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Observador Summer Sessions com Paulo Rangel: "O facto de termos pressionado fez com que o governo escolhesse uma PGR com este perfil"

Paulo Rangel aprova o perfil da nova PGR. O eurodeputado diz que foi resultado da pressão de quem pedia a recondução de Marques Vidal. Bem-vindos à última sessão das conversas no terraço do Observador

Se este ano o verão só começou ali para meados de julho, porque não prolongá-lo por estes primeiros dias de outono? Foi o que fizémos nesta conversa, gravámos na reta final do verão e atualizámos já no primeiro dia do outono, para ter a resposta a um dos temas que Paulo Rangel mais tem levantado por estes dias: o processo de nomeação da PGR. A verdade é que a temperatura não desceu, e na política promete continuar a subir nas semanas que aí vêm. Abrimos assim, pela última vez, as portas do terraço para uma sessão de conversa.

A viagem começa na Roma antiga e termina na Comporta. Pelo meio, o eurodeputado do PSD fala do futuro da Europa, desfia ataques à esquerda e compara Marcelo a Cristiano Ronaldo: “É o único sprinter que conheço que foi campeão da maratona”.

Rangel não vaticina grande futuro ao partido de Santana Lopes e, apesar de reconhecer que ele “tem mel”, considera “injusto” e “incompreensível” que uma pessoa se candidate à liderança de um partido e meses depois já não se reveja nesse projeto. O eurodeputado sabe do que fala, porque já se candidatou uma vez – e perdeu – e continua por aqui. Sobre o seu próprio futuro, guarda-se em copas. Mas Rangel anda por aí. E é, por isso, muito significativo ouvir o que diz sobre a liderança de Rui Rio. Distancia-se dos críticos, descreve ao pormenor a visão do presidente do PSD, chega a elogiar o caminho escolhido por Rio e acredita que “há aqui um desígnio”. Uma conversa para ler à superfície e nas entrelinhas, bem regada com um Porto tawny, o preferido do nosso último convidado.

Foi uma das vozes que mais se fez ouvir pela recondução de Joana Marques Vidal como PGR. Saiu derrotado?
Eu acho uma pena que não continue Joana Marques Vidal. Era um bom sinal para a sociedade portuguesa. Não sendo isso possível, ela deixou uma marca e um legado e há aqui uma continuidade no perfil. Nesse sentido, acho que todos aqueles que nos últimos meses, e em particular nas últimas semanas, chamaram a atenção para a importância de reconduzir a anterior procuradora, foram decisivos para que o perfil fosse deste tipo. Se não tivéssemos pressionado, teríamos uma PGR com estas características? Talvez não.

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Continua convencido que a melhor escolha teria sido a continuidade de Joana Marques Vidal?
Eu não vi nenhuma razão, nem da parte do Presidente da República, nem da parte do primeiro-ministro, nem da parte do PS para não reconduzir Marques Vidal. O facto de se ter insistido muito no seu legado fez com que o governo fizesse uma escolha que dá garantias de credibilidade e continuidade dos valores prosseguidos.

E como é que olha para a forma como o processo foi conduzido?
Achei negativo que tudo tivesse começado com uma espécie de fake constitution (Constituição falsa), dizer uma coisa que não vem na Constituição. E fiquei extremamente preocupado quando, já depois disso, procurou insistir-se na ideia de que a Constituição aponta para um mandato único. Não é verdade e nem há, sequer, ambiguidade. Nenhum constitucionalista pode defender isso. O próprio Presidente da República nunca falou em mandato único. Só se pode falar de limitação de mandato e essa questão só se coloca, obviamente, se houver mais do que um.

Tem opinião sobre Lucília Gago?
Do que se vai sabendo do seu perfil destaco duas coisas importantes, a discrição e a contenção. Não se lhe conhecem intervenções “problemáticas” que põem em causa a sua imparcialidade, como aconteceu por vezes com Pinto Monteiro. Nem a propensão para “gaffes” como aconteceu com o procurador Souto Moura, fruto de alguma inabilidade. Diria que a nova PGR tem demonstrado pouca vontade de protagonismo e uma grande sentido institucional. Uma intervenção sóbria e contida, num cargo destes, ajuda muito a credibilizar o lugar.

