A chegada do embaixador dos EUA à redação do Observador foi o contrário do que se vê nas séries da Netflix. Nada de SUV´s pretos a bloquear a Rua Luz Soriano e meio Bairro Alto, nem dúzias de agentes dos serviços secretos com óculos escuros e ‘walkie talkies’ a cobrir as várias entradas e a olhar para tudo. Nada. Uma pequena desfeita. George E. Glass chegou discretamente e esperou à entrada, ainda de casaco, mas já sem gravata. “Você disse descontraído, mas isto é o máximo a que chego”, disse com um sorriso. Não era, claramente.
A entrevista foi em mangas de camisa, sob o olhar de duas assessoras e um elemento de segurança (uma estreia nas entrevistas no terraço do Observador). O embaixador, que a 24 de agosto assinalou um ano em funções, falou de energia e do receio norte-americano quanto às pretensões chinesas na EDP com a mesma descontração com que admitiu ter sentido uma ponta de “inveja” pelos 17 lugares de estacionamento que a sua vizinha, a cantora Madonna, obteve em Lisboa.
Sobre si e as suas funções, primeiro diz o que não é – “não sou um diplomata profissional”, nem “advogado, juiz ou funcionário público” – e só depois resume a sua essência: “sou apenas um empresário” do Oregon. Mas pela conversa, ninguém diria: fintou temas mais complicados, meteu humor quando a conversa o exigiu e só por um par de vezes lançou um olhar mais nervoso às assessoras. Mas a conversa fluiu. Usaram-se expressões do Boxe, falou-se de raças de cães, de Fátima, de hordas de turistas ou de gás natural. Um pouco de tudo, como seria de esperar, sobretudo porque o embaixador gostou da ideia da Summer Sessions “desde o primeiro minuto”.
Pelo meio ainda recomendou aos portugueses mais “arrojo”, “atrevimento” e “insolência”, qualidades que aprecia e que ainda faltam em Portugal. Talvez tenha sido por isso que aceitou o convite do Observador.
[Veja no vídeo o best of da entrevista ao embaixador George E. Glass no terraço do Observador]
Embaixador George Glass, seja bem-vindo ao Observador Summer Sessions, as nossas entrevistas no terraço. Escolheu um Whisky Sour, especificando que queria Bourbon do Kentucky. Por que razão escolheu esta bebida?
Além de adorar o sabor do Bourbon – provavelmente não deveria estar a dizer isto… – é uma bebida de verão que podemos beber com bebidas alcoólicas escuras [por oposição às bebidas espirituosas transparentes, como o gin ou a vodka]. E é uma das poucas bebidas alcoólicas que tem proveniência determinada na América. O Bourbon só pode ser feito no Kentucky – é um pedaço da cultura “americana” – e, pelo menos que eu saiba, as destilarias mais antigas na América fabricam Bourbon. Isto é o resultado das migrações, dos imigrantes que chegaram à América nos 1700’s, foram eles que criaram isto. Tem sido um favorito das famílias americanas e isso não parece ter mudado. No entanto, tem sido difícil de encontrar um bom whisky sour.
Talvez agora comece a ser mais difícil encontrar Bourbon na Europa, com as taxas alfandegárias (de 25% sobre o Bourbon, aplicadas a partir do final de junho). Até pensei que estava a tentar aumentar as vendas dessa bebida por cá.
Não me tinha dado conta disso. Sabe uma coisa, é verdade, estou mesmo… Não, estou só a brincar. No que toca a tarifas ao Whisky na Europa, não me parece que exista atualmente uma tarifa sobre o Bourbon. Que eu saiba não, não sei.
O que pensa sobre as tarifas aplicadas pela Europa aos produtos americanos, em retaliação por tarifas americanas [sobre o aço e o alumínio proveniente da Europa]?
Em retaliação pelo que estava a acontecer antes… Acho que é mais interessante falar sobre o acordo que saiu do encontro de Juncker com o Presidente Trump, da forma como a parceria entre a América e a UE pode prosseguir. A UE e os EUA representam metade do PIB mundial e, desde que estejamos a trabalhar em parceria, em conjunto, a seguir em frente com comércio livre, justo e recíproco, então só podem acontecer coisas boas.
Em que medida esse acordo [Juncker-Trump] pode favorecer Portugal, uma vez que a declaração [final] mencionava especificamente as vendas de gás natural liquefeito (GNL)?
