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Um computador, uns dossiers e uma garrafa de água. Foi assim que Rui Pinto entrou na sala do sexto andar do Tribunal Criminal de Lisboa, ao longo das últimas quatro semanas, para responder às perguntas do coletivo de juízes. E apresentou-se sempre da mesma maneira – de camisa azul, calças de ganga e sapatilhas verdes, brancas e vermelhas.
Em quatro sessões — num total de quase 24 horas em que esteve a prestar esclarecimentos ao tribunal —, o alegado pirata informático, que está acusado de dezenas de crimes de acesso indevido, violação de correspondência, acesso ilegítimo e uma tentativa de extorsão, analisou, ponto por ponto, a acusação feita pelo Ministério Público.
Rui Pinto assumiu a autoria de vários acessos a contas de e-mails, negou outros, explicou como começou o Football Leaks, revelou que está a trabalhar com as autoridades francesas, mas, terminada a análise da acusação, Rui Pinto recusou esta segunda-feira responder às questões dos advogados dos assistentes. E, assim, ficaram também por esclarecer algumas dúvidas destas quatro sessões — que foram, aliás, os únicos momentos em que o alegado hacker falou publicamente, à exceção de umas breves declarações feitas há mais de dois anos, logo no início do julgamento do caso do Football Leaks.
As contradições e o que ficou por esclarecer
Rui Pinto sabia ou não o que é extorsão?
Um dos crimes pelos quais Rui Pinto está a ser julgado é o de tentativa de extorsão ao fundo de investimento Doyen. Mas o alegado pirata informático disse ao coletivo de juízes não saber em que consistia o crime de extorsão, desconhecendo mesmo o significado da palavra, na altura em que trocou e-mails com Nélio Lucas, ex-representante da Doyen, quando pediu entre 500 mil e um milhão de euros para não divulgar a informação que tinha do seu lado.
Aliás, depois de trocados vários e-mails com Nélio Lucas, as conversas passaram a incluir dois advogados — Pedro Henriques, do lado de Nélio Lucas, e Aníbal Pinto, do lado de Rui Pinto. No entanto, o alegado pirata informático disse sempre em tribunal não ter “a devida consciência de que aquilo poderia ser um crime de extorsão”.
Hoje em dia, reconheço que aquilo pode ser enquadrado num crime de extorsão. Naquela altura, sabia desde o início que a Polícia Judiciária estava a investigar, mas do ponto vista técnico, sabia que nunca iam chegar a mim.”
Sobre a intervenção de Aníbal Pinto neste processo, e a propósito de a troca de e-mails poder configurar um crime de extorsão, o coletivo de juízes insistiu várias vezes, mas a resposta nunca mudou: “Não estava consciencializado sobre o que significava a palavra extorsão. Não sabia o que era extorsão.”
Esta foi uma das questões que a representante da Doyen considerou esta segunda-feira não estar esclarecida, já que Rui Pinto, nas alegações prestadas em março de 2019 ao Ministério Público, disse precisamente o contrário, reconhecendo que estava consciente do crime de extorsão. O assunto não foi esclarecido por Rui Pinto, já que esteve recusou prestar quaisquer declarações.
Há que assinalar, no entanto, que Rui Pinto reconheceu, a propósito destas declarações, que poderiam existir algumas contradições em relação ao que foi dito em 2019 — sendo a noção sobre o crime de extorsão um desses casos. Por isso, o tribunal considerou, também esta segunda-feira, não existir “necessidade de reprodução das declarações prestadas em março” para avaliar a contradição entre a posição assumida agora e os argumentos apresentados há três anos.
“Nas declarações apresentadas em julgamento, o mesmo [Rui Pinto] aludiu às contradições entre alguns pontos das declarações que prestou agora em julgamento e as que havia prestado em 2019”, referiu a juíza Maragarida Alves.
Rui Pinto não trabalhava sozinho. Mas quem são os outros?
Ao longo das quatro sessões em que Rui Pinto esteve disposto a falar em tribunal, houve um assunto que foi abordado todas as segundas-feiras, mas que nunca foi esclarecido: quem, além do alegado hacker, esteve envolvido na revelação de documentos confidenciais do mundo de futebol, entre negócios para a contratação de jogadores profissionais, ou os próprios contratos assinados entre atletas e clubes, num escândalo que trouxe à luz do dia alegadas informações comprometedoras sobre esquemas fiscais envolvendo milhões?