Dizia há pouco que este cenário do terraço do Observador (ao fundo vê-se a fachada do Conservatório de Lisboa) faz-lhe lembrar mais Roma do que propriamente Lisboa.
Bom, a atmosfera do Bairro (Alto) é claramente Lisboa. Mas aqui este espaço muito particular, vendo ali o deus Apollo, é um ambiente romano.

O que até vai bem com a bebida que escolheu para esta entrevista, que é um vinho.
É um vinho, os romanos tinham muito o culto do vinho, como se sabe.

Talvez não este, exatamente…
Este não, não tinham um tão bom como este.

É um vinho do Porto.
Este é um vinho do Porto que não é vintage, mas os romanos já tinham o conceito de vintage. Como não havia o antes de Cristo e depois de Cristo, em Roma os anos eram definidos pelo Cônsul que estava em funções. E há um vinho do ano 121 A.C. que era considerado o melhor vinho, da melhor colheita romana. Foi no consulado de Opímio. Toda a gente o procurava, tinha um valor especial. Este culto que nós temos agora não é nada de novo. Já o Homero escreveu, na Odisseia, “Os moinhos dos deuses moem muito devagar”, quer dizer, isto anda tudo muito devagar e no fundo nós descobrimos muito pouca coisa nova.

Ainda assim, não é vintage aquele preferiu. É um tawny.
Prefiro o tawny ao vintage, sobretudo se for mais velho. Talvez porque também foi o que fui habituado a beber em casa. Os meus pais tinham o hábito de beber um cálice de Porto antes de se deitarem. O vinho do Porto tem muito a ver com a minha história e com as minhas raízes. No fundo, nós começámos a beber vinho do Porto um pouco cedo demais.

O que é cedo demais?
13 ou 14 anos, por aí. Eu não gostava de vinho normal de mesa até aos 20 e tal anos. Mas o vinho do Porto era uma coisa que sempre gostei. Sempre tive esse culto, sempre me lembro disso. Quando eu era criança, viviámos em Gaia, muito perto das caves. Eu estudava lá num colégio de freirinhas, e a visita de estudo era sempre à Real Vinícola, todos os anos.

Deixe-me fazer aqui uma ligação rápida do Porto a Bruxelas. Há umas semanas, aqui neste terraço, Marisa Matias dizia que nas próximas europeias vem aí um terramoto político, falando da ascenção dos partidos extremistas, populistas, nomeadamente a extrema-direita.
E os dela também, a extrema-esquerda também. Aliás, uma coisa que impressiona muito no Parlamento europeu é que as forças como o Bloco de Esquerda e o PCP votam em 90% dos casos ao lado das forças que eles chamam de populistas e fascistas. Claro, dizem que é por razões diferentes, mas o resultado objetivo é o mesmo.

Compra a tese de que os extremos se tocam?
Não é por acaso que esse dito existe. Mas não é só isso. Há um anti-europeísmo de raiz. No caso do PCP ele é absolutamente confessado, é um partido completamente nacionalista, soberanista, só é internacionalista se fossemos todos comunistas — no tempo da União Soviética, aí não havia nacionalismo nenhum, era uma espécie de união proletária internacional. O Bloco disfarça um pouco mais. Só aceita a União Europeia se tiver a sua ideologia. Se não, já não interessa.

E os resultados das europeias?
Para não fugir à sua pergunta: a minha análise é a de que vamos, de facto, para uma maior fragmentação do Parlamento Europeu, e portanto será mais difícil formar maiorias. Todos os partidos sofrerão, os partidos ditos tradicionais sofrerão alguma erosão, e os partidos mais anti-europeus vão ter uma voz mais forte. Porque o voto nas eleições europeias é também muitas vezes um voto de protesto.

"A estabilidade, a resiliência do sistema partidário português é bastante grande."

Mas antecipa ou não o risco de desaparecerem os partidos da social-democracia e os partidos socialistas europeus?
Nos grandes países, que são os que dão massa crítica às famílias políticas, os socialistas sofrerão. Mas eu acho que o PPE (Partido Popular Europeu, família política a que pertence o PSD e o CDS), também pode perder alguma coisa.