Essa declaração [sobre o Gás Natural Liquefeito] estava lá por causa de Portugal, para nós, por causa do que temos feito aqui em Portugal. O Gás Natural Liquefeito e a importação de GNL norte-americano para Portugal – com Portugal a tornar-se num hub do gás para a Europa Ocidental – é uma das maiores oportunidades que Portugal tem tido em décadas.
Esse processo está a perder força?
Não, nada disso. Estamos apenas no início. No que toca à energia… O meu passado é na tecnologia, em Wall Street, onde as coisas acontecem em segundos. No que toca à energia, as coisas acontecem mesmo muito lentamente. Recordo-me de uma vez estar a falar com um dos grandes prospetores de petróleo e perguntar-lhe: desde o momento em que descobrem o petróleo até ao momento em que fazem um furo e põem o petróleo em barris, quanto tempo é que isso leva? E ele: oh, isso pode levar 15 a 20 anos. Eu só espero ainda estar vivo dentro de 15 a 20 anos. O que está a acontecer com o GNL e Portugal – sobretudo no que diz respeito ao mundo da energia – está a acontecer incrivelmente depressa, o que significa dois, três ou quatro anos.
E tem números específicos?
Acerca de números específicos sobre quanto GNL americano é que já chegou a Portugal, posso dizer que a maioria do GNL norte-americano que chegou à Europa chegou através do porto de Sines. Queremos manter as coisas assim. Muitos países estão a competir por essa capacidade de trazer o gás. Esta oportunidade de Portugal ser um hub para a Europa Ocidental é uma oportunidade tremenda e queremos garantir que vamos continuar a pressionar nesse sentido, para que essa oportunidade se concretize. Trata-se de muitos empregos, muitas importações e muito comércio.
Sobre a energia. Mencionou há semanas que existe uma “preocupação” genuína [dos EUA] quanto aos investimentos chineses em energia em Portugal – EDP e REN. Essa preocupação traduz-se exatamente em quê?
Tratam-se de infraestruturas críticas. Sempre que temos uma empresa detida por um Estado, nunca iria sugerir que um país pudesse entrar e deter parte da infraestrutura crítica de outro país, seja os Estados Unidos a deter a rede elétrica portuguesa e a rede de abastecimento elétrico de Portugal, seja a China, seja qualquer outro. Ter outro país a controlar parte da infraestrutura crítica é um aspeto perigoso, é um caminho perigoso que se está a trilhar.
Mas Portugal já [iniciou esse caminho]…
[interrompendo] Já vendeu partes, mas nunca toda uma estrutura. Esta é a primeira vez, é por isso que isto é diferente. Deter 25% da GALP, deter 25% da EDP, seja quem for, não há problema. Isso são investimentos. Podem criar influência e as várias entidades podem ter influência. Mas quero garantir que reconhecemos as diferenças entre as empresas detidas pelo Estado, geridas por um governo, e um investimento feito por fundos de investimento ou parcerias entre investidores ou uma empresa. É completamente diferente.
Neste caso [da OPA sobre a EDP] são empresas estatais do governo da China a investir na infraestrutura de Portugal. A diferença é que agora temos uma delas a comprar uma empresa (a EDP) por completo. E essa empresa também tem ativos muito importantes nos Estados Unidos, no setor das Renováveis, é o terceiro maior fornecedor de energia renovável nos Estados Unidos. Esse pedaço NÃO VAI ESTAR incluído neste negócio.
Esta transação causou um efeito dominó no reconhecimento sobre o que está a acontecer com as empresas detidas pelos Estados, sejam chinesas sejam de outro lado qualquer.
Já manifestou essas preocupações às autoridades portuguesas?
Já me conhece suficientemente bem nesta altura… Claro que já manifestei essas preocupações. E fizemo-lo em privado e publicamente. É uma coisa expressar essas preocupações… tivemos ótimas discussões… Acho que, para seguir um caminho um pouco diferente, a transparência deste governo – ao trabalhar com o gabinete do Presidente, com o gabinete do primeiro-ministro, da ministra do Mar, do ministro da Defesa – qualquer um destes gabinetes em Portugal foram super transparentes, foram muito acessíveis. Mantivemos discussões a todos os níveis do governo.
E qual foi a posição deles?
