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Em 2017, nem a própria Inês de Medeiros conteve a surpresa: com uma margem de apenas 313 votos, a ex-atriz e ex-deputada que se candidatava pelo PS à câmara municipal de Almada acabou com 41 anos de governação autárquica comunista num concelho com quase 180 mil habitantes. A CDU comandava desde 1976 a histórica cidade operária — e a vitória de Inês de Medeiros foi celebrada entusiasticamente pelo PS e contribuiu decisivamente para Jerónimo de Sousa admitir a derrota eleitoral do PCP nas autárquicas de 2017. A margem, minúscula, contribuiu para alongar as dúvidas durante a noite eleitoral e levou PS e CDU a elegerem o mesmo número de vereadores: quatro. Para governar, Inês de Medeiros precisou de se aliar aos dois vereadores do PSD — e foi esta espécie de bloco central autárquico, que tem negociado cada decisão ao longo dos últimos quatro anos, que permitiu retirar a CDU do poder ao fim de mais de quatro décadas.
Quatro anos depois, é este o complexo ponto de partida para uma das corridas eleitorais mais renhidas do país.
Agora, Inês de Medeiros recandidata-se com o argumento de que Almada não deve regressar às mãos dos comunistas — e sustenta que em quatro anos de governação PS foi possível retirar a cidade da estagnação. Mas a CDU tem em Almada um dos seus principais campos de batalha nas eleições de 26 de setembro e recuperar a autarquia é um dos objetivos declarados de Jerónimo de Sousa. Para o conseguir, os comunistas e os ecologistas foram buscar um dos seus nomes mais fortes da política autárquica: Maria das Dores Meira, que se encontra a terminar o terceiro e último mandato como presidente da câmara de Setúbal e que agora se lança ao desafio de reconquistar Almada para a CDU. Por outro lado, o atual parceiro de governação de Inês de Medeiros, o PSD, liderado pelo vereador Nuno Matias, volta a concorrer em lista própria. E a vereadora Joana Mortágua, a única representante do Bloco de Esquerda no executivo, recandidata-se ao lugar que pode servir de desempate à esquerda — mas que algumas sondagens indicam poder estar ameaçado.
“Acho que Almada, por fim, está a entrar num novo período de normalidade política”, comenta Inês de Medeiros ao Observador, sentada à mesa de um café na Praça do Movimento das Forças Armadas, no coração da cidade de Almada, enquanto beberica uma meia-de-leite. São cerca das 11h da manhã e a autarca já tem duas ações de campanha nas pernas: começou cedo a distribuir folhetos na estação de comboios do Pragal, onde apanhou o metro de superfície até à Praça São João Batista, no centro, para continuar a arruada pela larga avenida Dom Nuno Álvares Pereira, que atravessa a cidade.
“As eleições autárquicas em Almada chegaram a ter 64%, 65% de abstenção, o que era uma aberração até a nível nacional, porque as autárquicas são sempre as eleições onde as pessoas mais votam, por ser uma política de proximidade. Essa abstenção galopante e fora do normal na península de Setúbal e em Almada diz muito sobre um afastamento cada vez maior entre as políticas autárquicas e a população. A população, há quatro anos, já não esperava nada da câmara”, prossegue a atual presidente da autarquia, lembrando a “inércia” e o “abandono” a que diz que Almada fora votada pela CDU. “As pessoas só me diziam: ‘A câmara não serve para nada, não vem, não faz, não responde’.”
Após quatro anos de PS em Almada, Inês de Medeiros diz que tem recebido nas ruas um “balanço positivo” da sua governação — e assume que o grande desafio agora é saber gerir as “expectativas” da população numa cidade onde ainda há muito para fazer. “É evidente que, ao chegarmos, as pessoas começaram a ver a câmara em ação e isso criou imensa expectativa. Agora, compete-nos a nós saber gerir essas expectativas.” Maria das Dores Meira tem, expectavelmente, a opinião radicalmente contrária. “Muito maus”, descreve de uma assentada quando o Observador lhe pede uma avaliação dos quatro anos de Inês de Medeiros na autarquia. “De uma autêntica paragem, de uma desatenção, de uma conflitualidade sempre permanente, quer com o movimento associativo, quer com outras instituições culturais e desportivas. Tudo parou. Houve um retrocesso abismal.”
Maria das Dores Meira conversa com o Observador ao cair do dia, no fim de uma arruada discreta pela estrada nacional 377, um importante eixo que atravessa uma grande parte do concelho de norte a sul, ao lado do candidato comunista à junta de freguesia de Charneca de Caparica e Sobreda. Visivelmente cansada, a presidente da câmara de Setúbal já chegou atrasada à arruada, a que se juntou a meio, justificando-se com reuniões com o movimento associativo que se prolongaram durante toda a tarde. A acompanhar a arruada, um carro da CDU, equipado com altifalantes, vai anunciando um grande comício para o dia seguinte (sábado) com a presença do secretário-geral do PCP — em que Jerónimo de Sousa viria desferir duros ataques à governação de Inês de Medeiros, a dizer que a CDU punha “a candidatura do PS nervosa” e a apelar ao voto em Maria das Dores Meira para resgatar Almada do “retrocesso”.
