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As credenciais coloridas, sinónimo de que chegou “aquela” altura do ano, não andam ainda por Lisboa mas a controvérsia em torno da Web Summit, que levou à demissão de Paddy Cosgrave, antecipou a chegada do evento à agenda mediática. O irlandês demitiu-se do cargo de CEO, após uma publicação na rede social X sobre o conflito entre Israel e o Hamas dar origem a um boicote de Israel ao evento e à retirada de participação de várias empresas, incluindo gigantes da tecnologia.
Mas, ainda antes de haver uma demissão, a Web Summit já estava a perder oradores, como a atriz Gillian Anderson, o ator e empreendedor Joseph Gordon-Levitt, a comediante Amy Poehler ou o ator e músico LL Cool J. Também executivos de empresas, como por exemplo Nick Clegg, da Meta, deixaram de figurar na lista de intervenções na edição deste ano, após a dona do Facebook anunciar que já não vai estar presente.
Depois do afastamento de alguns oradores e da inclusão de mais “speakers”, o Observador fez uma seleção dos nomes que vão estar em destaque na edição deste ano e de quem é que já não vai participar. Porém, fica a ressalva de que continuam a ser adicionados todos os dias mais nomes ao grupo de oradores — a aplicação do evento, para quem já tem bilhete, é a forma mais prática de se manter a par das alterações.
Quem é que vem à oitava edição da Web Summit em Lisboa…
Chelsea Manning
A “whistleblower” que vem falar sobre ética e privacidade
Chelsea Manning, que se tornou conhecida ao fazer chegar à WikiLeaks documentos classificados do governo norte-americano, quando trabalhava como analista no exército dos EUA, vem a Lisboa contar a sua experiência em áreas como ética, privacidade ou segurança. Atualmente, a ativista norte-americana trabalha como consultora de segurança na Nym Technologies.
Está previsto que participe em três sessões, todas a 16 de novembro, o último dia do evento. A primeira, durante a manhã, tem o título “Guardar os vossos segredos digitais: IA vs privacidade”. À tarde, Chelsea Manning vai ao palco principal do evento falar também sobre segredos e IA, já que a sessão deixa no ar a pergunta “Conseguem guardar um segredo?”. Pelo meio, terá ainda uma sessão de perguntas e respostas sobre privacidade.
Kuo Zhang
O CEO da gigante chinesa Alibaba
O presidente executivo da Alibaba, a empresa chinesa responsável pela gigante do comércio eletrónico internacional, vai ter 20 minutos no palco principal da Web Summit para resumir mais de duas décadas de história da tecnológica. E, como a inteligência artificial é um tema inevitável, a intervenção de Zhang vai estar centrada no uso da tecnologia para auxiliar negócios a operar “na era da IA”
Além do comércio eletrónico, a Alibaba também está a trabalhar na área da IA. A empresa não quis deixar escapar a febre do ChatGPT e desenvolveu o seu próprio modelo de IA, chamado Tongyi Qianwen. O modelo foi disponibilizado em setembro ao público e existe uma forte probabilidade de ser mencionado na Web Summit.
Stella Assange
Advogada e ativista vem falar sobre a detenção do marido
A advogada e ativista de direitos humanos vem a Lisboa para falar sobre o marido, Julian Assange. O fundador da Wikileaks é casado com a advogada desde 2015, quando já estava refugiado na Embaixada do Equador em Londres.
Julian Assange tornou públicos documentos classificados do governo norte-americano em 2010, que foram obtidos por Chelsea Manning. Stella Assange vem a Portugal falar sobre a “WikiLeaks, verdade e justiça”, segundo é possível ler no título de uma das sessões em que vai participar, no dia 16 de novembro. Stella Assange faz parte da equipa legal de Julian Assange desde 2011, um ano após a eclosão do escândalo.
