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São miúdos autónomos, que sabem estar em silêncio, com uma capacidade enorme de resistir à frustração, capazes de respeitar os outros e de se apresentar em público. Tocam instrumentos com mestria, afinam no coro e ainda têm notas altas a Português e Matemática. Também têm menos tempo para brincar porque as suas cargas horárias têm de ser geridas com a precisão com que um CEO olha para a sua agenda. Não são personagens da Marvel, nem andam na Escola para Jovens Superdotados do Professor Xavier. São estudantes de música e parecem ter superpoderes.
“Depois de saírem os rankings das escolas, há sempre muitos pais a ligarem-nos.” O telefone de Jorge Campos, diretor pedagógico da Escola de Música de São Teotónio, deve começar a tocar já na segunda-feira. As escolas de música voltaram este ano a estar no topo da tabela e os seus alunos estão entre aqueles que melhores notas tiveram nos exames de Português e Matemática do 9.º ano. Olhando apenas para as escolas de música do ranking — que foi conhecido aos primeiros minutos deste sábado — a de São Teotónio é a melhor posicionada. No ranking geral, ficou com o 12.º lugar.
Se no universo Marvel, o professor Xavier só abria a sua porta a jovens mutantes, com potenciais superpoderes, também nas escolas de música é preciso testar aptidões musicais para passar da entrada. Só avança quem as tem (ou pode vir a desenvolvê-las) e são precisas outras características para aguentar um ensino que exige muito dos alunos, mas que também dá muito em troca. A resistência ao fracasso é uma delas.
“É mais fácil resistir à matemática, do que a um instrumento”, diz Rui Paiva, diretor da Academia de Música de Santa Cecília, que ocupa a 36.ª posição no ranking. E deixa uma pergunta no ar: quantas crianças de seis anos aguentam ouvir a professora dizer-lhe, uma e outra vez, que o que acabou de fazer está errado?
A sua escola, em Santa Clara, a única freguesia de Lisboa ainda em estado de calamidade por causa da pandemia, faz parte de uma fatia finíssima do ranking do 9.º ano, que representa menos de 1% do bolo: num total de 1.111 estabelecimentos, apenas oito são de ensino artístico especializado de música. Apesar disso, todas elas estão entre as 61 escolas em que os alunos têm melhores notas nos exames, com quatro no top 20. As duas primeiras públicas a aparecerem, em 16.º lugar e em 28.º, têm em comum serem escolas de música — a do Conservatório Nacional, em Lisboa, e a do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian, em Braga. É preciso passar mais quatro estabelecimentos de ensino do Estado, para, em 61.º lugar, surgir a terceira e última escola pública de música, a do Conservatório do Porto.
“Na música, não se pode ser mais ou menos. Tem de se fazer bem à primeira, tem de se saber esperar, controlar a ansiedade”, acrescenta Jorge Campos, o diretor pedagógico da Escola de Música de São Teotónio.
É também por isso, pelo muito que se exige dos alunos, que a música não pode ser vista como uma panaceia capaz de resolver o problema do insucesso escolar, diz, por seu lado, Rui Paiva. “Quando falamos de música do ensino artístico especializado não podemos ter a ilusão de que pode chegar a todos. Seria impensável perspetivar o ensino artístico para uma população inteira”, defende. Outra coisa, bem diferente, é o trabalho feito fora de um conservatório, onde a música pode ser vista com caráter lúdico e ser integrada no currículo geral.
“Quando uma criança está a aprender flauta ou piano, insiste e erra, insiste e erra. E ouve o professor dizer-lhe que ainda não está lá. Nem todos os alunos resistem a este tipo de exigência”, diz o diretor de Santa Cecília, lembrando que na sua academia, como noutras, o caminho dos alunos é o da formação de um músico profissional.
Por conhecer as dificuldades deste caminho, Santa Cecília tem uma característica única entre as escolas de música — tem um currículo alternativo para quem não consegue frequentar com êxito o currículo especializado. “O caminho da música não é para todos, nem pode ser exigido a todos. Por isso este modelo foi concebido para ser flexível”, detalha Rui Paiva.
