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José Eduardo Martins apoiou Miguel Pinto Luz nas diretas de 2020
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José Eduardo Martins apoiou Miguel Pinto Luz nas diretas de 2020

ESTELA SILVA/LUSA

José Eduardo Martins apoiou Miguel Pinto Luz nas diretas de 2020

ESTELA SILVA/LUSA

"PSD precisa de pessoas com mais estudos e preparação"

José Eduardo Martins, ex-secretário de Estado e uma espécie de enfant terrible do PSD, vê sinais de "esperança" na hecatombe de Rio, mas entende que o partido tem de aprender com o que aconteceu.

Recusa leituras trágicas sobre o resultado do PSD, considera que o PS terá pela frente um momento definidor (“perdeu de uma vez por todas as desculpas que Portugal lhe deu”) e acredita que os sociais-democratas têm agora tempo e espaço para se regenerarem. Mas não esconde um certo pessimismo: “O PSD precisa de aparecer com um conjunto de pessoas com mais estudos e preparação. O PSD tem muito pouca gente credível”.

Em entrevista ao Observador, no programa “Vichyssoise”, José Eduardo Martins defende que o PSD não deve “andar a discutir quem é aquele que vai escolher os próximos presidentes de câmara ou os deputados” e que a tarefa do partido é “gigantescamente maior do que essa”. “Aquele alfobre de gente inteligente e interessante que o PSD era há 20 anos e em que dava gosto ir a uma reunião só para ouvir falar desapareceu”, lamenta.

Com a saída de Rui Rio, o PSD terá, ainda assim, de escolher o próximo líder. Apoiante de Miguel Pinto Luz nas diretas de 2020, o antigo secretário de Estado admite que o autarca de Cascais é o candidato a candidato com “mais mundo para poder conversar com a sociedade portuguesa”.

Sobre Luís Montenegro, que nessas mesmas diretas chegou a comparar a uma “garrafa de ketchup”, José Eduardo Martins mantém: “Uma coisa é ter simpatia pelas pessoas, outra é imaginar que o meu carro é um Ferrari. Não é, é só um carro citadino. O Luís é uma pessoa cheia de qualidades, só lamento é não ver nele as qualidades suficientes para a liderança.”

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Em relação a Pedro Passos Coelho, de quem chegou a ser solitariamente crítico, o social-democrata reconhece-lhe qualidades “acima da média”, mas salvaguarda: “Estragaria o seu capital se se envolvesse agora nesta discussão do PSD. É cedo para isso e não o estou a ver fazer isso”.

[Pode ouvir aqui a Vichyssoise]

Há dois anos, fez um dos melhores discursos do Congresso do PSD. Neste último, que confirmou a terceira vitória interna de Rui Rio, nem apareceu. Desistiu por deixar de acreditar no PSD ou porque não se sentia ouvido?
Era o que mais faltava que saísse deste fim de semana sem acreditar que daqui a quatro anos o PSD não tem outro remédio se não ser alternativa. Nada de essencial mudou em mim nem no PSD que justificasse uma coisa dessas. Não ser ouvido não é assim tão importante, vivo bem com isso. Nunca tive claque, nem tive aparelho disponível para ter muita paciência comigo. Mas é uma estima mútua, não tem problema nenhum isso. No penúltimo congresso, com o entusiasmo que se notou, tinha apoiado uma mudança de liderança. Não ocorreu, o que é que eu ia fazer ao último congresso? Não creio que lá fosse útil para nada.