Meredith Whittaker
A presidente do Signal regressa à Web Summit
Já não é um nome estranho na cimeira – aliás, Whittaker esteve na Web Summit do ano passado, em Lisboa. Em maio, passou pela do Rio de Janeiro, para a estreia do evento em terras de Vera Cruz.
Whittaker é o nome mais associado à popular aplicação de mensagens encriptadas Signal e, com o passar dos anos, tornou-se num nome habitual em conferências de tecnologia. Trabalhou na Google durante 13 anos, onde fundou a Google Open Research, que colabora com o mundo académico e comunidades de software de código aberto.
Desde que se demitiu da empresa, em 2019, é frequente ouvi-la falar sobre a necessidade de privacidade nas mensagens. Nos últimos meses, com toda a atenção dada à IA, tem lançado alertas para como esta ferramenta poderá tornar-se “numa tecnologia de vigilância”. Por enquanto, ainda não é conhecido o tema de que vai falar na Web Summit.
Javier Tebas
Um nome do futebol espanhol a falar sobre digitalização do desporto
Na Web Summit não se fala apenas de tecnologia – todos os anos existe um palco dedicado ao mundo do desporto, que costuma reunir nomes fortes de várias modalidades. O futebol costuma ter destaque e, na lista deste ano, figura o nome do presidente da La Liga.
O presidente da liga espanhola de futebol vai participar na Web Summit a 14 de novembro, numa sessão que vai estar focada na forma como a La Liga está a esforçar-se para ser mais tecnológica.
Cristina Ferreira
Apresentadora regressa à Web Summit pela terceira vez
Não há duas sem três. Inicialmente, a apresentadora e acionista da Media Capital não estava na lista de oradores do evento, mas atualmente já surge entre os “speakers”. Por agora, ainda não é conhecido o tema que vai levar a diretora de entretenimento e ficção da TVI à Web Summit este ano.
Em 2021, Cristina Ferreira mostrou fotografias da infância e tornou-se viral quando mostrou uma bifana durante a sessão. Tudo para passar a mensagem de que, se alguma coisa corresse mal no seu percurso, não havia “mal”, que estava disponível para vender bifanas. “E vou ser a melhor vendedora de bifanas do país”, assegurou. No ano passado, a conversa foi outra: deu uma aula, onde ensinou a conjugar o verbo “to be”, falou sobre liderança e até sobre “Top Gun”.
Desdemona
A robô humanóide que quer ser uma estrela de rock
Lembra-se da Sophia, a robô que marcou as primeiras edições da Web Summit por cá e que depois até ganhou a companhia de Einstein em versão robótica? Depois de ter dado várias conferências de imprensa pelo mundo fora e de até ser a cara de uma campanha publicitária da Altice, Sophia ganhou uma irmã mais nova.
A Desdemona (Desi para os amigos) é uma robô humanóide de cabelo violeta desenvolvida pela SingularityNet. Enquanto a Sophia gostava de conversar, esta nova robô, que se estreou na Web Summit do Rio de Janeiro, prefere dar música ao público. A robô até faz parte de uma banda, chamada Jam Galaxy. Uma das canções da banda tem um título peculiar, “If I only had a brain”, se ao menos eu tivesse um cérebro, numa tradução para português. Vai estar na Web Summit a 16 de novembro, no palco “Machine”.
… e quem deixou de estar na lista de presenças
Dario Amodei
O co-fundador da Anthopic, a rival da OpenAI, vinha falar sobre IA
Os executivos da OpenAI nunca fizeram parte da lista de oradores, mesmo antes da crise que agitou o evento. No entanto, a organização tinha conseguido pelo menos um dos rivais: Dario Amodei, co-fundador e CEO da Anthropic. Curiosamente, Amodei trabalhou na OpenAI e decidiu sair para criar a sua própria empresa de IA, em conjunto com a irmã, Daniela. A Antrophic é já vista como uma das rivais da dona do ChatGPT pelos sistemas de IA que desenvolve, mas também por já ter recebido investimentos avultados de duas big tech: a Amazon e a Google. Em setembro, a Amazon investiu 4 mil milhões de dólares na startup e, em maio, a Google participou numa ronda de financiamento que deu à Anthropic 450 milhões de dólares.