Quando chegam ao final do percurso, só cerca de metade dos alunos se mantém no ensino especializado. Os demais passaram para o alternativo. “Desta forma, não são excluídos da escola, e muitas vezes permanecem até na mesma turma e com os mesmo alunos, mas sem as disciplinas de música”, conta o diretor.
Os bons alunos estudam música
“Já Platão dizia que a música é um instrumento educacional mais potente do que qualquer outro. Desenvolve os dois lados do cérebro, estimula a linguagem e desenvolve as aptidões matemáticas”, defende Lilian Kopke, diretora da Escola Artística de Música do Conservatório Nacional, em Lisboa.
Se o filósofo da Grécia Antiga acreditava que o homem não estava completo sem a música, os estudos modernos mostram que os músicos profissionais usam os dois hemisférios do cérebro em simultâneo, ao contrário dos demais, que privilegiam um deles. Lógica, lado esquerdo. Emoção, lado direito.
Seja por esse, ou por outro motivo, certo é que os conservatórios são reconhecidos pelos excelentes resultados académicos que os seus estudantes obtêm nas disciplinas gerais. E coloca-se uma questão: é a música que faz bons alunos ou são os bons alunos que vão estudar música?
Rui Paiva responde à pergunta com outra pergunta e arrisca uma teoria. “Será que para ter sucesso académico é preciso estudar música, ou as capacidades já estavam lá e foi o percurso que as desenvolveu?” Se calhar um pouco das duas coisas, acaba por admitir o diretor da academia lisboeta, que acredita que há nestes alunos uma predisposição para uma série de características que o ensino da música potencia. E essas características são alavancas para o sucesso.
“Sabemos que muitos alunos simultaneamente têm muito bons resultados académicos. Temos esta perceção de que o ensino de música potencia uma série de capacidades, potencia a capacidade de trabalho, mas é difícil dizer que é só pela música”, defende.
Para os pais que procuram conservatórios tendo na mira apenas resultados académicos, os diretores ouvidos pelo Observador deixam um alerta, resumido por Jorge Campos: “O objetivo do ensino artístico especializado — dos conservatórios — é, antes de mais, formar músicos profissionais.” Esta ideia surge em oposição à de que a meta poderia ser a de ter bons resultados nos exames. “Mas que é um facto é um facto”, diz a sorrir, referindo-se às boas notas dos estudantes da escola de Coimbra.
Se a aptidão musical não fizer parte do perfil da criança, a escolha de um conservatório pode até revelar-se uma má jogada. “O ensino artístico especializado pode ser um problema e não uma solução. A música não se faz de segunda a sexta-feira, das nove às cinco, e pode não ser certa para determinado tipo de crianças”, argumenta o diretor pedagógico da escola privada de Coimbra.
Nesses casos, é mau para todos. “O estudo da música requer muita disponibilidade e empenho e há regras básicas: se os alunos tiverem negativa em duas disciplinas de área de música tem de abandonar a nossa escola. Não é uma escola de musicoterapia”, sublinha Jorge Campos.
Essa disponibilidade tem de existir também do lado dos pais, contam Duarte Cunha e Rui Pinto, com filhos a estudar na Escola Artística do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian.
Com três filhos a frequentar o conservatório, dois no 6.º ano e um no 7.º, a logística nem sempre é fácil, até porque muitas vezes implica o transporte de instrumentos. O mais velho estuda piano, os gémeos, de 11 anos, guitarra e clarinete. Apesar de tudo, durante a pandemia, Rui Pinto, que faz parte do coro de pais, diz que teve a sorte de ter uma casa grande, com espaço para cada um dos três rapazes poder estudar à vontade.
Difícil é encontrar características que assentem como uma luva a todos os estudantes de música. “Até os gémeos, que são tão parecidos por fora, têm comportamentos diferentes. Na minha perspetiva, uma das coisa que aprecio é que os nossos filhos, que têm uma carga trabalho bastante maior do que outros, sabem organizar-se e habituam-se a saber estar”, capacidades que acredita serem desenvolvidas também com a ajuda da música. Por isso, diz estar profundamente convencido que toda a gente devia ter música na escola, mais do que aquela que hoje se estuda no ensino geral, de caráter mais lúdico.
