Não sabemos como aconteceu. Se foi o presidente a fazer-lhe vibrar o telemóvel, se algum companheiro de equipa a dar-lhe a boa nova, ou se até foi um jornal a antecipar-se e a chutar-lhe a notícia. Sabemos que Silas não o conhecia bem. A cara, o nome e a pessoa eram-lhe familiares, já o apanhara no campo, em pé diante do banco, a esbracejar e a gritar com se tivesse a própria vida em jogo. Mas “não conhecia bem” o novo treinador. Por isso pega no telefone e pede uma tabela a um “colega” que “tinha estado com ele no União do Leiria”. Troca uma pergunta por uma resposta e o que lhe é devolvido surpreende-o, bastante: “Olha, se calhar vais dizer que sou maluco. Mas o mister Jesus, a trabalhar, está ao mesmo nível do Mourinho”.
Silas tem sentido de humor. Acha que estão na galhofa com ele, a fazer uma piada de mau gosto que seria de bom caso fosse verdade. “Estás a brincar comigo?”, reage, a rir-se do que acaba de ouvir, desconfiado. Não acredita no que lhe dizem até conhecer o homem da voz rouca e do cabelo longo e branco. Convive a primeira semana com ele e cedo percebe que tinha de se deixar ensinar, como uma esponja que acumula a água que a rodeia. Silas volta a ficar surpreso — e lembra-se do amigo. “Eish, afinal o outro tinha razão. Não estava nada à espera que fosse tão bom, ao nível do treino e leitura de jogo, está ao nível dos melhores do mundo”, diz, com o verbo no presente por se lembrar do que viveu no passado.
Silas não é miúdo nenhum. Nesta altura com 29 anos, o médio de pés finos, dos que parece saber sempre o que fazer à bola, jogara em Espanha e Inglaterra e já tem os três jogos pela seleção nacional que Luiz Felipe Scolari lhe dera. Há muito que tem a vida de casa-treino-casa-comer-e-dormir, em que se corre muito e se põe as pernas a reclamar por descanso. As duas épocas de Belenenses que partilha com Jorge Jesus (entre 2006 e 2008), porém, são talvez as que o tornam mais feliz da vida. “Ia para o treino contentíssimo porque sabia que ia aprender alguma coisa. Tinha a certeza. Era um desafio constante à minha inteligência, adorava! Já gosto muito de ir treinar, mas com ele ainda gostava mais. Isto para um jogador de futebol não há melhor. Estarmos de folga e ficarmos contentes por amanhã irmos treinar”, explica, sem abrandar no ritmo com que nos debita palavras sobre quem hoje manda na equipa do Sporting.
Se o que Silas diz fosse um pincel, o retrato pintaria um Jorge Jesus meticuloso, mais do que exigente com com quem trabalha — porque no que uns podem ver sorte ele vê sempre trabalho. Alguém que além de ouvir, escuta. Um treinador sapiente como poucos e um homem humilde como muitos não o imaginam. “Foi o treinador com quem mais falei de futebol. Falei várias vezes com ele e as opiniões nem sempre eram as mesmas. Quando eu tinha razão, ou ele achava que a minha opinião era válida, assumia, sem problema nenhum. Podemos falar com ele e responder-lhe, nunca leva a mal. O principio dele é que a equipa ganhe com a intervenção de todos. Tem a humildade suficiente para, se eu estiver certo e ele errado, pensar nisso e admitir. Ele olha só para o benefício da equipa”, conta.
Esta é uma história em que o treinador cativa o jogador e quem está em campo se rende a quem dá ordens lá para dentro. Mas não é a única, porque Jorge Jesus não está hoje a lutar sozinho para ser campeão nacional. Aliás, está a tentar apanhar Rui Vitória.
O início de quem não gostava de “dar abébias” aos árbitros…
Do outro lado está um homem que deu uns pontapés jeitosos na bola. Mais: está um homem que até escreveu um livro inspirado nos princípios de Sun Tzu, autor do clássico sobre estratégia no campo de batalha — “A Arte da Guerra para Treinadores”. Rui Carlos Pinho da Vitória, natural de Alverca, nasceu a 16 de abril de 1970, ano em que o Brasil de Pelé e companhia espalharam magia no Campeonato do Mundo no México. Vitória é benfiquista desde pequeno e até dizia, quando jogava no Vilafranquense, que ia treinar o clube do coração um dia.
