Índice
Índice
Quando na quarta-feira o mundo começou a acordar da noite eleitoral norte-americana — que acabou a transformar-se em semana eleitoral — um olhar demasiado simplista à evolução da contagem dos votos daria uma impressão errada: Donald Trump parecia estar a caminho da reeleição.
Em estados de votação previsivelmente renhida e que por isso podiam decidir as presidenciais, como a Georgia, o Wisconsin, o Michigan e a Pensilvânia, Trump levava uma vantagem tão grande que pouco depois das 7h (hora de Portugal Continental) proclamava: “Francamente, nós ganhámos a eleição”. Mas mesmo na declaração madrugadora em que cantou vitória e declarou “é impossível apanhar-nos”, o republicano falou em “fraude”. Não foi por acaso: mesmo nesse momento, nenhum analista projetava ainda uma vitória republicana. Sabia-se já que ainda faltavam contar muitos votos e sabia-se que, entre os votos que faltavam apurar em estados decisivos, predominavam os votos por correspondência, que — todos estavam a par — favoreciam esmagadoramente Joe Biden.
Só os dias seguintes trariam a resposta sobre quem os Estados Unidos da América terão como Presidente nos próximos quatro anos. Hora a hora, dia após dia, a vantagem de Trump foi-se esfumando, até se começar a reverter em estados como o Michigan, o Wisconsin, a Pensilvânia e a Georgia.
Primeiro foi o Wisconsin a virar, na manhã de quarta-feira (hora portuguesa). O Michigan foi o estado que se seguiu: por volta da hora de almoço do mesmo dia, Biden ultrapassava Trump, à medida que os votos continuavam a ser contados. O republicano queixava-se à tarde que estavam “a encontrar votos para Biden em todo o lado” e punha em causa o processo eleitoral mas dois dias depois, na sexta-feira, Biden ultrapassava Trump na Georgia (pouco depois das 9h portuguesas) e na Pensilvânia (pouco depois das 13h portuguesas).
Não era ainda a estocada final, porque a contagem de votos prosseguiu nas horas seguintes, mas Biden só precisava de manter a vantagem na Pensilvânia para ser eleito Presidente. Perdendo-a, teria de ganhar em dois de três estados ainda por apurar onde já levava vantagem, entre Georgia, Nevada e Arizona. Acabou mesmo eleito Presidente.
Este é o filme de quase 90 longas horas que foram precisas para que das eleições norte-americanas saísse um novo Presidente. Trump perdeu, Joe Biden ganhou.
A noite eleitoral: a Florida e uma suposta surpresa no Arizona
23h-00h: Biden começa a perceber que há um problema na Florida
Na noite eleitoral tudo começou a agitar-se por volta das 23h, mas só à meia-noite haveria encerramento de todas as assembleias de voto nos primeiros estados norte-americanos a fechar as urnas. Eram cinco, mas só um tinha o potencial de desequilibrar a balança em torno de um candidato e esse candidato era Joe Biden.
Os olhos estavam concentrados na Georgia. De meados dos anos 1990 em diante o estado votou sempre em maioria no Partido Republicano, mas a classe média negra em crescimento neste estado — nomeadamente na capital, Atlanta — dava esperanças ao democrata. Trump sabia que não poderia perder na Georgia. E Biden sabia que, vencendo neste estado, na Carolina do Norte ou na Florida, ganhava embalo para se tornar Presidente.
Mas cedo se percebeu que as projeções iriam demorar na Georgia e na Carolina do Norte e que, pelo menos na Florida, Biden dificilmente venceria. Por volta das 23h20, a emissão em direto da estação de televisão Fox News já avançava que os democratas estavam a perder o otimismo neste estado.
00h-1h: dezassete estados a fechar urnas, nenhuma surpresa
Às 00h30, as urnas encerravam em três estados. E à 1h fechavam todas as assembleias de voto de 17 estados. De todos era a Florida que mais interessava, mas os prognósticos negativos do Partido Democrata reforçavam-se. Por volta das 00h45, já a campanha democrata dizia à estação CNN que o andamento das votações neste estado não estava “com bom ar”.