Duarte Cunha, que é presidente da associação de pais, foi aluno da escola até ao 9.º ano e foi a ótima experiência que ali viveu que o levou a inscrever os dois filhos, que agora terminaram o 3.º e o 6.º ano. “Paralelamente à música, tem um corpo docente belíssimo, uma direção que promove uma ótima relação entre todos e isso leva muitos pais, mesmo sem saber se os filhos têm aptidão, a equacionar o ingresso na escola.”
Em sua casa, toca-se guitarra e saxofone e o mais aliciante, em tempos de pandemia, foi assistir, em tempo real ao progresso dos filhos. Para si, os pontos fortes no estudo da música são vários, mas destaca a importância de saber organizar o tempo e de lidar com uma carga horária exigente.
Por último, Duarte Cunha aponta a autonomia. “No ensino artístico têm objetivos como estar à frente do público, subir para um palco, e isso ajuda-os a ter responsabilidade, a perder a vergonha, e acrescenta-lhes autonomia.”
Música e matemática, primas em segundo grau
Sobre a influência no sucesso académico, em Coimbra, Jorge Campos lembra que a música está muito ligada às outras áreas do saber. “Música e matemática estão mais próximas do que possa parecer. A música está dentro de todas as disciplinas e todas as disciplinas estão na música.”
Exemplos, tem muitos. “Tenho de saber o que são três quartos para os saber pôr no tempo e no espaço certos. As frações musicais, as próprias sequências entre as notas são matemática — foi Pitágoras quem definiu as notas e usou as regras da matemática para fazê-lo.” Por isso, diz Jorge Campos, ao pôr as regras em prática os alunos percebem mais facilmente a teoria da matemática.
“As notas tem um tempo e meio, dois tempos e meio. Quando estou a tocar estou sempre a dividir os tempos. A Física… Quando dou as ondas sonoras tenho de perceber os hertz, se o som está desafinado é porque deu mais voltas por segundo do que devia. E os alunos percebem na prática o que dão nas aulas de Física e Matemática.”
Mas há mais. “As frases da música ensinam-me quando paro, quando respiro. E isso são Ciências. Percebo que o oxigénio é importante para o organismo, que se não respirar no tempo certo vou-me enganar porque o cérebro não é oxigenado. Toco quatro compassos, respiro. Se toco seis e não respiro, vou-me enganar: o cérebro não conseguiu pensar. Sem oxigénio, a vista fica turva, deixo de pensar.”
Para concluir o raciocínio, o diretor pedagógico da escola de Coimbra lembra que até o sistema circulatório e o aquecimento do corpo são fundamentais num músico: “Quase que diria que a música põe em prática todas as áreas de saber.”
Alunos disciplinados e resilientes
“Quem vem dar aulas aqui pela primeira vez, diz que é um gosto. Quando o professor pede para os alunos fazerem silêncio, eles fazem. Para além disso, os alunos trabalham para ter boas notas, ter negativa é quase um trauma”, diz Ana Caldeira, diretora do Conservatório de Braga.
Toda essa atitude está ligada à música. “Na aula de orquestra, eles são treinados para estar em silêncio absoluto. Têm de saber respeitar o outro, saber quando é a sua vez de entrar. Quando chegam à aula de Matemática vão usar todas essas competências”, resume.
A escola, com apenas duas turmas por ano, continua a não ter retenções e por ser uma escola pequenina “ninguém fica desamparado”. O papel das famílias também é importante, diz Ana Caldeira, revelando que na sua maioria são pais preocupados e interessados na vida académica dos filhos, embora saiba que há sempre exceções, mesmo que poucas.
“Sabemos que somos uma escola privilegiada, não é de elite, nem de meninos ricos, e até temos muitas crianças de escalão A e B. Mas, durante a pandemia, vimos que não há casas de alunos sem computador e internet. A escola deu-se ao luxo de emprestar alguns tablets, para gestão familiar, para casos em só havia um computador para a família”, diz a diretora do Conservatório de Braga.