Bem… Tal como todas as coisas no Governo, ‘isso depende’. (Risos). Por um lado é novo investimento que entra – e aí há sempre uma preocupação sobre o ‘quem’ e o ‘quê’ – mas este governo considera que tem uma longa história de transações, especificamente com a China, e [a China e Portugal] têm sido parceiros há séculos, há 400 ou 500 anos, e talvez estejam um pouco mais confortáveis com esta situação do que nós. Daí o nosso tom de advertência.
Está a fazer um ano em funções na embaixada [a entrevista foi feita antes de 24 de agosto]. O que foi feito e quais são as prioridades para o segundo ano?
Nem sei por onde começar… Conseguimos mais no primeiro ano do que eu pensava ser possível. Chegámos aqui com três objetivos: melhorar o relacionamento (bilateral), melhorar as oportunidades económicas entre os dois países e por último a defesa.
Nos últimos 12 meses tivemos um compromisso [de Portugal] de [vir a gastar] 2% [do seu PIB em defesa] junto da NATO, avançamos na NATO pelo lado da Defesa, tivemos um número recorde de exercícios entre os dois países, tivemos missões militares em parceria entre Portugal e os Estados Unidos – na Lituânia, no Afeganistão, no Iraque – tivemos várias operações da NATO. Por isso, foi um sucesso tremendo nesse aspeto. No lado económico, acabamos de falar no setor do GNL e sobre aquilo que significa, mas em todos os setores: na tecnologia temos o Google, a Amazon. Na biotecnologia, temos a United Health Care, tudo o que se está a passar no Porto, a Web Summit, quer dizer, têm sido dados enormes passos em frente no que toca ao interesse económico dos EUA em Portugal.
Na parte da amizade, pelo que sei (e nós fomos verificar isto tão cuidadosamente como possível) este encontro entre os nossos dois presidentes — no qual pude apresentar o Presidente Marcelo ao meu Presidente, o Presidente Trump — foi a primeira visita oficial na Casa Branca – entre os presidentes dos nossos países – no espaço de 20 anos. É um magnífico impulso. E não se fica por aqui: o ministro dos Negócios Estrangeiros [Augusto Santos Silva] encontrou-se com o Secretário de Estado [o homólogo norte-americano] duas vezes, o ministro da Defesa encontrou-se com o Secretário [da Defesa, Jim] Mattis múltiplas vezes. E continua pela hierarquia abaixo, a todos os níveis de governo.
E isso pode traduzir-se em mais investimento norte-americano em Portugal?
Com certeza que sim.
E está alguma coisa a caminho?
Eu não lhe posso dizer isso!!! Bem, espere lá, vamos tomar mais uma bebida e…
Bem, pode não querer dizer exatamente que empresas estão a caminho, mas…
Com certeza. Isto é só a ponta da lança. O secretário Mattis, à conversa com o ministro Azeredo Lopes, fez um comentário muito interessante e muito engraçado. E até há uma fotografia minha, tipo a olhar de lado, a tentar perceber o que é que ele estava para ali a dizer.
Ele disse: se a América fosse um cão, sabe que raça de cão seria? E o ministro da Defesa fica assim meio… ‘eu sei lá… não faço ideia’. ‘Nós seríamos um grande São Bernardo. Fora de casa somos leais e maravilhosos, mas se nos deixar entrar em sua casa, partimos-lhe a mobília toda e vamos deixá-lo coberto de baba. Se virmos isso pelo lado económico…
E ele achou piada a isso?
Eu achei piada.
Refiro-me ao ministro da Defesa [de Portugal, Azeredo Lopes]. Ele achou piada a isso?
Sim, sim achou. Depois de percebermos o que Mattis estava a querer dizer com aquilo… Mas se olharmos, por exemplo, para os Açores, [uma região] que está à procura de um impulso económico: só o voo da Delta [Airlines], que chega um dia por semana – perdão, uma vez ao dia, cinco dias por semana – deixa cerca de 1.000 americanos nos Açores por semana. Isso representa cerca de 6 ou 7 milhões de dólares este ano, e vêm mais a caminho. Agora a TAP está a avaliar [a possibilidade de] fazer esse voo, outras companhias estão a avaliar [a possibilidade de] fazer esse voo. Num local como os Açores… não tenho a certeza de que tenham camas suficientes para tratar de toda a gente. Quero dizer, não falta muito até que comecemos a babar-vos em cima.
Há mais turistas norte-americanos em Portugal. Aliás, muitos mais…
Grosso modo, cerca do triplo em três anos.