Não lhe peço para culpar o povo português pelo resultado do PSD, como fez uma antiga vice-presidente do partido, Isabel Meireles, mas consegue compreender que depois de seis anos de governação socialista, com todas as vicissitudes conhecidas, os eleitores tenham preferido entregar a maioria absoluta a António Costa?
Consigo e até ver nela alguns sinais de esperança. O que a vice-presidente do PSD disse foi tonto, não vale a pena comentar muito. Mas ela não foi a única que chegou à segunda-feira a dizer que o que falhou foi o povo. As pessoas nunca se enganam, votam no que querem e é uma maravilha isto da democracia. Não votam enganadas por isto ou por aquilo. As pessoas votaram no PS pela mesma razão que é estúpido dizer que o PSD para ganhar tem de caminhar para a direita. Votaram porque sabem que vivem num país que não é exatamente rico, não está a ficar melhor, acabaram por passar por dois anos de pandemia, querem algum sossego, não querem o Bloco, não querem o PCP, não querem que ao centro haja quem ande a escavar mais na dívida pública, porque têm receio que isto não seja tudo fácil. Já levámos com Sócrates a trazer a troika, não estamos livres de dificuldades no futuro sobretudo quando continuamos a ser um país pobre, de ordenados baixos e onde a minha geração, dos 50 anos, passa a sensação horrível de que vai ficar a dever muito mais aos pais do que consegue dar aos filhos. Estas pessoas viram mais estabilidade e voto útil porque viram mais clareza no ocupar desse centro que é fundamental para gerir um país pobre. Um país pobre e desigual não dispensa o Estado e a redistribuição. Se quisessem todas que o PSD fosse igual à Iniciativa Liberal — e tenho a maior simpatia por eles — então para isso podiam ir votar neles, não fazia sentido um partido de centro-direito como o PSD. O que aconteceu foi que as pessoas preferiram a estabilidade, quiseram colocar a política ao centro e afastar-se das soluções que substituem uma política de causas.

"A Iniciativa Liberal é um CDS que passou para o século XXI e o Chega é o CDS que ficou no princípio do século passado. O PSD tem de dizer que não conta com o Chega”

Mas no caso do PSD… O resultado no domingo foi desastroso, como foram todos os outros à exceção das autárquicas. É culpa exclusiva da liderança de Rui Rio ou resulta de algo mais estrutural?
É a soma das duas, mas não tenho essa leitura de que o resultado seja absolutamente trágico.

Como o viu então?
O PSD, quer nas autárquicas quer no resto, não tem andado muito longe do um milhão e trezentos mil, um milhão e quinhentos mil votos. Falta-nos meio milhão de votos. O PSD tem mais cem mil votos que nas últimas eleições, só o CDS desaparece e aparecem 12% de novo eleitores à direita… eles não foram todos roubados ao PSD, pelo contrário.

Mas o resultado do PSD traduz-se em menos deputados, ainda que pouco, num crescimento de dois partidos da direita e na extinção de outro.
Então se o hemisfério da direita cresceu e o PSD não pode deixar de ser o partido liderante desse hemisfério do centro-direita, porque é que isso é mau para o PSD no médio prazo?

Portanto, acha que o PSD está num boa situação neste momento com uma maioria absoluta do PS? Vão ser quatro anos em que o PSD vai conseguir marcar a agenda política. É isso?
Em quatro anos, o PS perde de uma vez por todas as desculpas que Portugal lhe deu e já não devia ter dado por ser responsável pelo resultado da execução das políticas públicas. Daqui a quatro anos, o PS não terá nenhuma desculpa. Já não poderá falar da troika nem de coisa nenhuma. De 1995 até 2026 terá sido governo 25 anos em Portugal, se um partido em 25 anos não concretizou o seu projeto, está mesmo na altura da alternância. A alternância que o PSD não soube ser agora tem todo o tempo para a construir daqui a quatro anos. Qual é a alternativa? Sermos o México? O PS ganhar sempre as eleições e nós vivendo uma espécie de democracia que não é bem democracia porque toda a gente deve favores sempre ao mesmo?

“Dos candidatos de que se fala, o Miguel Pinto Luz é o que tem mais mundo. Montenegro é uma pessoa cheia de qualidades. Só lamento é não ver nele as qualidades suficientes para a liderança"

Há analistas que entendem que o PSD está condenado a transformar-se num partido médio e que, se não for capaz de reagir à concorrência da IL e Chega, tornar-se-á, a médio prazo, dispensável. Admite que possa acontecer ao PSD o mesmo que aconteceu ao CDS, faltar uma utilidade evidente ao partido?
Se isso acontecer não teremos uma democracia. Isso é impossível porque o país naturalmente tem dois terços das pessoas moderadamente ao centro. É um país pobre e desigual que não dispensa o Estado e a redistribuição. No fundo o que aconteceu à direita é um bocadinho isto: a Iniciativa Liberal é um CDS que passou para o século XXI e o Chega é o CDS que ficou no princípio do século passado.