Uma certeza, pelo menos, existe: o Football Leaks não foi feito apenas por Rui Pinto, apesar de ter sido ideia sua. Mas os restantes membros não são conhecidos e o alegado pirata informático recusou, sempre, denunciar os colegas. Aliás, os primeiros acessos às contas de correio eletrónico do Sporting, por exemplo, não foram feitos por Rui Pinto, segundo o próprio.
As perguntas do coletivo de juízes foram várias e em diversos momentos, sobretudo quando Rui Pinto se referia aos acontecimentos utilizando a segunda pessoa do plural: “O nosso propósito”, “Um dos nossos amigos do Football Leaks”, “Precisávamos de ter acesso a muita informação”. As tentativas de saber quem são os restantes elementos do Football Leaks nunca tiveram, no entanto, sucesso.
Só ficou no ar um pormenor lançado por Rui Pinto, logo na primeira sessão, e que surgiu a propósito dos acessos aos e-mails de vários funcionários do Sporting. No ponto 47 da acusação feita pelo Ministério Público é identificado um IP da Universidade do Porto que terá sido utilizado para aceder às contas do clube leonino. Antes de olhar para a resposta de Rui Pinto, importa esclarecer que o IP é o número que identifica um dispositivo dentro de determinada rede. Sendo IP da Universidade do Porto e estando Rui Pinto a sublinhar que não foi o autor dos primeiros acessos, a juíza Margarida Alves questionou:
“— Alguém que colaborava consigo estava na Universidade do Porto?
— Meritíssima, eu não queria ir por aí. Mas já que chegámos a esse detalhe, é importante esclarecer uma situação (…). Este endereço de IP pertence à Universidade do Porto. Pertence à rede do Instituto para o Desenvolvimento Agrário da Região Norte. É partilhado com o Instituto de Ciências Agrárias de Vairão, que pertence à Universidade do Porto. Ambas (as redes) estão em Vila do Conde. Nunca estudei em Vila do Conde. Estudei na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, em plena cidade do Porto. Como estudante da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, só podia aceder à rede da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Não podia aceder à rede de outras faculdades. É verdade que estão na Universidade do Porto, mas são outra rede.”
Blogue ‘Mercado de Benfica’. Quem divulgou os e-mails?
Uma vez que Rui Pinto recusou sempre revelar quem trabalhava consigo, ficou também por esclarecer quem é o autor do blogue ‘Mercado de Benfica’, a página onde foram divulgados os e-mails do clube, em 2018. “O autor trabalhava no Football Leaks”, explicou Rui Pinto, que admitiu, aliás, que teve várias discussões com o criador do blogue, que é seu amigo “há vários anos”.
Eu queria que a informação fosse dada ao consórcio de jornalistas e ele, por estupidez ou teimosia, decidiu criar o blogue. Esse teimoso insistiu que queria fazer as coisas de outra maneira.”
A situação foi, segundo Rui Pinto, “lamentável”. “No Football Lekas nunca foram divulgadas caixas de correio. Eu não consegui fazer nada. Tentei, mas não consegui”, disse na terceira sessão em que respondeu às questões do coletivo de juízes.
“A única coisa que posso dizer é que lamento profundamente que essa informação tenha sido divulgada, mas não posso pedir desculpa por uma coisa que não fiz”, acrescentou. E, neste ponto, no meio da incerteza sobre a identidade do autor do blogue, Rui Pinto assegurou não ser ele o seu autor.
Há, no entanto, uma coincidência, até mencionada pelo coletivo de juízes. É que não foram feitas mais publicações no tal blogue desde que Rui Pinto foi preso, em 2019, na Hungria. “Fui detido e os outros assustaram-se”, justificou.
