O PSD é o partido em Portugal com mais militantes (quase metade sem quotas em dia). Apesar de ter crescido nos últimos anos, a limpeza dos cadernos eleitorais conduzida por Rui Rio significou uma perda agregada de mais de 20 mil militantes. Em rota ascendente segue o PS, que vai engrossando as fileiras desde que chegou ao poder, em 2015.
A Iniciativa Liberal duplicou membros num ano e o Bloco de Esquerda ganhou aderentes no mesmo período — mas recusa-se a dar dados certos e nem sequer divulga o número de desfiliações. O Livre também cresce, ainda que pouco, e o PCP só revela dados na altura dos congressos, não tendo detalhado as entradas dos últimos anos. O Chega e o PAN não responderam às perguntas do Observador.
Só os dois maiores partidos em Portugal têm mais de 80 mil inscritos no partido: os sociais-democratas estão no topo da tabela com 84.818 militantes, à frente dos socialistas com 81.171 filiados. Mas estes dados têm de ser acompanhados por outros: recentemente, Luís Montenegro foi eleito por apenas 19.241 militantes (votaram, no total, 26.547 pessoas); António Costa, por sua vez, foi reeleito por apenas 21.888 (votaram, no total, 23.952 pessoas). Ou seja, apesar dos universos eleitorais, a capacidade de mobilização está muito longe de fazer justiça aos militantes inscritos.
A atração do poder e a resiliência do PSD
Os socialistas, de resto, tiveram uma evolução impressionante. Em cinco anos (2015-2020), o partido conseguiu angariar mais 19.306 militantes, num período que arranca com as inovadoras e mobilizadoras primárias (Costa vs. Seguro) e que acompanha todo o período de ‘geringonça’. Daí para cá, o número continuou a subir: mais 1.553 militantes em 2020; e mais 4.791 em 2021. Tudo somado, entre entradas e saídas, os socialistas têm hoje os tais 81.171 militantes (dados oficiais).
Pormenor: apesar da vitória mais do que anunciada de António Costa nas eleições internas no PS (2021), a regularização de várias quotas em atraso gerou receitas de 975 mil euros — algo comum neste contexto, tendo em conta que apenas os militantes com quotas em dia podem votar nestes atos eleitorais.
Na oposição desde 2015, o PSD passou por quatro eleições internas desde 2018 — em que Rui Rio venceu Santana Lopes, Luís Montenegro e Paulo Rangel — e, ainda que com resultados considerados insuficientes, nomeadamente nenhuma vitória eleitoral a nível nacional — os sociais-democratas têm motivos para lamentar e celebrar.
Em primeiro lugar, a limpeza dos cadernos conduzida durante o consulado de Rui Rio significou uma perda de mais de 20 mil militantes em 2020 — na eleição entre Rui Rio, Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz existiam 107.374 ativos; nas eleições seguintes, esse universo já era apenas de 83 mil.
Ainda assim, o saldo entre entradas e saídas tem sido positivo para os sociais-democratas. O PSD mantém-se como o partido com mais militantes em termos nacionais, mesmo quando está há mais de seis anos na oposição. De acordo com os dados oficiais enviados ao Observador, os sociais-democratas contam com 84.818 filiados, mas só 44.528 têm quotas em dia — e pouco mais de metade destes militantes votaram nas últimas diretas.
Para um partido que está há anos em convulsão interna — houve quatro eleições internas desde 2017 –, este período tem sido relativamente lucrativo. A título de exemplo, o PSD conseguiu 733.035 euros em quotas nas últimas diretas, já depois de ter somado 349.416 euros em 2020.
A queda lenta do PCP e incógnita BE
Em terceiro lugar surge o PCP, com 49.960 membros — o número de filiados só é divulgado de quatro em quatro anos, pela altura do congresso do partido. Em resposta às perguntas do Observador, os comunistas não revelaram quantos militantes entraram e saíram do partido nos últimos dois anos, nem tão pouco quantos inscritos têm as quotas em dia.
Os últimos dados revelados pelo PCP fazem notar que o partido perdeu 4.320 deputados de 2016 para 2020 e, na altura, os números foram justificados pelo facto de os novos membros não terem “compensado” aqueles que deixaram de ser filiados, sendo que a morte de vários militantes é a principal causa para a descida deste número.
O Bloco de Esquerda, que sofreu uma enorme hecatombe nas eleições legislativas, perdeu mais de 250 mil votos e ficou com uma bancada parlamentar de apenas cinco deputados, revelou apenas que o partido tem neste momento “cerca de 10 mil militantes”. Sem revelar os números certos, sublinhou ainda que entre 2020 e 2022 “registou-se um aumento de cerca de 10 por cento dos militantes”, o que representa cerca de mil novas adesões.