Depois da surpresa de há quatro anos, o cenário pode vir a repetir-se. Uma sondagem da Universidade Católica para o Público e a RTP, divulgada no arranque da campanha eleitoral, dá conta de uma luta renhida entre PS (29%-33%) e CDU (25%-29%) — sobretudo quando se tem em conta que a diferença percentual entre as duas candidaturas (4 pontos) é praticamente a margem de erro da sondagem (3,9 pontos). Dos 11 vereadores que compõem o executivo, o PS poderá repetir os 4 ou obter mais um; a CDU pode ficar entre os 3 e os 5, a coligação PSD-CDS poderá ter 1 ou 2, e o Bloco de Esquerda só no cenário mais otimista reelege Joana Mortágua. Estes resultados obrigarão toda a gente a fazer contas na noite eleitoral. Inês de Medeiros diz que, se ganhar sem maioria, repetirá o que fez há quatro anos: abrir-se ao diálogo com todos. Já Maria das Dores Meira rejeita liminarmente entendimentos com o PS: “Quem não teve capacidade de gerir esta terra, não posso dizer que quero essas pessoas ao meu lado para a gerir.”
O aperto de mãos entre PS e CDU (com o qual António Costa conta a nível nacional para aprovar o Orçamento do Estado) será impossível em Almada. É preciso ir ao desempate e, para isso, poderá repetir-se a solução de bloco central de há quatro anos ou, no caso de PS ou CDU elegerem cinco vereadores, poderá ser suficiente uma aliança com o Bloco de Esquerda.
No meio do combate aguerrido entre PS e CDU está a deputada bloquista Joana Mortágua, eleita vereadora em 2017. Consciente do papel de desempate que tem nas contas autárquicas de Almada, Mortágua assume um objetivo claro: retirar o poder das mãos do PSD e deixá-lo na esquerda. Qual esquerda? Isso vê-se a seguir. “Temos aqui a função de lembrar que o que está em causa nas próximas eleições não é apenas a escolha de quem será a próxima presidente. Também está em causa a formação de maiorias que vão permitir governar Almada. O PS pôs a direita no poder com um acordo PS/PSD. O PSD acabou a governar Almada, uma coisa inédita em democracia, pela mão do PS. E isto notou-se na gestão quotidiana”, diz Joana Mortágua ao Observador, depois de passar uma manhã nos treinos de boccia da Associação de Paralisia Cerebral Almada Seixal (APCAS), que este ano levou um atleta de Almada ao quarto lugar nos Jogos Paralímpicos de Tóquio. A deputada do BE até cita de memória o primeiro-ministro: “Acho que é o António Costa que diz que quem governa com a direita acaba a governar como a direita. Há um acordo de governabilidade com a direita e portanto há cedências à direita.”
A batalha por Almada é uma das grandes apostas do Bloco de Esquerda e Joana Mortágua contou, inclusivamente, com a presença de Francisco Louçã, um dos fundadores do partido e o seu primeiro líder, ao seu lado numa arruada pela Costa de Caparica. “Sabia-se que Almada seria sempre uma disputa intensa. Simbolicamente e politicamente é muito importante para o PCP. Foi uma vitória muito saborosa para António Costa e para o PS e, portanto, a disputa seria sempre muito importante dada a história dos dois partidos aqui”, analisa Louçã ao Observador antes de arrancar para a arruada. “Apesar da polarização entre o PS e o PCP, tem de ter uma representação importante. É muito importante que não haja uma maioria absoluta.”
“Eu sou um desconfiado das maiorias absolutas em todo o lado. Quando vejo António Costa a percorrer o país com a chuva dos milhões do PRR percebo, como toda a gente percebe, apoiantes ou adversários, que há qualquer coisa de novo na forma de fazer política do PS, que, na verdade, desvaloriza as autarquias. São uma espécie de correios de cheques, impede os autarcas do PS de discutirem o que fizeram, de apresentar o seu trabalho, de discutirem a realidade das terras, a política local. Cria uma espécie de subserviência do estado-majestade, que é problemática”, continua o fundador do Bloco. No caso de Almada, Louçã antevê uma repetição do cenário de 2017, mas quer cautela na análise dos resultados. “Acho que o PS prefere sempre negociar com o PSD. No caso de Almada, teve uma preferência muito clara. É uma escolha política. Poderia fazer uma ponte para o PCP, que é minoritário na câmara”, diz. “Há este paradoxo: a nível nacional, o PS conta com o PCP para a aprovação do Orçamento.”
Para Joana Mortágua, independentemente dos desentendimentos entre PS e CDU, a prioridade é só uma: “Vencer a direita”, diz, quando questionada sobre o que será um bom resultado para o Bloco. “Queremos que qualquer maioria que se venha a formar depois das eleições seja uma maioria determinada à esquerda — e que os nossos vereadores sirvam para isso”, sublinha. “Já dialogámos com a CDU, já dialogámos com o PS em Almada, temos essa consciência de que a política autárquica tem de ter algum grau de diálogo. Mas governar com a direita, isso não governamos.”
