Pedro Santana Lopes admite avançar para Belém caso as sondagens lhe deem hipóteses de vencer no momento em que tomar a decisão — que, sabe o Observador, só fará em definitivo em 2025. Apesar de manter em aberto outras possibilidades para o seu futuro político — como continuar na Figueira da Foz ou assumir a candidatura a uma autarquia da Grande Lisboa — o antigo-primeiro-ministro admitiu na segunda-feira que ser Presidente da República é a “honra suprema”.
Santana Lopes ainda não começou a fazer contactos, mas tem tido algumas movimentações estratégicas. O antigo líder do PSD saiu da Figueira da Foz no sábado e, pelo rádio do carro, foi controlando o momento em que Marques Mendes chegaria ao Congresso do PSD. Decidiu que só entraria depois de Mendes e não avisou ninguém. Nem Luís Montenegro. Esperava ir para as bancadas reservadas a “observadores”, mas uma decisão espontânea de Hugo Soares colocou-o numa fila de honra, mesmo junto ao potencial candidato presidencial elogiado por Luís Montenegro. Muitos na sala, incluindo dirigentes do PSD, leram a ida ao Congresso como uma marcação a Mendes, mas Santana garantia que não era esse o seu propósito: “Se não quiserem acreditar, não acreditem.”
Mas Santana tiraria outro coelho da cartola. Ao ir para as filas da frente, aproveitou estar com Marques Mendes para o convidar para ir ao programa dele, o Informação Privilegiada, no canal Now. Dois dias depois, sentado à mesma mesa que Marques Mendes, o anfitrião provocou o convidado: “Pode ser que falemos das nossas divergências para o ano. Depois do Luís decidir [sobre Belém], quem sabe ele como candidato, ou os dois [como candidatos], ou nenhum”.
Santana chegaria mesmo a admitir a candidatura na segunda-feira: “A Presidência da República é assim: quem tenha boas sondagens, deve ser candidato. Se me recandidatar na Figueira da Foz, dou graças a Deus e serei feliz. Mas quem tiver boas sondagens em Presidenciais, é uma missão candidatar-se, um dever a que ninguém tem o direito de fugir.” E diria mesmo: “Se o Luís fosse embora, se fossem todos viver para a Austrália, se tudo mudasse… não seria hipócrita, nem cínico”.
A frase de Santana poderia sugerir que o antigo primeiro-ministro faria depender a candidatura de um avanço de Luís Marques Mendes, mas o Observador sabe que essa não é uma preocupação de Santana Lopes. Apesar da ida ao Congresso, Santana também não fará depender a sua candidatura do apoio do PSD, mas apenas das sondagens. “Não estou disponível para ir para perder”, já tinha dito à Rádio Observador há duas semanas. Na mesma entrevista, acrescentaria: “Currículo tenho, experiência política para isso também”.
Santana Lopes admitia, no entanto, que os números que existem não lhe são favoráveis. “Sondagens, pelo que tenho visto, são más”, dizia à Rádio Observador. Uma sondagem de 2 de agosto do Jornal de Negócios dá, de facto, Pedro Santana Lopes a perder contra Gouveia e Melo e contra a Ana Gomes. Ao mesmo tempo, Marques Mendes só perde para António Guterres. Na sondagem TVI/CNN do final de setembro, Santana já não aparece, mas Mendes perde força face ao almirante Henrique Gouveia e Melo. Dez dias depois, na Rádio Observador, Santana seria implacável para o antigo colega de Governo: “Candidatos à direita, como o dr. Marques Mendes, devem pensar perante as sondagens se devem meter-se nessa aventura.”
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Apesar de Santana não ter sondagens favoráveis — a condição suprema para se candidatar — o candidato vai dizendo em várias declarações sobre o assunto que “na política tudo muda muito rápido”. À Rádio Observador há duas semanas chegou a dizer que “isto tudo muda” e que, “num golpe de asa”, qualquer um pode “estar em primeiro ou segundo lugar nas sondagens”. Além disso, o antigo primeiro-ministro, sabe o Observador, acredita que quando começarem a ser apagados nomes nas sondagens que se coloquem de fora (como o de Passos Coelho), o seu pode subir com essa clarificação. E também que pode beneficiar do facto de vir a assumir um interesse mais direto em entrar na corrida.
O sonho antigo e os outros caminhos
A Presidência da República é um sonho antigo para Santana e o próprio confidenciou, em pleno Congresso do PSD, que “houve duas vezes” em que ponderou avançar, mas “a vida seguiu outros caminhos. E puxou dos pergaminhos: “Em 2002, estava à frente das sondagens, mesmo do professor Cavaco Silva, mas depois fui presidente da Câmara de Lisboa, primeiro-ministro e por aí fora.”
