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Sage Lenier subiu ao palco principal da Web Summit no terceiro dia do evento
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Sage Lenier subiu ao palco principal da Web Summit no terceiro dia do evento

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Sage Lenier subiu ao palco principal da Web Summit no terceiro dia do evento

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Sage Lenier, ativista climática: "Parem de incomodar as pessoas normais" com o bloqueio de estradas

Sage Lenier quer um futuro mais sustentável, mas deixa um apelo aos jovens portugueses: "parem de incomodar pessoas normais" com o bloqueio de estradas. Em relação a políticos, é menos benevolente.

Transição para uma economia circular, descarbonização, justiça ambiental e redução da dependência dos plásticos descartáveis. Para Sage Lenier, ativista climática norte-americana, estes não são temas desconhecidos. Aos 19 anos, começou a dar um curso na faculdade que frequentava, a Universidade de Berkeley, na Califórnia, para mostrar aos outros alunos algumas soluções que podiam adotar para um futuro mais sustentável.

Agora, cinco anos depois, o curso passou a ser também uma organização sem fins lucrativos, a Sustainable & Just Future, fundada para que seja possível transmitir os ensinamentos a um “público global”. Atualmente com 24 anos e após ser distinguida, pela revista Time, como uma das 10 “líderes da próxima geração”, Sage Lenier deixou as salas de aula para dar uma lição aos participantes da Web Summit.

Um futuro de “sofrimento em massa” e uma vida em que o plástico não é fantástico. Afinal, como se pode salvar um “mundo a arder”?

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No palco principal da cimeira tecnológica, a ativista defendeu que a economia mundial é a principal causa da crise ecológica (e não os combustíveis fósseis) e explicou a importância da transição para uma economia circular. Umas horas mais tarde, em entrevista ao Observador, com um outfit totalmente em segunda mão, voltou a falar sobre a importância de mudar indústrias não sustentáveis, como a da moda, e comentou as ações recentes dos movimentos climáticos portugueses.

Para Sage Lenier, os jovens portugueses “precisam de parar de incomodar as pessoas normais” através do bloqueio de estradas e ruas. Já sobre os ataques com tinta aos ministros portugueses, como o do ambiente, Duarte Cordeiro, ou o das Finanças, Fernando Medina, tem outra opinião. “É uma ótima ideia”.

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

“Se vou dedicar tanto tempo a isto, quero chegar ao maior número possível de pessoas”

Quando e como é que começaste a interessar-te pela luta contra as alterações climáticas?
É literalmente a maior crise existencial do nosso tempo. Eu simplesmente pensei ‘ok, tudo bem, esta é a prioridade’.

Mas com que idade começaste a pensar sobre alterações climáticas e sustentabilidade?
Não sei. Sempre fui uma pessoa muito dedicada ao feminismo e à justiça social. Depois, acabei por escolher o clima, porque é muito abrangente. Mas tenho andado a fazer coisas relacionadas com o feminismo desde os 11 anos.

Que tipo de coisas?
Eu, simplesmente, sempre fui assim, sabes? Não me lembro da minha vida antes do ativismo.

Quando é que a crise climática deixa de ser um interesse e se transforma num curso que ensinaste na Universidade de Berkeley?
Comecei este curso porque estava a ficar muito frustrada com o ensino de lá [da universidade]. Era muito focado na compreensão dos problemas e eu estava assustada. Pensava que tinha de haver alguma coisa que pudesse ser feita em relação a isso. Por isso, acabei por dar aulas. Foi uma espécie de ‘que se lixe, vou fazê-lo’.

Foste tu que propuseste o início do curso, intitulado “Soluções para um Futuro Sustentável e Justo”?
Sim, fui eu que comecei. Geri-o sozinha durante dois anos e meio, antes de trazer mais alguém [para a equipa].

Atualmente, ainda dás aulas? O curso ainda existe?
Licenciei-me e por isso, a minha adjunta, que está aqui em Lisboa comigo e que é estudante, dá as aulas. Tem uma equipa de cinco pessoas, mas é a professora principal. Vão ter 400 alunos no próximo semestre.

A adesão ao curso, que já juntou mais de 1.800 estudantes, surpreendeu-te?
Não, não. Esse era o meu objetivo. Nunca existiram turmas de alunos tão grandes. É a maior adesão de sempre. E eu, no início, pensava: ‘se vou dedicar tanto tempo a isto, quero chegar ao maior número possível de pessoas’. Estava a escrever um programa [para ensinar] com base naquilo que eu procurava, por isso, sabia que ia ter repercussões nas outras pessoas.

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

“Não precisamos da indústria da moda. Podíamos livrar-nos dela completamente”

Tanto nas aulas, como na Web Summit, qual é a principal mensagem que procuras transmitir?
A transição para uma economia circular. Como disse [no palco principal], as energias renováveis são importantes, mas só nos ajudam a resolver 55% das emissões. Todos estamos cientes das energias renováveis, que são absolutamente prioritárias. Porém, por outro lado, temos de utilizar menos energia. Por isso é que precisamos de fazer a transição da nossa economia. As pessoas já falam sobre os combustíveis fósseis e sobre a transição para uma energia com zero emissões de carbono. Mas há ainda esta parte sobre a qual não fazem ideia.

Quando estiveste no palco principal também falaste sobre a indústria da moda, defendendo que “temos roupas suficientes para vestir as próximas gerações”. Onde compras as tuas?
Compro em lojas de segunda mão. Os ténis que estou a usar comprei em Nova Iorque, numa loja de artigos usados. Estas calças eram da Goodwill e custaram 1,50 dólares. Esta t-shirt é de uma amiga. Até o meu sutiã é da Poshmark [uma espécie de marketplace onde é possível comprar e vender roupa].