1h-2h: Trump ia falar, anunciava antiga assessora
À 1h15 de Portugal Continental, já existiam projeções em 17 estados. Trump vencera oito e somava 66 delegados, conquistados em estados em que era já favorito nas sondagens. Já Biden vencera em nove estados, também eles esperados, e somava 85 delegados. Os dois candidatos precisavam de 270 delegados para vencer a corrida eleitoral.
À 1h30 as urnas encerravam ainda no Arkansas, mas a vitória de Trump era há muito esperada. Os dois candidatos começavam a movimentar-se. Trump, que ao início do dia tinha prometido só “declarar uma vitória” eleitoral “quando houver uma vitória”, ia falar, anunciava às 1h50 a antiga diretora de campanha e assessora do Presidente norte-americano, Kellyanne Conway. Biden também discursaria durante a noite.
2h-3h: Biden com 119 delegados, Trump com 92
Às 2h, as urnas encerravam em mais 14 estados. Era porém num só estado, o Wisconsin, que todos os olhos e todas as dúvidas estavam concentradas. Hillary Clinton tinha dado o Wisconsin como garantido em 2016 mas o estado tinha “virado”, contribuindo decisivamente para a eleição de Trump. Repetir-se-ia a surpresa?
Com as novas projeções saídas às 2h, Trump vencia em 13 estados, que lhe garantiam 92 delegados. Já Biden vencia em 11 estados, que lhe garantiam 119 delegados.
3h-4h: demora a anunciar vitória de Trump na Florida agitou republicanos
Às 3h fechavam as urnas no Iowa, Montana, Nevada e Utah. Mas no Nevada, que o candidato democrata poderia precisar de ganhar para vencer a eleição, as dúvidas eram muitas. E continuariam a sê-lo por vários dias.
Por esta altura, Trump levava vantagem no número de estados conquistados (16 contra 14), mas Biden levava vantagem no número de votos para o Colégio Eleitoral — que é o que decide a eleição. Em estados decisivos como a Florida, Georgia e Carolina do Norte, não havia ainda dados suficientes para projetar a vitória de um ou outro candidato. Mas Biden sabia já que não venceria na Florida.
Às 3h56, o governador da Florida, o republicano Ron DeSantis, recorria ao Twitter para criticar os meios de comunicação social. Escrevia: “O Presidente Donald Trump está à frente na Florida por quase 400.000 votos com mais de 90% dos distritos apurados. A recusa em reconhecer o óbvio diz muito sobre a (falta de) objetividade”.
President @realDonaldTrump is up in Florida by almost 400,000 votes with more than 90% of precincts reporting. Why haven’t networks called the race? It’s a done deal and the refusal to recognize the obvious speaks volumes about the (lack of) objectivity of these outlets.
— Ron DeSantis (@RonDeSantis) November 4, 2020
Se Trump tinha a vitória encaminhada na Florida, Biden agarrava-se por esta altura à esperança de surpreender no Arizona, na Georgia e na Carolina do Norte (que demoraram dias a serem apurados) ou no Ohio e no Iowa — nos dois últimos, percebeu cedo, nada feito. Isto para não ter de precisar de vitórias nos estados do Michigan, Wisconsin e Pensilvânia, onde tinha hipóteses de vencer mas onde o apuramento de resultados demoraria.
4h-5h: uma projeção no Arizona (que ficou dias à espera de confirmação)
Às 4h de Portugal Continental encerravam as urnas em mais quatro estados — Califórnia, Idaho (que já fechara algumas assembleias de voto umas horas antes), Oregon e Washington —, sobrando apenas o Havai e o Alasca com urnas abertas. Os resultados eram esperados: Biden venceu na Califórnia, Washington e Oregon, Trump no Idaho.
As grandes notícias, nesta hora eleitoral, foram relativas aos resultados na Florida. Às 4h10, a estação Fox News dava finalmente a Trump a vitória neste estado. Era uma vitória relevante e necessária para Trump continuar na corrida eleitoral. Simbolicamente também tinha peso: de 1988 para cá, só por uma vez (em 1992) quem vencera na Florida não fora eleito Presidente.