A razão do início da aventura como treinador foi trágica. Vitória, como contou nesta entrevista ao Expresso (agosto), perdeu os pais em 2002 e foi aí que decidiu pendurar as botas e começar a carreira de treinador. Estava no Alcochetense e foi convidado a continuar por lá, para orientar a equipa, mas também recebeu um convite do Vilafranquense. Optou pelo segundo, naquilo que foi um regresso a casa. Tinha 32 anos. A partir daí, adotou mais ou menos um lema interior: “Olha lá, já tiveste de sofrer tanto, estás com medo do quê?”. E assim começou a aventura, que desaguou no clube do coração. Pelo meio colocaria os emblemas de Fátima, Paços de Ferreira e Vitória de Guimarães no seu currículo. No Minho ganharia uma Taça de Portugal… contra o Benfica de Jorge Jesus.
Sérgio Paulo, 45 anos, jogou com Vitória em Vila Franca de Xira e lembra alguém especial, com a cabeça no sítio e os princípios intactos. “Era espetacular como treinador. O trabalho de campo era muito bom. Até achei estranho quando o vi por lá. Depois é que o Xavier, um colega, me contou que ele ia assumir. Ele tinha acabado a carreira de jogador no Alcochete. Quase todos já o conhecíamos. Foi bom!”, começa por contar.
Hoje um fiel de armazém, Sérgio vai pescar das memórias dos tempos de bola para recordar Rui Vitória como alguém próximo dos jogadores. “Era como se fosse um colega nosso. Ele tinha as ideias mais avançadas, era mais evoluído, havia muito trabalho com bola. Já quando jogávamos no Vila Franca comentávamos o que os treinadores faziam e os exercícios, e ele lá dizia que havia coisas que já estavam ultrapassadas, que não era assim que se fazia.” Rui Vitória, diz este ex-colega, não tinha favoritos e tratava todos de igual maneira: “Para ele eram todos titulares”.
Esta teoria foi assumida também por alguém que o sentiu na pele, essa frieza do distinguir as coisas. Paulo Xavier, com quem partilhou muitas aventuras e momentos no balneário, ficou de fora de um jogo especial para os jogadores de Vila Franca. Foi em 2003/2004, altura em que o FC Porto de Mourinho calhou em sorte na Taça de Portugal. Xavier ficou no banco. “Não foi uma maldade”, contou em entrevista ao Mais Futebol, em junho de 2015. “É a prova do treinador que é. Separa as ligações exteriores, vê o melhor para a equipa. É uma das grandes armas dele. Às vezes é preciso meter uma pedra no coração, como ele diz.” O resultado foi 4-0.
Sérgio Paulo não lembra quem eram as referências do treinador do Benfica. Se era a Holanda de Michels e Cruijff, se o Milan de Arrigo Sacchi ou se o futebol fechado e cínico de Helenio Herrera. Uma coisa é certa: jogava como joga hoje. A tática escolhida por Rui Vitória no seu arranque de carreira foi o 4-4-2, que agora recupera no Benfica, mais de dez anos depois. “Era uma tática normal na altura, usámos mais do que o 4-3-3. Cumprimos o objetivo, que era a permanência na Segunda Divisão. Fizemos um campeonato tranquilo, apesar das dificuldades financeiras. Houve até pessoal que já nem tinha dinheiro para ir aos treinos e que só ia graças a ele! Ele sempre soube ter o grupo na mão…”
Rui Vitória treinou duas épocas o clube onde jogou entre 1990 e 1999. Sérgio Paulo passou a vida toda no Vilafranquense, com exceção para um ano em que representou o Carregado. E a atitude do homem no banco? “Ele até tratava os árbitros por senhor! (risos) Queria saber o nome do árbitro para o tratar como deve ser. Quando era capitão já o fazia: saber o nome do árbitro para tratá-lo por senhor, para não dar muitas abébias ao árbitro (mais risos)”, responde Sérgio Paulo, enquanto se alonga sobre o homem a quem passou a bola antes de ele lhe dizer o que fazer em campo.