Nuno Matias diz-se um “espectador privilegiado” da luta das esquerdas. O vereador do PSD encabeça a lista que foi buscar a histórica sigla AD para lhe dar um novo significado — Almada Desenvolvida, que junta PSD, CDS, Aliança, MPT e PPM —, mas assumidamente inspirada na Aliança Democrática de Sá Carneiro, Freitas do Amaral e Ribeiro Teles. Até o logótipo, com riscas azuis e laranjas, foi decalcado da aliança formada no final da década de 1970. Nos últimos quatro anos, os dois vereadores eleitos pelo PSD trabalharam com pelouros ao lado de Inês de Medeiros. Desta vez, a coligação de direita diz-se novamente disposta a trabalhar com todas as forças políticas — mas quer fazê-lo na liderança. “Hoje em dia as pessoas reconhecem este espaço político, que agora é representado pela AD, em que os dois primeiros candidatos da lista foram também vereadores executivos do PSD neste mandato, e sabem que tivemos obra feita, uma proximidade muito grande com os trabalhadores e um respeito enorme com todos munícipes. Temos muita obra feita”, diz Nuno Matias ao Observador, minutos antes de um comício na Costa de Caparica para apresentar os candidatos às várias freguesias.
Como Inês de Medeiros, também Nuno Matias diz que “começa a ser ultrapassada” a ideia de que Almada é naturalmente CDU. É o tal “novo período de normalidade política” de que fala a autarca, repetindo a todos os que encontra na rua que Almada “não pode voltar ao passado”.
Inês de Medeiros. Queixas na rua são “ossos do ofício” e não beliscam confiança na vitória
Poucos minutos antes das 10h de sexta-feira, o metro de superfície detém-se na paragem junto à Praça São João Batista, no centro de Almada. À distância é possível ver bandeiras do Partido Socialista a sair das carruagens azuis, empunhadas por um pequeno ajuntamento que rodeia a recandidata Inês de Medeiros. A autarca eleita em 2017 vem do Pragal, onde aproveitou o início da manhã para distribuir folhetos e programas eleitorais a quem apanhava o comboio Fertagus, que cruza a ponte 25 de Abril rumo a Lisboa, para uma ação de campanha no centro de Almada. É mesmo ali, nos cafés da praça, que a autarca começa à caça de votos.
A primeira interação, porém, não facilita o processo. “Estou zangado com Deus e com a política. E com a autarquia, na sua pessoa”, atira Casimiro Albuquerque, 73 anos, de dedo em riste, à mesa da esplanada onde Inês de Medeiros se aventura. Logo depois, os detalhes: “Faltam médicos de família em Almada! Para ter uma consulta tenho de me levantar às cinco da manhã.” Perante a tensão, a autarca procura acalmar os ânimos concordando com o homem. “Tem toda a razão”, vai tentando dizer-lhe, enquanto Casimiro Albuquerque continua a debitar queixas sobre o mau funcionamento dos serviços de saúde no concelho. “É algo que temos estado a falar com os centros de saúde. Não havia médicos. Temos estado a insistir com os centros de saúde, mas não temos médicos. Temos de ter mais médicos, mais escolas de medicina, a Ordem dos Médicos tem de aceitar.” A discussão começa a divagar sobre assuntos clássicos: os médicos que emigram em excesso ou que preferem o privado, as vagas para estudantes de medicina, e por aí fora. Inês de Medeiros responde que grande parte desses problemas não são da competência direta da autarquia. “Mas é a única voz que nós temos. Temos de descarregar em alguém e vocês também têm de ter as costas largas.”
“É verdade”, aceita Inês de Medeiros, já a rir. “São os ossos do ofício.”
A conversa com Casimiro Albuquerque é premonitória do que será a arruada de Inês de Medeiros até à Praça do Movimento das Forças Armadas: muitas queixas apontadas diretamente à presidente da câmara em exercício, sobre a recolha do lixo, o estacionamento, os transportes públicos, o trânsito, novamente a falta de médicos. Mas muitas queixas são acompanhadas de votos de confiança, de elogios e de promessas de voto para garantir que Almada não volta às mãos da CDU. Ao longo da avenida, que no seu eixo central tem a linha do metro de superfície da margem sul, um pedido é unânime: a extensão da linha até à Costa de Caparica. Aliás, esse é um anseio comum às várias candidaturas ali — e Inês de Medeiros recorre ao trunfo PS. “Vai ser feito”, garante. “Não posso ter mais do que o primeiro-ministro a vir cá dizer que está no plano nacional de investimentos.” (Em julho, na apresentação da candidatura de Inês de Medeiros, António Costa foi a Almada garantir que a extensão do metro seria uma realidade muito em breve.)
À medida que vai descendo a avenida, Inês de Medeiros vai também conversando com os comerciantes. Numa loja de roupa, detém-se algum tempo num casaco e promete voltar mais tarde na qualidade de cliente. À chegada à Praça do Movimento das Forças Armadas, usa a obra de requalificação daquela grande rotunda central como principal bandeira de campanha nos vários cafés onde por aquela hora, já perto das 11h, muitos idosos vão tomando o pequeno-almoço. Numa das mesas, uma mulher de braço ao peito revela como partiu um braço há 15 dias numa queda ali mesmo, devido às raízes das árvores que vêm destruindo a calçada. Vai haver uma requalificação, promete Inês de Medeiros antes de seguir em frente. Quando ouve um “boa sorte”, replica: “A sorte é com o voto!”