Santana encara Belém sem pressão. Se der, deu. Se não der, segue o caminho autárquico. “Não me dá dores de cabeça”, confessou à Rádio Observador no início de outubro. Na mesma entrevista dizia que “o mais natural” era ser recandidato pela Figueira da Foz. Mas o Observador sabe que há outras hipóteses em cima da mesa, mesmo no plano autárquico. Luís Montenegro, sabe o Observador, não afasta a possibilidade de Santana Lopes poder ser candidato a Sintra, uma autarquia nas mãos do PS, mas com Basílio Horta em final de mandato. Um nome forte, daria ao PSD possibilidades de vencer.
Quando o antigo primeiro-ministro admitiu no sábado no Congresso que “há conversas” sobre autárquicas com Montenegro, não afunilou o assunto na Figueira. Até a câmara de Cascais já foi falada nos bastidores como uma boa opção para Santana, embora tudo pareça encaminhado para que Nuno Piteira Lopes seja o herdeiro natural de Carlos Carreiras. Ainda assim, sabe o Observador, Sintra é neste momento uma hipótese mais provável. Santana Lopes não esconde a ligação afetiva à Figueira, mas com a vida familiar em Lisboa, o mandato autárquico obriga o autarca a fazer esticões — quase sempre a conduzir o próprio carro — entre a capital e a zona centro. Se fosse autarca em Sintra ficava mais perto dos filhos e dos netos — o que valoriza.
Esta nem é a primeira vez que uma candidatura a Sintra é apontada ao ex-primeiro-ministro. Marcelo, quando era líder, convidou Santana Lopes para ser candidato autárquico, dando-lhe a oportunidade de escolher entre Sintra, Torres Vedras, Arganil e Figueira da Foz. Santana preferia Sintra, mas Pacheco Pereira chumba o nome na distrital de Lisboa. Durão Barroso, a partir dos Estados Unidos, avisara Marcelo: “Vocês são loucos. Deixam-no candidatar-se e ele ganha”. Tinha razão. A candidatura acabaria por ser à Figueira da Foz e Santana Lopes ganha com maioria, algo que o partido nunca conseguira naquele concelho. Nascia aí o Santana autarca, que voltaria ao lugar onde foi feliz em 2021 e onde se mantém até hoje.
Mendes bem posicionado foi lesado das tarefas de Hugo e silêncio de Montenegro
Apesar das movimentações de Santana, Marques Mendes aparece melhor posicionado quer no partido, quer em sondagens. Como o Observador escreveu, a declaração de Luís Montenegro na entrevista à SIC tornou o nome do comentador político como candidato quase inevitável do PSD a Belém. Isto depois de já estar no terreno desde o verão e bem posicionado para ter o apoio da estrutura do partido.
O presidente da câmara de Braga, Ricardo Rio, na abertura do Congresso, puxou por Marques Mendes, quando disse: “Vejo estrelas a alinharem-se para que em Belém Braga continue a ter muita influência”. Mas, em contra-ciclo, Luís Montenegro não falou uma única vez em Presidenciais durante o Congresso, mesmo que tenha discursado três vezes no palco e tenha dado declarações laterais aos jornalistas.
A entrada de Mendes também não foi tão apoteótica como em 2022, mas isso, sabe o Observador, não terá sido por culpa própria. Em 2022, Hugo Soares fez questão de chamar Marques Mendes para uma salinha reservada, onde aguardou o ex-líder aguardou uns minutos e onde também estava Luís Campos Ferreira. Mendes só entraria na sala com os trabalhos interrompidos, podendo ser aplaudida a sua entrada, com pompa e, acima de tudo, circunstância.
Desta vez, Hugo Soares, ainda atarefado a tratar de listas aos órgãos nacionais, não teve o mesmo cuidado. Até porque a direção do PSD não queria promover esse momento personalizado. Assim, Mendes acabou por entrar enquanto falava Pedro Duarte (fora da vez dele, porque estava a ser entrevistado pela Rádio Observador quando foi chamado ao palco) e, como é compreensível, Miguel Albuquerque não interrompeu o ministro para registar a chegada. Quando Mendes foi anunciado no palco minutos depois já estava sentado, mal apareceu nos ecrãs e as palmas não tiveram a mesma intensidade. Perdeu-se um momento de aclamação, mas a culpa não foi do potencial candidato.