Trump e os seus apoiantes tiveram apenas cerca de 15 minutos para festejar a vitória na Florida. Às 4h25, a Fox News largava uma bomba: Joe Biden tinha vencido no Arizona. Seria, a confirmar-se, uma vitória histórica e animadora para as hostes democratas: nos últimos 72 anos, só por duas vezes — em 1948 e 1996 — o partido tinha conseguido vencer no Arizona.
A projeção da Fox News deixou em convulsão o Partido Republicano, que começou a atacar a estação. A Fox News foi insistindo que a projeção estava suficientemente sustentada e não era falível — mas na noite de sexta-feira (em Portugal) não havia nem certezas, nem projeções de outros órgãos como a CNN e o The New York Times.
WAY too soon to be calling Arizona…way too soon. We believe over 2/3 of those outstanding Election Day voters are going to be for Trump. Can’t believe Fox was so anxious to pull the trigger here after taking so long to call Florida. Wow.
— Jason Miller (@JasonMillerinDC) November 4, 2020
Biden teve uma injeção de confiança com o prognóstico da Fox News de que ganhara no Arizona, mas o entusiasmo foi refreado cinco minutos depois: no Wisconsin, no Michigan e na Pensilvânia era já garantido que a contagem de votos não ficaria concluída durante a noite — ou seja, o mais provável era tudo ficar adiado.
5h-6h: Biden falou aos apoiantes que o ouviam em carros: “Vamos ganhar isto”
Em Portugal, os mais madrugadores já acordavam de uma noite de sono quando a Fox News avançou, às 5h, que Trump vencera no Texas. Menos garantida, embora provável, era a vitória de Trump no Iowa, avançada às 5h23 pela agência de notícias Associated Press. Também era anunciado que Biden vencera no Havai e no Minnesota, estados que tinha mesmo de ganhar e onde era absoluto favorito.
O relógio em Portugal Continental marcava 5h20 quando os meios de comunicação norte-americanos anunciavam que Joe Biden ia falar ao país. Era preciso injetar confiança na hoste “azul”: a projeção da vitória de Trump na Florida era corroborada pela Associated Press às 5h36, Trump também tinha ganho no Ohio e Biden sabia que corria muito atrás em quase todos os estados decisivos por apurar — Georgia, Carolina do Norte, Wisconsin, Michigan e Pensilvânia. Mas sabia também que na Georgia faltava contar votos em zonas estatais que lhe eram favoráveis. E mais importante: sabia que faltavam contar muitos votos por correspondência no Wisconsin, no Michigan e na Pensilvânia, que o favoreciam mais a ele do que a Donald Trump.
A mensagem foi de confiança. O democrata começou por elogiar a “paciência” dos eleitores, acrescentando que era sabido que isto ia “durar”, possivelmente “até amanhã de manhã, talvez até mais tarde”. O prognóstico foi confirmado: os dias sucederam-se sem resultados. Mas Biden manifestava esperança na eleição: “Sentimo-nos confiante sobre como estamos. Acreditamos que estamos a caminho de vencer esta eleição”.
Sobre a projeção de vitória no Arizona dada pela Fox News, Biden referia: “Estamos confiantes sobre o Arizona e isso seria uma viragem”, dado que Trump venceu em 2016. Mas não só: “Ainda estamos em jogo na Georgia, apesar de não o esperarmos. Estamos a sentir-nos realmente confiantes quanto ao Wisconsin e ao Michigan. E vai demorar tempo a contar os votos mas vamos ganhar na Pensilvânia. Vamos ganhar isto”.
No Twitter, Trump reagia ao discurso de Biden: lançando suspeitas sobre a contagem de votos e dizendo que lhe estavam a “roubar a eleição”. O “tweet” acabou ocultado pela rede social por ter “informações incorretas sobre como participar de uma eleição ou de outro processo cívico”. Seria só o primeiro de muitos que a rede social ocultou.