E o PSD é o quê? Neste momento fala para quem?
Para o centro-direita, para todos os moderados que sabem que não se pode fazer revoluções num país pobre, para aqueles que acreditam que, ao contrário do PS, que é através das empresas e da economia que se cria riqueza e não endividando-nos para que o consumo possa gerar riqueza, sobretudo numa situação grande de antecâmara da inflação como esta. Há muito por onde haver diferenças ao centro paras as pessoas poderem escolherem um rumo ou outro. O problema do PSD nesta eleições e nos últimos anos é não saber ser claro sobre uma série de coisas que as pessoas precisam de saber ao certo. O que é isso de posicionar o PSD à direita? Nós não somos defensores da propriedade e da iniciativa privada? Vamos passar a ser contra o SNS? Algum partido num país pobre, em que a grande vantagem da revolução foi dar saúde às pessoas, seria racionalmente contra o SNS? Mas o PSD falhou a dar a resposta. Num país de recursos escassos, a resposta do PSD foi um meias tintas de não se perceber por onde quer e com que meios alargar o SNS. O PSD não foi claro a dizer que a Segurança Social que os socialistas nos andam a vender é absolutamente insustentável. Ninguém fica alegre com uma maioria absoluta do PS, mas isto obriga a clareza e dá tempo ao PSD para fazer o que não fez — as diretas do PSD foram tornando o pessoal político cada vez menos instruído.

"Pedro Passos Coelho é uma pessoa que tem qualidades e um desprendimento acima da média de qualquer político que hoje veja em Portugal a querer fazer política. Mas não é o caso dele. Estragaria o seu capital se se envolvesse agora nesta discussão do PSD. É cedo para isso e não o estou a ver fazer isso"

Como é que se lida com o Chega, já que para chegar ao poder o PSD vai ter de conversar necessariamente com o partido?
Não tenho a certeza disso. Se o PSD ganhasse e a maioria fosse de direita, o que se fazia era o Chega votar no que quisesse na Assembleia da República. E o PSD não passa a ser xenófobo, contra os imigrantes. A primeira coisa que precisamos é de muitos imigrantes para podermos compor a nossa pirâmide demográfica e devíamos desejar um mundo em que tendencialmente não vêm para cá os muito pobres de outras latitudes, para nós irmos para outras latitudes para não sermos muito pobres.

Qualquer candidato a líder do PSD tem de dizer desde o minuto zero que não conta com o Chega?
Tem. Isso é importante. Não tenho a certeza se o Chega vai desaparecer ou não. Acho espantoso que aquela campanha eleitoral tenha tido aquele resultado, mas é preciso ir conhecer o que se passa. Há ali [no Chega] dois tipos de pessoas: uns que são uma espécie de expressão de ressentimento, o reverso de Mamadou Ba, e isso não merece respeito nenhum. São pessoas que vivem da quezília. Mas também há pessoas desesperadas e num país cada vez mais pobre e desigual e para esses o PSD tem de ter alguma resposta.

Depois de domingo, o PSD voltou a entrar em convulsão. Tivemos Salvador Malheiro, vice-presidente e um dos grandes responsáveis pelas três vitórias internas de Rio, a lançar Luís Montenegro dois dias depois e quando o corpo ainda estava quente… Dos sinais que vê, este e outros, há razões para ter algum otimismo sobre a forma de funcionar do PSD?
Não. Isso é só mais do mesmo, é tudo menos animador. O principal problema do PSD é que precisa de aparecer com um conjunto de pessoas com mais estudos e preparação, com mais coisas para dizer aos portugueses. Aquela alfobre de gente inteligente e interessante que o PSD era há 20 anos e em que dava gosto ir a uma reunião só para ouvir falar desapareceu. Infelizmente os nossos protagonistas…

E nisso não há responsabilidade nos social-democratas que não se posicionaram?
É a soma de várias coisas. Nos últimos anos, Rui Rio não quis ninguém à sua beira. Qualquer pessoas que tivesse alguma coisa um bocadinho diferente da dele, não era estimulado a dizer o que quer que fosse. Por exemplo, porque é que o jovens foram votar na IL? Aqueles que eu queria ter captado para o PSD olham para a IL e veem um conjunto de gente que junta os polissílabos sem ser só para um resultado imediato. De gente mais credível, o PSD tem muito pouca gente credível.

