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Será assim tão "real" o risco de o Reino Unido sair?

Líder de "gigante" dos seguros diz que o "Brexit" é "probabilidade extremamente elevada". Casas de apostas começam a levar o risco mais a sério. Mercados financeiros ansiosos mas não estão em pânico.

O referendo britânico à permanência na União Europeia há muito que estava na agenda dos políticos e dos investidores para 2016. A 20 de fevereiro ficou-se, até, a saber o dia exato em que ia ocorrer: 23 de junho. Mas só nas últimas semanas o tema saltou para o topo da atualidade internacional, com sondagens a darem o Brexit como um cenário possível (senão, mesmo, mais provável), é que os mercados financeiros se ressentiram da incerteza e o discurso dos políticos subiu de tom. O líder trabalhista, Jeremy Corbyn, indicou na terça-feira que o Brexit é um “risco real” e, horas antes, o presidente do Conselho Europeu dizia que isso pode significar o “início do fim da civilização ocidental“. Mas quão provável é, realmente, nesta altura, a saída do Reino Unido da União Europeia?

O risco parece estar a ser levado a sério pelos responsáveis políticos europeus. Segundo várias notícias na imprensa internacional, está na calha uma reunião entre os presidentes da Comissão, do Conselho e do Parlamento Europeus, respetivamente Jean-Claude Juncker, Donald Tusk e Martin Schulz. Esta reunião, que poderá acontecer no manhã seguinte ao referendo (sexta-feira, 24) contará, ainda, com Mark Rutte, primeiro-ministro da Holanda, país que tem nesta altura presidência rotativa da UE.

Os bancos centrais da zona euro (o BCE) e do Reino Unido (o Banco de Inglaterra) também terão preparados medidas de contingência para assegurar que, caso o Brexit vença, sejam ativados mecanismos que garantam que não faltará liquidez financeira em caso de vitória do Sair. As notícias de que as autoridades se estão a preparar não surpreendem, dado que nos últimos dias os mercados financeiros parecem ter acordado, subitamente, para este risco, e estão a deslocar investimentos para a dívida alemã e para o ouro. Como indicou o diretor de investimentos de um banco nacional ao Observador, “está em curso um reajuste de expectativas” em relação a um risco que os mercados não vinham, até agora, a levar muito a sério.

E agora? Será que estão a levá-lo a sério?

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O referendo britânico à União Europeia estava na agenda há vários meses. Mas só nas últimas semanas os mercados financeiros parecem ter “acordado” para o risco.

Não tanto assim, segundo alguns indicadores. O presidente da seguradora Axa disse que o Brexit é uma “probabilidade extremamente elevada”, o que abalou as bolsas europeias e intensificou a desvalorização da libra no início da semana. Mais de 400 mil milhões de euros terão saído das bolsas europeias nos últimos dias. A incerteza é palpável e está a deixar rasto a necessidade dos investidores de reajustarem algumas exposições bolsistas ao risco de um pico de volatilidade que poderá acontecer caso o Brexit vença.

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Contudo, a agência Bloomberg aponta para um indicador sofisticado que parece indicar que, apesar da volatilidade esperada no curto prazo, é possível antecipar águas menos turbulentas no médio prazo. Por outras palavras, os mercados estão a ajustar-se, mas não estão a antecipar o caos.

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O gráfico mostra que, ao passo que disparou a volatilidade esperada no próximo mês no valor da libra (linha branca), a expectativa de volatilidade a um ano continua praticamente inalterada. Este indicador vai ao encontro da conclusão de uma sondagem do Bank of America/Merrill Lynch, que revelou que cerca de dois terços dos gestores de fundos inquiridos não acreditam que o Brexit irá, mesmo, acabar por acontecer.

“O nosso cenário base, visto como mais provável, é que os britânicos optem por ficar na União Europeia”, afirmam analistas do Rabobank em nota enviada aos clientes. “Ainda que o recente deslocamento das sondagens no sentido da saída seja algo que nos preocupa, este padrão já foi observado antes — sete dias antes do referendo escocês, em setembro de 2014, uma sondagem da ICM moveu-se de uma vantagem de 11 pontos para a permanência para uma liderança de sete pontos para quem queria sair”. A permanência acabaria por vencer o referendo, com mais de 10 pontos de vantagem.