E isso permite alguma leitura sobre a Europa que temos hoje? Não digo enquanto União Europeia, mas a Europa dos vários Estados.
Precisamente, é que isto não é um problema da UE, é um problema dos Estados membros, em que existe uma grande fragmentação partidária. Mesmo o Reino Unido está numa situação muito complexa. Tem sido protegido pelo seu sistema eleitoral, mas se nós olharmos para o que se está a passar dentro do partido conservador e dentro dos trabalhistas, estão profundamente divididos.

Numa reunião do PPE de que é vice-presidente desde 2009

EPA

Portugal está a escapar a essa fragmentação?
Portugal até agora tem escapado e estou convencido de que vai continuar a escapar. Portugal é uma ilha rodeada de mar e de Espanha por todos os lados. Esta é a definição que costumo dar. E politicamente também estamos um pouco nessa situação. A estabilidade, a resiliência do sistema partidário português é bastante grande. Nós tivemos a experiência clara do que é a emergência de um partido que teve 18% logo na primeira eleição, que foi o PRD. E passado dois anos, dissolveu-se. O que é que isto significa? Que o nosso sistema partidário tem muita resiliência. E isto é diferente de outras experiências.

Se o sistema partidário português é assim, como está a apresentar, então não vaticina um grande futuro para o novo projeto de Santana Lopes.
Não, sinceramente não vaticino. Há uma coisa que eu gostava de dizer que acho que é comum a qualquer militante do PSD: um enorme afeto e respeito pela figura de Santana Lopes, mesmo muita gente que nunca votaria nele sequer internamente. É como dizia o João Soares, ele tem mel, e nós somos todos sensíveis a esse mel.

Mas esse afeto é porque se identificam com ele? Ou é como aquele tio simpático de quem toda a gente gosta, mas com quem não se discute política?
É um enorme respeito. E com isto quero dizer que ele não tinha nenhuma razão para sair do PSD. Esta é a questão. É profundamente injusto para o PSD, que o tratou sempre desta maneira. E é também incompreensível. Porque eu não posso ser candidato à liderança de um partido, em janeiro ou fevereiro, e passado 5 meses, o partido a cuja liderança eu me candidatei, afinal, não preenche os requisitos que eu queria. Ainda por cima uma pessoa que tinha uma história de 40 e tal anos de PSD, que estava na ribalta desde os anos 70. Se, durante a campanha, ele nunca disse que o PSD estava esgotado, como é que passados 4 ou 5 meses acha que vai agora revolucionar o mundo e que afinal já não é o PSD o veículo da realização de um projeto para o país? Isto não tem sentido.

Para a Aliança, de Pedro Santana Lopes, Rangel não vaticina grande futuro

TIAGO PETINGA/LUSA

O que é que o move então, do seu ponto de vista?
Em política, para se ser líder, é preciso ter vontade e é preciso ter uma visão. O que eu acho que às vezes há muita gente com vontade, mas não há assim tanta gente com visão. E aqui há vontade de ser líder.

Mas não há visão?
A única razão que se compreende é “Eu perdi as eleições e queria ser líder, como não fui líder, então vou fundar um partido para ser líder.” Porque se for a ler os princípios da dita Aliança, o que eu vejo naqueles princípios programáticos não é nenhuma diferença abissal em relação aos projetos do PSD.

Mas há diferenças.
É totalmente injusta a acusação de que o PSD defendeu as políticas de austeridade da troika. Se houve pessoa que mais combateu isso foi o primeiro ministro Passos Coelho, que em muitos casos se bateu – e eu sou testemunha ocular disso – para ter condições diferentes. Ele nunca achou que o programa da troika estivesse impecavelmente desenhado. De resto, herdou-o do PS.

Sobre Santana: "A única razão que se compreende é: eu perdi as eleições e queria ser líder, como não fui líder, então vou fundar um partido para ser líder."

Foi Passos Coelho quem assumiu publicamente que queria ir para além da troika. Não se fica refém de uma formulação dessas?
Não digo o contrário. Mas repare na justiça que Mário Centeno lhe prestou no seu maravilhoso vídeo.

