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Este ano, a Web Summit contou com cerca de 70 mil participantes e o clima foi um dos tópicos em discussão

Sportsfile

Este ano, a Web Summit contou com cerca de 70 mil participantes e o clima foi um dos tópicos em discussão

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Um futuro de “sofrimento em massa” e uma vida em que o plástico não é fantástico. Afinal, como se pode salvar um "mundo a arder"?

O "impacto enorme" do plástico na saúde das pessoas e a "economia" como responsável pela "crise ecológica" (e não os combustíveis fósseis). Foi assim que se falou sobre clima na Web Summit.

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I’m a Barbie girl, in the Barbie world. Life in plastic, it’s fantastic. A letra da música dos Aqua sobre a boneca da Mattel, que inspirou um filme que foi um sucesso de bilheteira este verão, não poderia estar mais longe da realidade. A vida com plástico não é fantástica e tem impacto na saúde do ser humano. O alerta é feito por Rosalie Mann, ambientalista que afirma que “existe uma ligação entre a poluição por plásticos e microplásticos que ingerimos, que respiramos, e o cancro, a infertilidade, a obesidade, as doenças cardiovasculares, a doença de Crohn ou a endometriose”.

O “despertar” para a necessidade de um futuro sem plástico chegou “bastante tarde”, há cerca de seis anos. Nessa altura, o filho estava “muito doente” e, uma noite, nas urgências, um médico disse uma frase que a fez “mudar de direção”: “É normal [que esteja mal], é poluição”. “Estas duas palavras na mesma frase foram, para mim, como um choque elétrico. Como é que é possível viver numa sociedade com este impacto nossos filhos? Atualmente, é encontrado microplástico nos fetos, nas placentas. Não podemos continuar assim. Recuso-me.”

A luta pelo fim do plástico, pela voz de Rosalie Mann, as alterações climáticas e as crescentes preocupações com o futuro do planeta foram um dos temas centrais da edição deste ano da Web Summit. Os movimentos climáticos portugueses, que têm bloqueado estradas, atirado tinta a ministros e fachadas de ministério e de até terem atrasado um voo de Lisboa para o Porto, mantiveram-se fora do evento, que teve como parceiras empresas como a Shell e a Galp.

Rosalie Mann, fundadora e presidente da organização No More Plastic Rosalie Mann, fundador e presidente da organização No More Plastic

Rosalie Mann é fundadora e presidente da organização No More Plastic

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Na vida com plástico “reciclar é parte do problema”

Quando ouviu nas urgências que o seu filho estava doente por causa da “poluição”, Rosalie Mann decidiu “agir”. Criou uma organização chamada No More Plastic que, como o nome sugere, tem como objetivo “sensibilizar a população para a poluição por plásticos e microplásticos e para o seu impacto na saúde” do ser humano.

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Devido à urgência para “‘desplastificar a nossa sociedade'”, a ambientalista francesa defendeu que “a solução passa por reduzir a produção de plástico e substituí-lo na nossa sociedade”, por exemplo, fazendo “fatos de banho com lã ou algas”. A reciclagem, continuou, não pode ser uma opção, uma vez que faz “parte do problema”. “Transformar artigos de plástico noutros artigos de plástico não é, de todo, uma solução. Porque estaremos a colocar repetidamente este material tóxico na nossa vida.”

No entender de Rosalie Mann, “o plástico é um material especialmente barato” porque são produzidas “quantidades exponenciais”. Se essa produção diminuir, o custo passará a ser “mais elevado”. “É por isso que é importante reduzir a produção e taxar esse material, para podermos utilizar outros”, acrescentou.

Um imposto sobre o plástico teria um bom impacto”, mas seria necessário “tributar na fonte, na produção, na empresa e no fabricante” e não ao consumidor.

Num mundo em que a população está “toda ligada por esta ameaça”, a fundadora da No More Plastic tem um apelo a fazer: “Por favor, acordem. Temos de mudar agora. Está na altura de mudar. A reciclagem de plástico faz-nos perder tempo precioso. Não é, de todo, uma solução. Temos de mudar. Por isso, usa a tua voz e junta-te a nós nesta luta.”

Rachel Delacour falou com o Observador sobre a forma como ajuda empresas a serem mais sustentáveis

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Achava-se “demasiado velha” para falar sobre clima. Agora, quer ajudar empresas a ser mais sustentáveis

O “despertar” tardio de Rosalie Mann para a luta climática é seguido pelo de outra francesa. Há três anos, quando já tinha passado dos 40, Rachel Delacour não fazia ideia do seu “consumo de carbono” ou pegada ecológica. Já se achava “demasiado velha para estar a entrar nessa conversa”.

No seu caso, não foi uma ida às urgências, mas a leitura de um documento que queria informar os governos sobre as alterações climáticas que fez soar o alerta e a levou a perceber que “não sabia absolutamente nada sobre sustentabilidade, clima, o papel que desempenhamos e a urgência em que nos encontramos”. A partir daí, detalhou em conversa com o Observador, começou a ler mais sobre as alterações climáticas e chegou à conclusão de que “as soluções existem” para um futuro que poderá ser “muito, muito, muito mau”.

Entretanto, de 2020 a esta parte, cofundou e tornou-se CEO da Sweep, uma empresa que se concentra em ajudar outras, através de uma aplicação, a “recolher, medir, analisar e gerir” as suas emissões de carbono e a acompanhar “o seu progresso”. O objetivo de Rachel Delacour e da sua equipa é que os clientes tomem “decisões baseadas nos dados” que são recolhidos, para que possam colocar o planeta e os lucros no mesmo ‘patamar’.