A partir de uma minúscula loja de componentes para telemóveis, em plena praça, atulhada de capas para smartphones e carregadores, Mohammad Bin Hamed esbraceja para obter a atenção de Inês de Medeiros. O lojista, de nacionalidade indiana, acolhe a autarca no apertado espaço e os dois conversam em inglês durante uns minutos. Mohammad tem uma queixa a fazer e já não sabe a quem se dirigir: na junta de freguesia, ninguém fala inglês. “É uma coisa básica para qualquer imigrante. Precisamos de um comprovativo de residência, por exemplo, e não conseguimos. Chegamos lá e é-nos logo dito que não. Se não fala português, volte com alguém que fala”, explica depois ao Observador. Inês de Medeiros concorda que é uma situação lamentável e explica que se trata de uma responsabilidade da junta de freguesia (que está nas mãos da CDU) e chama Maria D’Assis, candidata à União de Freguesias de Almada, Cova da Piedade, Pragal e Cacilhas para lhe apresentar a solução: “This lady is our candidate to the Junta.” As duas deixam a promessa: facilitar os contactos e os processos aos imigrantes será uma prioridade.
“A sensação que eu tenho na rua é que as pessoas estão a fazer uma avaliação positiva”, diz Inês de Medeiros ao Observador. “Apesar de virem apontar o muito que ainda há para fazer. Não há ninguém que não diga ‘Olhe, a minha rua ainda tem um buraco, a minha rua ainda está assim ou assado’, o que é normal. São os ossos do ofício de qualquer autarca. Mas as pessoas dizem ‘Falta isto, falta aquilo’ ao mesmo tempo que reconhecem o muito que foi feito em circunstâncias muito difíceis.”
Inês de Medeiros rejeita também ter “capturado” o concelho de Almada à CDU. “Eu não capturei nada. Foram os almadenses que votaram. Não andei aqui a fazer uma cruzada”, sublinha, recusando também comentar aprofundadamente a escolha de Maria das Dores Meira, por muitos considerada um “dinossauro autárquico” da CDU, para voltar a conquistar a autarquia para os comunistas. “Eu não faço comentário das opções dos partidos. Cada um faz as opções que quiser. Isso não faço. A minha avaliação aqui é a avaliação de um partido que esteve no poder em Almada durante 41 anos e que tem muita dificuldade, neste momento, em convencer as pessoas de que agora é que é. Agora é que isto vai acontecer. Sobretudo com uma equipa que é, em grande parte, na continuidade. Quando o único projeto que tem é retomar o passado.”
Ao fim de quatro anos de bloco central, a autarca reconhece a importância de não ter havido nem uma coligação nem um acordo escrito pré-eleitoral com o PSD, cujo apoio na câmara permitiu formar uma maioria (4+2 em 11) que derrubou a CDU. “Isso fez com que, de cada vez, os temas fossem debatidos. As decisões que tinham de ser tomadas coletivamente foram tomadas. Acho que, para um mandato muito difícil, estamos de parabéns. Nunca a estabilidade do município esteve em causa.” Este ano, se o resultado se repetir, Inês de Medeiros está disposta a repetir a fórmula se for necessário: “Todos os vereadores que são eleitos representam alguém. Há quatro anos conversámos com todos e o PSD mostrou-se disponível para trabalhar por Almada. No fundo é isso, é escolher Almada. Desta vez, vou fazer exatamente o que fiz há quatro anos. Irei falar com todos aqueles que forem eleitos vereadores.”
Maria das Dores Meira quer repetir em Almada o que fez em Setúbal — mas recusa coligar-se com PS
Curiosamente, após 41 anos de governação comunista na cidade, “passado” é palavra que não faz parte do discurso da CDU em Almada. Pelo contrário, o folheto que Maria das Dores Meira viria a distribuir aos eleitores apostava precisamente no futuro. “Com a CDU, por Almada, pelo futuro”, lê-se em letras garrafais na abertura do folheto.
São 17h e à porta da junta de freguesia da Charneca de Caparica, na zona central da povoação, o silêncio é interrompido, a espaços, pela passagem de um carro de campanha que vai dando voltas aos quarteirões entoando a clássica “Carvalhesa”. É sinal de que a CDU anda por perto. À medida que nos aproximamos das 17h30, os camaradas começam a chegar à junta de freguesia, o ponto de encontro combinado para uma arruada com Maria das Dores Meira destinada a convencer os eleitores daquela freguesia a tirar não só a câmara de Almada, mas também a junta de freguesia de Charneca de Caparica e Sobreda das mãos do PS. Em 2017, também aquela freguesia foi capturada pelo PS à CDU — e Eduardo Rosa, o candidato comunista, está pronto para recuperar a junta. Apesar de a junta de freguesia ser PS há quatro anos, a história da CDU ainda se respira por ali e nota-se muito claramente no à-vontade e familiaridade com que os membros da campanha comunista conversam com os funcionários da autarquia que, àquela hora, saem do trabalho.