Achou maravilhoso?
Achei altamente revelador, com uma característica típica deste governo socialista que é a hipocrisia. E que também já lá estava no ADN socrático, o que também não pode espantar porque muitos ministros são os mesmos. No caso de Mário Centeno, é uma hipocrisia consciente, porque ele conhece perfeitamente a situação financeira do país, e a situação orçamental. Vir falar da questão grega, onde a intervenção da Europa foi muito mais desastrada, mas nunca ter tido uma palavra de reconhecimento para o governo português da altura. Com certeza que tinha coisas que estavam menos bem, mas ele só pode ser o ministro das finanças que é porque alguém lhe preparou o caminho. Nunca ter reconhecido isso, é uma desonestidade do ponto de vista político. Caiu a máscara.

Curiosamente foi essa a expressão usada por Mário Centeno, “caídas todas as máscaras”, para dizer que a saída limpa foi uma propaganda enorme.
Não sei qual era a propaganda. Basta olhar para a trajetória, mesmo a do desemprego, está lá toda. Começou muito antes, logo em 2014. Não é por acaso que o PSD e o CDS tiveram uma vitória eleitoral.

Sem maioria.
Sem maioria, e por isso eu aí nunca tive a narrativa que algum PSD teve de que era ilegítima esta solução. Pelo contrário, acho que é totalmente legítima, as maiorias formam-se no parlamento e só quem tiver uma maioria capaz de sustentar um governo é que tem legitimidade para governar. É assim que são os regimes representativos e é bom que seja assim.

Rui Rio não era um crítico do governo de Passos Coelho?
As críticas que fez ao governo era como autarca e não mais do que isso. Esta justiça tem de lhe ser feita. Aliás, se há pessoa que desde os anos 90 é a favor do equilíbrio orçamental e até do superavit, é Rui Rio. Nós já sabemos que não há milagres, tanto que a austeridade está toda aí com Mário Centeno. Porque é que os comboios não funcionam? Porque os hospitais estão na situação desesperada. Nós estamos a substituir o estado social pelo estado salarial, que é com um pequeno aumento nas pensões e um pequeno aumento nos salários, mas depois retirar às pessoas todas as prestações que elas têm disponíveis e logo as mais importantes. O que é que adianta ganhar mais 10 euros ou 15 numa pensão, se eu passo a ter mais 10 ou 15 meses de espera para fazer uma operação que é essencial para mim? Não é com 10 euros por mês que eu passo a poder pagar essa operação no privado.

"Mário Centeno só pode ser o ministro das Finanças que é porque alguém lhe preparou o caminho. Nunca ter reconhecido isso, é uma desonestidade."

Falou da vontade de liderança e de visão no caso de Santana Lopes. E Rui Rio? Sabemos que tinha vontade de liderar o PSD. E visão, tem?
Claramente tem uma visão, podem uns gostar mais e outros gostar menos.

E o Paulo Rangel, gosta?
Rui Rio tem uma visão sobre a política, de que não deve ser feita a política espetáculo. Só se deve intervir quando há alguma coisa para dizer. Valorizar a palavra, cumprir as promessas. Uma visão de alta credibilidade da função política. E isso é claríssimo e toda a gente lhe reconhece. Como toda a gente lhe reconhece uma visão para as finanças, que é “nós não podemos gastar mais do que o que temos” e portanto temos de procurar fazer uma política mais equilibrada, de acordo com os objetivos e as prioridades.

E a visão para o país?
É uma visão que tem muito a ver com os seus mandatos na câmara do Porto. Rui Rio não é um homem dos grandes investimentos, das obras megalómanas, daquelas aspirações socráticas de que se vai reformar o país de alto a baixo, de que havia um país antes e agora é outro país, não é nada disso. A sua preocupação é aumentar todos os dias a qualidade de vida das pessoas. Naqueles primeiros quatro anos no Porto foi extraordinário verificar o seguinte: a primeira coisa que ele fez foi acabar as obras da Porto 2001, que estavam todas por acabar. Depois, os lixos serem todos recolhidos a tempo – a cidade tinha muito menos lixo do que tem hoje. Não haver vidros partidos, não haver estacionamento em segunda mão, estarem os passeios limpos, as escolas e os bairros a funcionar com condições. Ou seja, de repente, as pessoas viam melhorias no dia-a-dia.