6h-7h: Trump ao ataque. “Nós ganhámos. Isto é uma fraude”
Às 6h30, faltavam apurar estados decisivos, porque renhidos, como a Georgia, a Carolina do Norte, o Michigan, o Wisconsin, a Pensilvânia, o Nevada e o Arizona. E a indefinição continuaria até este sábado.
Na Carolina do Norte e na Georgia, onde mais de 90% das assembleias de voto já estavam contabilizadas, Trump vencia Biden com 1,4% de diferença no primeiro estado e com 2,5% de diferença no segundo — mas as contas, curiosamente, estavam mais indefinidas na Georgia, que ainda podia cair para o lado democrata.
A contagem de votos estava muito atrasada no Wisconsin, no Michigan e na Pensilvânia. Era ainda impossível fazer previsões quanto ao resultado das votações. Mas não para Trump: numa declaração em que foi anunciado como “o Presidente dos Estados Unidos da América”, pediu para que se travasse a contagem de votos e disse que, na sua ótica, já tinha vencido a eleição.
Queixou-se Trump: “Estávamos a ganhar tudo e, de repente, foi tudo cancelado. Estávamos prontos para ir para a rua, celebrar uma vitória linda, mas foi tudo cancelado”. Quem cancelou? Não há propriamente nomes, mas o culpado é o “sistema”, que, segundo ele, favorece os democratas e que Trump considera “fraudulento”. Por palavras de Trump: “Eles sabiam que iam perder. Isto é uma fraude contra o povo americano. Isto é um embaraço para o nosso país. Nós estávamos prontos para ganhar esta eleição – e, com franqueza, nós ganhámos esta eleição“.
Trump grita “fraude”, Biden quer cada voto contado. As reações cruzadas dos dois candidatos
Sobre a Georgia, estado sobre o qual era ainda impossível ter certezas, Trump dizia: “É claro que ganhámos”. A promessa de não se declarar vencedor enquanto não houvesse uma vitória já caíra por terra mas ainda havia tempo para uma outra: Trump garantiu que ia interpor no Supremo Tribunal uma providência cautelar para travar a contagem de votos.
Às 7h52, a Associated Press corroborava a projeção da Fox News e dava a vitória no Arizona a Biden. Mas, no fim de-semana, continuava a indefinição no Arizona.
Quarta-feira: o dia em que Biden ganha o Wisconsin e o Michigan
8h38: Mais de um milhão de votos por contar na Pensilvânia
Quem esperava que a manhã e a tarde do dia seguinte — quarta-feira — trouxessem certezas sobre quem os Estados Unidos terão como Presidente nos próximos quatro anos, enganou-se. E não se enganou por pouco.
Às 8h38, o governador da Pensilvânia, Tom Wolfe, anunciava que ainda faltava contar mais de um milhão de votos por correio naquele estado. A campanha de Biden tomava posição oficial sobre o discurso de Trump e dizia que o pedido para travar a contagem de votos não era só “ultrajante” e “inédito”, era inconsequente e ilegal. E a campanha de Trump continuava a visar a Fox News por ter anunciado “prematuramente” a vitória de Biden no Arizona. A contagem de votos prosseguia.
10h: o Wisconsin “virou”
Eram já quase 10h de quarta-feira quando Joe Biden passou pela primeira vez à frente de Trump na contagem de boletins no Wisconsin. Três horas e meia antes (às 6h30), com 78% dos votos contados, Trump vencia com uma margem de 3,8% face a Biden. Muito mudara desde aí: na nova atualização estavam contados mais 11% dos votos, 89% no total, e Biden vencia com uma margem de 0,3% — mais precisamente, de 10 mil votos.
Era a primeira reviravolta nos três estados que, se fossem conquistados pelo Partido Democrata, tornariam Biden Presidente — os outros dois eram o Michigan e a Pensilvânia. Mas a margem era curta e uma hora depois, às 11h, os meios de comunicação começavam a falar em recontagens de votos. No Arizona não estão previstas na lei, mas no Wisconsin e na Georgia a lei permite-as quando a margem na diferença de votos entre candidatos é inferior a 1%.