"É tentador assumir que a aproximação da votação provoca uma resposta mais emotiva, ao passo que no momento da votação a decisão é mais orientada por considerações mais pragmáticas e/ou pelo medo do desconhecido"
Rabobank, em nota enviada aos clientes

O mesmo padrão aconteceu, também, lembra a Bloomberg, no referendo no Quebec sobre a secessão face ao Canadá, em 1995. Também aí os mercados foram o melhor indicador do resultado que aí viria — o Quebec continua a ser canadiano.

Casas de apostas menos seguras da permanência

As sondagens continuam a dar uma elevada percentagem de indecisos — mais de 10% em alguns casos — e estes poderão ser decisivos para o resultado final. Além disso, “a experiência com referendos anteriores dá razões consideráveis para esperar que o resultado final será mais favorável ao Ficar do que a média das sondagens que temos visto nas últimas semanas”, indica a pesquisa académica de Alan Renwick e Stephen Fisher, que procuraram descobrir “quão confiáveis são as sondagens no Reino Unido”.

A diferença entre este referendo e o referendo escocês, por exemplo, é que a tendência neste referendo está a mover-se no sentido de melhores resultados para o Sair. No referendo escocês, a trajetória foi a oposta. E talvez seja por isso que outro indicador, as probabilidades definidas pelas casas de apostas, está, também, a tornar-se menos confiante na permanência.

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As casas de apostas já não estão tão confiantes de que o Brexit é um cenário pouco provável.

Há cerca de uma semana, o Observador calculou que rondava os 30%. Em poucos dias, um novo cálculo (junto das 20 maiores casas de apostas) já aposta para probabilidades implícitas de 62%-38%, a favor da permanência.

Quase um terço dos eleitores só decidem na véspera

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Um estudo da LSE, Opinium e Lansons, citado numa análise do Citi, indica que entre 20 e 30% dos eleitores mudam de opinião ou tomam uma decisão de voto na última semana antes do referendo. E metade desses só decidem no dia.

Outra estatística interessante é que, segundo a Ladbrokes, 73% do dinheiro apostado está no lado do Ficar, ainda que 67% das apostas sejam no Sair. Por outras palavras, quem aposta mais dinheiro está a apostar na permanência — não obstante haver um número mais elevado de apostadores que, talvez atraídos pelas probabilidades, apostam montantes menores na saída.

As casas de apostas também parecem confiantes de que, no final de contas, a maioria dos indecisos irá pender para a permanência. “Historicamente, existe uma tendência para ver uma aceleração, na reta final, no sentido do status quo, especialmente entre os indecisos”, diz Jamie McKittrick, responsável da casa de apostas Ladbrokes, citado pela Bloomberg.

Numa análise às sondagens, o Citi também assinala que “historicamente, os eleitores tendem a flirtar com as alternativas políticas mas, muitas vezes, isso é seguido por um choque de regresso ao status quo“.

"Dizer numa sondagem que se vai votar no sentido da rutura é uma forma low cost de manifestar algum descontentamento com as políticas em vigor, mas na maior parte das vezes os referendos acabam por favorecer a manutenção do mesmo estado de coisas".
Citi, em nota enviada aos clientes

Porém, apesar da experiência passada, analisada por Alan Renwick e Stephen Fisher, “existem, é claro, razões para ter alguma cautela“. É possível que este referendo possa produzir um padrão nunca visto num referendo britânico, dizem os académicos, notando que “como já vimos sondagens a apontar para resultados opostos no último mês antes da votação, a experiência passada não é suficiente para descartar a possibilidade de uma vitória do Sair“.

E, se assim for, o impacto para a economia global poderá ser muito grave, na opinião do Instituto de Finanças Internacionais, mais grave, até, do que o colapso do Lehman Brothers.

“Não será o mesmo em termos de curto prazo, com eventual pânico ou caos nos mercados, porque os bancos centrais vão intervir. Mas [o Brexit] será mais grave do que o Lehman quanto ao impacto de mais longo prazo no crescimento. Através dos canais de transmissão no comércio e no investimento, haverá um impacto negativo no crescimento”, afirmou Hung Tan, do Instituto de Finanças Internacionais.

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