O aparato vai começando a montar-se: desenrolam-se bandeiras, chegam mais camaradas e até uma pequena fanfarra de cinco músicos para animar o cortejo. Só falta um detalhe: Maria das Dores Meira ainda não chegou. Os minutos passam e, a certa altura, alguém toma a decisão. É para avançar com a arruadas, mesmo sem a candidata à câmara, que há de juntar-se a meio. A fanfarra dá a ordem de saída começando a tocar a primeira das muitas repetições que há de interpretar da clássica canção de resistência antifascista italiana “Bella Ciao”.
Por aquela hora há, na verdade, pouca gente nas ruas. O cortejo encabeçado pelo candidato à junta, Eduardo Rosa, vai avançando pelo comércio local e bem procura a quem entregar os panfletos, mas com pouca sorte. Alguns elementos da candidatura continuam agarrados ao telemóvel para saber onde anda Maria das Dores Meira. A arruada detém-se no parque de estacionamento do Minipreço: chegou a indicação de que a candidata está prestes a chegar. Espera-se, espera-se mais um pouco, a “Bella Ciao” já vai na quarta repetição e os músicos começam em busca das notas da “Carvalhesa” para a chegada de Maria das Dores Meira. Os poucos clientes do minimercado não vão embora sem um folheto, mas a campanha continua morna.
Finalmente, mais de uma hora depois da hora marcada, surge a presidente da câmara de Setúbal. Pede desculpas e explica que as reuniões com o movimento associativo daquela tarde se prolongaram mais do que o esperado. Desculpas pedidas, a fanfarra empenha-se na “Carvalhesa” e o cortejo segue em frente, agora encabeçado pela candidata à câmara. O problema, contudo, mantém-se: pouquíssima gente passar por ali a pé. Estamos numa estrada nacional muito frequentada por carros, com alguma indústria e algum comércio, incluindo stands de automóveis, mas sem peões e poucos interlocutores além dos lojistas. É difícil, assim, tomar o pulso à campanha de rua de Maria das Dores Meira — mas o candidato à junta de freguesia apressa-se a explicar que aquele é precisamente o problema que a CDU ali queria denunciar: uma obra feita pelo executivo PS que requalificou a estrada deixando-a totalmente despojada de lugares de estacionamento e que retirou vida ao comércio, nomeadamente às lojas e aos restaurantes que ali existem. Com pouca gente com quem conversar, Maria das Dores Meira detém-se pouco tempo ali e vai andando a passo rápido. Membros da equipa deixam folhetos nas caixas do correio e a grande atração do cortejo é o carro de campanha que vai anunciando o comício com Jerónimo de Sousa.
Uma hora depois, dá-se por terminada uma arruada sem grande história e é o momento de gravar um vídeo para as redes sociais da candidatura. Tripé, câmara e microfone de lapela montados, candidata à câmara à frente, candidato à junta ligeiramente atrás, vinte apoiantes com bandeiras formam muralha de fundo. A cena é composta cuidadosamente por um elemento técnico da campanha que desde o início do cortejo tem vindo a recolher imagens da candidata. Maria das Dores Meira lança-se num discurso elogiando a “vontade de mudança” que sentiu nas ruas, debruça-se sobre os problemas das obras na estrada nacional 377, onde está, e convida todos os munícipes para um debate, precisamente sobre aquela obra.
A candidata da CDU está a chegar ao fim de um dia longo. Dali vai para casa, no centro de Almada (onde sempre continuou a viver apesar de presidir à câmara de Setúbal), mas tira uns minutos para explicar ao Observador que desconfia das sondagens que têm sido publicadas. “As sondagens são sondagens e há que respeitar. Portanto, vamos contar os votos. Para nós, isso é que conta. Porque, de facto, em contraponto com aquelas sondagens, o que eu vejo na rua não é nada daquilo”, diz. “O que eu vejo na rua é muita afetividade, muito boa receção, muito desejo de mudar. Uma força imensa, desejo de mudar.”
Maria das Dores Meira garante que tem ouvido, nas ruas, muitas promessas de voto na CDU, mesmo até de eleitores PS, Bloco de Esquerda, PSD ou PAN. “Isto é uma força muito grande que se está a agigantar. É o reconhecimento do meu trabalho em Setúbal, vinte anos de autarca, primeiro como vereadora, depois como presidente da câmara. Acho que foi um resultado muito positivo. Pusemos aquela terra no mapa e demos, sobretudo, autoestima e orgulho aos setubalenses. É exatamente isso que eu quero dar aqui a Almada. Falta autoestima e orgulho aos almadenses. Já tiveram. Neste momento, tudo está parado, tudo regrediu.”
A candidata não poupa nas críticas a Inês de Medeiros: “O que está a acontecer são coisas avulsas, eleitoralistas, feitas atabalhoadamente, sem visão, sem estratégia, sem uma política determinada para cada uma das áreas. É tudo o que se faz agora à pressa para se ganhar eleições.”
Impõe-se, então, a pergunta fatal: se o projeto do PS é assim tão mau e a CDU é uma solução tão amplamente reconhecida, o que aconteceu em 2017 para os comunistas perderam uma câmara que detiveram durante 41 anos?