Dario Amodei vinha à Web Summit contar “como a IA está a mudar o mundo”, até o seu nome desaparecer da lista de oradores.
Nick Clegg
O executivo da Meta e uma “abordagem aberta” à IA
O antigo político britânico já é uma presença habitual da Web Summit, ainda que algumas das suas intervenções tenham sido feitas à distância. Com o anúncio de que a Meta não vai participar na Web Summit, a intervenção do executivo ficou, consequentemente, sem efeito.
Na qualidade de presidente de assuntos internacionais da Meta, a dona do Facebook e Instagram, Clegg não vinha falar sobre privacidade, mas sim sobre os benefícios e desafios da IA e a razão para esta tecnologia ser desenvolvida de forma “aberta”.
Jay Graber
A CEO da rede social que quer rivalizar com o ex-Twitter
Em abril, foi lançada em versão beta a Bluesky, a rede social de Jack Dorsey, o fundador do Twitter (agora X). Jay Graber, a executiva que está à frente da jovem rede social, vinha a Lisboa para falar numa sessão em que o foco era a concorrência, do X à Threads do Facebook, e o futuro das redes sociais. Mais uma vez, também não foram dadas justificações por parte da organização sobre o afastamento desta oradora.
Gillian Anderson
Atriz vinha a Lisboa contar como criou a G Spot
A atriz, um rosto familiar por séries como “Ficheiros Secretos”, “Sex Education” ou “The Crown”, desistiu de participar na Web Summit por considerar que os valores da sua marca e os da cimeira “não estavam alinhados”. A “Scully” vinha contar como se sente no papel de empresária, depois de ter lançado a sua própria marca de bebidas de bem-estar, a G-Spot.
Joseph Gordon-Levitt
Uma presença familiar na Web Summit que desistiu após a controvérsia
Foi um dos nomes a integrar os primeiros lotes de confirmações da cimeira de tecnologia. O ator norte-americano veio à primeira Web Summit em Lisboa e, este ano, iria marcar presença com uma sessão na qualidade de fundador da HitRecord. O ator de “500 days of Summer” e “Super Pumped”, onde interpretou a versão ficcionada de Travis Kalanick, cofundador da Uber, criou a HitRecord, uma plataforma de colaboração criativa.
“Super Pumped”. Viagem ao interior do ego do homem que criou a Uber
Este ano, com tanto destaque dado à IA, fica a dúvida sobre se esse não poderia ser um dos temas da conversa de Gordon-Levitt, já que o ator tem sido um acérrimo defensor de que, se a IA usar o trabalho de artistas, estes devem ser pagos por isso.
Peiter “Mudge” Zatko
O veterano que vinha falar sobre “whistleblowing”
No ano passado, “Mudge”, um veterano do mundo dos “hackers”, foi notícia por denunciar as alegadas falhas de segurança do então Twitter, que detetou enquanto era responsável de segurança da rede social. Em agosto de 2022, quando a denúncia se tornou pública, a empresa atravessava um momento particularmente sensível devido às dúvidas sobre se Elon Musk avançaria ou não com a compra da empresa.
O “hacker” da velha guarda que lançou mais uma acha para a fogueira do Twitter
“Mudge” não teve particular destaque na lista de oradores no site da Web Summit mas, até ao seu nome ter sido retirado, já tinha pelo menos uma sessão agendada. Ia falar com Libby Liu, a CEO da associação Whistleblower Aid, que assegura proteção, inclusive jurídica, a denunciantes. Também o nome de Libby Liu já não está na lista de oradores.
Uma decisão arriscada que traz inimigos poderosos. Consegue um denunciante fazer carreira?