Por esta altura Biden ultrapassara Trump no Wisconsin, mas não nos outros estados decisivos. No Michigan, com 80% dos votos contados, Trump vencia com uma margem de 4,7 pontos percentuais. Na Pensilvânia, com 75% dos votos contados, a margem era ainda maior: 11,4 pontos percentuais. E na Georgia, Trump ia vencendo com mais 2,2 pontos percentuais.
Biden só tinha boas notícias no Nevada — com 86% dos votos contados, vencia com uma margem de 0,6 pontos percentuais. Mas mesmo aí quem esperasse resultados devia refrear os ânimos: no estado, anunciava-se que a contagem de votos era interrompida e só prosseguiria 30 horas depois.
Trump segue para os tribunais em cinco estados-chave. O que está em causa?
17h: Trump queixava-se: “Estão a encontrar votos para o Biden em todo o lado”
A tarde de quarta-feira não traria grandes alterações no andamento da contagem de votos. Era no Twitter que a corrida eleitoral aquecia.
Às 15h11, Biden garantia nas redes sociais que estava bem acordado: “Não vamos descansar até que todos os votos sejam contados”. E mais ou menos à mesma hora Trump publicava uma sucessão de mensagens no Twitter, queixando-se do andamento da contagem de votos. A sua vantagem em estados decisivos estava “a desaparecer como que por magia” e Trump achava isso “MUITO ESTRANHO”.
Passado uma hora, perto das 16h, o governador da Pensilvânia voltava a falar dizendo que os resultados poderiam não ser conhecidos naquele dia (não foram nem no dia seguinte, nem na sexta-feira). Mas, ainda antes das 17h, a secretária de Estado do Michigan, Jocelyn Benson, adiantava a publicação de resultados “não oficiais” até “ao final do dia”. Também o secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, declarava que os votos deveriam ser contados naquele estado até ao final do dia — não o foram nem 48 horas depois.
Por essa altura, Trump queixava-se que estavam “a encontrar votos para o Biden em todo o lado”, nomeadamente em três estados que o republicano sabia que eram especialmente importantes: “Pensilvânia, Wisconsin e Michigan”. Nomeou os três. E insistia na tese de fraude: “Tão mau para o nosso país”.
Por volta das 17h40 de Portugal Continental, a campanha de Trump anunciava que ia pedir a recontagem de votos no Wisconsin. E a CNN avançava logo a seguir que os processos legais com pedidos de recontagem estendiam-se também ao Michigan e à Pensilvânia.
19h: Biden ganha o Wisconsin
Às 18h de quarta-feira, a margem favorável a Trump na Georgia estreitava-se: com 93% dos votos contados, Trump já só liderava por 85 mil votos. E no Michigan a vantagem de Biden era agora de 48 mil votos (0,9%).
Já depois de conseguir a ultrapassagem a Trump no Wisconsin, Joe Biden via a CNN projetar-lhe a vitória neste estado às 19h. Às 19h30, a Associated Press corroborava a projeção de vitória “azul” no Michigan.
Com a derrota no Wisconsin, Trump já sabia que perdendo a Pensilvânia e o Michigan perdia a eleição. E avançava para um pedido legal para que fosse travada a contagem de votos no Michigan, anunciado por volta das 19h30. Na Pensilvânia, a tentativa era de contestar o período mais alargado para contagem de votos por correio, permitido este ano por lei.
Às 20h portuguesas, Trump ainda vencia com uma margem de 7,7 pontos percentuais na Pensilvânia, mas já perdera o Wisconsin e corria atrás no Michigan (-0,7 pontos percentuais com 94% dos votos contados), no Arizona (-3,4 pontos percentuais com 86% dos votos contados), no Nevada (-0,6 pontos percentuais com 86% dos votos contados) e via a margem estreitar-se na Geórgia (ainda vencia, mas por 1,7 pontos percentuais com 93% dos votos apurados).