…e o início de quem se enganava “muito pouco”
De Vila Franca de Xira até Amora contam-se alguns quilómetros. São pouco mais de 75, demasiados para se escrever que as duas terras são vizinhas. Até estão em margens diferentes do rio Tejo, mas não tão distantes em terreno palpável quanto a separação que têm no tempo em que os dois treinadores estão, cada um, na sua terra. Jorge Jesus chega trintão ao Amora. É um jogador no pôr-do-sol da carreira quando vem do Algarve com o Almancilense. Fica no banco e assiste sentado aos três golos que a equipa sofre. O treinador tira-o de lá e ele dá uma valente ajuda para os algarvios empatarem o encontro. O presidente do Amora surpreende-se com a postura, as ordens que já dá, as coisas que diz, e vê em Jesus o que ele ainda não via nele próprio. Quer fazê-lo treinador do Amora.
Ouve um sim a vir do outro lado. Jorge Jesus é treinador aos 35 anos, já é um homem feito. Estamos em 1990 e Joaquim Duarte é um miúdo. Está nos juniores, a fazer pela vida para se tornar jogador, e na época seguinte salta para perto dos graúdos. Chega aos seniores e fica com os olhos colados à forma como começa a aventura de Jesus. Via-o da mesma maneira como o vê hoje, um treinador que “gostava muito de ensinar” e de fazer com que “os jogadores percebessem o jogo”. Fazia questão disso, insistia nas explicações, só parava quando já não duvidava que não havia dúvidas em quem o ouvia. Não era muito difícil, garante Joaquim, que se lembra de Jesus “ensinar e a gente perceber perfeitamente”, ao ponto de a equipa, às tantas, conseguir “jogar de olhos fechados”.
Isto eram outros tempos. Vivia-se o futebol dos pelados e da terra nas chuteiras, que faziam da relva um bem necessariamente precioso, das poucas estrelas da bola e dos clubes da terra com os campos cheios de adeptos. Não havia gabinetes com computadores armazenados com jogos e estatísticas sobre os adversários, mas Jesus não precisava disso. “Treinávamos ao sábado de manhã, na véspera do jogo. Quando saía a convocatória ainda ficávamos no balneário, com o Jesus, e ele durante meia hora, uma hora, explicava o que o adversário ia fazer. Claro que acertava. Não sei como, mas ele sabia tudo. Os convocados ficavam no balneário a olhar para o quadro. Se ele se enganasse era por muito pouco. Afinal, quem é que não se engana?”, pergunta Joaquim Duarte, que ainda hoje “fala regularmente” com o treinador do Sporting.
Diz que Jorge Jesus “já fazia isto há 25 anos”, na época em que “ainda se podia atrasar bola para o guarda-redes”. A evolução toca a todos e Joaquim admite que o técnico “deve ter mudado um pouco os métodos de treino”, ressalvando, contudo, que em tudo o resto — no homem meticuloso, trabalhador, caçador da perfeição e “bastante humilde” –, ele “não mudou nada”. Nem nos berros e no explicar coisas aos gritos a quem está dentro de campo. “Era muito explosivo no banco, sim”, confirma o atual diretor desportivo do Mafra, na altura um novato no Amora.
Nesta altura, Jesus tinha mais ou menos a mesma idade que Rui Vitória, um médio não muito ávido a grandes correrias, quando estava no Vilafranquense. Na versão de jogador, “ele era médio centro, mais ofensivo”, ou “mais um 10!”, lembra Sérgio Paulo, que jogou com Rui Vitória “sete ou oito anos” no Vilafranquense. “Era pouco agressivo, mas muito bom tecnicamente. Boa visão de jogo. Boa finalização, marcava golos… mais de livres.”
A pinta de jogador que lhe tiram bate certa com a dos seus ídolos. Tinham todos um sublime recorte ou uma carga emocional imensa, mas sem grandes correrias ou carrinhos tresloucados para recuperar uma bola. A coisa era mais pela classe: “Rui Costa, Zidane, Platini, João Alves, basicamente todos os que eram médios centro”, contou na tal entrevista ao Expresso, no início da época. Rui Costa hoje trabalha com Rui Vitória e, quando as coisas estiveram mais tremidas, chegou a dar um murro na mesa em defesa do seu treinador: “Em Rui Vitória nem se toca”.
