887kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

GettyImages-485569603
i

O surfista terminou a carreira há oito anos, mas continua a regressar ao Capítulo Perfeito todas as temporadas

World Surf League via Getty Imag

O surfista terminou a carreira há oito anos, mas continua a regressar ao Capítulo Perfeito todas as temporadas

World Surf League via Getty Imag

Tiago Pires. "O verdadeiro campeão do mundo de surf não vai ser o campeão olímpico. O campeão do mundo está na liga profissional"

Deixou a competição em 2016, mas regressa ao mar sempre que pode. Ao Observador, Tiago Pires deixa opiniões fortes sobre o surf nos Jogos Olímpicos e diz que nos tubos pode "bater-se com qualquer um".

Tiago Pires terminou a carreira no início de 2016, há cerca de oito anos, pouco depois de ter sido pai pela primeira vez. As decisões estavam interligadas e nenhuma provocou a outra: deixou o surf porque não queria deixar a família em Portugal enquanto competia, começou a pensar em ter uma família a partir do momento em que os resultados no surf já não apareciam com tanta facilidade.

A nova vida de Tiago Pires, “free as a bird”

“Sempre admirei bastante quem conseguiu viajar com família, porque a logística de um surfista não é nada fácil. Quando andamos ao mais alto nível, acabas por ter que te proteger e preparar muito bem. Teres cinco pranchas é, mais ou menos, o mínimo para um campeonato. Andas sempre com coisas às costas. Não me imagino a viajar com pranchas, filhos, carros de bebés… Teria de montar uma estrutura muito sólida, levar a minha mulher, uma babysitter e outras coisas”, explicou ao Observador precisamente há oito anos, poucas semanas depois de tornar pública a decisão de deixar de competir profissionalmente.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

GettyImages-158015726

Tiago Pires foi o primeiro português a competir no World Championship Tour

World Surf League via Getty Imag

Passaram oito anos. E mais dois filhos. Tiago Pires é agora um verdadeiro embaixador do surf nacional, um exemplo para as gerações mais jovens, o primeiro português a ter competido no World Championship Tour (WCT). Atualmente com 43 anos, o surfista natural de Alvalade e com uma ligação umbilical à Ericeira abriu um restaurante, tem uma escola de surf e continua a entrar no mar sempre que pode. Para competir, porém, só abre uma exceção.

Mesmo depois de terminar a carreira, Tiago Pires nunca deixou de participar no Capítulo Perfeito, o evento de ondas tubulares que procura o melhor dia de inverno para surfar. A décima edição, que já está atualmente no habitual período de espera, não será exceção: o surfista surge como um dos ex-campeões convidados, ao lado de Nic von Rupp ou Aritz Aranburu, e vai competir diretamente com jovens como João Maria Mendonça, Kika Veselko ou Salvador Vala, todos nascidos depois de 2000.

Um Capítulo Perfeito que deixou de ser Perfect Chapter: competição de tubos volta a Carcavelos com a hipótese de ter a primeira mulher

No dia de apresentação do evento, num hotel no Estoril onde não abdicou dos óculos de sol mas trocou os habituais ténis por botas, explicou ao Observador o porquê de continuar a voltar ao Capítulo Perfeito – e, mais especificamente, aos tubos. “Nunca penso se para o ano estou cá ou não. Para este tipo de surf não tenho muitas limitações, a não ser que parta uma perna. Se estiver minimamente bem fisicamente e como foi uma coisa que fiz durante quase 30 anos, com muita vontade, muita técnica, muito treino, posso continuar. Vou querer continuar a vir enquanto achar que posso trazer alguma coisa para o evento e fazer estragos”, atirou.