As explicações que apresentou em tribunal
O Sporting e o início do Football Leaks
“Em 2015, o assunto da atualidade era o Sporting. E houve dois pontos interessantes, que nunca foram esclarecidos porque nunca houve vontade disso. O Sporting fez uma queixa na Polícia Judiciária. E na queixa mencionou dois nomes: Pedro Guerra e António Simões”, começou por dizer Rui Pinto, logo na primeira sessão em que aceitou falar. E foi assim que teve início o Football Leaks. No caso de Pedro Guerra, por exemplo, este comentador mostrou, em 2015, a minuta do contrato do jogador Mitroglou e isso terá despertado o interesse de Rui Pinto.
Nesse mesmo ano, em 2015, Rui Pinto começou a entrar nas contas de e-mail de quatro funcionários do Sporting Clube de Portugal: Virgílio Lopes, Carlos Vieira, Rui Caeiro e Sancho Freitas. Entrou mais do que uma vez, sempre motivado pelas muitas transferências de jogadores que estavam a ser feitas naquele clube.
E também era importante recolher informações antigas, anteriores à presidência de Bruno de Carvalho. A altura de Godinho Lopes era a altura em que o Sporting teve colaboração mais ativa com fundos de investimento. Foi também a altura em que Álvaro Sobrinho entrou com capital social no Sporting. E era necessário perceber os passos que levaram Álvaro Sobrinho a ter uma percentagem tão elevada. Álvaro Sobrinho tinha o passe de vários jogadores, depois converteu essas percentagens dos passes e conseguiu entrar no capital da SAD. Tudo isto com fundos desviados do Banco Espírito Santo.”
Além do acesso às contas dos já referidos quatro funcionários do Sporting, Rui Pinto entrou também nos e-mails de Octávio Machado e de Pedro Almeida — os dois também do Sporting –, “mas não tinha nada de relevante”.
No entanto, a acusação refere mais nomes, incluindo Bruno de Carvalho e Jorge Jesus. “Não fui eu”, sublinhou o alegado pirata informático. Aliás, há vários acessos que constam no documento cujas datas e horas se sobrepõem, o que significa que terão sido várias pessoas a aceder às diferentes contas de e-mail. “Era um trabalho em conjunto.”
Na altura dos primeiros acessos, eu não estava em Budapeste. Ou seja, não fui eu que iniciei os acessos.”
A Doyen e a tentativa de extorsão
Além da contradição já mencionada — quando Rui Pinto disse desconhecer o conceito de crime de extorsão —, a história que envolve o fundo de investimento Doyen é longa. Começou em Londres, pela mão de um dos membros do Football Leaks, e terminou com a identificação de Rui Pinto pela Polícia Judiciária, depois da tentativa de extorsão a Nélio Lucas.
Aqui, tal como em vários pontos, Rui Pinto negou algumas alegações feitas pelo Ministério Público. “Não, não foi o arguido Rui Pinto”, a fazer os primeiros acessos às contas da Doyen, clarificou.
Um dos nossos amigos do Football Leaks tinha realizado uma viagem a Londres por motivos pessoais. Ficou combinado que nessa ida à Londres tentaria aceder pela rede da Doyen Capital, perto das instalações da Doyen Capital. No ultimo dia, passou a noite num hotel perto das instalações da Doyen Capital, comprou um equipamento especifico para captação de rede a longas distâncias.”
Ainda que os primeiros acessos não tenham sido bem sucedidos, nem feitos por Rui Pinto, as tentativas foram sendo feitas, neste caso ao computador de um dos funcionários, que era Adam Gomes. “Não fui eu, meritíssima”, sublinhou várias vezes.
Depois, já sobre a tentativa de extorsão, Rui Pinto procurou reforçar a ideia de que “inicialmente, isto começou como uma provocação”, deixando também a ideia de que, apesar de ter enviado e-mails a Nélio Lucas, não teria noção daquilo que estava a fazer nem da gravidade da situação. Uma das questões que ficou aqui explicada era por que razão escolheu este ex-representante da Doyen: “Nélio Lucas era conhecido na cidade de Aveiro como a pessoa que destruiu o Beira Mar.”
Sinto-me envergonhado por toda esta situação [pela tentativa de extorsão]. Custa-me imenso ler este tipo de e-mails. Hoje em dia não me reconheço nisso. Foi uma trapalhada de todo o tamanho. Isto foi aproveitado pelos críticos para tentar reduzir os méritos do Football Leaks.”