Mas como é que se transpõe isso para nível nacional, não é pouco?
Estou de acordo que é diferente governar uma autarquia do plano nacional. O que eu queria dizer com este exemplo é que ele não é do género vamos lá criar uma linha de metro nova daqui até ali, vamos lá criar mais um pavilhão da ciência. Não é este tipo de desígnios. O que é nós estamos a ver é que a sua preocupação é o funcionamento dos serviços. Se a pessoa vai a um hospital é atendida de forma decente e de forma oportuna. Se a pessoa tem em casa filhos com 2 ou 3 anos e não tem quem toma conta deles, tem uma creche perto. É criar as condições para que as pessoas façam elas próprias mover o país. Por isso é que eu acho que ele pode consubstanciar, de facto, um alternativa muito grande a António Costa.

Portanto, não é preciso que um líder de um partido com ambições de vir a ser primeiro-ministro tenha que ter um desígnio a médio ou longo prazo.
Eu acho que aqui há um desígnio, e esse desígnio é finalmente fazer as reformas que levam  resolver os problemas das pessoas, em vez de estar com grandes retóricas e com grandes números, em vez de andar em concertos dos GNR e em passeios pelos passadiços do Paiva. Porque não é a dançar num concerto dos GNR, que nós resolvemos os problemas das listas de espera. Não é a passear nos passadiços do Paiva, que nós construimos caminho de ferro.

Sobre a liderança de Rui Rio: "Temos motivos para estar esperançados no que aí vem."

Pode concluir-se que se revê neste mandato de Rui Rio, nesta liderança?
O que eu quero dizer, de forma muito clara, é o seguinte: vir dizer que não há visão, isso é de quem não está a… a ver as coisas. Há uma visão clara, evidente. Perceber que a agenda mediática de Rui Rio não é a agenda mediática dos outros líderes. Mas isso também o diferencia dos outros. Rui Rio não é o palrador que aparece todos os dias na televisão. Rui Rio, muito mais do que um político orador, é um doer, é alguém que faz coisas e que transforma a vida das pessoas no dia a dia. E isso cria as condições para as pessoas vivam melhor e possam, por sua iniciativa, criar riqueza.

Como é que viu as críticas de outras figuras do PSD quando, nas férias, o acusaram de ter desaparecido durante o verão, não ter falado durante os incêndios de Monchique.
O PSD tomou posição nessas matérias. Não a tomou pela voz do líder, mas tomou posição. Compreendo perfeitamente esta atitude. Cada liderança também tem de ser o estilo da pessoa. E eu compreendo a atitude de não falar enquanto está a decorrer um incêndio. Assim que termine, logo se fala. Qualquer pessoa que estiver em casa percebe isto. Está a haver um incêndio brutal em Monchique. Deve agora o líder político da oposição vir agora falar? Não. Eu não estou a dizer que a política tenha de ser feita toda desta maneira. O que eu estou a dizer é que esta é a autêntica, corresponde à personalidade do líder.

Não é, portanto, um militante desiludido com este líder.
Não, pelo contrário. Acho que temos motivos para estar esperançados no que aí vem. É uma luta difícil, seria sempre muito difícil nesta altura. Agora, este é o caminho que o líder escolheu, foi responsável por ele, foi eleito com este caminho, não enganou ninguém. Este é um aspeto importante: Rui Rio não era um desconhecido que não tivesse pensamento político, tinha experiência política provada.

E validada pelos eleitores.
Validada. Aliás, nunca perdeu eleições, como ele costuma dizer — e é verdade.

Acha que vai manter esse registo, de não perder eleições?
É difícil, mas não é impossível. Com uma estratégia alternativa, como é esta que aqui está em causa, pode vencer as eleições.

Já as europeias?
Vencer as europeias e as legislativas. Penso que está perfeitamente ao alcance. Claro que é preciso que se conjugue um conjunto de fatores. A estratégia nós conhecemos qual é, uma atitude de grande credibilidade, grande rigor do ponto de vista orçamental e depois de melhoria concreta da vida das pessoas, com prioridades. Penso que esta atitude, se bem transposta, com linhas programáticas e bem comunicada, nesta reta eleitoral que temos agora, temos condições para nos afirmarmos de forma positiva.

Rangel ao Observador: rasgados elogios a Marcelo Rebelo de Sousa e distância dos críticos de Rui Rio

LUSA

E para essa reta eleitoral, Rui Rio já falou consigo sobre as europeias?
Neste momento, não existe nenhuma posição tomada no PSD sobre as europeias.

Mas Rio já falou consigo?
Não existe nada. Neste momento não existe nenhuma posição tomada.