É verdade que a embaixada emitiu um alerta acerca de possíveis ataques terroristas dirigidos especificamente a turistas americanos em Portugal?
Não, isso foi um erro cometido por um dos jornais daqui. Nós enviamos anualmente e a cada trimestre um comentário standard – sei exatamente a que se refere – que alerta para situações que podem ocorrer no estrangeiro, é um alerta genérico. Na verdade, eles pegaram naquilo e interpretaram-no como tendo um significado numa janela temporal que não era a pretendida.
Mas existe um consenso [entre as forças de segurança e contra-terrorismo] de que mais turistas criam mais oportunidades de ação terrorista. Considera que Portugal é um país seguro nesse contexto?
Absolutamente. Sei que passou de três para quatro na escala global dos países mais seguros. É um dos MAIS seguros países no Mundo. E é por isso que… Portugal, ao recuperar economicamente, enviou mesmo uma mensagem ao Mundo: “estamos aqui, somos hospitaleiros, queremos turismo e dólares no setor dos serviços. É um país histórico, é lindo, as pessoas são acolhedoras, a indústria dos serviços está preparada… O meu comentário com toda aquela história do São Bernardo é que não queremos sobrecarregar isso. Há uma possibilidade de isso vir a ocorrer. Nos últimos anos estavam a chegar americanos a Portugal na ordem dos 300 mil por ano, e passamos para mais de um milhão este ano. Isso é significativo. E não vai parar, não vemos essa tendência a parar daqui em diante.
Acho que isso tem alguma coisa a ver com a Madonna, que é sua vizinha? Recentemente escreveu no Twitter acerca dela, da sua vizinha. Acha estranho o tipo de mordomias que a Madonna tem na cidade de Lisboa?
[Risos] Você sabe… Toda a gente adora uma celebridade…
Ela já lhe pediu algum favor na embaixada?
Não, ela já esteve na embaixada um par de vezes. [E nós:] ‘Estamos aqui para ajudar’ e tal…
Mas convidou-a para alguma festa [na embaixada]?
Sabe… na verdade, nós já a convidámos para uma festa — agora que olho por cima do ombro — mas ela não apareceu… Fizemos um show de renda da Madeira e convidámo-la, mas ela não apareceu. Pensei que seria simpático, convidar os vizinhos e tal. E… ela não veio.
Mas acha que ela tem um tapete vermelho especial em Lisboa, com aquela questão dos lugares de estacionamento, museus fechados de propósito para que ela os visite, reuniões com o ministro da Cultura?
Isso é uma opção que cada país é que sabe se faz ou não. Sejamos francos: ela é uma celebridade muito, muito famosa e não acho que ela se tenha aproveitado de nada. Acho que aceitou aquilo que lhe foi oferecido. Eu estava fora, regressei e estava a dar uma entrevista quando ouvi sobre os lugares de estacionamento, e posso dizer-lhe qual foi a minha primeira emoção quando ouvi isso pela primeira vez: “Estou com inveja! Eu também iria adorar 17 lugares de estacionamento. Eu não tenho 17”.
Talvez lhe possa pedir lugares de estacionamento…
Sim! Se alguma vez dermos alguma festa, no final da rua, tenho de pedir alguns lugares emprestados.
Acha que lhos dariam?
[Risos]. Aposto que há aí um acordo algures. De certeza que podemos chegar a um acordo sobre isso.
Na sua conta do Twitter, descreve-se assim: “marido, pai, avô, embaixador em Portugal”. Onde está a parte do empresário, é uma vertente da sua vida ofuscada pelos outros quatro?
É uma pergunta muito difícil de responder. Sempre tive muita sorte na vida, porque sempre adorei fazer o que fazia. Começámos com um banco de investimento no Pacific Northwest (Nordeste dos EUA, na costa do Pacífico). Crescemos até nos tornarmos num banco de investimento global. Foi tremendamente divertido, muito interessante. Era aí que estavam os meus amigos, fazia parte da minha vida.
Por isso, nunca olhei para os negócios com algo que é sanguinário, como um jogo de soma zero: eu ganho, tu perdes. Isso nunca fez parte do que eu sou e do que me define. Poder juntar pessoas, para fazer negócios e para desfrutar da vida e divertirmo-nos com o que fazemos é a parte mais importante. Por isso não acho que tenha deixado isso para trás, mas essa não é a ênfase do ponto em que estamos atualmente na vida.