Para ti, é importante que aqueles que estão à tua volta adiram à compra de roupa em segunda mão?
Não precisamos da indústria da moda. Podíamos livrar-nos dela completamente. Não há necessidade de termos mais roupa. Já temos o suficiente. Vamos livrar-nos completamente da indústria da moda? Não. Mas é esse o objetivo? Sim. Se quiserem viver na nossa versão ideal do futuro, [as marcas] vão ter de ser muito responsáveis no que diz respeito a salários dignos, aos materiais que utilizam, à circularidade. Se querem viver no futuro que estamos a desenhar, vão ter de mudar.

As marcas podem mudar, mas e a geração Z? Está recetiva a comprar exclusivamente roupa usada?
Comprar roupa em segunda mão é muito popular. Metade da geração Z norte-americana prioriza a compra em segunda mão, se for possível. Mas também é preciso falar mais sobre o assunto e torná-lo numa coisa mais cultural. Acho que as pessoas não se apercebem da dimensão e da gravidade do problema e da diferença que faz comprar em segunda mão. E há aplicações como a Depop [plataforma de compra e venda de roupas] que o tornam muito mais fácil. Não é preciso ir a uma loja, podemos fazer uma pesquisa, encontrar as peças certas, que sejam giras, e comprar. Compro muita roupa na Depop.

Com as aulas e até a roupa em segunda mão, dirias que te focas mais nas soluções do que nos problemas?
Sim, claro. É esse o objetivo. Sabemos que existem problemas, mas acho que a maioria das pessoas não entende… se perguntares a uma pessoal comum qual é a coisa mais importante que pode fazer para resolver o problema das alterações climáticas, provavelmente responderá ‘conduzir um carro elétrico’. E isso não é verdade. As pessoas ainda não têm o enquadramento necessário, precisamos de comunicar-lhes as soluções.

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Bloquear estradas? “Não me agrada muito”

Já organizaste e participaste em manifestações nos EUA. Em Portugal, recentemente, movimentos climáticos têm bloqueado estradas e atirado tinta a ministros. Concordas com este tipo de abordagem?
Sim. Se bem que acho que bloquear estradas é um pouco exagerado porque estão a incomodar pessoas normais, que têm empregos para onde ir, que também têm dificuldades. Isso não me agrada muito. Mas se estiverem a ocupar aeroportos e jatos privados e a atirar tinta a políticos, adoro. Isso é ótimo, incomodar as pessoas que merecem.

Mas bloquear aeroportos também afeta as pessoas…
Não, não, eu estava a falar de privados. Ultimamente, [ativistas] têm estado a fazer isso em Nova Iorque. Há uma cidade chamada Hamptons, que é um bairro muito luxuoso. E eles têm bloqueado os jatos privados que saem de lá. Adoro isso.

Consideras que o bloqueio de estradas pode colocar as pessoas contra os ativistas?
Sim, sim. É definitivamente uma má decisão. Precisam de parar de incomodar as pessoas normais. Mas atirem toda a tinta que quiserem aos políticos. É uma ótima ideia. Quem é que gosta dos seus políticos? Eu quero ver todos os políticos do meu país a serem pintados. Cada um deles.

Mesmo não gostando dos ministros, a população pode não ver com bons olhos que lhes seja atirada tinta. Ou não?
Eu simplesmente não quero saber. É como se estivéssemos a correr contra a extinção. Acho que as pessoas não se importariam [com a questão da tinta] se compreendessem [o nível de urgência]. Estamos prestes a atingir os 10 mil milhões de pessoas [no planeta Terra] nos próximos 30 anos, mas também vamos atingir 3 graus de aquecimento nos próximos 70 anos. O sofrimento vai ser insano. Muitas pessoas vão sofrer por causa das alterações climáticas e porque estes políticos e executivos estão a jogar com as nossas vidas.

Já falaste sobre atirar tinta a ministros e bloquear estradas. Concordas com os ativistas que se colam a quadros de pintores famosos, como Picasso?
Sim, isso é fixe. Eu sou uma ativista climática, estamos na mesma página. Façam isso. Acho que essas declarações públicas são ótimas. Deveríamos ir muito mais atrás dos executivos das várias indústrias também, não só dos políticos. E não só do petróleo e do gás. Temos de visar os executivos da indústria da moda. Deveríamos [também] chamar mais vezes a atenção os diretores executivos da Toyota. Que se lixem esses gajos.

Porque mencionas a Toyota em particular ou estás só a dar um exemplo?
Sim [é apenas um exemplo]. São todos, todos esses gajos… que se lixem.

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Vais estar na COP28 no Dubai. Além dos líderes das indústrias, dirias que é necessário chamar a atenção de países como este, que estará a fazer esforços mínimos para reduzir as suas emissões de gases com efeito de estufa?
A conferência anual da ONU sobre as alterações climáticas vai decorrer no Dubai. Por isso, não há alternativa a não ser ir. Quer dizer, podíamos optar por não ir, mas o que é que isso nos traz?

O que é que traz? Seria melhor se a COP28 fosse noutro país?
Claro que sim, mas se todas as pessoas que têm valores decidirem não participar, então eles podem fazer o que quiserem. E isso não serve os interesses de ninguém. Compreendo que muitas pessoas não tenham ido no ano passado porque foi no Egito. Não estou a dizer que têm de ir. Estou apenas a dizer que se todos nós, que vamos com o objetivo de tentar promover a realização de mais ações a favor do clima, não formos, não conseguiremos fazer nada. Não vejo qual o objetivo de tentar protestar contra o país.

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