“Acho que a CDU descansou um pouco e tomou Almada como garantida. Quem está na vida autárquica não pode descansar. Tem de trabalhar, tem de estar sempre próximo das pessoas, tem de estar sempre a inovar, tem de ouvir muito as pessoas, saber quais são os seus anseios e inovar. Ir motivando para as coisas irem mudando. Acho que houve algum descanso. Quem perdeu foi a CDU, não foi o PS que ganhou. Farto-me de dizer isto. Ao PS foi-lhe dado quase de bandeja, caiu nas mãos do PS uma câmara CDU que não era suposto. Nunca houve sondagens para Almada porque toda a gente achava que era normal, não houve a mediatização que está a haver neste momento para a câmara. Não era suposto perdermos a câmara. Quem perdeu foi a CDU, não foi o PS que ganhou”, responde.
Para Maria das Dores Meira, estes quatro anos de PS passarão brevemente à história e terão sido apenas um percalço numa governação contínua da CDU. “As pessoas estão com essa ansiedade e essa expectativa de que o trabalho que foi feito em Setúbal, e que eu acho que foi muito bom, é reconhecido por toda a gente, possa ser feito também aqui em Almada”, diz a candidata. Coligações pós-eleitorais caso perca? “Nem ponho sequer essa hipótese, porque a confiança é muito grande. Mas, remotamente, se isso acontecesse, eu estaria ali muito firme na oposição e relativamente aos pelouros tudo dependia da negociação. Mas essa hipótese não me passa pela cabeça, porque a confiança na vitória é muito grande. Já disse a toda a comunicação social: com quem não teve a capacidade de gerir esta terra eu não posso dizer que quero essas pessoas ao meu lado para gerir. Senão há um contrasenso. Com o PS acho que não há hipótese de fazer uma coligação. Agora, com os outros partidos vamos à conversa.”
Joana Mortágua perdeu no boccia mas quer ganhar peso político em Almada
Para uma maioria à esquerda, a solução poderá passar pelo contacto com o Bloco de Esquerda, que volta a candidatar a deputada e vereadora Joana Mortágua à câmara de Almada.
Encontramo-la por volta das 10h30 de sábado a estacionar em frente à escola António Augusto Louro, na Arrentela. Sim, estamos no concelho do Seixal, e Joana Mortágua é candidata à vizinha Almada. Mas, à semelhança de Maria das Dores Meira, a vereadora do Bloco de Esquerda tem duras críticas a fazer ao modo como o executivo de Inês de Medeiros se relacionou com o movimento associativo. Para as apontar, Mortágua visitou a Associação de Paralisia Cerebral Almada Seixal (APCAS), que apesar de ter a sede no concelho do Seixal abrange a população de Seixal e Almada. Um dos projetos mais conhecidos da APCAS é a escola de boccia, modalidade paralímpica na qual vários atletas se têm destacado. Os treinos semanais realizam-se às 10h30 de sábado ali, no pavilhão gimnodesportivo da escola António Augusto Louro.
Está explicada a presença da candidata fora das fronteiras do concelho a que se candidata. “Como estão as coisas por aqui? Não vim para levar uma abada”, atira Joana Mortágua, quando cruza o portão da escola. Chegou sozinha, mas juntaram-se a ela dois membros da candidatura logo de seguida. “Olhe que temos cá um quarto lugar paralímpico”, responde-lhe José Patrocínio, o presidente da direção da APCAS, que recebe a vereadora bloquista à entrada da escola. Refere-se a André Ramos, atleta da APCAS que esteve recentemente em Tóquio a disputar o jogo da medalha de bronze na categoria BC1, e que acabou por trazer o diploma de quarto lugar para Portugal. A pretexto desta participação de André Ramos, um primeiro lamento: a enorme desigualdade de tratamento entre Olímpicos e Paralímpicos nos meios de comunicação social. Colegas e amigos do atleta só conseguiram ver um dos vários jogos de André Ramos em Tóquio — e apenas na RTP Play, a plataforma digital da RTP, já que nenhum passou na televisão.
Ainda no acesso ao pavilhão desportivo, Joana Mortágua sai ao ataque. “Como estão de apoios?”, pergunta. “Olhe, um número bem redondo”, ironiza José Patrocínio. “Têm sido quatro anos de zero.”
Segundo explica o responsável da associação, todo o apoio autárquico tem vindo da câmara do Seixal — e a autarquia de Almada esquece-os por terem a sede no concelho vizinho. O primeiro contacto do executivo de Inês de Medeiros com a APCAS foi, há quatro anos, uma ação de despejo — uma situação mais bem resolvida do que parece, uma vez que se tratava de um equipamento municipal que a associação não usava por não ter condições de acesso a deficientes. Já dentro do pavilhão, Joana Mortágua recebe um relato completo do trabalho da associação no âmbito do desporto: 40 atletas, incluindo dois na Seleção Nacional e um nos Paralímpicos; muitas crianças a iniciarem-se na prática desportiva; formação a mais de 800 professores; e projetos de dinamização das modalidades paralímpicas nas escolas portuguesas. Da boca de José Patrocínio, Joana Mortágua ouve um pedido: que continua a dialogar com a associação, mesmo depois das eleições. Prometido.