E como jogador, lá dentro, como se portava ele? “É igualzinho a hoje. Uma pessoa tranquila, amigo do seu amigo, nada de arranjar confusões. Era um espetáculo! É como hoje, nada arrogante… como o treinador do rival”, diz Sérgio Paulo, não resistindo a mandar a alfinetada. “Eu era lateral direito, esquerdo e até central. Era sempre ali na defesa. Mas normalmente era lateral direito. Éramos amigos. Fora do campo não dava para muitas coisas, eu era de Vila Franca e ele Alverca, mas quando deu fizemos jantaradas. O Rui sempre foi discreto, não era aquela pessoa que gostava de chamar à atenção”, retratou.
Rui Vitória podia ser um homem discreto, pouco ávido a dar nas vistas, mas nunca escondeu que o Benfica era o clube que mexia com ele. “Era benfiquista assumido”, resumiu Sérgio Paulo, que chegou a ir com o treinador ao Estádio da Luz, como adeptos.
Sérgio Paulo e Rui Vitória chegaram a ir ao Estádio da Luz para ver um Benfica-Sporting, com “meia dúzia de colegas”. O resultado já não habita na memória. “Ele era benfiquista assumido. Gostava de ver futebol, mas o clube dele sempre foi o Benfica.” E como é isso de ter um amigo a conduzir o “Ferrari”? “Claro que é bom vê-lo, não podia ser melhor!”, dispara, rápido a dar resposta ao termo que foi cunhado por uma provocação de Jorge Jesus, que esteve seis anos sentado na cadeira que hoje dá assento ao ribatejano de gema. Mas a verdade é que Rui Vitória demorou menos anos a pousar ali.
Jesus farta-se de dar pulos no Amora, que lhe mete o primeiro trampolim debaixo dos pés. Sobe o clube da margem Sul à segunda liga e o Felgueiras vê-lhe a parte de cima da cabeça. Puxa-o ainda mais para cima e dá-lhe condições para chegar à primeira liga. Fica entre 1993 e 1997 por lá até apanhar um avião para a Madeira, onde treina o União durante poucos jogos. Dali vai para a Amadora, contratado pelo clube que é vizinho da rua onde Jesus nasceu. Toma conta do Estrela durante quatro épocas, cortados a meio por dois anos no Vitória de Setúbal. São os tempos de Jorge Jesus com o cabelo branco que nem cal, em que ele dá nas vistas mais pela forma como se comporta do que pela maneira como as equipas se safam em campo. Isso apenas acontece quando chega ao Belenenses, em 2006, após dividir três épocas por um trio de clubes (Vitória de Guimarães, Moreirense e União de Leiria).
Os do Restelo batem o pé a muita gente. O quinto lugar no campeonato e a final da Taça de Portugal perdida para o Sporting, em 2007, fazem boa figura. O treinador é mais desejado. O Sporting de Braga deseja-o e ele vai, sabe que por lá tem hipótese de dar mais nas vistas, de brilhar com intensidade suficiente para furar os óculos escuros dos clubes mais amigos dos títulos. O Benfica vê-o, Jorge Jesus chega a um grande. Jorge Ribeiro já lá está à espera, em 2009, uma temporada depois de se estrear pelos encarnados com 25 jogos no campeonato. Mas o português pouco joga. Jesus baralha a ordem e à frente do esquerdino ficam Shaffer e Sepsi, depois César Peixoto e Fábio Coentrão. A vida fica negra para Jorge Ribeiro, no tom que faria um jogador não ver esse tempo com bons olhos e de o repugnar. Mas não.
Para ele, Jesus era e é “um dos melhores treinadores portugueses”. O técnico mal lhe dá minutos, Jorge fica a conhecer os cantos ao banco ou à bancada, torna-se num jogador que não consegue jogar. Tinha tudo para ficar a achar o contrário do que hoje diz. “Gostei de trabalhar com o Jesus, apesar de não contar para ele na altura. Tinha que ser profissional e continuar a trabalhar, pronto. A dinâmica que ele mete no jogo, a pressão que os jogadores fazem sobre a bola, ele transporta isso do treino para o jogo. Em métodos de trabalho ele é fantástico”, explica, sem se acanhar quando despista a nossa intenção de sabermos mais, mais e mais.