21h15: Biden ganha o Michigan — e recupera na Pensilvânia e na Georgia
Depois do Wisconsin, o Michigan: às 21h15 a estação CNN projetava uma vitória de Joe Biden também neste estado, mais um que Trump vencera em 2016 e que o ajudara a ser eleito Presidente dos EUA. A Associated Press corroboraria a projeção quase duas horas depois, às 23h.
Restava a Pensilvânia, onde a margem de Donald Trump continuava a estreitar-se: às 22h portuguesas, tinha caído dos 7,7 pontos percentuais registados duas horas antes para 5,3 pontos percentuais. Tudo se agudizava com a mais recente atualização de votos naquele estado: de 23.202 boletins vindos da cidade de Filadélfia, perto de 20 mil eram favoráveis a Biden.
Também na Georgia a viragem a favor de Biden parecia possível, à medida que mais votos eram contados e o fosso continuava a diminuir. À meia-noite em Portugal, a diferença favorável a Trump já estava apenas nos 1,2%.
Acompanhando a evolução da contagem, desfavorável a Trump, a equipa do candidato republicano colocava-se no terreno para pedir a paragem do apuramento de boletins na Georgia — a confirmação do pedido legal chegava às 00h45. Mas a margem para Trump continuava a cair e 45 minutos depois, à 1h30, era já de apenas 0,8 pontos percentuais. Na Pensilvânia a campanha republicana também tinha motivos de preocupação: Biden continuava a recuperar terreno e, com 88% dos votos contados, estava já apenas 2,1 pontos percentuais atrás.
Quinta-feira: o dia em que Biden não passou à frente, mas recuperou terreno
11h: Margem favorável a Trump na Georgia continua a cair
Ainda estava tudo em aberto em vários estados decisivos, na quinta-feira de manhã — e assim se manteria ao longo do dia.
No Nevada e no Arizona, Biden continuava à frente na contagem de votos mas não tinha garantias de que os vencesse. Já na Georgia e na Pensilvânia, era a margem de Trump que caía. No último estado, a vantagem republicana caíra para um terço, em 24 horas, de 600 mil para 200 mil votos. E, na Georgia, novos dados publicados às 11h reduziam a diferença favorável a Trump para 0,4 pontos percentuais, equivalente a 18.540 votos — com 4% dos votos totais, cerca de 60 mil boletins, por apurar.
Chegava a hora de almoço (em Portugal Continental) e Biden e Trump voltavam a mostrar no Twitter como se posicionavam sobre a contagem de votos. Às 13h25, o democrata publicava uma mensagem dizendo que “todos os votos têm de ser contados”. Às 14h12 era divulgado novo pedido de Trump: “PAREM A CONTAGEM”.
À porta de um centro de contagem de votos, os dois lados da América discutem
23h: Vantagem de Trump na Pensilvânia 8 vezes menor do que na madrugada eleitoral
Mais ainda do que na Georgia, era na Pensilvânia que a campanha de Biden depositava por esta altura mais esperanças — e neste estado Trump teve a sua primeira vitória judicial, quando um tribunal permitiu que delegados de campanha republicanos observassem a contagem de votos “mais de perto”. Na Georgia e Michigan, as ações judiciais da campanha Trump foram rejeitadas.
Às 19h faltavam contar 500 mil votos na Pensilvânia e a incerteza mantinha-se. Mas às 19h45 eram anunciados mais 4.500 votos, do condado de Lehigh, maioritariamente (quatro em cada cinco) para Biden. A diferença continuava a estreitar-se e era agora de 108 mil votos, com 92% dos boletins apurados.
Também na Georgia a diferença continuava a cair, talvez para surpresa dos democratas: às 23h, era anunciado que os dois candidatos já estavam separados por menos de 10 mil votos. E, às 23h, uma nova atualização na Pensilvânia fazia a vantagem de Trump cair para 75 mil votos — quando Trump discursou após a noite eleitoral, a diferença era oito vezes maior.
Restavam ainda o Nevada, onde uma atualização por volta das 17h aumentava a vantagem de Biden de 7.647 para cerca de 11 mil votos, a Carolina do Norte, onde a contagem de votos demoraria mais tempo, e o Arizona, onde as horas também não traziam grandes novidades no apuramento de resultados.