Finda a conversa, Joana Mortágua — que entretanto já havia pegado em algumas bolas para tentar um malabarismo — vai a jogo com os atletas. O boccia joga-se em equipas, uma com bolas vermelhas e outra com bolas azuis, que tentam aproximar o mais possível de uma primeira bola, de cor branca, lançada pelo primeiro jogador. “Vermelhas ou azuis?”, perguntam. “Vermelhas, claro”, responde Joana Mortágua, rindo da provocação. Mas o esforço da bloquista (com vantagem competitiva por estar de pé) não viria a ser suficiente para ganhar aos talentos nacionais. Cumprimentados os vencedores, Joana Mortágua esteve ainda a ouvir o presidente da APCAS explicar-lhe os enormes custos associados ao desporto para atletas incapacitados: um conjunto de bolas de boccia pode chegar aos 800 euros e uma calha para os atletas mais incapacitados pode exceder os 1.500. Para uma associação de voluntários, são valores muitas vezes proibitivos — e os apoios públicos são escassos, demorados e excessivamente burocráticos.
“Há muitas associações não oficiais, ou seja, não ligadas ao município diretamente, que desempenham papéis fundamentais para a vida do município. No caso aqui desta associação, eles têm uma intervenção junto da população com paralisia cerebral, sobretudo, de tal forma que levam atletas deles aos Jogos Paralímpicos. Não é apenas uma questão de proporcionar a esta comunidade uma prática desportiva com qualidade, mesmo do ponto de vista competitivo. É uma associação que nos põe em patamares internacionais muito interessantes. É uma associação que cobre a população de Almada e do Seixal, mas que tem a sede no Seixal, mas intervém com a população de Almada”, explica Joana Mortágua ao Observador.
“Portanto, é óbvio que Almada tem de apoiar esta associação e tem de apoiar os seus atletas. Não só os que fazem competição. Os atletas que fazem formação desportiva aqui. Para haver um atleta paralímpico ou olímpico é preciso haver muito dinheiro investido na formação de centenas de atletas antes de chegar a isso”, continua a bloquista. Porém, nos últimos quatro anos, Inês de Medeiros promoveu uma “relação conflituosa” com as associações, sustenta. “É tudo por decreto. Não há negociação, não há conversa, não há pré-aviso. Recebe-se uma carta, como foi aqui, de um equipamento municipal que a APCAS ocupava, recebe uma carta e tem 15 dias para o despejo.”
Joana Mortágua criticou ainda uma “desconfiança permanente sobre todas as entidades, disfarçada de legalismo”, que leva a autarquia a desconfiar sempre que, em princípio, as entidades vão abusar do dinheiro. “São barreiras burocráticas disfarçadas de legalismo. Dizem: ‘Nós temos de proteger o dinheiro público.’ Com certeza. Ninguém mais do que eu defende isso. Agora, não podemos é disfarçar de proteção do dinheiro público aquilo que são, na verdade, mecanismos desnecessários que impedem ou que atrasam o acesso de quem precisa ao dinheiro público.”
Lamentando que haja apoios que ficam por atribuir por vistorias a “faturas de meia dúzia de euros”, Joana Mortágua diz que a autarquia não pode partir para o relacionamento com as associações locais — quase sempre compostas por voluntários que nem sempre têm as qualificações adequadas para uma série de processos burocráticos complexos — com a perspetiva da desconfiança. “A pandemia veio agravar muito esta perceção de falta de diálogo”, explica. “Para concorrer a um apoio público é preciso ter o relatório de contas, é preciso ter o orçamento e a conta de gerência aprovadas, e durante a pandemia houve muita dificuldade em reunir assembleias gerais, em ter quóruns e em ter capacidade administrativa para fazer esses documentos.”
Joana Mortágua despede-se de José Patrocínio com a promessa de manter o contacto. “Tem o meu número de telemóvel, não tem?”, pergunta a deputada. “Se ainda for o mesmo. Ora deixe cá ver.” Contacto confirmado, a bloquista segue com a garantia de forçar a autarquia a dialogar mais com as associações locais.
Daquela escola na Arrentela até ao Parque Urbano da Costa de Caparica são cerca de 20 quilómetros. É lá que Joana Mortágua tem o ponto seguinte da agenda: uma iniciativa promovida pelos Jovens do Bloco de Esquerda de Almada com a participação dos vereadores e candidatos do partido no Seixal (Francisco Morais) e no Barreiro (Daniel Bernardino). O cenário está montado: há um enorme mapa da Área Metropolitana de Lisboa estendido na relva, pioneses, lã, canetas e post-its à disposição dos participantes. O objetivo? Pensar nas principais dificuldades relacionadas com os transportes públicos na região e propor soluções integradas. Durante cerca de meia-hora, os jovens e os três vereadores desenharam no mapa a possibilidade de um passeio ribeirinho ciclável com mais de 95 quilómetros que percorresse todo o arco sul do estuário do Tejo, alargaram o metro à Costa de Caparica, ao Seixal e ao Barreiro, puseram mais barcos a navegar no Tejo, criaram novas rotas para o Parque das Nações (Lisboa) e reforçaram a oferta de autocarros e comboios na Margem Sul e sobre a Ponte 25 de Abril.