Mas onde estão essas pessoas credíveis? Quem são? Quem faz falta?
Há imensas pessoas credíveis do PSD que não estão a participar no quotidiano da vida partidária. Por exemplo em Coimbra temos um dirigente e médico com a qualidade do Nuno Freitas e dispensámos isso? Que vantagem tivemos? Recentemente tivemos uma purga interna que dificultou as coisas, mas elas já vinham mal da circunstância das diretas serem absolutamente determinantes. Isso é que faz com que as pessoas que movimentam blocos de votos sejam os decision makers e haja muita pouca paciência de quem está numa universidade, num escritório ou numa empresa de dizer que quer tirar uma parte da sua vida para se dedicar à coisa pública. As primeiras pessoas que apareceram a falar sobre o futuro do PSD devem muito mais ao PSD do que o PSD a elas.

Ninguém fica alegre com uma maioria absoluta do PS, mas isto obriga a clareza e dá tempo ao PSD para fazer o que não fez — as diretas do PSD foram tornando o pessoal político cada vez menos instruído. O PSD precisa de pessoas com mais estudos e preparação"

Há quatro anos, apoiou Miguel Pinto Luz. Se ele avançasse, renovava esse apoio?
Ainda não falei com o Miguel desde as eleições. Dos candidatos de quem se falam, ele é o que tem mais mundo para poder conversar com a sociedade portuguesa. Pode não ter notoriedade, mas o que é isso? É publicar no jornal mais importante uma catadupa de artigos que, todos somados, não têm uma ideia?

Aparentemente, Luís Montenegro é a pessoa que reúne melhores condições no partido para ser o próximo líder do PSD. Nunca foi exatamente um apreciador da figura… Poderia ser o homem certo para esta fase do partido?
Omessa! Eu acho a maior simpatia ao Luís, quando fui da direção de Manuela Ferreira Leite até fui das pessoas que me bati para que ele entrasse na lista porque estava quase a sair. Uma coisa é ter simpatia pelas pessoas, outra é imaginar que o meu carro é um Ferrari. Não é, é só um carro citadino. O Luís é uma pessoa cheia de qualidades, só lamento é não ver nele as qualidades suficientes para a liderança.

Não seria o homem certo para esta fase do partido, é isso?
Acho que não, mas até acho que essa discussão é redutora.

Mantém o que disse sobre Luís Montenegro em 2020? “É como uma garrafa de ketchup por estrear, bate-se, bate-se e não sai nada, e quando sai estraga o prato”?
Isso foi a propósito daquela sequência de artigos do Expresso. Depois disso nunca mais ouvi nada ao Luís, ele diz que foi estudar e sei lá… Se o que me está a pedir é se vejo nele um líder, não, não vejo nele um líder, mas também não acho que isso seja a discussão ou o mais importante. Não quero andar a discutir quem é aquele que vai escolher os próximos presidentes de câmara ou os deputados. A obrigação do PSD é gigantescamente maior do que essa.

Em agosto, deu uma entrevista ao Público, onde dizia que Pedro Passos Coelho reunia condições únicas para ser líder do PSD. Faz falta?
Não concordando sempre com ele, não tendo apoiado a eleição dele, conheço Pedro Passos Coelho há muito tempo. É uma pessoa que tem qualidades e um desprendimento acima da média de qualquer político que hoje veja em Portugal a querer fazer política. Mas não é o caso dele. Desde que deixou de ser presidente do PSD temos falado com alguma frequência e não vejo nada… estragaria o seu capital se se envolvesse agora nesta discussão do PSD. É cedo para isso e não o estou a ver fazer isso.

“Até vejo alguns sinais de esperança no resultado das eleições. Daqui a quatro anos, o PS não terá nenhuma desculpa”

Vamos avançar para o segundo segmento da nossa refeição, “Carne ou Peixe”. Quem levava ao Festival de Paredes de Coura: Paulo Rangel ou Luís Montenegro?
Paulo Rangel.

Se tivesse de criar uma banda para atuar no Paredes de Coura quem é que escolhia para vocalista: Durão Barroso ou Santana Lopes?
Santana Lopes.

Quem levaria a um jogo do Benfica ao Estádio da Luz, Pedro Passos Coelho ou Rui Rio?
Pedro Passos Coelho.

E em quem confiava mais para levar o seu cão a passear: Carlos Moedas ou Miguel Pinto Luz?
Miguel Pinto Luz.

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