Na troca de e-mails, Rui Pinto pediu entre 500 mil e um milhão de euros a Nélio Lucas, em troca do seu silêncio. Esta informação está na acusação do Ministério Público e, a este respeito, Rui Pinto não negou as acusações que lhe são imputadas. Mas procurou justificar-se. “Foi tudo uma infantilidade. Nem pensei que Nélio Lucas me responderia a este e-mail. Foi enviado um e-mail para dois endereços de e-mail. Nélio Lucas decidiu responder e as conversas foram-se desenrolando.”
Ainda em relação ao dinheiro exigido para pagar o seu silêncio, a questão foi precisamente qual o critério para definir um intervalo de 500 mil euros. “Foi aleatoriamente. Já que Nélio Lucas me deu conversa logo no início, queria ver onde é que isto ia chegar. Foi o que me veio à cabeça naquele dia. Eu nem estava a levar aquilo tão a sério”, argumentou Rui Pinto perante o coletivo de juízes. “A quantia é ridícula”, acrescentou.
Foi também nesta altura que foi abordada a intervenção de Aníbal Pinto, advogado de Rui Pinto na altura da alegada tentativa de extorsão à Doyen e que é também arguido neste processo e está acusado do crime de tentativa de extorsão, já que terá sido o intermediário de Rui Pinto. Neste contexto, Rui Pinto quis pedir desculpa a Aníbal Pinto “por toda esta situação”.
A “falha de segurança” na Procuradoria-Geral da República (PGR)
Já com mais de três centenas de pontos da acusação analisados, Rui Pinto explicou, na última sessão em que quis falar, no dia 31 de outubro, como foram feitos os acessos às contas de correio eletrónico da Procuradoria-Geral da República. Aqui, o principal alvo era o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) e Rui Pinto conseguiu entrar neste sistema, como explicou, através da caixa de correio de Amadeu Guerra, diretor deste departamento, em 2018.
O objetivo seria “saber quem era a fonte do DCIAP” que terá passado informações à revista Sábado, depois da publicação de um artigo que revelava a identidade de Rui Pinto e o relacionava com o Football Leaks. “Infelizmente, nunca consegui chegar lá [à fonte que terá revelado a sua identidade]”, garantiu em tribunal.
Faltava, no entanto, explicar como é que, depois de entrar na caixa de correio de Amadeu Guerra, conseguiu ter acesso à restante informação da PGR. Olhando para a acusação, o Ministério Público refere que “o arguido Rui Pinto introduziu as credenciais de acesso de um funcionário ou magistrado da PGR, que não foi possível determinar”. Mas Rui Pinto explicou: “Toda a gente que estivesse conectada à rede interna da PGR tinha a disponibilidade de conhecer essas passwords“, já que existia uma nota na lista de contactos interna do correio eletrónico com todas as palavras-chave.
Football Leaks. Rui Pinto fala em “falha de segurança” na rede da Procuradoria-Geral da República
Existindo “uma falha de segurança”, Rui Pinto conseguiu entrar na rede da PGR através do correio eletrónico de Amadeu Guerra e, a partir daí, diz não ter precisado de recorrer a técnicas de phishing para continuar a entrar nas vários contas, já que as palavras-chave eram partilhadas internamente.
Federação Portuguesa de Futebol, “o sítio ideal para consultar” contratos e transferências
Entre as dezenas de acessos feitos por Rui Pinto e pelos restantes membros do Football Leaks, surgiu também a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) como alvo. E aqui, tal como fez desde o início das sessões em alguns pontos da acusação do Ministério Público, o alegado pirata informático pretendeu corrigir a informação que consta na respetiva acusação.
A acusação do Ministério Público refere que os acessos à FPF foram feitos em março de 2018. Mas Rui Pinto negou ser o responsável por esses mesmos acessos. “Não realizei estes acessos de 2018, nem tive sequer conhecimento”, disse. E acrescentou: “Não estava a monitorizar tudo o que se passava.”