Chamamos aos nossos clientes ‘Forever Companies’, porque é importante para nós ajudá-los a fazer a transição para uma economia com baixas emissões de carbono, para garantir que sobrevivem nos próximos 10 anos”, afirmou Rachel Delacour, acrescentando que se as empresas “fazem parte do problema, fazem definitivamente parte da solução”.

Rachel Delacour cofundou e tornou-se CEO da Sweep em 2020

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Para a Sweep é importante que as “centenas de empresas” que tem como clientes (a empresária francesa optou por não dar um número concreto) consigam “desenvolver-se na próxima década” e percebam que “se não forem absolutamente sérias na forma como gerem a sua sustentabilidade, da mesmo forma como gerem as suas finanças, os novos projetos e os novos produtos”, não vão poder ser consideradas “protagonistas do amanhã”.

Durante a conversa com o Observador, Rachel Delacour recordou que a União Europeia tem um regulamento (o Corporate Sustainability Reporting Directive) que reforça as regras relativamente à informação social e ambiental que as empresas devem comunicar, sendo “obrigatório apresentar relatórios sobre sustentabilidade”, o que faz com que os líderes que não o tenham em consideração estejam a colocar as empresas “em risco”, tanto legal como “de reputação, de sustentabilidade”.

Questionada sobre se Bruxelas deveria, eventualmente, aumentar a regulação com o intuito de obrigar as firmas a tentarem ser ainda mais ativas no combate às alterações climáticas, preferiu destacar o “orgulho de operar a partir da Europa, de ser europeia” e mostrou-se “muito feliz por ver como o continente compreende que é preciso harmonizar a forma como se pensa sobre sustentabilidade”.

A aula de uma jovem ativista para salvar um “mundo a arder”

Só tem 24 anos, mas sempre soube que o seu caminho passava pela luta climática. A certeza que expressa, nomeadamente ao entrar no palco central da Web Summit com uma postura descontraída e determinada, contrasta com os testemunhos de Rosalie Mann e de Rachel Delacour. A “aula” que dá no evento também, uma vez que se focou em ser “mensageira” de um “movimento de milhares de milhões de pessoas” que acredita que “os combustíveis fósseis não são a verdadeira causa da crise ecológica, a economia é que é”.

Durante pouco menos de 20 minutos, a jovem norte-americana apresentou o seu plano para salvar um “mundo a arder”. E deixou, desde logo, um aviso àqueles que assistiam: “Sou ativista climática. Não estou aqui para falar sobre mim, mas para fazer o meu trabalho e dar-vos uma aula (…) esta cimeira tem mais de 70 mil participantes e há aqui no público pessoas muito poderosas. Alguns de vocês podem ser considerados diretamente responsáveis por arquitetar a crise ecológica.”

Com a indicação de que não iria passar uma “mensagem de esperança” ou acerca do “poder da juventude”, a também fundadora da organização sem fins lucrativos Sustainable and Just Future, disse que “as maiores corporações do mundo, empresas petrolíferas, de moda e de tecnologia, estão a construir um futuro que inclui sofrimento em massa para os humanos e outras espécies”.

Sage Lenier deu uma "aula" na Web Summit sobre o clima

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Para evitar esse futuro onde “quase ninguém vence”, continuou, a solução é utilizar menos energia, o que requer a alteração do sistema económico para uma economia circular. “O que esperamos de vocês [gerações mais velhas e grandes empresas] é uma transição para economia circular. Uma economia baseada em serviços e não em bens e onde os recursos circulam.”

A redução de indústrias não sustentáveis, como a da moda, o desenvolvimento de novas indústrias e a aposta nos transportes públicos são outras das soluções apontadas por Sage Lenier, que quer também que todos os equipamentos tecnológicos sejam desenhados para serem “duradouros” e “facilmente reparáveis”.

Afinal, “muitas das coisas que vemos hoje como boas para o planeta, como a reciclagem e os carros elétricos, são só menos más do que a alternativa”, argumentou, antes de reforçar a necessidade de educar a nova geração para os problemas ambientais e de pedir que os jovens e as empresas cooperem para “desenhar um futuro sustentável” em que seja possível “viver”.

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A empresa que criou o Subway Surfers quer que os videojogos sejam utilizados para fazer "o bem"

NurPhoto via Getty Images

Mais ou menos ao mesmo tempo em que Sage Lenier dava por encerrada a sua aula, com um simples virar de costas ao som de aplausos, sem agradecer, terminava uma palestra acerca da forma como a indústria dos videojogos pode envolver milhões de pessoas no combate ao aquecimento global. A Sybo, empresa que criou o Subway Surfers, muito popular há uns anos, foi a principal interveniente com o intuito de explicar que está “sempre à procura de novas formas de incentivar os jogadores a utilizar os jogos para o bem e para combater as alterações climáticas”.

Mathias Nørvig, dinamarquês que lidera essa firma e que ajudou a cofundar a Playing for the Planet, organização não governamental que apoia a indústria dos videojogos na adoção de medidas para reduzir o seu impacto ambiental, defendeu que é preciso que exista um balanço entre os jogos serem “divertidos” e conseguirem passar uma mensagem sem “assustar as pessoas”. “Há dois tipos de jogadores: os que se preocupam muito e os que não se preocupam. Com sorte, conseguimos gerar consciência junto daqueles que não querem saber”, mas que entendem que o “mundo está a arder”.

Desta forma, a Sybo tenta colocar uma mensagem nos seus jogos pois acredita que conseguirá fazer com que os mais céticos reflitam e questionem temas como “porque é que há painéis solares num jogo que é suposto ser divertido”.

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