“Ai, coitado. Ele até já está amarelito, deve estar tão cansado…”, comentam entre si duas curiosas nos seus entas, espreitando por cima dos ombros da dúzia e meia de militantes à caça da melhor fotografia com a estrela da tarde. O porco a rodar no espeto (potencial de Michelin), a banquinha a servir finos (não tão bons como o porco), os foguetes (dispensáveis), os bombos (ainda mais dispensáveis) e a carrinha de caixa aberta enfeitada de megafones e bandeiras laranjas deixavam pouca margem para confusão: o PSD de Arcozelos, em Ponte de Lima, queria receber Rui Rio em festa e foi em festa que o receberam.
Com centenas de quilómetros nas pernas, país e meio percorrido, de Norte a Sul e de Sul a Norte, a caravana social-democrata entrou no coração do Alto Minho para mais um dia de campanha, o quinto no período oficial. Se Rui Rio está cansado, não parece. Entrou em tudo o que era loja do centro histórico de Viana do Castelo, fez uma paragem especial em Caminha para falar aos jornalistas, seguiu pela tortuosa Serra d’Arga, onde ouviu pacientemente as queixas e reivindicações dos locais, experimentou o verde tinto de Ponte da Barca e terminou o dia em Ponte de Lima, bastião do CDS desde tempos imemoriais.
Mais uma vez: se Rui Rio está cansado, não o demonstra. Não que tenha tido uma agenda particularmente preenchida (três ações de campanha, das 10h30 às 16h25), não que seja particularmente enérgico nas interações que mantém (“Muito bem, muito bem”, responde quase sempre), ou tão pouco dado a grandes extravagâncias (“Gelado? Posso, mas não devo”). Mas Rio vai mantendo a boa disposição (uma diferença para outras campanhas), não se furta às selfies (e foram umas quantas), nem despacha um descontraído almoço regado a vinho branco Estreia na companhia do candidato da terra, do secretário-geral do partido, José Silvano, e de mais duas ou três figuras locais.
Tudo em velocidade de cruzeiro, sem grandes pressas, sem grande pressão, quase a roçar o desprendimento. Numas eleições que muitos dos seus críticos apostam que sejam as suas últimas, Rui Rio parece seguir indiferente à futura guerra interna que terá pela frente se quiser segurar a liderança do partido.
A única vez que baixou a guarda foi na Serra d’Arga, depois de ouvir a intervenção espontânea e comovida de um popular (a falta de resposta do Governo ao drama das vespas asiáticas, a falta de cuidados de saúde, o perigo da exploração de lítio). “Muito obrigado pela sinceridade. Na política, aquilo que mais falta é sinceridade e o que mais sobra é a hipocrisia”, desabafou.
Tudo o resto foi feito em registo passeio no parque, calça clara, sapato de fivela preto, camisa branca com pequenas riscas azuis, relógio no pulso, óculos Rayban, ora na cara, ora pendurados ao pescoço. Se Rio está nervoso quanto ao seu futuro político, não foi no Alto Minho que se viu pinga de nervosismo.
Não que exista um entusiasmo desmedido ou uma onda de euforia. Em Ponte da Barca, a jogar em casa, fez uma curta intervenção onde aproveitou para lembrar que a força do PSD depende da implantação do partido no território, para insistir que o partido precisa de “encurtar fortemente” a diferença de 63 câmaras que tem para o PS e para pedir a todos que “levassem um amigo também” no dia 26. O mantra é e será o de sempre até ao fim: “A implantação nas autarquias é que determina a grandeza do partido”.
O cavalo de batalha, este sábado e nos dias anteriores, também foi mesmo. Em Caminha, e depois em Ponte de Lima, Rio voltou a acusar António de Costa de usar o fato de primeiro-ministro e os milhares de milhões de euros que aí vêm para “iludir” os portugueses e ganhar nas urnas. “Quando o primeiro-ministro anda de bazuca em punho, a fazer campanha eleitoral pelo PS, é evidentemente que mais nos queremos distinguir e falar a verdade.”
Encontrado o filão político, Rio aproveitou para tentar introduzir um novo tema na agenda política: a falta de rigor na atribuição de subsídios e apoios sociais. “O que ouço há bastante tempo é as pessoas dizerem que precisam de empregados e não têm, e não tem porquê? Porque não há? Não, porque as pessoas estão com o rendimento mínimo ou subsídio de desemprego e deixam-se estar e não querem trabalhar. É preciso fiscalização exigente e rigor”, pediu Rio, em Caminha.
Repetiria o mesmo, 50 quilómetros à frente, cinco horas depois, em Ponte de Lima. “As pessoas estão acomodadas à assistência social, aos subsídios que o Estado dá e preferem não trabalhar”, atirou o líder social-democrata para o aplauso convicto de umas centenas de pessoas que assistiam ao comício de Rio em cima do atrelado transformado em palco, coqueluche da caravana laranja.
Cereja no topo do bolo: horas antes, Fernando Pimenta, homem da terra, acabara de conquistar o título de campeão do mundo conquistado em K1 1.000 metros nos Mundiais de Copenhaga. Uma borla para Rio. “Ele mostra-nos a todos, principalmente mostra ao Governo e ao PS que não vamos lá na vida com facilitismo, temos que ir com trabalho e com rigor.”
Rigor e trabalho, vai prometendo Rio para convencer eleitores e militantes. Ou “a convicção da razão”, como disse na Serra D’Arga. “É preciso ter a convicção da razão. E ter mau feitio. Não se tem de ser suicida, mas convicto. Aquilo em que eu acredito faço mesmo, não vou na linha normal. Para ir na linha normal há tantos”. Rio escolheu a sua linha, às vezes tão sinuosa como a Serra D’Arga. No dia 26 de setembro, contados os votos, terá mais uma prova para perceber se ela foi certa ou errada.