O partido coordenado por Catarina Martins não respondeu às restantes perguntas do Observador e desde logo recusou-se a divulgar o número de aderentes que têm as quotas pagas, os que deixaram o partido nos últimos anos e as receitas dos pagamentos de inscritos.
Num dos últimos dados divulgados pelo Bloco de Esquerda, em abril do presente ano, o partido já falava de um número a rondar os 10 mil aderentes, mas referia que no período de um ano tinha havido 1.400 novas adesões. Antes, entre 2015 e 2017, no momento em que o BE dava apoio parlamentar ao Governo de António Costa, o partido referiu que tinha somado 1.693 novas adesões em quase dois anos.
Perante os dados dos últimos anos, nomeadamente aqueles que agora foram divulgados ao Observador, o partido não permite perceber se sofreu com a decisão de deixar cair o Executivo pelo chumbo do Orçamento do Estado, até porque se recusa a revelar o número de aderentes que abandonaram o partido.
Liberais duplica número de militantes num ano e os mil militantes do Livre
A Iniciativa Liberal — que nas últimas eleições conseguiu o caminho oposto e um crescimento de um deputado único para uma bancada parlamentar com oito lugares — tem atualmente seis mil membros e “66% com quota regularizada”.
O crescimento do partido que chegou à Assembleia da República em 2019 notou-se essencialmente em 2021, quando metade dos membros atuais se inscreveram na IL, o que resultou num aumento de 50%. Segundo os dados enviados ao Observador, foram três mil as novas adesões ao partido no ano passado, quando em 2020 tinham sido 600 os membros aderentes.
Além dos cidadãos que entraram, a IL contou ainda com 26 desfiliações em 2020 e 86 em 2021. Em termos de números, o valor angariado pelas quotas em 2020 foi de 65.114 euros e em 2021 de 161.793 euros.
O Livre, que conquistou pela segunda vez um deputado único nas eleições legislativas — depois da polémica com Joacine Katar Moreira que levou o partido a perder o lugar no Parlamento — tem neste momento 1112 membros. Desses, segundo o partido revelou ao Observador, 676 são pagantes.
Nos últimos dois anos, o partido conseguiu 202 novas adesões e perdeu 72 membros. Durante esse período, o Livre angariou 13.177,50 euros com o pagamento de quotas.
Chega e PAN não revelam militantes
Depois de quase 20 dias entre o primeiro pedido e a publicação da notícia, o Chega e o PAN não responderam ao Observador e não revelaram o número de militantes.
O partido liderado por André Ventura, fundado em 2019, nunca revelou oficialmente o número de pessoas inscritas no Chega, mas por várias vezes estabeleceu um valor: 40 mil militantes. Além de o líder do Chega já ter dito publicamente, por mais do que uma vez, que o partido tem “cerca de 40 mil militantes”, também nas eleições internas foi referido o mesmo número.
Na apresentação dos resultados das últimas eleições, o presidente da Mesa do Congresso, Jorge Valsassina Galveias, referiu que os resultados tinham em conta um “universo de 40 mil militantes”, dos quais apenas “20 mil estavam aptos” para votar e apenas quatro mil foram às urnas (10% do total).
No entanto, as últimas eleições internas no Chega, mostram um partido muito longe de conseguir mobilizar os alegados 40 mil militantes que diz ter. Às urnas, foram apenas 3.317 militantes de um universo de 14.979 que estavam aptos para as eleições.
Com a falta de respostas por parte do Chega não há dados para comprovar os números até agora apresentados. Ainda assim, caso se confirme um valor próximo destes, está em causa um crescimento exponencial num partido que foi fundado há três anos — a caminho dos quase 50 mil do PCP e com metade de PSD e PS.
No sentido inverso tem caminhado o PAN, que começou com um deputado único, aumentou para quatro parlamentares e regressou ao primeiro cenário, com Inês Sousa Real a ter ficado sozinha no Parlamento. Há um ano, depois de conhecidas várias desfiliações, o Observador questionou o PAN sobre o número de novas adesões e de pessoas que deixaram o partido.
Nessa altura, o PAN não indicou com o mínimo detalhe os movimentos de saída e entrada de filiados e afirmou apenas que “à data de hoje [24 de junho de 2021] desde 1 de janeiro de 2021, entre as pessoas que se filiaram e as que se desfiliaram, o PAN tem um saldo positivo de 66 filiações”.
À Renascença, em fevereiro, o partido revelou que tem cerca de 1500 filiados com contas em dia, sendo que o número de inscritos ronda os 2.500. Quatro meses depois, o partido volta a recusar revelar os números e não permite que seja feita uma análise entre os resultados das últimas eleições e os inscritos no partido.