4h30: Trump só ganha por 26 mil na Pensilvânia. Reviravolta iminente
As 23h45 de quinta-feira em Portugal Continental trouxeram um novo discurso de Trump. Mantinha-se o tom: dizia que, contados os “votos legais”, ganhava “facilmente”, assegurava que os adversários podiam “estar a roubar a eleição”, afirmava que os votos por correio eram “tendenciosos” e insistia que tinha havido fraude. Múltiplos meios de comunicação norte-americanos decidiram interromper a transmissão do discurso de Trump em direto, argumentando que o Presidente estava a divulgar várias informações falsas.
A madrugada portuguesa trazia notícias más para o republicano. É verdade que às 2h45 estava a perder por 46.257 votos no Arizona, bem menos do que duas horas antes (em que perdia por 61.469). Mas na Georgia, às 2h30, a diferença entre os dois candidatos já era de apenas 2.497 votos — tinha baixado em quase mil votos face a duas horas antes. E pior do que isso: no estado da Pensilvânia, onde perder equivalia a deixar a Casa Branca, Trump já só vencia por 42.142 votos, quando duas horas antes a vantagem era de 64.255. E ainda estavam muitos boletins por contar.
O passar das horas só complicava tudo para os republicanos. Às 4h30, a vantagem de Trump na Pensilvânia caíra já para 26.319 votos. Ou seja: a cada duas horas, Trump perdia quase 20 mil votos de vantagem. E na Georgia, às 6h45, já vencia por menos de 1.300 votos.
Quem é John King, o jornalista que se tornou o “MVP” das eleições norte-americanas
Sexta-feira: o dia em que Biden se adianta na Georgia e na Pensilvânia
9h22: Biden pela primeira vez em vantagem na Georgia
A manhã de sexta-feira acentuava as perdas de Donald Trump — e muito. Às 8h, já só tinha mais 665 votos do que Biden na Georgia e a margem na Pensilvânia caíra para perto de 18 mil votos, quando no seu auge fora de 600 mil. Às 8h45 já só tinha mais 463 votos na Geórgia.
O volte-face na Georgia estava iminente e às 9h22 era formalmente anunciado: após nova atualização de dados, Biden passava a estar em vantagem com uma margem de mais 917 votos. A reviravolta na Pensilvânia não demoraria muito. Já os estados do Nevada, Arizona e Carolina do Norte continuavam atrasados na contagem.
13h50: Biden pela primeira vez em vantagem na Pensilvânia
A manhã avançou e foi à hora de almoço de sexta-feira, em Portugal Continental, que o volte-face aconteceu na Pensilvânia: por volta das 13h50, uma nova atualização de dados colocava o candidato democrata, Joe Biden, pela primeira vez em vantagem.
A campanha de Donald Trump reagia e, às 14h30, vincava que “esta eleição ainda não acabou”, falava em “muitas irregularidades na Pensilvânia”, falava em “recontagem” e em “boletins recebidos de forma desadequada” na Georgia e argumentava que no Nevada “milhares de indivíduos votaram indevidamente pelo correio”.
A tarde só iria piorar tudo. Às 15h, a margem de Biden na Pensilvânia aumentava para 6.737 votos — e 1h45 depois era já de 8.867. Às 15h50 o estado da Georgia, onde Biden ia vencendo, anunciava já só ter 4.169 boletins por contar. E no Nevada a liderança democrata aumentava para 22.076 votos.
Nem a redução da desvantagem republicana no Arizona compensava as restantes perdas, a mais problemática das quais na Pensilvânia. As melhores notícias eram jurídicas: às 16h20 confirmava-se que na Georgia iria mesmo haver uma recontagem de votos.
22h: Trump avisa Joe Biden para não se declarar Presidente
Na Georgia, a vantagem de Biden continuava a crescer — às 22h era atualizada para 4.240 votos — mas não o suficiente para que a corrida não fosse renhida e não houvesse hipótese de recontagem de votos.
