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Há pouco mais de um ano no pavilhão multiusos de Lamego, o speaker anunciava Assunção Cristas como “futura primeira-ministra de Portugal”. Muito mudou desde então. A poucos metros do pavilhão onde foi entronizada como líder quase incontestada, a presidente do CDS tenta conquistar eleitores um a um na Feira de Lamego. À entrada, a caminhada promete, com o vereador do CDS de Lamego, José Correia da Silva (o “Pinto”, como é conhecido naquelas bancas), a gritar para os feirantes várias vezes: “Vamos pôr a ciganada toda a votar no CDS“.
A feira é importante, mas é no combate político mediático que se podem ganhar mais votos e Tancos voltou a invadir a campanha, com Cristas a apontar a artilharia toda a Costa, sugerindo que o primeiro-ministro também sabia: “Quando lemos notícias que até dão nota que até houve eventual conhecimento e troca de mensagens com um deputado do PS, é legítimo perguntar: então um deputado do PS sabia e o primeiro-ministro não sabia?”
Para Cristas, mesmo que não soubesse, é igualmente mau porque das duas uma: “Ou o primeiro-ministro não sabia e é de uma extraordinária incompetência ou sabia e então também foi conivente com tudo isto”.
A presidente dos centristas diz, por isso, que é tempo dos eleitores escolherem se querem ter um “governo que encobre crimes, que iliba criminosos, que impede a justiça de funcionar porque aparentemente conhece e dá cobertura a um acordo que impede que os responsáveis políticos sejam efetivamente apanhados e punidos”. Além disso, acusa Bloco e PCP de serem “coniventes” com o encobrimento feito na comissão parlamentar de inquérito sobre Tancos.
Assunção Cristas defende que “o primeiro-ministro tem de dar explicações sobre este caso e não pode dizer que é da justiça”. Para a líder do CDS “a questão está longe de estar encerrada, quer do ponto de vista jurídico e penal, mas também do ponto de vista político”. Ou seja, o CDS vai continuar a morder os calcanhares do primeiro-ministro para colá-lo ao encobrimento.”António Costa merece um voto de protesto no dia 6″, diz.
Tancos apareceu para ficar, mas a caravana passa. E à quinta-feira, foi dia de feira.
“O povo está muito revoltado com o Governo”
Cristas não ignora que foi ali, em Lamego, que o partido lhe pediu para chegar a primeira-ministra. Na feira, ainda há quem diga acreditar nesse cenário: “Ouvi algumas pessoas aqui dizerem-me isso, que gostavam de me ver à frente de um governo. Aquilo que eu digo é que é preciso de muitos votos, é preciso trabalharmos para haver uma mudança.”
Após o apelo de “Pinto”, figura do CDS local, foram várias as garantias de voto que Cristas foi ouvindo pela feira: “Lá em casa vamos votar todos em si”; “os ciganos vão votar todos em si”. Mas também aqui, nem todos os almoços são grátis: “Tem de me comprar uma cuecas para eu votar no CDS.”
Assunção Cristas cruzou-se com Maria Gomes Jerónimo, de 74 anos, que lamentava que “com uma reforma de 200 e poucos euros” tem de “pagar consultas, medicamentos e a renda de casa”. E acrescentou: “O povo pobre está muito revoltado com o governo. Isto está muito mal para os pobres”. Cristas aproveitou o caso como um exemplo do “drama da saúde” e defendeu que não pode haver “saúde para quem tem dinheiro e não para quem não tem”. Para Cristas é inaceitável que, quando o problema não é resolvido no SNS, só as pessoas que “têm dinheiro ou ADSE” possam ir ao social ou ao privado.
Enquanto passeava pela feira, Cristas confessava que é “muito bom estar junto das pessoas”, tanto “das que gostam mais” do CDS, como daquelas “que têm dúvidas e podemos ajudar a esclarecer”. Também houve quem fosse menos amistoso. “Quem cortou as reformas foi o Coelho, não foi o Sócrates”, ouviu na feira, depois de já ter ouvido um piropo político saído de uma carrinha: “Eu sou pela geringonça”.
Um banho de espumante “para dar sorte”
Depois de ter levado um banho de eleitores na feira, Assunção Cristas, levou literalmente um banho de espumante. Durante uma visita guiada às Caves da Murganheira, caiu numa partida de um centrista que propositadamente a molhou naquela que é uma praxe habitual daquele espaço.
O apoiante de Cristas explicou que foi “para dar sorte” e lembrou que também Cavaco Silva e Marcelo Rebelo de Sousa caíram na mesma partida no passado. Foi também naquelas caves que se tornou célebre a frase de Nuno Melo para Paulo Rangel durante uma campanha das eleições Europeias com um “bebe, se não tiveres nojo”.
Cristas confessaria que, como tem entrevista na RTP esta noite, o banho de espumante a vai forçar a tomar um outro banho. Mas não levou a mal a brincadeira: “Tenho direito acrescido na qualidade de confreira do espumante.”
Mais tarde, já recomposta, fez um brinde aos agricultores, aos produtos portugueses e ao interior. Questionada sobre se iria abrir as garrafas que ficaram fechadas em maio (nas Europeias), Cristas respondeu apenas que o CDS vai “continuar a trabalhar” para obter um bom resultado a 6 de outubro.
Assunção Cristas faz brinde aos produtos portugueses e à agricultura portuguesa. Mas pediu que lhe servissem um copo com apenas um terço do espumante do primeiro que lhe tentaram dar. "Sou contra o desperdício", disse. #legislativas2019 pic.twitter.com/JrNYcALwKL
— Observador (Eleições) (@OBSEleicoes) September 26, 2019