Jorge Ribeiro dá corda à memória e conta como Jesus monta treinos de acordo com os outros fazem, cheios de exercícios e palestras para os seus perceberam como se anula os adversários: “No Benfica entrava às 7h da manhã e só saía de lá à noite. Ficava o dia todo nos computadores, a ver como jogava a outra equipa, a planear as coisas. Ele punha-nos a treinar durante a semana consoante a forma como a outra equipa se posicionava no campo. Depois transmitia aos jogadores: ‘Olha, aquele faz assim, o outro vira-se quando recebe a bola e chuta assim, com o esquerdo, estes fazem um movimento na diagonal, os outros na vertical, etc.’. Acertava em tudo, parecia bruxo”. Sem truques de magia, Jorge Jesus foi campeão na primeira época de Benfica e, nas cinco que ainda partilharia com o clube da Luz, conquistaria mais dois campeonatos e chegaria a duas finais da Liga Europa.
Pelo meio viram-se discussões — a forma como Óscar Cardozo o confronta em 2012, na final perdida da Taça de Portugal, contra o Vitória de… Rui Vitória –, mas Jorge Ribeiro não o tem como um treinador propenso a chatices, discussões e zangas. “Pode haver, mas ele quer sempre mais do jogador e isso é muito bom. O Jesus gosta de ensinar e gosta que o jogador seja melhor ainda. Quer sempre o melhor. No balneário é brincalhão, fala com toda a gente, só que depois, no campo, é como ele diz: trabalho é trabalho, conhaque é conhaque”, conta, esticando a ponta da corda que nos obriga a puxar Silas de volta para estas andanças.
O médio que, aos 39 anos, ainda joga no Cova Piedade, tem várias histórias presas na língua, à espera de serem disparadas. Silas prime o gatilho para soltar uma delas que dá o exemplo de que entre a teimosia e a dedicação está uma ténue linha que nem sempre é visível. “É provável que alguém o levasse a mal, mas só quando não o conhecessem ao princípio. Depois viam que era assim com toda a gente, porque vive muito o treino e o jogo. Quem o Jesus chamava mais a atenção era ao Cândido Costa, de quem ele gostava muito. Eu até lhe dizia que tinha um poder de encaixe incrível!”, conta, servindo-se de uma gargalhada para dar uma pausa ao discurso.
Cândido Costa era um extremo direito formado no FC Porto, mas Jesus vislumbrou-o uns metros mais atrás no campo, como o faria com éne outros jogadores nos anos seguintes — os casos de Coentrão e Melgarejo terão feito Bruno César ver o que aí vinha. “Ele levava muito nas orelhas, sobretudo quando passou para lateral, porque o Jesus passava muito tempo a trabalhar na linha defensiva. Mas o mister gostava muito dele, adorava-o! Mas quem o visse pensava logo: ‘Este gajo não gosta do Cândido!’. Se fosse preciso chamava-o à atenção umas 15 vezes. O Cândido punha na frente ele dizia que tinha de meter no pé, ou vice-versa”, retratou, saudoso dos tempos em que apertava a mão a Jorge Jesus quase todos os dias, à entrada e saída do treino.
Sérgio Paulo também o fez, já lá vão os anos, com Rui Vitória, embora depois pudesse ter passado a estar ao lado do homem que dá ordens no Benfica. “Sempre falou que queria ser treinador. É engraçado, ele sempre falou em ser treinador do Benfica! Dizia que um dia ia lá chegar. Só houve uma coisa que não cumpriu: era eu ser adjunto. Disse que me levava, mas nunca me levou para lado nenhum”, desvenda, entre gargalhadas. A promessa não foi cumprida, um obrigado não foi devido. Tão pouco Silas agradeceu a Jorge Jesus o que leu, há uns anos, num livro publicado após o técnico ser campeão nacional pela primeira vez. “Disse que fui o jogador mais inteligente que apanhou. Não acho que tenha de agradecer, tenho é de agradecer por tudo o que me ensinou. Ver uma coisa daquelas exposta num livro que vai durar para sempre acaba por nos deixar contentes. Não é que faça bandeira disso, mas gostei de ver, claro”, confessou.
Vamos ver qual dos treinadores acaba a agradecer ao outro por não o ter impedido de ser campeão.