Trump não estava quieto na internet e às 22h deixava um aviso a Joe Biden pelo Twitter: o democrata não devia “erradamente reclamar o cargo da Presidência” com base nos resultados apurados até aqui, até porque “os procedimentos legais estão só a começar”.
Joe Biden should not wrongfully claim the office of the President. I could make that claim also. Legal proceedings are just now beginning!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) November 6, 2020
A mensagem não era inocente. A projeção da eleição de Biden como presidente dos EUA parecia iminente. O antigo vice-Presidente de Obama e a sua candidata a ‘vice’, Kamala Harris, tinham uma comunicação prevista para o início da madrugada portuguesa (a partir da 1h). Mas não vendo projeções de meios como a CNN e The New York Times de que seria o vencedor das eleições, a comunicação tardou e foi adiada por umas horas.
Depois do anúncio, já após a meia-noite, de mais uma derrota nos tribunais, desta vez no estado do Nevada — seguiram-se derrotas judiciais na Georgia e no Michigan —, a campanha Trump viu a vantagem de Biden na Pensilvânia aumentar duas vezes: por volta da 1h50 em Portugal Continental para 21 mil votos, por volta das 2h38 para 27 mil votos. E a vantagem democrata no Arizona caía, mas, mesmo que não vencesse no Arizona (onde já tinha a vitória projetada pela Fox News e pela Associated Press) a Biden bastava a Pensilvânia ou, em alternativa, conquistar o Nevada e um outro estado por apurar onde levava vantagem: a Geórgia.
Às 3h50 de Portugal Continental — 22h50 em Nova Iorque e em Delaware, estado onde Joe Biden cresceu —, o candidato democrata apareceu com a candidata a vice-Presidente, Kamala Harris a seu lado, para uma declaração sem direito a perguntas.
Biden esperava falar depois de ser projetada a sua vitória nas eleições, mas a margem ainda era curta para apontar um vencedor. E por isso disse: “Não temos ainda uma declaração final de vitória, mas os números mostram de forma clara e convincente: vamos ganhar esta eleição”. Disse mais: “Vamos ganhar a Georgia. Vamos ganhar a Pensilvânia. E estamos à frente no Arizona e no Nevada. Estamos a caminho de ter mais de 300 votos para o Colégio Eleitoral. Vamos ganhar esta corrida com uma maioria clara e com uma nação a apoiar-nos. Tivemos mais de 74 milhões de votos. É mais do que qualquer outro candidato a Presidente na história da América”.
Sábado: o dia em que Biden é finalmente “projetado” Presidente
16h-17h: Joe Biden é o novo Presidente, avançam CNN, Fox News e AP
A manhã nos EUA começou calma, tirando mais uma série de “tweets” de Donald Trump que voltavam a denunciar alegadas irregularidades nas eleições — mas sem nunca explicitar exatamente quais, onde ou quando — e a promessa de uma conferência de imprensa dos advogados do candidato republicano.
A conferência de imprensa estava marcada para as 11h30 em Portugal Continental, 16h30 em Filadélfia, mas atrasou-se ligeiramente. E, antes de começar, chegou o momento pelo qual Joe Biden esperava: surgiram as primeiras projeções de que fora o vencedor das eleições norte-americanas.
Às 16h, uma nova atualização no Arizona dava Trump a continuar a recuperar a desvantagem para Biden — a diferença entre os dois passava a ser de 20.573 votos — mas ainda não a um ritmo suficientemente rápido para se prever que lhe roubasse a liderança neste estado, até ao fim da contagem de votos.
Pouco depois, às 16h20 portuguesas, a CNN divulgava uma nova contagem de votos oficial no estado (decisivo) da Pensilvânia que mantinha a tendência do dia anterior: a vantagem de Biden continuava a crescer. Foi quanto bastou para a estação norte-americana projetar finalmente, por volta das 16h27, Joe Biden como vencedor das eleições presidenciais dos EUA. A Associated Press não demorou mais de cinco minutos: às 16h28 declarou também que Biden vencera as eleições. E a Fox News fez o mesmo às 16h40. A NBC, a CBS e a ABC confirmaram: estava ganha a corrida à Casa Branca.