Esse background ajuda-o alguma coisa a tomar as decisões que tem de tomar atualmente?
Claro que sim. Sem dúvida. Deixe-me pôr as coisas nestes termos: eu não sou um diplomata profissional. O que é óbvio para todas as pessoas na embaixada… quando entramos conseguimos picar todas as pessoas, mas aquilo que consegues quando tens uma pessoa dos negócios… Eu não sou um advogado, nem juiz, nem diplomata, nem funcionário público. Sou apenas um homem de negócios.
E nos negócios olhamos para a frente, sempre geri empresas de crescimento. E numa conversa com o presidente Marcelo disse-lhe: “Sabe uma coisa, agora o senhor tem um dos trabalhos mais difíceis do Mundo. Em vez de estar a gerir uma empresa de crescimento, está a gerir um país de crescimento. E o mais difícil com o crescimento é gerar o impulso. Nós temos esse impulso na embaixada, nós temos… Portugal tem hoje esse impulso no Mundo. Mas é preciso mantê-lo a andar. E no minuto em que perdemos parte desse impulso, é quando tudo começa a ficar mesmo mesmo difícil.
Eu sou completamente a favor de jogar para o impulso, porque só ajuda aquilo que faço. E sempre foi essa a filosofia no lado dos negócios.
Portugal conseguiu várias vitórias diplomáticas nos últimos anos, como por exemplo a eleição de António Guterres para secretário-geral da ONU. São conquistas acima do tamanho de Portugal enquanto país?
Não!! Portugal adora dar murros acima da sua categoria de peso. É uma velha expressão do boxe: é quando atinges com mais força do que aquilo que o resto da tua classe de peso acredita que conseguirias atingir. É isso que te torna num campeão. E Portugal tem tido muito êxito na forma como os seus líderes se projetaram para o mundo.
E Portugal está agora num spot muito interessante. Está a tirar o máximo partido disso e deve fazê-lo. A nossa mensagem desde sempre que foi: “façam as coisas em grande, sejam arrojados, não se retraiam”.
Para voltar ao tema do GNL, no setor dos negócios, se Portugal conseguir ser o hub do gás para a Europa Ocidental será uma coisa enorme. Será um enorme acordo financeiro. Isso será dar um murro acima da sua classe de peso, acima do seu tamanho e dos seus recursos.
[Esse negócio] é uma das suas prioridades para o segundo ano…
Tem sido prioridade desde o dia 1. E não vai esmorecer. Como disse anteriormente isso vai demorar anos, será a prioridade durante todo este período. A outra prioridade, um pouco ao lado no setor económico, é o que está a acontecer lá em baixo no Alqueva, com a capacidade de proporcionar água para irrigação. Já vimos o anúncio de um ‘hedge fund’ da Costa Oeste (o fundo Route One Investment Company), de 150 milhões de euros de investimento em terreno, mas o que Portugal agora tem é irrigação e abastecimento de água ilimitados. Isso é incrível. Isso é ouro! Por isso vocês vão assistir a enormes investimentos provenientes também dessa área. Portugal tem muitas destas oportunidades muito interessantes, não porque seja ‘grande e arrojado’, mas também por causa da geografia, do estilo e infraestrutura, mudanças que fez e que criaram muitas oportunidades.
O que lhe disse o Presidente Trump para o convencer a vir para Portugal? Lembra-se das palavras exatas quando lhe fez o convite?
Ele só disse “sim”, quando eu lhe disse que queria vir para cá. Como isto funciona é: quando se chega ao final de uma campanha – eu trabalhei em quatro campanhas presidenciais – e se assumires um papel de liderança perguntam-te o que queres fazer, se queres um emprego com a nova administração. E eu sempre disse que não: já tinha um trabalho, tinha uma família ainda nova, estava a trabalhar e não tinha oportunidade de fazer isso. Mas desta vez disse que sim, que queria um emprego. E ele perguntou o que eu queria e eu respondi que queria ser o embaixador em Portugal. E ele só disse: OK.
Que característica norte-americana faz falta aqui em Portugal?
Descaramento [no original: brashness]. O excesso de confiança que os americanos têm nas empresas americanas, isso é algo que precisa passar um pouco para cá. Outra vez: “agir em grande, agir com coragem. Não sejam tímidos”. A forma como Portugal tem lidado com o mundo tem sido a humildade e através da negociação. E esta não é altura para se ser humilde, é uma altura para pedir e exigir.