O resultado final foi avaliado já na presença de Francisco Louçã, um dos fundadores do Bloco e o seu primeiro coordenador, que depois de uma manhã com Beatriz Gomes Dias em Lisboa foi a Almada apoiar Joana Mortágua e matar as “saudades de uma arruada”.
Nuno Matias, o candidato da direita confiante que dá o telemóvel a todos os munícipes
Alheio à guerra das esquerdas, a direita organizou-se na coligação Almada Desenvolvida, que junta PSD, CDS, Aliança, MPT e PPM. Nuno Matias, o vereador social-democrata que encabeça a lista que durante quatro anos ajudou Inês de Medeiros a segurar a autarquia, está confiante de que a obra feita durante o mandato lhes permite agora sonhar com uma vitória.
Sábado, 16h30, Parque da Liberdade, na Costa de Caparica. Um palco montado, dezenas de cadeiras de plástico devidamente equipadas com bandeiras do PSD e do CDS, muita gente ali, incluindo nos cafés à volta. Está prometido para daí a meia-hora o arranque de um dos eventos principais do período oficial de campanha das direitas em Almada: um grande comício para apresentar os candidatos às várias juntas de freguesia do concelho e os candidatos à câmara. O ambiente é de grande festa, campanha pura. Sobe ao palco o músico Nuno Albuquerque para entoar alguns clássicos e aquecer os apoiantes, enquanto lhes pede que transitem das esplanadas da praça (onde se consomem velozmente caracóis e imperiais) para as cadeiras do comício. A multidão responde ao músico e canta com ele o refrão de “Porto Sentido”, de Rui Veloso.
Enquanto o comício não começa, Nuno Matias senta-se com o Observador numa esplanada ali perto para um balanço do mandato. Sublinha a obra feita: a avenida do Mar, cuja obra começa em breve; a requalificação da estrada florestal que leva às praias; o reforço dos parques urbanos do concelho; a reconfiguração da frota automóvel de recolha de resíduos; a substituição da iluminação para poupar “centenas de milhares de euros” ao município; entre muitos outros. “Hoje, mais pessoas nos reconhecem, mais trabalhadores percebem a diferença que podemos fazer. Acho que estamos em condições de conseguir, pela primeira vez desde há muitos anos, baixar significativamente a abstenção.”
O candidato da AD pega na matemática, que dentro de minutos irá usar novamente em palco, mas desta vez com a ajuda de um PowerPoint.
Nas eleições legislativas de 2011, PSD e CDS obtiveram, juntos, um total de 35.383 votos — mais do que os 24.833 do PS e os 15.116 da CDU. Porém, nas autárquicas de 2017, o partido mais votado — o PS — só obteve 20.910 votos, ao passo que o PSD e o CDS tiveram pouco mais de metade (11.056). Para Nuno Matias, os números levam a uma conclusão óbvia: o eleitorado de centro-direita existe em Almada, mas tem sido “ocupado pela abstenção”. Porquê? Em muitos casos, sublinha o candidato, porque se deu como garantido que Almada era CDU e que não valia a pena sequer votar — uma ideia que “começa a ser ultrapassada”. “Mas também o facto de haver muita gente que mora em Almada, mas não vive a realidade do concelho de Almada. Falta aqui um bocadinho de relação de identidade, que leva a que as pessoas queiram participar mais”, diz Nuno Matias, que quer criar uma relação particularmente pessoal com os eleitores.
“Estou a dar o meu número de telemóvel pessoal a todos os munícipes, num esforço grande, estamos a falar de muitas dezenas de milhares de pessoas. Acho que é fundamental haver aqui uma ligação genuína com os cidadãos. Já há quatro anos, quando me candidatei pela primeira vez, na altura distribuí 12.500 cartões. Passados quatro anos, não me arrependi da opção. As pessoas perceberam ao que eu vinha. Podiam falar comigo e apresentar questões”, explica. “O que é importante é que as pessoas percebam que esta ligação é genuína. O meu número é o meu pessoal de há muitos anos.”
Nuno Matias contou no comício com apoios partidários como o antigo líder parlamentar do CDS, Nuno Magalhães, ou a ex-ministra das Finanças de Passos Coelho, Maria Luís Albuquerque (também membro da Assembleia Municipal de Almada pelo PSD, embora não se recandidate) — e está confiante num bom resultado. “Eu tenho 44 anos de vida e 44 anos de Almada”, reitera, sublinhando o balanço positivo da cooperação com Inês de Medeiros e manifestando-se disponível para repetir a experiência, mas invertendo os papéis.
“Nunca nos passou pela cabeça fazer outra coisa que não fosse uma atitude pró-ativa, positiva, uma consciência de trabalho pela positiva, que acrescentasse reflexão e ação”, explica. “Esperamos que o PS, ou outros partidos que tenham representação no executivo, possam fazer a mesma coisa que nós fizemos: estar disponíveis, pela positiva. Nós já o fizemos não ganhando. Esperamos que os outros também o façam se nós ganharmos, como esperamos.”