Apesar de recusar a autoria destes acessos nas datas indicadas pela acusação, Rui Pinto fez o seu reparo admitindo ter conseguido aceder ao departamento de registos e transferências da FPF em novembro de 2015. Neste departamento, teve acesso a contratos de vários jogadores e a documentos sobre transferências dos clubes. “Era o sítio ideal para consultar este tipo de informação”, reconheceu, já que “tinham algumas informações que iam além daquilo que era possível encontrar em fontes abertas, em alguns casos empresas offshore“.
A PLMJ e a informação que deu origem aos Luanda Leaks
Mais uma vez, Rui Pinto voltou a contrariar a acusação quando o assunto passou a ser o acesso indevido ao sistema informático da sociedade de advogados PLMJ. O Ministério Público entendeu que foi a divulgação de um comunicado desta sociedade de advogados, em 2018, que motivou os acessos indevidos, mas Rui Pinto negou e explicou a razão pela qual essa ideia não faz sentido.
Em maio de 2017 foram divulgados os ‘Malta Files’. Foi possível verificar um grande conjunto de sociedades pertencentes a Isabel dos Santos. Meses depois, em agosto de 2017, saiu uma notícia relativa à barragem de Caculo Cabaça. Foi um conjunto de informações a que tive acesso meses antes. A peça-chave de todas as estruturas de Isabel dos Santos era uma advogada da PLMJ, Inês Pinto da Costa.”
E foi precisamente na conta de e-mail da peça fundamental nesta história da PLMJ, a da advogada Inês Pinto da Costa, que Rui Pinto entrou. Essa informação deu origem, mais tarde, aos ficheiros do caso Luanda Leaks.
Suíços pediram a Rui Pinto ajuda para investigar o presidente da FIFA
A colaboração com as autoridades francesas
Apesar de estar inserido num programa de proteção de testemunhas, cuja morada é mantida em segredo e sob proteção policial, Rui Pinto mencionou em dois momentos — na primeira e na última sessão — que está a colaborar com as autoridades francesas, sem, no entanto, especificar que tipo de trabalho está a fazer.
Rui Pinto diz em tribunal que está a ajudar os serviços secretos ucranianos
Esta ligação com França não é, de todo, novidade, e isso ficou conhecido durante as últimas semanas. É que Rui Pinto, se não tivesse sido detido pela polícia húngara, teria saído da Hungria em direção a França, onde ficaria a colaborar com as autoridades francesas, precisamente ao abrigo de um programa especial de proteção de testemunhas.
Em 2018, um ano antes de ser detido, Rui Pinto disse ter partilhado a informação recolhida no âmbito do Football Leaks com a polícia francesa e, nessa altura, terá surgido a proposta para ser integrado no tal programa de proteção de testemunhas. “Na altura, explicaram tudo ao pormenor e combinei que ia resolver a minha vida em Budapeste e decidi agendar uma data para ir para território francês.”
Os procuradores do Ministério Público francês gostaram muito da informação preliminar que entreguei e pediram mais informação.”
Aliás, Rui Pinto aproveitou para comparar este interesse das autoridades francesas com a atenção dada pela polícia portuguesa: “As autoridades de outros países mostraram sempre mais interesse na informação.”
Logo no início das sessões em tribunal, o alegado pirata informático revelou até que, além de estar a colaborar com as autoridades francesas, está também, “em conjunto com alguns amigos”, a ajudar os serviços secretos ucranianos.
Temos entregue alguma informação aos serviços secretos ucranianos, temos feito análise de imagens de satélite, de câmaras de vigilância, onde vemos movimento de tropas.”
“O crime, mesmo com boas intenções, não compensa”
Logo na primeira sessão em que prestou declarações no Tribunal Central Criminal, Rui Pinto procurou demonstrar arrependimento face aos atos que lhe são imputados e pelos quais responde em tribunal — desde a tentativa de extorsão à Doyen aos acessos ilegítimos a clubes e sociedades de advogados –, mesmo sabendo que “foi revelada muita informação que, de outra forma, não seria conhecida”.
Este processo permitiu aprender muitas coisas. É que o crime, mesmo com boas intenções, não compensa. Sabendo o que sei hoje, não voltaria a meter-me numa destas. A minha vida está de pernas para o ar. A minha família tem sofrido bastante.”