nem com o Mário Soares isso aconteceu, embora ele tivesse permanecido na arena política. O mesmo se pode dizer nas anteriores lideranças do PS”, atira um alto dirigente socialista, questionado sobre se Costa poderá funcionar como uma espécie de fantasma, ou de sombra, para Pedro Nuno Santos.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

O próprio Pedro Nuno pareceu querer evitar isso mesmo, deixando claro durante o congresso, em dois momentos, que a era Costa terminou: “Este capítulo escrito pelos Governos de António Costa encerra-se agora”, anunciou no sábado, sem o atual primeiro-ministro presente; “agora é a nossa vez”, rematou no domingo, depois de abraçar Costa à chegada. “Claro que Pedro Nuno não tem de se preocupar. O PS tem um novo líder e todos os militantes estão com o novo líder”, reforça um dirigente do costismo.

Pedro Nuno tenta equilíbrio entre legado e futuro

A necessidade de deixar claro que Pedro Nuno é agora o líder, mesmo que Costa ainda tenha uns tempos como primeiro-ministro pela frente, foi frisada de modo ainda mais claro por Francisco Assis, o primeiro grande apoio que Pedro Nuno fez questão de recolher durante a campanha interna — um grande apoio que esteve isolado politicamente durante o costismo e a fase da geringonça. “Pedro Nuno teve cuidado em afirmar-se claramente e afirmar que não era herdeiro de coisa nenhuma. Um líder que queira ser herdeiro não é líder nenhum, não consegue afirmar-se”, dizia Assis ao Observador, durante o congresso, em que fez também uma intervenção avisando contra os perigos de uma campanha assente na “contemplação do passado”.

Pedro Nuno teve, de resto, de chegar à fórmula que lhe permitiu o equilíbrio entre passado e futuro no seu discurso final: elencou as mudanças que quer fazer, sejam aperfeiçoamentos do legado de Costa ou puras mudanças de estratégia (como toca ao perfil da economia portuguesa), prometendo sempre “estabilidade”, sem “ruturas” repentinas e com elogios ao que ficou do costismo.

“Ficamos com o melhor que foi feito e faremos diferente, melhor ou mais no que se entende que não foi bem sucedido ou não foi feito. Como a história do PS não começou agora, é natural a valorização do melhor do seu passado”, defende um alto dirigente já citado. “Pedro Nuno não entrou em contradição, complementou“, frisa um antigo governante do costismo que agora está alinhado com o novo líder.

Se antes da crise política Pedro Nuno Santos parecia ensaiar uma descolagem muito clara em relação ao governo de António Costa — passou as primeiras, e únicas, semanas de comentário político na SIC deixando críticas ao ritmo da redução da dívida e fazendo as primeiras promessas em contraste com as medidas do Executivo, com a contagem do tempo de serviço na administração pública à cabeça — com o acelerar do calendário precisou de encurtar essas distâncias e apagar os vestígios de tensão com um ex-líder que o PS acredita ser um grande ativo eleitoral.

“Tenho feito ao longo destas semanas a defesa da governação dos últimos 8 anos, tenho mesmo orgulho nos resultados. Não está tudo bem e a tarefa não está acabada, nunca está”, explicava Pedro Nuno Santos na sexta-feira, no festival de podcasts do Expresso.

Na verdade, apesar de boa parte do congresso socialista ter sido passado a “malhar” em Marcelo Rebelo de Sousa pela decisão de dissolver a Assembleia da República, não falta quem no PS concorde que a conquista da maioria absoluta foi principalmente obra e mérito de António Costa. Assim como não falta quem vá dizendo e repetindo que o ainda primeiro-ministro será, daqui para a frente, “o que quiser” — Costa só exclui ocupar cargos políticos enquanto o processo judicial que o envolve decorrer e, se se libertar com um processo arquivado ou com uma absolvição, os socialistas acreditam que somará pontos junto da opinião pública.

Carlos César continuará a ser presidente do partido na era pedronunista

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Essa futurologia é neste momento impossível de fazer, mas as contas de cabeça continuam: a notícia de que Charles Michel desocupará mais cedo o cargo de presidente do Conselho Europeu, para o qual tantos lançam Costa (incluindo o próprio Presidente da República), voltou a pôr o PS em alerta. Nos corredores do partido, comenta-se até que Costa pareceu voltar com uma nova energia após a última reunião do Conselho Europeu.

Caso o processo que implica o primeiro-ministro e que corre no Supremo Tribunal se resolva entretanto e tenha um final feliz para Costa, não há quem não acredite que o socialista esteja pronto para a reforma — nesse caso, faltará perceber se os necessários equilíbrios entre as famílias políticas europeias jogarão a seu favor.

Em todo o caso, é esse futuro político que se antevê para Costa que deixa muitos socialistas convictos de que não terá sequer necessidade de fazer sombra a Pedro Nuno, porque terá missões próprias em mãos. Ao Observador, a ex-ministra Marta Temido, que é agora presidente do PS-Lisboa, rejeitava que o primeiro-ministro pudesse ser “o fantasma do verão passado” para Pedro Nuno Santos, resumindo assim a ideia: “António Costa tem vida suficiente e projetos políticos para não ser uma sombra na vida de ninguém”.

No congresso, o partido mostrou-se grato a António Costa, mas unido em torno do novo líder. O próprio secretário-geral tinha feito, na sexta-feira, questão de garantir que acha que conseguirá mostrar-se em sintonia com António Costa. “Nós tivemos momentos de diferença, mas nunca deixámos de ter respeito um pelo outro. Quando temos confiança em nós é muito difícil que outros nos façam sombra. Claro que quero ter António Costa por perto”.

Diagnóstico do estado atual da relação, feito por Pedro Nuno Santos: “Respeitamo-nos e vamos continuar a trabalhar juntos”. Até às eleições, terão trabalho conjunto e com objetivos comuns a fazer — e na equipa de Pedro Nuno adianta-se que Costa deverá estar ser convidado a marcar presença, durante a campanha eleitoral, em “momentos-chave”. A partir daí se verá como se desenha o futuro político de cada um.

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