Em Lisboa, no Conservatório Nacional, a imagem dos alunos é quase tirada a decalque da dos estudantes de Braga. “O estudo da música não é uma coisa fácil. É um tipo de linguagem que requer muita concentração, muito estudo, muita resiliência”, diz Lilian Kopke, a diretora. “Não temos quase problemas de indisciplinas, temos muito poucos chumbos e os alunos estão muito concentrados no que estão a fazer.”
O segredo está no estudo das partituras. “Para estudar um instrumento, ou para cantar, o aluno tem primeiro de descobrir como é que o som vai ser produzido. Isso mexe com o desempenho das capacidades cognitivas, a memória, o raciocínio, a sensibilidade, a criatividade, a concentração, a autodisciplina. Um aluno tem de se ouvir, de se analisar, de se corrigir”, detalha a diretora do Conservatório Nacional.
Tudo isso são coisas que ficam com a criança, que são usadas noutras disciplinas e ao longo de toda a vida. Ter turmas pequenas, de 20 alunos no máximo, também ajuda, mas Lilian Kopke não tem dúvidas de que a música é fundamental para o sucesso dos alunos. E apesar de todas as contrariedades que o seu conservatório tem enfrentado, como a falta de obras no seu edifício mãe e a mudança de instalações para uma casa emprestada, isso não tem afetado os resultados.
“É o segundo ano consecutivo que estamos no topo do ranking. O ensino da música tem particularidades e o Ministério da Educação tem de perceber isso. Já nós temos de lhe mostrar o que valemos com resultados, como temos feito”, afirma. De resto, sabe que é um ensino que tem custos elevados, algo que a tutela também tem de entender.
“Os instrumentos são como os carros e têm de ir para a revisão. Afinar instrumentos tem um preço. Temos uma pessoa que vem ver os órgãos, outra que vem do estrangeiro para afinar os cravos. Tudo isto tem custos”, sublinha Lilian Kopke.
Apesar de as 8 escolas de música estarem nos primeiros 61 lugares do ranking do 9.º ano, desaparecem no do secundário. Ana Caldeira, do Conservatório de Braga, conta que no seu caso os alunos que têm de fazer exames fazem-no como autopropostos e não como internos, o que os torna invisíveis nos rankings. Já Rui Paiva, de Santa Cecília, argumenta que o secundário da sua escola é pequeno em termos de dimensão, 25 a 30 alunos, e o número de exames feitos não são suficientes para aparecerem nos rankings.
Para aparecer nos rankings do Observador é necessário haver 40 exames feitos (dois por estudante) entre os alunos internos de uma escola. Apesar disso, Rui Paiva lembra que a preocupação não são os exames e que a maioria dos alunos consegue entrar nos cursos e na escola pretendida.
Já Ana Caldeira lembra que o curso básico de música é conclusivo. “Se forem estudar para o estrangeiro, por exemplo, não precisam de fazer exame. E mesmo os que ficam cá, depende. Há aqueles que vão prestar provas de instrumento e formação musical. Algumas escolas exigem um exame de ingresso, outras não.”
Mesmo sem aparecer nos rankings do secundário, a diretora do Conservatório de Braga garante que os bons resultados se mantêm. “Os nossos alunos têm muito boas notas no secundário, a nossa média interna do 12.º ano é sempre acima da nacional. O ano passado foi quase de 15, e este ano deve ser melhor. Quando for a vez da atual turma de 11.º ano ainda deverá ser mais alta porque é uma turma excecional”, diz com orgulho.
Música e pandemia, um casamento muito forçado
Como uma orquestra bem afinada, os diretores são unânimes em elogiar o esforço dos professores, alunos e pais, reconhecendo que sem isso a história não se escreveria da mesma maneira.