Não estou a perguntar se o PSD tomou posição. Estou a perguntar se Rui Rio já falou consigo sobre as europeias.
Sobre as europeias concretamente não falámos ainda. Quer dizer, falámos sobre as eleições em geral, mas não falámos sobre o processo…

Portanto ainda não falou consigo para saber se tem disponibilidade para voltar a encabeçar uma lista do PSD?
Não, o processo de escolha foi relegado para outra oportunidade, e nessa oportunidade será debatido dentro do partido.

Está disponível, se receber esse convite?
Eu já fui candidato em 2009 e em 2014…

Dizem que não há duas sem três.
Deixe-me lá responder: das outras duas vezes, eu tive sempre a mesma atitude, nunca falei sobre esse assunto. Nem no partido, nem fora do partido. Portanto, não vou fazê-lo aqui, na entrevista ao Observador.

A mesma reserva que em 2009 e 2014, tal como das outras vezes em que foi cabeça de lista pelo PSD…
Agora não quero parecer o Partido Comunista, mas isto tem de ser objeto de um diálogo interno, que é o que diria um dirigente comunista nestas condições (risos). São coisas para se conversar internamente, no momento que a liderança considerar oportuno. A responsabilidade pela escolha da lista é dos orgãos e do presidente do partido, temos de respeitar.

Mas gosta do seu trabalho como eurodeputado?
Eu gosto imenso do meu trabalho como eurodeputado. Mas devo dizer que fui líder parlamentar e adorei — sem falsas modéstias, creio que fui um bom líder parlamentar. Gostei imenso de ser secretário de estado. Olhe, foi no governo de Santana Lopes, e por isso fico com tanta pena que o único primeiro-ministro com quem trabalhei em funções não esteja agora disponível para o PSD. Dar aulas é uma coisa que gosto imenso, ser advogado – quando exercia – era uma coisa que gostava imenso. É a única coisa que me aproxima do professor Marcelo Rebelo de Sousa, ele fazia imensas coisas e gostava imenso de tudo o que fazia. Bom, e continua a fazer imensas coisas e pelos vistos a gostar muito do que faz. Eu também tenho essas características, não preciso de ser isto ou aquilo para me realizar. Tenho uma certa polivalência.

Quando diz que é a única coisa que o aproxima do Presidente da República é porque não se revê em mais nada?
Não, não é isso. É que ele é uma pessoa hiper-inteligente, e com uma carreira política com a qual eu não me posso comparar.

Mas faz um balanço positivo?
O Presidente da República, tem uma coisa extraordinária – só para ver como eu o admiro, para não ficar a ideia de que era uma crítica: o presidente Marcelo é o único sprinter que eu conheço que também foi campeão na maratona.

Explique lá essa metáfora.
Ele esteve sempre presente nos momentos históricos do PSD, e continua presente, como se vê, aliás. No plano tático, no curto prazo, não havia político mais brilhante do que Marcelo Rebelo de Sousa. Era o sprinter a ganhar os 100 metros. Qualquer pessoa a correr com ele perde, ainda hoje. Havia no entanto muita gente com dúvidas de saber se ele poderia fazer corridas de meio fundo, ou de fundo, ou até a maratona. O que provou a sua eleição presidencial é que ele, sendo um sprinter hipermedalhado, foi capaz de preparar uma candidatura em condições muito especiais, com muito cuidado e com muito tempo.

"Marcelo é o único sprinter que eu conheço que também foi campeão na maratona."

Treinou para isso.
Treinou para isso e a verdade é que ganhou a maratona. Havia uma crítica que lhe era feita muitas vezes de que ele seria um taticista. Marcelo Rebelo de Sousa revelou, para quem não o soubesse, que também é um guardião dos grandes interesses e desígnios do país. E que está aí para isso. É o único sprinter que conheço que é também campeão da maratona. Isto é um feito que nem Cristiano Ronaldo consegue.

Onde é que o Paulo Rangel nunca será visto a passar férias?
Na Comporta.

Por causa de toda a movimentação de interesses económicos e políticos, ou por causa das melgas?
Os interesses não deixam de ser de melgas.

Paulo Rangel na entrevista gravada no terraço do Observador no final do mês de agosto

KIMMY SIMÕES

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