GettyImages-619443186

Tiago Pieres na Nazaré, numa das edições anteriores do Capítulo Perfeito

Getty Images

Há um ano, assistiu com vista privilegiada ao tricampeonato de Nic von Rupp, que se tornou o primeiro a conquistar o Capítulo Perfeito pela terceira vez. Apesar do otimismo de quem está “minimamente bem fisicamente”, Tiago Pires não esconde que a idade pesa de ano para ano – a idade e os filhos. “Hei-de parar, um dia. Mas ainda não chegou o dia. Mas cada ano que passa… Psicologicamente estou sempre preparado, fisicamente acho que já não, infelizmente. A diferença do ano passado para este ano é que tenho mais uma filha. E claro que isso rouba tempo, por muito bons motivos, mas rouba tempo, rouba mar, rouba forma física. Mas a cabeça continua sempre preparada e com vontade de competir num evento como este”, garantiu.

A carreira do surfista teve sempre associado o nome de José Seabra, treinador e mentor que conheceu quando tinha apenas 16 anos, na década de 90. Juntos, desenharam o sonho e o projeto de chegar à elite do surf mundial – algo que, na altura, parecia praticamente impossível. Mas conseguiram. E José Seabra conta muitas vezes a história de chegar à praia em dia de torneio, muito cedo e quando todos os outros miúdos ainda estavam a dormir, e encontrar um jovem Tiago Pires a ver o mar.

“Esse miúdo já não mora em mim, infelizmente. Mas a vontade de fazer tubos, a vontade de mandar umas surfadas, ainda cá está. Agora as prioridades são outras, tenho três filhos, tenho uma família, tenho outros projetos profissionais. O surf continua a fazer parte da minha vida e tento sempre moldar a minha vida para não perder muitas sessões boas de surf”, indica o surfista, acrescentando que ainda quer “estar sempre na equação” quando se fala de tubos. “Sinto que consigo bater-me com qualquer um. Este é o único dia do ano em que ainda tenho um tipo de sentimentos que já desapareceram há uns anos”, sublinha, referindo-se ao Capítulo Perfeito.

GettyImages-1143559589

Tiago Pieres na Ericeira com Kanoa Igarashi, medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Tóquio

World Surf League via Getty Imag

Desde que Tiago Pires terminou a carreira, em 2016, o surf adquiriu uma nova dimensão competitiva: os Jogos Olímpicos, com Ítalo Ferreira e Carissa Moore a conquistarem as primeiras medalhas de ouro de sempre em Tóquio, numa competição onde estiveram as portuguesas Teresa Bonvalot e Yolanda Hopkins (Frederico Morais também se qualificou, mas falhou a prova após testar positivo à Covid-19). Em ano de Jogos, com Teresa Bonvalot já qualificada para Paris e a possibilidade de surgirem mais nomes, o surfista tem uma opinião morna sobre o surf enquanto modalidade olímpica.

“Não sei, sinceramente. Não tenho muita vontade. O surf foi um desporto que se fez a si próprio, fez-se sozinho, a nível privado. Muito honestamente, o caminho olímpico e toda a controvérsia que tem dado e todas as polémicas que tem gerado deixa um pouco a desejar. Claro que é muito aliciante para qualquer miúdo ter apoios do Comité Olímpico, ter as bolsas. Mas acho que vai ser sempre complicado o surf ser um desporto olímpico que faça vibrar os atletas. Vai ser sempre aquela coisa de ‘preciso disto para ter apoios'”, começa por dizer.

Ainda assim, algo é certo. Ítalo Ferreira e Carissa Moore foram campeões olímpicos, têm as medalhas de ouro em casa e estarão sempre no topo do surf internacional. Mas Tiago Pires defende que nem isso é assim tão líquido. “O verdadeiro campeão do mundo não vai ser o campeão olímpico. É um campeão olímpico, sim, mas o verdadeiro campeão do mundo está na liga profissional. É o que surfou melhor as ondas mais conceituadas do mundo durante um ano e que provou isso mesmo em frente a toda uma seleção dos melhores do mundo. E o próprio critério de seleção olímpica deixa muito a desejar, há muita politiquice envolvida. Sinceramente, não me faz sonhar. O surf é um desporto que atrai multidões, que atrai massas, e se calhar ainda não conseguiu encontrar o caminho certo para se vender”, termina.

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.