Durante a pandemia foi preciso tomar algumas decisões, nem todas fáceis. Em Braga, as classes de conjunto, como coro e orquestra (de cordas, de sopro e sinfónica), foram suspensas. “A decisão foi de que nessas disciplinas não havia condições para continuar. É uma classe de conjunto e o conjunto não está lá, torna-se impossível. Surgiram algumas experiências, alguns projetos engraçados, essencialmente trabalho de tecnologia, mas que não é a mesma coisa”, conta.
Assim, o conservatório dirigida por Ana Caldeira assumiu-se que não era viável avaliar os alunos nas disciplinas de conjunto. A nota para o 3.º período manteve-se igual à do anterior.
No conservatório de Lisboa, o ensino à distância só terminou para os alunos do 11.º e 12.º ano nas disciplinas sujeitas a exame nacional e a escola aproveitou para retomar as disciplinas de instrumentos e música de câmara. Quanto ao resto, todos tiveram de se adaptar, entre aulas síncronas e gravações. “Nas plataformas o som fica deformado, o violino atinge agudos que não são compatíveis com aulas online. Nas aulas de instrumentos a qualidade de som é péssima e o pior é para os mais pequeninos, que dependem muito do professor, que lhes vai dizendo como segurar o arco”, detalha Lilian Kopke.
Em Coimbra, nas disciplinas gerais não houve grande problema, até porque na escola já recorriam bastante ao e-learning. Faltava a parte síncrona, que usaram para manter rotinas e horários. O problema é quando se chega à música.
“Não há aula suficientemente síncrona para dar uma aula de instrumento. Quando há um delay de segundos, o professor não sabe se foi a internet ou se foi o aluno”, diz Jorge Campos. Por isso, às aulas síncronas juntaram as gravações áudio, que serviram para analisar o trabalho dos estudantes.
Se a dois é difícil, a 50 mãos é ainda mais complicado. “Não há nenhuma plataforma que permita que dois alunos toquem ao mesmo tempo. Para a orquestra funcionar era preciso que todos tivessem a mesma velocidade de internet, placas gráficas e de som iguais”, diz o diretor da escola de Coimbra. Apesar disso, foi possível fazer montagens a partir das gravações dos alunos, um trabalho mais tecnológico do que musical.
Em breve, vão começar os períodos de audição, que terão um peso diferente do habitual, mas vão existir, da mesma forma que o coro e a orquestra serão avaliados dentro das circunstâncias atuais. Até mesmo os testes de instrumento, feitos com um júri de dois professores, continuam a acontecer, conta Jorge Campos.
Com o ensino à distância, Rui Paiva lembra que uma das dificuldades que se tem levantado entre professores é a avaliação dos alunos. “Acima de tudo, discute-se a credibilidade do que estamos a avaliar. Aqui, onde isso não foi problema foi no instrumento — quando os alunos têm de gravar uma peça não há forma de enganar, é muito evidente o que está ali. O prejuízo não foi tão grande como seria de esperar.”
Essa fatura, tal como nas outras escolas, foi paga nas classes de conjunto. “Tudo aquilo que tem caráter muito prático e em que é preciso o coletivo — o coro, a orquestra — não consegue trabalhar na linha do que são os seus objectivos normais, simplesmente porque o coletivo não está lá”, argumenta o diretor de Santa Cecília.
E preparativos para setembro? Lilian Kopke está otimista sobre o regresso. “Acho que vai ser um regresso normal, presencial. Nas aulas de orquestra e coro não é possível evitar a proximidade quando temos 50 ou 60 pessoas — nem temos salas com espaço para isso.”
Em Coimbra, estão a ser preparados vários planos consoante o ensino se mantenha à distância, volte a ser presencial ou se torne numa solução híbrida. O preferido de todos os diretores é o regresso à sala de aulas, ao vivo, a cores, e com muito som. “Numa aula de instrumento, os meus gestos vão ajudando o aluno. São pormenores dos ataques e da afinação que online simplesmente não consigo fazer”, conclui Jorge Campos. Para esses detalhes a distância é fatal, principalmente quando o maestro corre o risco de ficar congelado no ecrã, deixando a secção de cordas entrar fora de tempo ou em cima do solo. E vice-versa.